Os olhos de Nina se arregalaram, e o mesmo aconteceu com os de Bia.

Bia estava escondida atrás de alguns arbustos, e tinha comemorado silenciosamente por ter conseguido atingir seu objetivo: matar Mariana. Entretanto, ao notar que tinha realizado essa tarefa, Bia notou que Nina apresentava uma ameaça para si.

A garota do Distrito 13 caiu do joelhos, bem ao lado de Amanda. Nina estava completamente imóvel, como se estivesse extremamente chocada por ter visto Amanda morrer na sua frente.

Os olhos de quem assistia com atenção os Jogos Vorazes estavam grudados na tela da televisão, esperando por mais uma briga sangrenta. Queriam saber quem seria o tributo sobrevivente dessa edição especial dos Jogos.

Prêmio dobrado. Segurança para o resto da vida. A certeza de nunca mais ter de voltar para a Arena. A certeza de que nunca mais passariam fome também. E a glória de ver todos de seus Distrito batendo palmas.

Entretanto, Amanda não tinha mais quem ver em casa, e logicamente nunca iria para o Distrito 12 novamente. Nina, tirando sua mãe, não tinha mais nenhum outro familiar. Bia tinha todos os seus parentes. Mesmo com suas diferenças, todas queriam poder regressar ao lar. Não precisava ser com dinheiro ou comida. Elas só queriam estar de volta novamente.

Mas é claro que as regras eram claras. Somente um voltaria.

Bia, com os olhos arregalados, fitava Nina. A garota do Distrito 5 tinha ouvido toda a conversa entre Amanda e Nina. Ela ouviu tudo sobre o Distrito 13, tudo sobre o desejo de Amanda não querer mais viver naquele mundo, e imaginou qual era o sentido daquilo.

Distrito 13? Rebelião? Liberdade? Será que era sobre isso que elas falavam?

Bia nunca saberia ao certo, pois a conversa tinha chegado ao fim quando Bia lançara o dardo envenenado.

- Hm... – Fez Amanda – Ni... Na?

Ela não respondeu.

A garota do Distrito 13 caiu ao seu lado. Todos pensaram que tinham ouvido o canhão disparar anunciando a morte de Amanda, mas na verdade... Fora Nina que tinha sido eliminada.

Bia foi para perto do corpo da garota do Distrtio 13 e olhou atentamente. Não tinha nenhum traço de diferença. Nada. Ela ficou muito curiosa para saber o que estaria acontecendo, mas achou que nunca obteria a resposta ao notar que Amanda estava quase morrendo.

Bia correu até ela.

- O que ela quis dizer? – Perguntou Bia – Distrito tre...?

Amanda, trêmula e moribunda, estendeu a mão para o lado e Bia viu que ela segurava um pingente de madeira. Identificou que devia pertencer a Bruna do Distrito 7, que fora morta antes.

- Ele... Existe. – Foi tudo o que Amanda disse antes do canhão disparar novamente. E ela morrera.

Bia estava chocada. Era como se tudo que a Capital tivesse dito, tudo que ela aprendera na escola, fosse uma grande mentira. Como se sua vida fosse uma mentira.

O Distrito 13 existia? Ele liderava uma rebelião? Mas... Não tinha sido destruído?

- Nós temos uma vencedora! – Anunciou a voz – Beatriz Sampaio, tributo do Distrito 5! Parabéns!

O mundo estava girando. Era para Bia estar feliz por ter sobrevivido, pois diferente de muitos que tinha se preparado para aquilo, ela tivera sorte. Ela nunca treinara luta, nunca praticara nenhuma luta corporal, mas lá estava ela... Ganhando os Jogos.

Mas ela não estava feliz. Estava tonta. Desnorteada.

- Não quero viver em um mundo assim. – A frase se repetia na mente de Bia - Não quero viver em um mundo assim. Não quero viver em um mundo assim. Não quero viver em um mundo assim...

Por quê? Pensou, ela. Porque alguém se mataria tão perto de ganhar os Jogos. Bia olhou para o corpo de Nina e para o de Amanda, enquanto a voz do Idealizador dos Jogos falava com ela, mas era só um zumbido em sua mente.

Foi então que Bia entendeu.

A arena era horrível. Era cruel. Você tinha que sobreviver por conta própria e eliminar os outros que se metiam em seu caminho, senão eles te eliminavam. Você era controlada todo o momento por câmeras e forças da Capital.

Será que isso era diferente lá fora?

Não. Não era.

Eles tinham controlado Bia para que ela matasse a todos, e se mantesse viva até o fim dos Jogos, do mesmo modo como fizeram com os outros tributos. A Capital controlava as suas ações cotidianas, inibindo toda a sua vontade de conhecer mais sobre os experimentos que eram realizados nos laboratórios do Distrito. Eles impediam que atravessassem as grades, e andassem livremente por aí.

Tudo era censurado. Tudo era controlado.

Estava na hora de quebrar o controle.

Enquanto o Idealizador dos Jogos falava, Bia sabia que a Capital não podia cortar a transmissão, por isso...

- O Distrito 13 existe! – Berrou Bia o mais alto que pôde, e ao notar que até mesmo o Idealizador do Jogos parara para ouvi-la, ela soube que sua mensagem fora entregue.

Rapidamente, ela pegou um de seus dardos.

- Se a Capital quer controlar o mundo, eu não quero viver nele! – Berrou ela, mas não tinha certeza se sua mensagem fora transmitida.

Bia afundou o dardo em seu braço, e mais um canhão disparou. Algo que nunca tinha acontecido em nenhuma outra edição dos Jogos Vorazes... O número de disparos do canhão foi o mesmo que o de tributos na arena.

xXx

Não muito tempo se passou. A mãe de Nina conseguiu ser resgatada da Capital, no mesmo dia em que houve uma rebelião no Distrito 10. Todos os cidadãos pegaram pistolas de prego como as de Rodrigo, e lutaram contra os pacificadores.

No Distrito 5, em homenagem á Bia, todos invadiram o centro de pesquisas e destruíram todos os trabalhos feitos pela Capital.

No Distrito 12, alguns mineiros pegaram picaretas e resolveram causar uma implosão na mina, impedindo que a Capital extraísse mais carvão de lá. Todos os pacificadores tentaram contê-los, mas não deu certo. Até por que... Alguns pacificadores também aderiram ao movimento rebelde.

O Distrito 2 fez um movimento de paz. Eles impediram que as armas recém-produzidas fossem transportadas para a Capital.

O Distrito 7 também liderou uma rebelião, onde os pais da Bruna participaram ativamente derrubando mais de 30 pacificadores, e invadindo a prefeitura.

Todos se rebelaram. Todos se revoltaram contra a Capital, e assim foi iniciada uma nova guerra. Só que dessa vez, o Distrito 13 não seria dado como destruído, pois teve o prazer de ser o Distrito que conseguiu invadir a Capital, e começar uma nova era em Panem.

Uma era onde todos pudessem andar por Panem inteira. Passando as cercas derrubadas dos Distritos e chegarem onde quisessem. 

E era com orgulho que os adultos ensinariam dali a diante para as crianças quando elas perguntassem sobre a última Edição dos Jogos Vorazes, que o verdadeiro vencedor... Foi toda Panem.