Durante aquela noite Rin tivera um sonho um tanto estranho. Não sabia direito se era um sonho ou apenas uma vaga lembrança de seu passado.

A pequena Rin se escondia num canto de seu velho casebre. Seu pai estava do lado de fora com uma katana de madeira nas mãos golpeando as centenas de lobos que tentavam atacá-lo.  Sua mãe estava a sua frente escoltando-a. A menina a olhava de trás mas podia notar um leve lampejo de seu rosto doce e ao mesmo tempo apavorado.
Como queria abraçá-la e reconfortá-la. Dizer que estava tudo bem.. Fazia tanto tempo que não lembrava do rosto de sua mãe. Era exatamente por isso que procurava evitar. Sua última lembrança era aquele rosto apavorado. O rosto que ficou ainda mais apavorado ao ouvir os gritos agonizantes do homem que estava ao lado de fora para protegê-las.

- Papai.. - sussurrou.

Sua mãe nada disse apenas virou-se de frente para Rin e pegando em seus ombros implorou:

- Minha filha você precisa fugir e se salvar!  Não vou permitir que tenha o mesmo destino de seus irmãos.. Eu não fui forte o suficiente para salvá-los mas eu irei recompensá-los com sua vida!

Rapidamente tirou um pequeno talho de madeira de um dos cantos do casebre onde tinha uma pequena abertura.

- Vá minha filha, vou distraí-los para que possa fugir. Me prometa que viverá e que será muito feliz!

A menina levantou-se e deu um caloroso abraço em sua mãe.

- Vem comigo mamãe! - disse balbuciando. - Não posso sem você!

Pegou em seus ombros e olhou profundamente em seus olhos.

- Sim você pode. - disse com os olhos marejados. - Você é forte Rin, vai sobreviver. Faça isso por toda sua família. Estou confiando em você.. Agora vá.. - disse empurrando-a para abertura.

- Não.. mamãe..

- Vá Rin, não olhe para trás!

Sem saber de onde tirara tanta força para fazer o que sua mãe mandara, a menina correu deixando-a para trás. Corria por entre a floresta onde derrepente ficou tudo escuro. Estava só em meio aquele breu. Com as mãos nos ouvidos a menina começou a chorar.. chorava desesperadamente até uma luz acendeu-se a sua frente. E lá estava ele.. Recostado em uma árvore com os olhos fechados e o rosto tranquilo. A menina seu um passo em sua direção.

- Sesshoumaru-sama?

Logo atrás da menina centenas de lobos corriam em sua direção. Assustada, estendeu a mão para Sesshoumaru que já se mantinha de pé.

- Sesshoumaru-sama ajude-me!

O desespero foi aumentando a medida que Sesshoumaru se afastava da menina negando-se a ajudá-la.

- Sesshoumaru-sama! - a menina gritou correndo atrás. - Se você não me salvar não poderei sobreviver!

Foi em vão. A menina corria desesperadamente atrás daquele que um dia teria que devolver-lhe a vida..

- AAAH!

Com um grito abafado a menina despertou. Sentiu um toque delicado em sua testa. Ele estava ali afagando seus cabelos, reconfortando-a.

- Sesshoumaru.. - sussurrou e logo em seguida o abraçou.

- Teve um pesadelo?

- Sim.. - disse enterrando seus olhos em seus ombros. - Foi horrível..

Surpreendentemente Sesshoumaru a abraçou. Não foi um abraço normal o qual sempre correspondia, foi forte e caloroso. Era como se estivesse despendindo-se. O que a preocupou.

Além daquele abraço a ausência de Kohaku chamou-lhe a atenção.

- Kohaku?

- Voltou para o vilarejo. Por livre e espontânea vontade.

A menina ficou muda. Pensara logo no pior. Será que levaram a sério o pequeno desentendimento do dia anterior?

- Não se preocupe. Não fiz nada a ele. - disse respondendo as perguntas de seus pensamentos.

O alívio veio logo de imediato. Mas ainda estranhou Kohaku ter ido embora..

- Rin, vamos dar um volta. - disse estendo a mão para a menina.

Sesshoumaru tinha certas atitudes que a surpreendiam, mas depois do que acontecera no dia anterior nada mais fazia sentido. Estava confusa, porém queria muito entender o que se passava dentro de si. A morena não hesitou e pegou sua mão.

