Havia se passado 10 dias que ele foi embora. A ausência dele fazia meu coração ficar apertado e solitário no meio daquele imenso quarto.

O vento entrava de maneira violenta no quarto, as cortinas abertas se batiam contra a janela, e eu continuava ali, no meio do quarto.

Não entendia o porquê de ele ter me abandonado, e ainda estava tentando entender o significado do que me disse antes de partir:

“De ciúmes morreu Julieta, de amor morreu Romeu. De tanto gostar de ti, quem irá morrer sou eu”

Tudo bem, aquilo era somente uma frase.  

Lembrei-me da nossa foto, a que havíamos tirado quando fomos á um parque de diversões, nosso primeiro encontro foi ali.

Quando peguei o porta-retratos, reparei que havia um carta atrás dele:

“Às vezes, lembrando o brilho dos seus olhos, eu sinto um aperto no meu coração.

Somente de saber que você se afastará de mim, só de saber que eu vou te deixar , dói.

Você é tão importante pra mim.

Lembra-se dos dias em que rimos de nós mesmos por apenas estar indecisos escolhendo balas?

Simples momentos, que ao seu lado, se tornaram inesquecíveis.

Apenas peço para que não se esqueça de mim, quero que continue, mesmo depois do que acontecer, com esse mesmo sorriso no rosto.

Eu te amo tanto, sinto meu coração doer.

Eu sei que estou indo antes de você, mas mesmo assim, não deixe de me amar.

Tudo é tão ruim sem você, o mundo é tão frio e assombroso sem sua presença.

Quero apenas te olhar novamente nos seus olhos e dizer que te amo...”

-Isso... é tão estranho.  Primeiro, ele diz que quem vai morrer é ele e depois...

Senti uma tontura muito forte, na qual me fez cair no chão.

Não queria que o que se passava na minha mente fosse verdade.

Não queria imaginar que ele iria cometer algo como isso.

Não, meu Sono não vai fazer isso, não.

Sai do meu quarto, esquecendo todas as janelas abertas, queria somente encontra-lo.

Espero que não seja tarde.

Peguei meu carro e fui dirigindo sem rumo pelas ruas de Hadano, sabia que seria quase impossível encontra-lo aquela hora, mas resolvi tentar.

Pensei em todos os lugares que ele gostava, onde ele poderia estar, pois sabia que ele não estava em casa.

Sentia uma dor no peito, como se pressentisse que algo de ruim iria acontecer.

Mas ignorei a dor e fui em direção ao apartamento distante dele, sabia que ele estaria lá, eu tinha pouco tempo e muito medo.

Com pensamentos voando e o medo já mais aparente e preocupante, cheguei no local.

Não pensei duas vezes e já entrei no lugar.

A cena era uma das piores que eu já tivesse visto na minha vida.

Ele estava caído no chão, de bruços, e nos braços, estavam porta-retratos com fotos nossas, de momentos felizes. Ao lado dele estava uma agulha.

Eu não sabia o que tinha nessa seringa, e não queria saber.

Percebi que o mesmo não se mexia, coloquei meus dois dedos no pulso dele pra poder sentir a pulsação, e quando percebi que ele estava morto, não suportei.

Desvirei-o, colocando de barriga pra cima.

Eu estava em estado de choque, não conseguia sentir emoções. Nada.

Notei uma lagrima em seu rosto, que continuava a deslizar naquele rosto liso e pálido.

E então minhas lagrimas começaram a me dominar, era insuportável.

Queria passar o resto da minha vida ali, do lado dele, mesmo sabendo que o mesmo nunca mais estaria comigo.

Debrucei-me sobre o peito dele, e deixei minhas lagrimas descerem por ali mesmo.

Passava-se tantos momentos na minha mente, tantos momentos felizes, tantos sorrisos, tantas horas de amor.

Era somente eu e ele. Ele me amava e eu o amava.

-Porque fez isso comigo, Sono? –perguntei ao mesmo, de maneira desesperada, esperando uma resposta –Porque me abandonou? Porque me fez sofrer? Volta pra mim Sono, por favor... por favor...

Não aguentei ver o mesmo morto, na minha frente, e eu não consegui fazer nada pra evitar aquilo.

Não pude salva-lo do amor que sentia por mim.

Fiquei alguns minutos encarando aquela seringa, não sei o que havia lá, mas tirou a minha vida sem mesmo encostar em mim.

-Sono, me perdoa? Desculpa se eu te fiz sofrer... Eu te amo tanto. Eu fui um tolo em pensar aquilo de você. Por favor, quero que me perdoe. Me perdoe por te amar tanto.

Não pensei duas vezes, peguei a mesma seringa que obviamente o mesmo havia usado e a penetrei em meu braço.

Podia sentir aquilo correr em minha corrente sanguínea como fogo.

Apoiei meu corpo próximo do dele, e senti meus pensamentos se apagarem.

Meus olhos foram se fechando e eu já não podia sentir meu corpo.

Percebi que ali, naquele momento, era o meu fim. Junto ao lado do meu amado, ao lado de alguém que disse que nem a morte nos separaria. Levantei minha cabeça pra perto da dele, fazendo a maior força que eu conseguia naquele momento, selei seus lábios brevemente.

E ali, ao lado dele, minha vida acabou.

-

“Hitori jyanai te to te wo tsunageru omoi wa

Sugu soba ni aru sugu soba ni aru

Wasurenai de”