Vampires Will Never Hurt You escrita por Who Drives A Lotus


Capítulo 3
A Primeira Vista - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Outro CAP! =]



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Apesar de odiá-la, eu sabia que o meu ódio era injusto. Eu sabia que quem eu realmente odiava era eu mesmo. Eu odiaria a nós dois muito mais quando ela estivesse morta.

Eu consegui passar a hora desse jeito - imaginando as melhores formas de matá-la.

Eu tentei evitar pensar no ato de verdade. Isso seria demais pra mim; eu acabaria perdendo essa batalha e matando todo mundo que eu visse. Então eu planejei a estratégia e nada mais.

Isso me ajudou a passar a hora.

Uma vez, quase no final, ela olhou pra mim pela fluida parede dos seus cabelos. Eu podia sentir o ódio injustificado queimando em mim quando eu olhei nos olhos dela - eu vi a minha reflexão em seus olhos assustados. O sangue pintou suas bochechas antes que ela pudesse se esconder em seus cabelos de novo, e eu quase me desfiz.

Mas o sinal tocou. Salva pelo gongo - que clichê. Nós dois estávamos salvos. Ela, salva de sua morte. Eu, salvo por um curto período de tempo de ser a criatura de pesadelos que eu temia e não suportava.

Eu não consegui caminhar tão devagar quanto devia quando saí da sala. Se alguém estivesse olhando pra mim, poderia ter suspeitado que havia alguma coisa anormal no jeito como eu me movia. Ninguém estava prestando atenção em mim. Todos os pensamentos humanos ainda rondavam a garota que estava condenada a morrer em pouco mais de uma hora.

Eu me escondi no meu carro.

Eu não gostava de pensar em mim mesmo tendo que me esconder. Isso soava muito covarde. Mas esse era inquestionavelmente o caso agora.

Eu não estava suficientemente disciplinado pra ficar perto de humanos agora. Me concentrar tanto em não matar um deles havia acabado com todos os meus recursos para resistir a matar os outros. Que desperdício isso seria. Se eu tinha que dar o braço a torcer para o monstro, eu podia pelo menos fazer o desafio valer a pena.

Eu coloquei o CD de música que geralmente me acalmava, mas ele fez pouco por mim agora. Não, o que mais ajudou agora foi o ar frio, molhado, limpo que entrava com a chuva pelas minhas janelas abertas. Apesar de eu conseguir me lembrar do cheiro do sangue de Avril Lavigne com perfeita clareza, inalar o ar limpo era como lavar o interior do meu corpo contra as infecções.

Eu estava são de novo. Eu podia pensar de novo. E eu podia lutar de novo. E eu podia lutar contra o que eu não queria ser.

Eu não tinha que ir até a casa dela. Eu não queria matá-la.

Obviamente, eu era uma criatura racional, uma criatura que pensava, e eu tinha uma escolha. Sempre havia uma escolha.

Não era isso o que parecia na sala de aula… mas agora eu estava longe dela. Talvez, se eu a evitasse muito, muito cuidadosamente, não houvesse motivos para a minha vida mudar. Eu tinha as coisas sob controle do jeito como elas eram agora. Por que eu deveria deixar alguém agravante e delicioso arruinar isso? Eu não tinha que desapontar o meu pai. Eu não tinha que causar estresse à minha mãe, preocupação… dor. Sim, isso machucaria a minha mãe adotiva também. E Donna era tão gentil, tão delicada e suave. Causar dor a alguém como Donna era verdadeiramente indesculpável.

Era irônico que eu tivesse tido vontade de proteger essa garota da ameaça desprezível, sem dentes, dos pensamentos de Roberta Rei. Eu era a última pessoa que iria querer servir de protetor de Avril Ramonna Lavigne. Ela jamais precisaria de proteção de alguma coisa tanto quanto ela precisava de mim.

Onde estava Alicia?, eu me perguntei de repente. Ela não havia me visto matar a garota Lavigne de alguma forma? Por que ela não apareceu para ajudar - para me parar ou para me ajudar a limpar as provas, o que quer que fosse? Será que ela estava tão preocupada em livrar Mikey de problemas que ela havia deixado passar essa possibilidade muito mais horrorosa? Será que eu era mais forte do que eu pensava? Será que eu realmente não teria feito nada com a garota?