Com as mãos dadas, chegaram ao lugar onde o poço que conectava a Era atual com a Sengoku Jidai estava.

A menina não entendeu e mais uma vez preferiu não perguntar nada.Apenas aguardou algum pronunciamento de Sesshoumaru.

- Se te pedisse para que fosse embora..

- É inútil. - disse interrompendo-o.

Suspirou.

- O que é inútil é você para mim.

Silêncio.

- O.. que quer dizer com isso? - disse, os olhos arregalados.

- Quero dizer que você só me atrapalha e agora mais do que nunca eu a quero bem longe de mim.

- Eu.. não estou entendendo.. Porque está me dizendo isso? Se for para me manter longe eu já disse que não vai se livrar de mi..

- Está na hora de você enchergar a realidade, Rin. - disse interrompendo-a. - Se ficar por perto terei que matá-la. Você é uma ameaça para minha katana.

- Mas.. você não precisa se preocupar comigo eu..

- Não se trata de você. Eu realmente não me importo com o que possa acontecer com você.

- Isso.. não.. não faz sentido.. Não precisa me dizer essas coisas.. Você sempre me protegeu desde que devolvera minha vida e.. eu.. eu..

Sua cabeça girava. Tentava distinguir se era sonho ou realidade.

- Rin, se devolvi a sua vida foi pelo simples fato de que queria o poder da Tenseiga. Fora somente um teste. E você estava lá morta e isso foi bastante conveniente.

- E continuou a me porteger porque..?

- Tenseiga revelou seus verdadeiros poderes através de você. Não iria correr o risco de perdê-los.

Rin fora tomada por uma sensação estranha. Era como se tivesse corrido por dias sem parar. Seu coração estava disparado e se sentia exausta. Exausta mesmo não tendo feito absolutamente nada..

- Você.. Não pode estar falando sério.. - sua voz falhava.

Ele revirou os olhos fazendo cara de desgosto. Aquilo só a machucou mais.

- Você mais do que ninguém sabe que despreso os humanos. Meu despreso por você é natural, sempre foi.

A menina deu um longo suspiro na esperança de aliviar a dor sentia naquele momento. Foi em vão. Aquilo não era um sonho estava mesmo acontecendo. O que mais temia estava acontecendo..

- Agora que já entendeu siga com sua vida e se considere uma pessoa com sorte já que vou deixá-la viver.

Sesshoumaru virou-se para seguir seu rumo. Rin não pensou duas vezes e logo correu atrás ficando de frente para ele.

- Nada disso me importa! Eu não vou a lugar algum, já disse que minha vida pertence a você então eu não me importo se.. se você quiser tirá-la!

Por milésimos de segundo a menina notou certa surpresa em seus olhos, que logo tomadas por aquela máscara de seriedade e frieza.

Sesshoumaru por sua vez aproximou-se da menina e a pegou pelos ombros levantando-a e a levou por sobre o poço.

- O.. O que está fazendo?

- Como disse não pretendo abrir mão de minha Tenseiga. E se o mais longe que posso mantê-la é Eras a frente de nosso tempo, então o farei.

- Por favor.. - implorava.

- Adeus, Rin.

Sem nenhum tipo de hesitação ou emoção evidente, ele a soltou. A menina estava incrédula e não  houve qualquer tipo de reação ao atravessar o poço.

[Rin POV]
Eu estava deitada com os braços abertos dentro do poço. Olhava para o topo e tudo que via era o telhado de madeira que vira alguns dias atrás. Lágrimas incessantes escorriam de meus olhos, porém eu não tive qualquer reação. Minha mente não trabalhava direito. Tentava me distrair concentrando-me somente em minha respiração. Mas não era o bastante.. As duras palavras que ouvira de Sesshoumaru atravessavam cada parte de meu corpo como se fossem facas. Teria sido menos doloroso se realmente fossem facas, disso eu tinha certeza. Não tinha a mínima vontade de me mover.. Não tinha vontade de fazer nada. Eu não sei como e nem porque mas sabia que não conseguiria mais voltar a minha Era.  Fiquei ali imóvel esperando algo acontecer, porque algo tinha que acontecer..