No domingo acordei tarde. Não tinha que me preocupar com o almoço, já que Charlie iria almoçar na casa de Sue. Ele me convidou para ir, mas resolvi dar um tempo sozinho ao casal. Recebi uma ligação de Amber, que me chamou para sair com o pessoal da escola. Eu logo aceitei, deixando um recado na secretária de Sue para avisar Charlie onde eu estaria. O frio tinha dado um tempo, e um tímido sol saía algumas raras vezes, entre as nuvens. Liguei para tia Alice e pedi uma ajuda com as roupas. Eu também queria saber dos meus pais. Como eles estavam em algum lugar da floresta do Congo, não havia sinal algum de celular. Ela disse que eles estavam bem e aproveitando a viagem para conhecer o mundo. Eu estava morrendo de saudades. Afastei o sentimento saudosista e agarrei minha bolsa e minhas chaves, encontrando as pessoas que almoçavam comigo numa lanchonete perto da pequena praça no centro comercial de Forks.

Almoçamos na lanchonete e depois fomos aproveitar o raro momento de sol na pequena praça. Algumas crianças brincavam nas balanças e nós nos sentamos nos bancos que tinham perto da fonte. A tarde estava agradável. Daniel nos fazia rir de qualquer coisa, ele era realmente engraçado. Os garotos discutiam um jogo que teriam contra uma escola de Seattle, e as meninas reclamavam por eles nunca ganharem um jogo.

“O time de Forks não tem história, sabe. Acho que não ganhamos um título desde a época do meu avô” Monica provocou.

“Não é exatamente assim” Will disse, claramente ofendido.

“Qual é, vocês não podem ser tão ruins assim” Eu cutuquei o braço de Will, que mostrou a língua.

“Vamos provar a você que somos ótimos” Ele devolveu o cutucão.

“Falando em Seattle, nós bem que poderíamos ir para compras no próximo sábado. Eu preciso de uma bolsa nova” Jenny tentava desviar o assunto de esportes.

“Compras de novo, Jenny?” Monica resmungou.

“Qual o problema? Além disso, queria umas dicas da Renesmee.”

“Verdade, você tem um estilo tão impecável. Quem te veste?” Amber tirou os olhos do celular, que ela não havia largado a tarde toda.

“Eu conheço uma profissional no assunto” Eu ri. “Ela é minha amiga, então quando eu sair com ela pra compras, eu posso levar vocês”

“Ah! Isso vai ser ótimo” Jenny deu um gritinho.

“Pare de gritar assim, mulher. Você fere meus ouvidos” George fez uma careta e nós rimos.

“Já que as meninas vão para compras no sábado, nós podemos dar uma olhada no novo bar que abriu em Port Angeles” Jason propôs. Com o tempo vi que ele e Brad não eram tão tímidos assim.

“Meu irmão disse que a situação lá é muito boa, se é que vocês me entendem” Brad acrescentou com um olhar malicioso.

“Claro, como se vocês pudessem passar por alguém de vinte e um”

“Oh, desculpa senhor adulto. Você só é um ano mais velho, Austin”

“Isso. Se nem eu passo por vinte e um, imagina vocês!”

“Não estrague meus planos, ok?”

A tarde ia ótima. As meninas saíram para comprar iogurte congelado e eu não quis. Ao invés disso fiquei conversando com Austin. Além de lindo ele era ótimo pra conversar. Apesar de se comportar como qualquer garoto da idade dele, ele sabia conversar sério com uma menina sem parecer um completo idiota. E o sorriso dele era o mais lindo que eu já havia visto. Aquelas covinhas deixavam qualquer uma derretida. É claro que era bom admirá-lo, mas eu tinha consciência dos riscos de se envolver com um humano. Era um risco que eu não queria correr. Além do mais, eu já tinha me conformado com o fato de que ficaria sozinha pra sempre. O vento trocou de direção, batendo violentamente contra minhas costas e bagunçando meu cabelo. Austin aproximou sua mão de meu rosto e prendeu-o atrás de minha orelha. Ao mesmo tempo aquele cheiro invadiu minhas narinas, me deixando alerta.

“Renesmee” A voz dele trovejou, e eu percebi que saíra trêmula. Ele estava com raiva? Me virei e ele já estava na minha frente, vestindo uma camiseta preta e jeans escuros. Seus olhos negros me encaravam de uma forma tão estranha, mas eles amoleceram quando eu sorri e me levantei, abraçando-o por instinto. Então me lembrei de que estava brava com ele.

“Você veio se desculpar?” Cruzei os braços na frente do peito, arqueando uma sobrancelha.

“Sim, eu vim. Mas não sabia que estava acompanhada” Ele olhou por cima de mim, para Austin.

“Austin Cooper, Jacob Black” Apresentei-os de forma rápida e assisti Austin se levantando e parando ao meu lado, como se quisesse marcar território.

