Ela Só Queria Ser Mãe.. escrita por Hitsuki T


Capítulo 3
Algo Saiu do Controle.




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"Estão incontroláveis" – Roderich gesticulava, um tanto quanto agitado. Coisa que Franz não gostava muito de ver – "Não sei o que eles querem. Por mais que tentamos controlar, nada os acalma".

"Isso é obra do France" – Ludwig comentou, tentando fingir um tom leve – "Imagine só: Slovakia e Bosnia querendo ser países? Não faz nenhum sentido".

"Não creio que France-san seja o responsável pelas reivindicações" – Elizabeta interferiu – "Ele pode ter os seus interesses, mas ele jamais iniciaria uma guerra assim".

"Ouvi dizer que o maldito do Serbia é quem está liderando o levante²" – Roderich andava de um lado para outro, e aquilo começava a deixar Franz agoniado – "Mas o que eles querem que façamos?"

"Reconhecê-los como países" – Liz observou Franz se encolher em um sofá próximo, e sentiu um aperto no coração. O filho realmente detestava guerras – "E será que eles não estão no direito? Se são como nós, por que não..."

"Eles não são como nós, querida" – Roderich a interrompeu, deixando-a bastante pasma. Ele nunca a interrompia – "É exatamente por isso que eles brigam conosco. Eles não são e não querem ser como nós".

Elizabeta entendeu o ponto do marido. E percebeu que, assim como Franz, ele também não estava muito disposto a encarar a guerra. Mas também não estava nem um pouco disposto a reconhecer que Slovakia, Bosnia e Serbia eram países também, assim como eles. O que fazer?

Ela, há algum tempo, iria para o combate, ao lado de Roderich, sem nem pensar duas vezes. Mesmo que achasse que eles talvez merecessem ser reconhecidos como países... a confusão que estavam armando, o jeito como estavam incomodando Roderich... tudo isso seria motivo o suficiente para ela pegar a sua frigideira e partir pra guerra também.

Mas agora existia Franz. E Franz com certeza acreditava que havia outro jeito. E algo dentro dela dizia que ela deveria confiar em Franz. Afinal, ele era bom. E se ela o educou tão bem quanto ela queria acreditar, era hora de confiar nele.

Ela pegou na sua mão, e deu seu sorriso mais terno. Quando Franz era pequeno, e ficava apreensivo, ela costumava fazer isso. Era uma das raras ocasiões em que eles não precisavam falar pelos cotovelos para se entenderem. Franz retribuiu com o mesmo sorriso.

"Por que não podemos reconhecê-los como países?" – ele se pronunciou pela primeira vez, chamando a atenção de todos – "Se eles são diferentes de nós, por que eles tem que continuar nos obedecendo?".

Ludwig olhou Franz com uma sobrancelha levantada, enquanto Roderich ficou mudo. Elizabeta se sentiu um tanto quanto orgulhosa de Franz naquela hora. Ele seria capaz.

"Franz, acho que você não entende a situação" – Roderich tentou ser ponderado – "Esses homens, eles querem..."

"Eu sei o que eles querem" – Franz sorriu, tão terno que Ludwig pensou, por um breve instante, o quanto ele próprio podia estar enganado ao querer aquela guerra. Guerras são feias, e nelas os sorrisos como os de Franz (tão parecidos com os de Liz... e com os de Feliciano) não existiam – "Mas podemos resolver isso sem guerra. Por que não tentamos falar com eles?".

"Falar?" – Roderich parou para pensar por um momento – "Mas falar o quê? O que pode convencê-los?".

"A autonomia talvez. Não precisam ser países, mas podem ter autonomia. Tomar decisões sozinhos sobre os seus próprios problemas, ter voz nas reuniões, decidir o que produzirão para o movimento da economia³"

"Querido..." – Liz apertou mais forte a sua mão – "Isso é papel de um país".

"Não, não exatamente" – Franz voltou-se para a mãe – "Eles ainda deverão prestar contas ao Império, e pagar seus devidos impostos. Além disso, vocês dois ainda seriam seus representantes em casos mais extremos, como... como..."

"Guerras?" – Ludwig completou, recebendo um aceno afirmativo do agora apreensivo Franz.

"Não é uma má ideia" – Roderich se sentou – "Se eles aceitarem, evitaria o confronto".

