João E Maria escrita por adjr


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Casa feita de doces? Você só pode estar sonhando.



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A vila era  pequena, possuía poucas casas, sendo a maioria simples. Apenas uma armazém onde podia-se comprar o que comer a preços absurdos. A maior casa, ao norte, era a do prefeito. Um homem gordo e feio, um tanto careca, que não dava a mínima para as pessoas daquela vila.

Mais ao sul, próximo a floresta, existia uma pequena casa de madeira, velha, meio torta para a direita pela ação do tempo, a pintura descascada.

Nela morava um lenhador, que em outros tempos já soube o que era fartura, mas depois que as pessoas passaram a usar fogões a gás, estava sempre na miséria. Para ajudar ainda tinha dois filhos, um menino e uma menina, João e Maria, e uma esposa, que não era mãe das crianças, a qual já havia morrido a alguns anos.

A madrasta nunca gostou de crianças e apenas se casou com o lenhador pois pensava ter uma vida melhor com ele do que onde morava antes, na rua. Sim, ele a retirou da rua e a pôs para dentro de casa, deu-lhe comida e roupas e ela para agradecer, espancava seus filhos todos os dias quando ele saia para o trabalho.

As crianças já deviam estar na escola, mas não haviam sido matriculados. O pai não tinha tempo e a madrasta não dava a mínima.

Certo dia o pai chegou em casa mais estressado que de costume, havia sido escorraçado da casa do prefeito quando foi pedir ajuda. Maria, uma garotinha pequena, cabelos loiros e pele branca, se aproximou do pai, um olho roxo.

-Pai, Minerva me bateu, olhe o que ela me fez.- Dizia a menina de sete anos apontando para o olho.

-Você deve ter feito algo para merecer isso!.- O homem disse sem muita paciência.

-Mas pai, eu não fiz nada, ela me bateu porque disse que estava com vontade.

-Ah, não me venha com lorotas menina!- Ele falou erguendo a mão com o punho serrado.- Senão eu trado e arrochar o outro olho! Agora some daqui!

 Maria nunca havia visto o pai tão bravo, na verdade ele sempre fora bom com ela, mas de uns tempos para cá ele estava muito diferente. As surras, que antes eram raras, agora estavam se tornando freqüentes.

Para não apanhar mais, Maria correu para o quarto do irmão.

João estava sobre a cama, abraçado aos joelhos e olhando pela janela a criançada da rua brincar. Ele já esteve lá, junto deles, mas hoje em dia não podia mais. Ai dele se colocasse o pé para fora de casa, eram no mínimo três cintadas nas costas, ou, se o cinto não estivesse por perto, eram vassouradas ou o que viesse a mão da madrasta ou do pai.

A garota entrou chorando e se jogou em cima do irmão.

-João, eu não quero mais isso João, vamos embora... O papai não gosta mais da gente.

João tinha pele branca como a da irmã, mas o cabelo era negro como o do pai. Ele a abraçou e com uma das mãos limpou uma lágrima.

-Calma Maria, o papai gosta de nós. Só está bravo porque estamos ficando sem comida.

-Não João, ele não gosta. Ameaçou me bater....- A garota agora não chorava tanto.- E esses dias eu ouvi ele dizer para Minerva que se a comida começasse a faltar teria que se livrar de nós.

Aquelas palavras acertaram João como um soco. Livrar-se deles, seu pai seria capaz disso? Talvez... ainda mais se a Minerva fizesse a cabeça dele.

Assim como Maria, João apanhava freqüentemente dos pais, já tinha uma ou duas costelas quebradas e várias marcas pelo corpo. As palavras de Maria foram a gota d’água para ele.

-Hoje nós iremos Maria. Esteja pronta a noitinha, quando eles dormirem.


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