Invisível escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedicadas a todas as pessoas que já se sentiram invisíveis... E sozinhas...
Espero que gostem.
Boa Leitura.



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Não é normal encontrarmos pessoas sentadas em escadas a beira de um ataque de nervos, ainda mais quando o degrau em questão não é o ultimo e quando as pessoas passando em volta parecem simplesmente ignorar a cena. Ignorada era exatamente assim que eu me sentia. Sozinha em um lugar diferente do meu habitual, sem os meus amigos e parentes onde todos pareciam enxergar em mim o vazio.

De certa maneira era bom ver as pessoas passando por mim e ignorando minhas lágrimas que escorriam por meu rosto deixando minhas bochechas mais vermelhas do que nunca e fazendo meus olhos arderem profundamente. Apesar disso a dor que sentia nem era tão forte assim quando comparada àquela que minha alma sentia. Eu me perguntava porque tinha sido a escolhida. Escolhida para ser invisível.

De repente eu senti alguém me encarando. E isso só poderia ser impressão ou o meu desespero que tinha tomado formula e iria com toda a crueldade do mundo rir da garota esquisita, que sabe mais que todos e que ainda carrega a marca dos pais.

-- Oi. – Nunca pensei que desespero tivesse uma voz tão agradável. Ergui meus olhos esperando encontrar ou meu irmão maluco, ou minha prima lunática. Não era nenhum dos dois.

-- Oi... – Respondi, mas em seguida me entreguei novamente ao meu choro e a minha tristeza. 

A voz pertencia a um garoto, dito o mais popular de sua casa e um dos mais odiados pelo resto da escola. Mas pense comigo não é melhor ser amado ao extremo ou odiado do que ser completamente invisível? Se respondeu não, você não sabe o que é ser invisível, mas eu sei.

Ele sentou-se ao meu lado em silencio. Silencio era realmente algo que eu entendia. O silencio me perseguia, sempre que sentia algo eu apresentava esse algo às outras pessoas através do meu silencio. Sempre achei mais fácil escutar a todos e resolver os problemas deles do que os meus. Talvez fosse pelo simples fator de que ninguém se importava com os meus problemas.

Essa é uma realidade do ser humano, seja ele bruxo ou trouxa, não está interessado nos problemas alheios e sim em resolver os próprios problemas. Eis um erro típico de pessoas invisíveis como eu, estou preocupada com todos sejam eles amigos, parentes, ou até mesmo com um planeta a quilômetros da terra. Talvez as pessoas invisíveis supram sua infelicidade ajudando os outros.

-- Por que está chorando? – A voz voltou a se pronunciar. E estava realmente tentando puxar assunto comigo? A invisível. Simplesmente dei de ombros enquanto sentia o liquido escorrer por minha face e evitava olhar para o dono da pergunta. – Por que está sentada sozinha na escada? Não deveria chorar escondido? – Finalmente ele me fez encará-lo, possuía lindos olhos azuis. Olhos lindos, mas tristes e cansados como se entendessem tudo que eu sentia.

-- Não temos um quarto só nosso aqui, e a escola não têm lugares vazios. – Respondi com a voz embargada e tentando limpar as lágrimas.

-- Estava começando a achar que não falava. Só que me lembrei de todas as aulas e percebi que só não queria falar. – Ele sorriu para mim. Um lindo sorriso. – Então, por  que está chorando?

-- Não é importante... – Respondi confusa. Eu sou a pessoa invisível, ninguém se importa quando eu choro ou quando eu sorrio.

-- Se chora assim por algo não importante, imagino como fica quando é importante. – Ele tinha uma voz muito melodiosa, e eu me distrai com o movimento dos lábios se unindo e se afastando em movimentos leves e ao mesmo tempo intensos. E por fim um novo sorriso. – Não quer me contar?

-- Não... Não quero... – Respondi, mas minha mente estava gritando palavras confusas. – Na verdade não estou acostumada com pessoas que reparem que eu estou chorando. – Falei rapidamente. Eu sempre falo rápido quando estou nervosa, ansiosa ou com os dois juntos.

-- Como não reparam? – Ele perguntou me olhando intensamente e me fazendo desviar os olhos dos dele. Aqueles olhos deviam conter algum feitiço que faziam com que não se pudesse se afastar deles.

-- Simples. – Respondi sentido que não agüentaria muito tempo antes de desabar. – Sou invisível.

-- Hum... Não você não é. – Ele disse gargalhando, o som da sua risada parecia quase como um calmante. Mas eu sou dura na queda e quando fico assim demoram a me tirar do estado de pura tristeza. – Eu estou te vendo. O truque falhou.

-- Não sou literalmente invisível, mas é como se fosse. – Retruquei zangada. – As pessoas passam por mim e não me enxergam. Trombam em mim e não pedem desculpa. Eu percebo quando todos estão tristes, sozinhos, e quando eu fico assim elas simplesmente me ignoram. É como se eu fosse um dispositivo que funciona quando as coisas estão ruins, mas que pode ser descartável quando elas estão bem. – Eu comecei a falar descontroladamente. Mas afinal foi ele mesmo que começou com tudo isso. E pela primeira vez eu tinha alguém para me escutar. Alguém que não me ignorou no momento em que eu precisava. – Eu só precisava de um abraço, de um sorriso. Mas as pessoas acham que sou forte demais para precisar disso.