"Eu acho uma péssima ideia" – Ludwig respondeu, seco. Em parte porque realmente achava a ideia ruim, mas por outro lado porque ele estava se lembrando muito de Feliciano por causa daquela atitude de Franz, e ele não tinha certeza se poderia gostar disso – "Austria, compreenda, o confronto é inevitável. Estão só esperando alguém dar o primeiro passo. Não adianta você e Hungary continuarem a negar, querendo a paz, quando todos já estão armados".

"Incluindo você, Germany" – Liz resmungou – "Há tempos vejo que você é o mais interessado na guerra".

"Isso não vem ao caso agora" – Ludwig se levantou – "Estou apenas alertando vocês. Eles irão usar esse confronto com Slovakia, Bosnia e Serbia a favor da guerra. E se vocês continuarem nessa atitude pacifista, serão os mais prejudicados" – ele olhou para Franz – "Incluindo você, mocinho".

"Já chega!" – Liz se levantou também, seus olhos verdes tomando uma coloração avermelhada de raiva – "Se você não nos apóia, por favor, saia daqui"

"Tudo bem, Liz. Eu saio. Mas pense um pouco no que digo" – Ludwig cumprimentou a todos e foi saindo, mas antes parou na porta – "Só uma coisa: vocês não podem superproteger Franz para sempre".

Roderich, mesmo se sentindo ofendido pela frase, não pode deixar de rir quando viu Elizabeta correr atrás de Ludwig até ele sumir de vista.

"Ora, esse... esse..."

"Não se irrite com ele, Liz" – Roderich suspirou – "Apesar de tudo, Germany gosta da gente. Ele só está tentando ajudar".

"Ele nos quer ao lado dele na guerra, isso sim!" – ela resmungou, se sentando de novo – "E isso ele não vai conseguir".

"Também não quero ficar ao lado de Ludwig na guerra, mesmo porque não quero a guerra. Mas para isso, precisamos tomar uma atitude, principalmente em relação aos revoltosos".

"Achei a ideia de Franz excelente" – Liz foi tão decidida em seu comentário que até Franz se assustou – "Estou pensando seriamente em ir eu mesma fazer a proposta aos rapazes".

Roderich também achava a ideia de Franz boa, mas tinha medo da reação dos revoltosos, principalmente se Elizabeta fosse a intermediadora. Não que ele não confiasse nela, ou achasse que ela não pudesse se defender, mas era fato de que ninguém, com exceção dele, levava Hungary muito a sério. Ela poderia irritar ainda mais os outros, e com isso prejudicar as negociações.

Não, outra pessoa deveria ir. Alguém que conseguisse convencer as pessoas. Alguém acostumado a conversar...

"Querida, por que não deixa a missão para o Franz?" – Roderich propôs, deixando Liz e Franz espantados – "Afinal, a ideia é dele. Acho que já é hora de ele mostrar que pode fazer a coisa certa".

Liz sentiu seu peito apertar, mas Roderich tinha razão. A ideia tinha sido de Franz. E ele já era um homem crescido, com certeza capaz de fazer um pacto de paz. Era hora de seu menino provar do que era capaz. Provar o que tinham lhe ensinado.

"Franz..." – ela olhou ternamente para ele – "Você quer ir?".

Franz não poderia negar que estava com medo. Nunca lhe deram uma missão, quem dirá algo de magnitude tão grande. Até aquele momento, ele era filho de Austria e Hungary, nada mais. Mas ele sabia melhor do que ninguém que um dia ele teria de assumir seu lugar, como o Império Austro-Húngaro. E esse dia chegara.

Ele encarou nos olhos dos pais, e encontrou confiança. Roderich e Elizabeta acreditavam nele. Eles acreditavam que ele era capaz de evitar uma guerra. E o fim do confronto era tudo o que Franz mais queria.

"Eu quero"

Seus pais estavam ao seu lado. Tudo ficaria bem.

Arquiduque Franz Ferdinand é assassinado em 28 de junho de 1914, em Sarajevo.

Assassino: Gavrilo Princip, da Bosnia, membro da Jovem Bósnia, aliada de Serbia.

O Império Austro-Húngaro culpa Serbia pelo assassinato, e mediante negativa sérvia ante o pedido de que tropas austro-húngaras participem da investigação do assassinato, o Império declara guerra.