“Algum problema, Ness?” Ele encarava Jacob, mas ele parecia muito menor do que o moreno a sua frente. Jacob trovejou um riso de deboche e eu olhei feio pra ele. Suas mãos tremiam de raiva e eu me alarmei.

“Não, é só o meu amigo Jacob idiota” Empurrei o peito de Jacob para trás. “Te vejo amanhã, Austin. Diga tchau a todo mundo pra mim?” Eu sorri sem graça a Austin, e continuei empurrando Jacob até meu carro.

“Ok, o que foi isso?”

“Jacob idiota?”

“Você me deixa plantada esperando na sua garagem e depois aparece ameaçando meus amigos?”

“Me desculpa, é difícil controlar às vezes”

“Estou vendo” Acelerei e segui em direção à casa de Charlie.

“Como você me achou?”

“Eu segui seu cheiro”

“Stalker” Revirei meus olhos e ele riu.

“Eu só queria falar com você, Nessie. Me desculpe por ter assustado seu pequeno amigo”

“Ta, ta, tudo bem” Eu suspirei, incapaz de ficar brava com ele.

“E então, o que vamos fazer já que eu te tirei do seu passeio?”

“Passeio, Jacob? Nem meu pai fala assim e ele é do começo do século passado”

“Do que você quer que eu chame?”

“Sei lá. Mas você falando assim parece que eu sou uma criança que estava em uma excursão da escola”

“Você só tem sete anos senhorita” Ele tocou minha bochecha e eu ri.

“Tecnicamente”

“Eu estava lá no dia que você nasceu. Você tem sete, não dezessete”

“Você não cansa de ser chato?”

“Nunca” Ele deu um beijo estalado na minha bochecha e então eu estacionei na entrada de carros.

* * *

Quando Charlie voltou, junto com Sue, encontrou Jacob e eu jogados no sofá assistindo a um filme. No final da tarde o dia realmente esfriou, então eu peguei meu edredom e me enrolei numa bola. Fizemos pipoca e comemos junto com muito chocolate. Foi um pouco constrangedor quando Charlie ficou vermelho e quase teve um ataque ao me ver deitada no peito de Jacob, mas não havia motivos para ele se preocupar. Jacob e eu éramos amigos, além do mais, nos conhecíamos por uma semana certo? As coisas só eram assim com ele porque eu sentia que poderíamos ser muito amigos mesmo. Por fim, Sue arrastou Charlie para a cozinha enquanto sorria para nós dois. Jacob só tinha um sorriso estampado no rosto. Eu queria saber o que ele estava pensando, então coloquei a pergunta na mente dele, com a minha mão entrelaçada na sua.

“Só no quanto eu fico feliz de te ter por aqui de volta” Ele beijou o topo de minha cabeça e eu corei. De fato o jeito no qual estávamos envolvidos um no outro era comprometedor. Me chutei mentalmente quando percebi que isso me levou a notar cada parte do corpo de Jacob que estava encostada no meu, e no quanto ele era... Pare com isso, Renesmee.

“Também estou feliz por estar aqui” Eu sorri, ainda vermelha e Jacob riu disso, tracejando a maçã do meu rosto com os lábios. Isso não ajudou em nada, só fez meu coração disparar pateticamente e meu rosto esquentar mais ainda. A mão de Jacob trilhou o caminho da base das minhas costas até minha nuca, mandando arrepios por toda a minha espinha - que eu tentei ao meu máximo disfarçar. Seu sorriso aumentava e eu sentia seu coração pular freneticamente contra meu peito. Seus dedos entrelaçaram-se nos meus cabelos e seus lábios separaram-se, chocando seu hálito quente contra minha pele. O que ele está fazendo?

“Fico feliz pelo seu avô não ler mentes como seu pai” Ele sorriu e sua mão em minha nuca me puxou para ele ao mesmo tempo em que ele se inclinava na minha direção. Ok, ele vai fazer isso?

“Ness, eu trouxe pizza. Você e Jacob vão querer?” A voz de Charlie preencheu meus ouvidos, me trazendo de volta ao presente. Rapidamente Jacob se afastou de mim e nos sentou no sofá. De repente ele estava o mais afastado de mim possível.

“Erm, estou indo vovô” Eu gaguejei ao falar e devo ter me entregado, porque Charlie voou para a porta da cozinha, nos observando de lá.

“Venham logo” Sua voz estava mais suave ao nos ver afastados.

“Eu vou indo, Nessie. Está tarde” Jacob disse sem me olhar ainda.

“Ok” Foi só o que eu consegui responder e Jacob se levantou, gritando tchau para Charlie e Sue e sumindo pela porta. Ainda em choque eu subi para meu quarto e fiquei sentada na minha cama digerindo aquilo. Tomei banho e deitei, mal conseguindo conter meus pensamentos a mil. Quando eu dormi, sonhei com Jacob.