Não. Eu sabia que isso não era verdade. Alicia deve estar se concentrando bastante em Mikey.

Eu procurei na direção em que eu sabia que ela estaria, no pequeno prédio que era usado para as aulas de inglês. Não me levou muito tempo localizar sua “voz” familiar. E eu estava certo. Todos os seus pensamentos estavam voltados pra Mikey, vendo todas as suas pequenas escolhas a cada minuto.

Eu desejei poder pedir seus conselhos, mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz que ela não soubesse do que eu era capaz. Que ela não soubesse do massacre que eu havia planejado na hora anterior.

Eu senti uma nova queimação pelo meu corpo - a da vergonha. Eu não queria que nenhum deles soubesse.

Se eu pudesse evitar Avril Lavigne, se eu pudesse conseguir não matá-la - mesmo enquanto eu pensava nisso, o monstro trincava e rangia os dentes, cheio de frustração - então ninguém teria que saber. Se eu pudesse manter distância do cheiro dela…

Não havia razão para que eu não tentasse, pelo menos. Fazer uma boa escolha. Tentar ser o que Donnald pensava que eu era.

A última hora de escola já estava quase acabada. Eu decidi começar a colocar o meu novo plano em ação imediatamente. Era melhor do que ficar sentado no estacionamento, onde ela poderia passar a qualquer minuto e arruinar minha tentativa. De novo, eu senti o ódio injusto por essa garota. Eu odiava que ela tivesse esse poder inconsciente sobre mim. Que ela conseguisse me fazer ser algo que eu repugnava.

Eu caminhei rapidamente - um pouco rapidamente demais, mas não havia testemunhas - através do pequeno campus até a secretaria. Não havia razão pra Avril Lavigne cruzar o meu caminho. Ela seria evitada como a praga que ela era.

A secretaria estava vazia, com exceção da secretária, a única que eu queria ver.

Ela não reparou na minha entrada silenciosa.

- Sra. Collins?

A mulher com o cabelo desnaturalmente vermelho olhou pra cima e os olhos dela se arregalaram. Eu sempre os pegava fora de guarda, pequenos marcadores que eles não conseguiam entender, não importava quantos de nós eles já tivessem visto.

- Oh. - Ela ofegou, um pouco corada. Ela alisou sua blusa. Boba, ela pensou consigo mesma. Ele quase é novo o suficiente pra ser meu filho. Novo demais pra eu pensar nele desse jeito…

- Olá, Gerad. O que eu posso fazer por você? - Seus cílios flutuaram por trás das lentes dos seus grossos óculos.

Desconfortável. Mas eu sabia ser charmoso quando eu queria ser. Era fácil, já que eu era capaz de saber instantaneamente como qualquer tom ou gesto meu era recebido.

Eu me inclinei para a frente, encontrando seu olhar como se estivesse olhando profundamente dentro dos seus olhos marrons rasos, pequenos. Os pensamentos dela já estavam em polvorosa. Isso iria ser simples.

- Eu estava me perguntando se você pode me ajudar com os meus horários - eu disse com a minha voz suave que era reservada a não assustar humanos.

Eu ouvi o ritmo do coração dela acelerar.

- É claro, Gerard. Como eu posso ajudar? - Jovem demais, jovem demais, ela repetiu para si mesma. Errada, é claro. Eu era mais velho que o avô dela. Mas, de acordo com a minha carteira de motorista, ela estava certa.

- Eu estava imaginando se eu poderia trocar a minha aula de Biologia para o nível mais alto de Ciências. Física, talvez?

- Algum problema com o Sr. Banner,Gerard?

- Absolutamente não, é só que eu já estudei esse material…

- Naquela escola acelerada que você estudou no Alaska, certo? - Os lábios finos dela se torceram enquanto ela considerava isso. Eles todos já deveriam estar na faculdade. Eu já ouvi todos os professores reclamando. Notas perfeitas, nunca hesitavam antes de responder, nunca respondiam errado num teste - como se eles encontrassem uma forma de colar em todos os assuntos. O Sr. Varner preferiria admitir que tem alguém colando do que dizer que existe alguém mais inteligente que ele… Eu aposto que a mãe deles os instrui…

- Na verdade, Gerard, a aula de física já está muito cheia agora. O Sr. Banner odeia ter mais de vinte e cinco alunos na sala de aula -

- Eu não daria nenhum problema.

