João E Maria escrita por adjr


Capítulo 5
Cinco




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/164139/chapter/5

O banheiro de Nora não era muito grande. A banheirinha era branca e tinha água aquecida por um sistema bem rudimentar. A lenha queimava, o fogo esquentava os canos e a água que saia deles era quente.

Maria foi a primeira a tomas banho. Adorou finalmente poder mergulhar nas águas quentes da banheira. Nora se ofereceu para ajudar-lhe mas ele recusou, afina já era uma mocinha.

Ao sair do banho vestiu algumas peças de roupa de Nora, as quais ficaram um pouco grandes, mas eram confortáveis. Saiu do banheiro.

-Agora sua vez João.- Nora disse para o garoto que comia biscoitos sobre o sofá.

Ele não resistiu as ordens da mulher, foi lentamente ao banheiro e se trancou lá.

-Nora, posso ir dormir?-  A bela Mariazinha dizia bocejando.

-Mas ainda são dezenove e quinze minha flor, e você nem jantou.- Nora estava sentada em uma das cadeiras da mesa fumando um cachimbo.

-É que eu não dormir a noite, e nem durante o dia, como João.

Nora olhou-a piedosamente. Era incrível como aquela garotinha era perfeita.

-Tudo bem minha flor, pode dormir na minha cama, seu irmão dormirá no sofá.

-E você?

-Não se preocupe comigo, eu me viro.- A mulher disse, sorrindo e soltando uma baforada de fumaça.

Maria acenou com a cabeça e foi na direção da cama da mulher. Nora deixou o cachimbo sobre a mesa e foi colocá-la na cama, ajeitando-a sob os cobertores.

-Boa noite.- A garotinha disse a Nora.

-Boa noite minha flor. – Nora disse, beijando-lhe a testa e voltando para o seu lugar ao lado da mesa.

Não demorou para que Maria caísse em um sono profundo.

Nora já estava impaciente com a demora de João no banho, afinal já era quase vinte e trinta e o garoto ainda não havia saído do banheiro. Foi então que o barulho da chave na porta fez-se ouvir e saiu de lá o garoto, com as roupas mais masculinas que Nora tinha.

-Não gostei destas roupas.- João disse, pegando-as e mostrando-as para Nora.

-Infelizmente são as únicas que tenho.

Nora estava fazendo um lindo vaso agora, em argila.

-Não pense que vou gostar de você só porque minha irmã gosta, por mim já teríamos ido embora.- O garoto se dirigia ao sofá.

-Por mim, você já teria ido embora garoto.

João a encarou com desdém, quem ela pensava que era para falar assim com ele.

-É, acho melhor eu ir então.

Nora não respondeu, mas sorriu ao ouvir as palavras do garoto.

João se irritou, pensava que a mulher imploraria que ele ficasse, por sua irmã, mas não, ela até sorria quando ele dizia que iria embora.

Levantou-se abruptamente e abriu a porta.

-Diga a Maria que amanhã venho buscá-la.

Nora ainda estava em silêncio. Não podia deixar que o garoto fosse embora, pois nunca mais teria sossego se alguém mais soubesse onde morava, mas também não podia morar debaixo do mesmo teto que um garoto como João.

A porta se fechou. Nora sabia que João não sairia clareira, ainda mais aquelas horas. Nora foi lentamente até a gaveta do guarda-louças. Só havia uma coisa a se fazer. Pegou sua faca mais afiada de carne e saiu atrás do garoto.

Não demorou para que se ouvissem gritos abafados e logo a mulher estava novamente a porta, com a faca em uma mão e arrastando o corpo desfalecido de João pelos cabelos com a outra. O avental, antes só sujo de argila, agora estava tingido de rubro.

Ela o deixou ao lado da mesa e limpou o risco de sangue que o corpo deixara. Maria ainda dormia profundamente.

Ela voltou então a fazer o que fazia antes, modelar o belo vaso em argila.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!