Eu estava voltando para casa depois de um longo e tedioso dia de aula. Eu e minha amiga Mariana estávamos caminhando pela rua quando começou a chover.

- Droga! Vamos ficar encharcadas! – ela disse.

Eu não liguei. A chuva não me incomodava.

- Pode ir na frente se quiser. – eu disse mesmo sabendo que ela diria “não”. Mas para minha surpresa ela disse:

- Desculpa, mas eu vou. Minha prima chegou de viagem com o namorado e eu tenho que chegar cedo.

- Okay. Até amanhã! – eu disse.

- Até!

Aliás, me chamo Lucy Sginet. Tenho dezoito anos, e perdi meu pai à pouco mais de um mês. Minha mãe me abandonou antes que eu aprendesse a limpar minha própria baba.

Mariana era minha melhor amiga – fora ela eu só tinha Isabel – nós éramos como irmãs. Nos conhecemos desde o jardim de infância, conhecemos Isabel três anos depois.

Desde que meu pai morreu eu tenho me excluído bastante, Mari diz que vai passar que eu vou superar e Isabel também diz que eu vou seguir minha vida sem ele, parece impossível. Mariana  é a única que me entende. Isabel até tenta mais ela nunca perdeu algéum muito próximo a ela, ela não sabe como é se sentir sozinha.

Caminhei em direção ao único lugar onde encontro paz: o cemitério.

Parece irônico, eu sei, mas lá é  o único lugar onde não tem ninguém me olhando com pena e dizendo coisas como: “vai ficar tudo bem”, “eu sinto muito” ou até mesmo “Anime-se! Parece até que alguém importante morreu!” acreditem algum imbecil conseguiu dizer isso no enterro do meu pai.

Sentei na terra molhada embaixo de uma grande árvore e olhei para o túmulo de meu pai enquanto deixava a dor tomar conta de mim.

Eu me perguntava por que eu não havia ido no lugar dele ou por que eu não fui também.

O que mais doía era o fato disso ser minha culpa.

Sim, porque era eu quem estava no volante. Era eu quem havia perdido o controle do carro na pista molhada. Era eu quem havia causado o acidente.

Então me parecia justo que eu fosse no lugar dele.

A vida não justa.

Essa frase fazia todo o sentido agora.