É claro que não. Não um Way perfeito.

- Eu sei disso, Gerard. Mas simplesmente não tem lugares suficientes…

- Então eu posso desistir da aula? Eu posso usar o período pra estudos independentes.

- Desistir de Biologia? - A boca dela se abriu. Isso é loucura. Quão difícil pode ser ver um assunto que você já viu? DEVE haver algum problema com o Sr. Banner. Eu me pergunto se devo falar sobre isso com Tyler.

- Você não teria créditos suficientes pra se formar.

- Eu posso acompanhar no ano que vem.

- Talvez você devesse falar com os seus pais sobre isso.

A porta se abriu atrás de mim, mas quem quer que fosse não estava pensando em mim, então eu ignorei a chegada e me concentrei na Sra. Collins. Eu me inclinei um pouco mais pra perto e abri meus olhos um pouco mais. Isso funcionaria melhor se eles estivessem dourados em vez de pretos. A negritude assustava as pessoas, tal como devia.

- Por favor, Sra. Collins? - Eu fiz minha voz ficar o mais suave e convincente que eu pude - e isso podia ser consideravelmente convincente.

 - Não há uma outra seção à qual eu possa me mudar? Será que não existe nenhuma vaga em aberto em algum lugar? Biologia no sexto horário pode ser a única opção…

Eu sorri pra ela, tomando cuidado pra não mostrar os meus dentes demais pra não assustá-la, deixando a expressão se suavizar no meu rosto.

O coração dela bateu mais rápido. Jovem demais, ela dizia para si mesma freneticamente.

- Bem, talvez eu pudesse falar com Tyler, quero dizer, o Sr. Banner. Eu posso ver se...

Um segundo foi o que levou para tudo mudar: a atmosfera na sala, a minha missão aqui, a razão pela qual eu me inclinava para a mulher de cabelos vermelhos… O que havia sido por um propósito, agora era por outro.

Um segundo foi só o que demorou pra Samantha abrir a porta e jogar uma assinatura que ela havia pego na cesto ao lado da porta e correr para fora de novo, com pressa de sair da escola. Um segundo foi tudo o que levou para uma rajada repentina de vento passar pela porta e vir me atingir. Um segundo foi o tempo que eu levei pra me dar conta de por que aquela primeira pessoa não havia me atrapalhado com os seus pensamentos.

Eu me virei, apesar de não precisar ter certeza. Eu me virei lentamente, lutando pra controlar os meus músculos que se rebelavam contra mim.

Avril Lavigne ficou com as costas pressionadas na parede ao lado da porta, com um papel agarrado nas mãos.

Os olhos dela estava ainda maiores do que o normal quando ela percebeu o meu olhar feroz, desumano.

O cheiro dela saturou cada pequena partícula de ar na sala pequena, quente. Minha garganta ficou em chamas.

O monstro olhou pra mim pelo espelho dos olhos dela de novo, uma máscara do mal.

Minha mão hesitou no ar em cima do balcão. Eu não teria que olhar para bater com a cabeça da Sra Collins na mesa dela com força suficiente pra matá-la. Duas vidas, ao invés de vinte. Uma troca.

O monstro esperou ansiosamente, faminto, que eu fizesse isso.

Mas sempre havia uma escolha - tinha que haver.

Eu parei o movimento dos meus pulmões e fixei o rosto de Donnald na frente dos meus olhos. Eu me virei de volta pra olhar para a Sra. Collins e ouvi a surpresa interna dela com a mudança da minha expressão. Ela se afastou de mim, mas o medo dela não saiu em palavras coerentes.

Usando todo o auto-controle que eu havia aprendido em minhas décadas de auto-negação, eu fiz a minha voz ficar uniforme e suave. Havia ar o suficiente nos meus pulmões pra falar uma ultima vez, apressando as palavras.

- Deixa pra lá então. Eu vejo que é impossível. Muito obrigado por sua ajuda.

Eu me virei e me lancei pela porta, tentando não sentir o calor do sangue quente do corpo da garota enquanto eu passei a apenas alguns centímetros dela.