Ninguém a imaginou mãe. Mas naquele momento, por mais que achassem que fosse culpa dela, ninguém a culpou pelo desespero e depressão em que Elizabeta entrou. Franz estava morto. Seu menino, tão doce e honesto, tão bondoso, tinha sido assassinato exatamente pelas pessoas a quem ele queria ajudar.

Ele queria paz, e agora estava morto. E era tudo culpa deles. Porque eles enviaram Franz. E ela daria tudo para ter negado a ideia de Roderich, e ter ido ela mesma tentar o acordo. Assim, seu menino não estaria morto. O Império não estaria morto.

Liz se trancou em seu quarto por dias. Chorava descontroladamente, culpando Serbia, culpando Roderich, culpando ela mesma. E de repente tudo perdera o sentido. Talvez os outros estivessem certos. Ela não era uma boa mãe. Uma mãe nunca manda um filho para a morte, e ela mandou. E ela jamais perdoaria alguém por isso. Ela jamais se perdoaria.

Ela queria pegar o assassino. Faria de tudo para achá-lo e dar a lição que ele merecia. Roderich e ela estavam dispostos a investigar a morte, e culpar apenas o assassino, talvez até dar clemência a Serbia (porque era obra dele, não de Bosnia, ela sabia disso). Mas Serbia negava. Serbia cruelmente negava a ela o direito de saber quem tirou a vida de seu filhinho e lhe dar o castigo merecido.

Roderich, mediante a negação, declarou a guerra sem pensar duas vezes. Serbia, como era de se esperar, pediu ajuda a Arthur, Ivan e Francis. Ludwig foi o primeiro a oferecer ajuda a Roderich, o que não agradou muito o musicista – principalmente porque ele sabia que, no fundo, tudo estava do jeito que Ludwig queria e previra, mas Austria não tinha escolha. Feliciano, ao ver Ludwig entrar na guerra e profundamente sentido com a morte de seu pequeno Franz, também entrou no confronto, mesmo que ele tivesse medo e não quisesse o combate. Até mesmo Gilbert ofereceu apoio a Roderich, mesmo que ele próprio não pudesse fazer alguma coisa, já que estava nas mãos de Ludwig. A guerra estava enfim iniciada. A tentativa de paz que Franz tanto queria culminou na maior guerra que todos veriam até aquele momento.

E Elizabeta sentiu ainda mais raiva ao saber disso. Porque naquele momento viu que seu menino foi usado como artifício pelos outros. E Roderich caiu na armadilha. Como Roderich poderia ser tão burro?

Eles jamais venceriam a guerra. Não tinha como. Ludwig sairia derrotado, Feliciano não agüentaria aquele horror por tanto tempo, e Roderich perderia tudo que ele amava. Roderich sairia como um perdedor, e a memória de Franz seria desonrada.

"Eu sei que você não quer essa guerra" – ele disse, antes de sair de casa – "Mas alguém precisa fazer alguma coisa. Pelo Franz".

"NÃO ENVOLVA O NOME DELE NESSA SUJEIRA!" – ela gritou, irritada – "Franz jamais apoiaria esse confronto. Você está jogando o nome dele no lixo ao apoiar esse combate maldito".

"Liz..."

"Não fale mais nada, Roderich" – ela erguei a mão direita, dando basta na discussão – "Você sabe que essa guerra já está vencida. Não tem como derrotar Francis, Arthur e Ivan juntos" – e nesse momento ela começou a chorar – "Usaram nosso filho para iniciar o combate, incluindo Ludwig, e você insiste em entrar nessa guerra. Por que, Roderich, por que você faz isso? Por que vai desonrar o Franz lutando por uma causa perdida?".

"Porque eu vou defender o meu filho até o fim!" – ele finalmente perdeu o controle e gritou, deixando-a ainda mais furiosa – "E você deveria fazer o mesmo!".

Porque Roderich também achava que já era hora de Elizabeta se conformar e fazer o que era preciso. O que ela sempre fez.

Mas quem disse que os pais sempre entendem o que as mães sentem?

"Repita isso de novo e você nunca mais me verá, Austria" – ela ameaçou, indo para o seu próprio quarto, batendo várias portas pelo caminho. Roderich suspirou, cansado antes mesmo de começar a combater.

Definitivamente, era o fim do Império.


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