Passos De Um Imortal Errante escrita por Ao Kiri Day


Capítulo 1
Passos de um imortal errante




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Em passos lentos (como normalmente anda) peregrino, solitario, com apenas lembranças. Vagando, fugindo, fugindo. O inevitavel fim, essa com certeza é a pior das mortes: viver para sempre e sem ninguem… especialmente sem ela.

Um imortal perdidamente apaixonado, um amor imortal perdido nos confins de um nada cheio de tristeza e solidão. Sem motivos, sem razão. Os fios negros desarrumados.

Quem se importa?  As unicas pessoas que se importavam morreram. Guerreiros fortes e valentes, sem medo, com esperanças em manter a paz entre os reinos. No chão do deserto, um heroi sem amor. Aquela mulher...a garota lider.

A saudade o vencia agora, o cansaço o derruba e o sono vinha lhe trazer sonhos de antigamente...há mais de 100 anos, longos e sofridos. Será que a dor não  vai dispersar? No chão úmido da floresta, nas rochosas serras...os calos e feridas em seu corpo.

Um anjo caido, um rapaz inconsequente tentando apagar as memórias daquela que por um tempo amou e possuiu. Frenéticas imagens dos olhos dela, de seus cabelos. Pelas águas do mar...tanta paixão e desejo. Afogando-se...ele não iria morrer mesmo.

O infinito do céu criando aqueles belos tons do entardecer, que se pareciam tanto com a cor avermelhada que ela adquiria quando ficava brava ou envergonhada. A natureza a sua volta lembrava todos os seus companheiros, todos eles permaneciam vivos e lutando para ajudar as pessoas.

Podia ver os elfos nas arvores, os magos nas luzes e na agua, o ninja e a tecnomaga na neve e no gelo, os asmodianos nas sombras, o andarilho e sua espada no vento e na solidão. Pelas terras desconhecidas e conhecidas... Rostos simpaticos, olhos convidativos e sedutores de mulheres, olhos inocentes de criança, olhos raivosos, olhos invejosos, olhos carentes, olhos de todas as cores e sentimentos. Nenhum era o dela.

Lagrimas...lamentando-se. Não a via em lugar algum, as imagens fugiam... Estava se esquecendo, mas não podia, ele prometeu, e promessa é divida. Senão as lagrimas não teriam motivo, e sem motivos não poderia viver. Pois então que se enganava, a garota estava em todos os lugares, todos os sentimentos, em todos os olhares...e quando o imortal reabriu os olhos ela estava lá, estava correndo por um grande campo.

Uma garotinha adoravel que segurava uma espada muito grande para seu tamanho. Numa cidade antiga e ao estilo rural, seu berço de origem e de sua amada. A tristeza apenas aumentou.

Mesmo que aquela criança se parecesse muito com a lider, e ainda que ele se relacionasse com ela novamente, ela morreria e ele cairia em solidão outra vez. Fechou os olhos e ajoelhou na grama, não aguentava-se mais...passaram mais 600 anos de caminhada contínua, vendo o mundo e revendo, tantas as mudanças. O rapaz tinha agora mais de 1300 anos.

Estava muito velho, mesmo que sua aparência continuasse igual. Como ela dizia: "um fóssil podre mesmo." Sorriu com esse pensamento, mas as lágrimas cairam das palpebras cerradas lavando seu rosto. Longos soluços tomando os labios inchados, que ainda assim mantinham a maciez e o charme. Cobriu o rosto com uma das mãos.

Destruido quase completamente. Ele se sentia tão, tão...FRACO. Ele sempre ajudava todos.     

Por que ninguem podia ajuda-lo?! Por que sempre era o herói?! Ele escolheu claro, mas porque fora ele o único? Não havia alguém que se apiedasse dele? Não havia ninguém que podia ver a dor estampada em seu rosto? As pessoas achavam-no tão forte e arrogante a ponto de não ter sentimentos? O que esses deuses achavam que ele era?!

Se afundou em mágoas e odio, como puderam tirar algo tão precioso de sua vida? Estava muito distraído, tanto que não percebeu uma aproximação, pequena e feminina. Começou a pedir por um pouco de consideração e a implorar para seus amigos que estando mortos, dessem forças para continuar vivendo daquele modo tão miserável.

Murmurou o nome da garota numa súplica, que fizeram os seres superiores(os deuses) estremecerem de repulsa e ódio. As árvores e os pássaros pararam de cantar, os rios se acalmaram, não havia som, só murmuros…

O imortal não queria nem saber de deuses nem nada, a única pessoa que o ajudou foi aquela garota, ela que era uma humana. Ela deu todo seu amor para ele. E ele deu o seu para ela.

Os deuses não podiam permitir que um ser abençoado com tantos talentos e o dom da imortalidade, se rebaixasse a uma humana qualquer.

O corpo manchado de areia, terra, barro, sangue, suor e lágrimas… a alma sendo cortada pela morte, que tentava inutilmente leva-lo e  devolve-lo aos braços da moça. Nem a própria morte aguentava observa-lo mais, queria tirar a agonia em sua face e fazer sua dor acabar. Pena…seifava sua alma e o dilacerava continuamente, porém, ela(a alma dele) se recompunha.

A morte rondava-o. Ele não poderia ceder mesmo se quisesse. A morte tinha pena dele. Ele só queria poder se esqueçer, mas a promessa...

Aquela cachoeira… ela…

A criança a sua frente se sentou ao seu lado e encostou a cabeça em seu ombro, fechando os olhos. O rapaz entreabriu os seus, cansado. Mordeu o lábio inferior ao ver a menina tão próxima.

_Voçê está sozinho também?

_Voçê não devia estar falando com estranhos, criança.

_Eu sei me cuidar. Mas… parece que voçê é meio idiota, pois está muito machucado.

_Ruivinha…

A garotinha sorriu de olhos fechados e murmurou.

_Tinha certeza que já havia te visto antes. Acho que num livro muito antigo da nossa familia.

_Voçê sabe quem eu sou?

_Não. Mas tenho a impressão de já ter te conhecido.

Ela abriu os olhos e se levantou, e estendeu a mão para o rapaz.

_Vamos. Já sei como fazer voçê levantar o astral, idiota. –a garota sorrindo de lado com um tom de escárnio parecido com o dele.

O imortal ficou pensativo. Era possivel sua linhagem ter continuado a partir dele e da ruiva que tanto o perturbava? Isso seria muito bom, seria ótimo.

Riu.

_Por que está rindo?

Ele riu mais com a cara dela demonstrando irritação.

_Tem algum palhaço aqui?

O rapaz soltou uma gargalhada a abraçou a menina depois pos-se a correr pelo campo…Rindo, rindo, pelos grandes campos limpos. De olhos fechados, Sieghart corria de mãos dadas a criança, sentindo a leve brisa e a sensação de uma nova vida que estava por vir.

A menina sorria ao ver a felicidade estampada no rosto de seu mais novo amigo. Sentia-se bem com ele, ainda que sentisse  uma estranha sensação de algo ruim que estava por vir.

Sieghart respirou o ar saudável, a felicidade o acolheu. A morte sorriu por debaixo do capuz e se afastou.

“Elesis, se estiver me escutando, quero que saiba mais uma vez: Eu te amo, ruivinha.”


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