João E Maria escrita por adjr


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Bruxa?!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/164139/chapter/3

As crianças dormiam ao pé de uma árvore, não muito longe da cidade, mas longe o suficiente para não serem vistas.

Maria repousava sobre o colo do irmão, ao se lado a cesta com os dois pedaços de pão. João, o qual havia ficado de vigia, havia, a pouco tempo, se entregado ao cansaço e dormia de qualquer jeito escorado na árvore.

A floresta era escura, principalmente em noites como aquelas, onde a lua estava encoberta por nuvens. Podia-se ouvir o som de vários animais, sendo muitas vezes apenas ratos passam por cima das folhas secas.

Maria acordou assustada com um desses sons que ouviu.

-João, acorde João! O que foi isso?- Ela dizia enquanto balançava o rimão para que este acordasse.

-Ham? O que? Não é nada Maria, me deixe dormir!- Ele dizia ainda com os olhos fechados.

-João acorde! Tem alguma coisa vindo!

João se irritou, odiava ser acordado, e odiava mais ainda quando era acordado e não deixavam que ele voltasse a dormir.

-Cala boca Maria! Deixa eu dormir caramba.- Ele disse saltando e empurrando a garota de seu colo.- Não é nada! Está vendo? Nada! Agora cala essa boca e deixa eu dormir!- João dizia, agora em pé, apontando para os lados.

Foi então que ouviu um som diferente, uivos.

Seus olhos se arregalaram e Maria percebeu que aquilo não era nada bom.

-João, nós vamos morrer...- Ela disse, desabando em lágrimas.

O vulto do grande lobo, olhos avermelhados, dentes a mostra e fios de baba escorrendo da boca. Andava lentamente, claramente se preparando para atacar.

João tentou pensar rápido, não sabia o que fazer. Apenas lhe veio uma coisa a mente.

-Corre Maria! Corre!

E então, puxando a irmã pela mão, correu na direção aposta a que vinha o lobo.

Maria com a cestinha na mão, corria o máximo que suas perninhas agüentavam, tinha medo de olhar para trás, mas ouvia o som do lobo atrás dos dois.

-Joga isso Maria, joga!- João gritava com.

-Por que?

-Joga logo!

Maria soltou a cestinha e deixou que ela ficasse para trás. A única comida que tinham agora voava pelos ares até chegar perto do lobo. Este parou, sentiu o cheiro do pão e foi comer. Uma distração, não demorou mais de um minuto para que o lobo voltasse a persegui-los.

-E agora João?

-Eu não sei.

A floresta ficava cada vez mais densa e os galhos das arvores riscava a pele branca das crianças, deixando vergões.

Foi quando adentraram uma clareira.

Era grande, em formato circular. Ao centro uma sombra do que parecia ser uma pequena casa. O mato estava alto ao redor dela. Os dois não pararam de correr, e quando chegaram bem perto, notaram que o som do lobo os perseguido havia cessado.

Olharam para trás e viram os olhos vermelhos da grande criatura entre meio as árvores, as margens da clareira. Parecia ter receio em entrar naquele espaço. Dois minutos depois, o lobo estava correndo para dentro da floresta novamente.

João e Maria não entenderam o que estava acontecendo. Estavam aliviados, mal sabiam eles que até os animais tinham receio em entrar naquela clareira.

Resolveram pedir ajuda para quem quer que morasse dentro da pequena casa, mas resolveram esperar amanhecer, afinal, as pessoas são menos más quando estão bem descansadas.

Não demorou muito para que o sol nascesse mostrando a singularidade daquela casa. Era pequena, mas toda decorada, tinha formas de doces por todas as paredes, uma pequena chaminé deixava escapar uma pequena fumaça que saia em círculos.

Não, eles não tentaram comer a casa, pois era visível que eram apenas enfeite. Na verdade foram até a porta e bateram.

-Quem esta ai?- Uma voz fraquinha vinha de dentro da casa.

-João... João e Maria.- João disse, lançando um olhar de esperança para Maria.

-Um minuto.

Ouviu-se a chave da porta girar e ela abriu com um rangido. Detrás da porta surgiu  uma senhora. Tinha os olhos puxados, visivelmente orientais, vestia um vestido coloridinho sob um avental sujo de algo amarronzado. Seus cabelos eram brancos, salpicados aqui ou ali por alguns fios pretos.

-Ou, crianças, o que fazem aqui, tão longe da vila?- A velhinha sorria.

-Nós nos perdemos...

-João nós...- Maria ia falar, mas foi impedida pelo irmão que a beliscou.

-Oh, coitados. Entrem, venham, vou lhes arranjar algo para comer, devem estar com fome.

As crianças entraram se a menor cerimônia.  A casa por dentro era simples, uma lareira, uma mesa, um sofá, uma cozinha pequenininha, uma casa e ao fundo uma mesa cheia de argila e uma porta, que deveria levar a um forno para cerâmicas. Cerâmicas essas que eram espalhadas pela casa, em sua maioria em formato de doces.

-Então, a senhora e escultora?- João perguntou, passando por sobre o tapete azul, deixando marcas de barro, e se jogando no sofá.

Maria apenas ficou parada, ao lado da porta.

-Sim, sou escultora.- A mulher tentara disfarçar a irritação ao ver o garoto sujando sua casa. Então voltou-se para Maria.- Minha querida, será que poderia me ajudar?

Ela disse que sim com a cabeça e seguiu a velhinha até a cozinha.

Lá enquanto Maria colocava pratos e talheres na mesa, a senhora terminava o café da manha, fritava ovos e fatiava o pão, passava café. O cheiro era maravilhoso.

Maria se aproximou receosa, algo havia lhe chamado atenção, alguns vasos sobre o guarda-louças. Casa vaso tinha cerca de cinqüenta centímetros de altura e eram um tanto largos, cada um com um nome masculino.

-Por que seus vasos tem nomes?- Ela perguntou baixinho.

-Ah, bem... é que eu gosto de dar nomes aos meus vasos.-A velhinha disse se virando a tempo de ver João deixando cair uma de suas cerâmicas que estavam sobre a lareira.

Mas do que depressa o garoto a encarou de olhos arregalados. Ela sorriu, se consumindo por dentro.

-Seu irmão... Ele é um pouco travesso, não?- A velhinha disse baixinho.

-Sim, e as vezes é mal também, principalmente comigo, mas eu gosto dele. – Maria respondeu inocentemente.

-João, pode vir, o café da manhã está servido. – A velhinha falou mais alto e o garoto não demorou a se dirigir a mesa. Sentou-se e começou a comer. Estranhamente ao ver aquele garoto comendo, a senhora não pode deixar de lembrar de abutres comendo carniça, depois lembrou de seu ex-marido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!