-- O sorriso eu já te ofereci. – Ele sorriu novamente. Tinha realmente me oferecido muitos sorrisos desde sua aproximação. – O abraço está aqui. – Ele se aproximou e me puxou para junto de seu corpo. E finalmente eu desabei.

Senti o calor dele junto ao meu corpo e tudo que consegui fazer foi chorar. Possivelmente manchei toda a roupa dele com minhas lágrimas, e preciso lembrar-me de pedir para minha mãe me mandar algo de presente para recompensá-lo. O que importa é que eu não estava invisível, eu estava sendo amparada. Ele estava segurando em minhas costas enquanto eu continuava a chorar encostada em seu peito. Nem ao menos éramos amigos. E eu sempre achei que ele beirava o titulo de vândalo da escola, como eu fui preconceituosa.

-- Obrigada. – Disse me afastando e limpando as lágrimas. Não consigo acreditar no tanto de água que podem escorrer dos meus olhos em momentos assim. Devo realmente ser feita de pura água, não é possível.

-- Posso te dizer uma coisa? – Ele perguntou me encarando novamente. Eu dei de ombros esperando o que viria. Possivelmente alguma piadinha, ou talvez um sermão só para me deixar pior. – Não é invisível. Eu sempre enxerguei você e sua mania de perseguição. Sua simples capacidade de ir do bom humor ao mal sem mesmo avisar. E esse seu jeito de querer ajudar a todos mesmo quando todos não estão nem ai para você. Não precisa ser visível a eles, porque eles não merecem ver.

Se eu tinha parado de chorar, estava completamente perdida novamente e meus olhos estavam novamente liberando minha água extra. Ele realmente me via? Bom, acertou em algumas coisas, sou meio instável emocionalmente, e todos com quem me importava simplesmente me ignoravam ou excluíam nos momentos em que eu mais precisava de alguém, que eu mais precisava ser observada. Como ele me conhecia tão bem assim?

-- Eu te conheço. – Será que ele lê pensamentos? Hum... Talvez seja culpa da casa onde vive, dizem que o pessoal de lá não é flor que se cheire. Bom, meu pai diz isso, mas meu pai é meio engraçado e eu nunca sei quando está ou não falando sério. – Você é como eu. – Sou como ele? Lá vem alguma teoria mirabolante, eu gosto de teorias assim. – Somos os opostos, você queria sair da invisibilidade enquanto eu gostaria de entrar nela. Não é legal ser amado pelas pessoas erradas e odiado pelas pessoas certas.

-- Não te odeio. – Falei sem pensar. Mas na realidade não o odiava, só nunca tinha falado com ele, por um motivo que não me lembro qual seja. Talvez fosse porque estava ocupada demais com pessoas que não valiam a pena, deixando de lado aquelas que valiam. Afinal, começo a acreditar que alguém que me enxergue vale mais a pena do que alguém que me ignora.

-- E eu não te ignoro. – Ele sorriu voltando a me abraçar. Realmente não me ignorava. – Parou de chorar? Isso é bom, não gosto de garotas chorando, lembro da minha avó que sempre que passava o fim de semana em nossa casa lembrava-se de um passado e começava a chorar enquanto me abraçava. – Como alguém pode ser tão perfeito assim? Eu realmente preciso escolher melhor as pessoas que devo ajudar.

-- Obrigada... – Murmurei me afastando dele, mesmo que no fundo sair do abraço fosse o que eu menos queria.

-- Sempre quis ser seu amigo Rose Weasley. – Ele disse se levantando da escada. Minha mente estava gritando: Não se vá. Mas eu nunca pronunciaria tais palavras. – Só não conte para ninguém.

-- Então ganhou uma amiga Scorpius Malfoy. – Uma amiga, uma futura namorada, quem sabe sua esposa? Certo, estou me empolgando. Mas ele é simplesmente encantador. – E pode ficar tranqüilo, minha invisibilidade impedira que todos fiquem sabendo. – Eu sorri. Sim, sorri para Scorpius Malfoy. Eu uma grifinória fui enxergada por um sonserino. Olhem como a vida é brincalhona.

-- Quando quiser deixar de ser ignorada pode me procurar. – Ele disse acenando a cabeça. Hum... Ele é um charme e eu esqueci que estava prestes a sofre um colapso nervoso.

-- Espera... – Me levantei pegando todos os meus livros. – Quando quiser não ser odiado pelas pessoas certas me avisa. – E colei meus lábios na bochecha dele. Sim beijei a face de Scorpius Malfoy e o deixei parado no meio da escada de boca aberta enquanto subia os degraus correndo.

Ser invisível às vezes vale à pena. Só às vezes. 

The End.


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