Eu não parei até estar no meu carro, me movendo rápido demais em todo o caminho até lá.

A maioria dos humanos já havia ido embora, então não havia muitas testemunhas.

Eu ouvi um garoto do segundo ano, D.J. Garrett, notar e depois deixar pra lá…

De onde foi que Way saiu? Foi como se ele tivesse aparecido com o vento… Lá vou eu com minha imaginação de novo. Minha mãe sempre diz…

Quando eu escorreguei para dentro do meu Volvo, os outros já estavam lá. Eu tentei controlar a minha respiração, mas eu estava asfixiando por ar fresco como se estivesse sufocando.

- Gerard? - Alicia perguntou com uma voz alarmada.

Eu só balancei a minha cabeça pra ela.

- O que diabos aconteceu com você? - Bob quis saber, distraído, por um momento, do fato de Mikey não estar no clima de aceitar a sua revanche.

Ao invés de responder, eu dei a ré no carro. Eu tinha que sair daquele estacionamento antes que Avril me seguisse aqui também. Meu demônio pessoal me perseguindo… Eu virei o carro e acelerei. Eu já estava nos quarenta antes de chegar à estrada. Na estrada, eu fiz setenta antes de chegar à esquina.

Sem olhar, eu sabia que Bob, Katlyn e Mikey se viraram todos para olhar para Alicia.

Ela levantou os ombros. Ela não podia ver o que havia se passado, só o que estava por vir.

Ela olhou pra mim agora. Nós dois estávamos processando o que ela viu em sua cabeça agora, e nós dois estávamos surpresos.

- Você vai embora? - ela sussurrou.

Os outros olharam pra mim agora.

- Eu vou? - eu assoviei através dos meus dentes.

Ela viu nessa hora, enquanto a minha decisão ia para outro caminho e outra escolha virara o meu futuro pra uma direção mais escura.

- Oh.

Avril Lavigne morta. Meus olhos brilhando, vermelhos com o sangue fresco. A procura que se seguiria. O tempo cuidadoso que nos levaria a esperar até que fosse seguro sair e começar tudo de novo…

- Oh - ela disse de novo. A imagem ficou mais específica. Eu vi o interior da casa do Chefe Ramonna pela primeira vez, vi Avril na pequena cozinha com os armários amarelos, com as costas viradas pra mim enquanto eu a perseguia na escuridão… deixava o cheiro dela me guiar até ela…

- Pare! - eu rugi, incapaz de agüentar mais.

- Desculpa - ela cochichou com os olhos arregalados.

O monstro gostou.

E a visão na cabeça dela mudou de novo. Uma avenida vazia à noite, as árvores ao lado dela cobertas de neve, brilhando com os quase duzentos quilômetros por hora.

- Eu vou sentir sua falta - ela disse. - Não importa quão curto seja o tempo que você vai ficar fora.

Bob e Katlyn trocaram um olhar apreensivo.

Nós já estávamos quase na curva da longa estrada que levava à nossa casa.

- Nos deixe aqui - Alicia sugeriu. - Você deve dizer isso a Donnald pessoalmente.

Eu balancei a cabeça e o carro guinchou quando parou de repente.

Bob, Katlyn e Mikey saíram silenciosamente; eles fariam Alicia explicar tudo quando eu fosse embora. Alicia tocou o meu ombro.

- Você vai fazer a coisa certa - ela murmurou. Não era uma visão dessa vez, era uma ordem. - Ela é a única família de John Ramonna. Isso o mataria também.

- Sim - eu disse, concordando apenas com a última parte.

Ela saiu pra se juntar aos outros, as sobrancelhas dela estavam se juntando por causa da ansiedade.

Eles se enfiaram nas matas, desaparecendo de vista antes que eu pudesse virar o carro.

Eu acelerei de volta à cidade, e eu sabia que as visões na cabeça de Alicia estariam passando de negras a claras num piscar de olhos.

Enquanto eu corria pra Forks com mais de noventa quilômetros por hora, eu não tinha certeza do que estava fazendo. Dizer adeus ao meu pai?

Ou abraçar o monstro que havia dentro de mim?

A estrada passava voando por baixo dos meus pneus.

Continua!


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Notas finais do capítulo

Acabou o primeiro cap!
Mais tem mais!



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