Mais uma vez eu estava chorando. Chorando sozinha enquanto olhava para o cenário movimentado do centro de Seoul, tendo absoluta certeza que ninguém alí poderia me consolar. Os sons altos da música eletrônica iam até mim como um choque de realidade, uma realidade que batia em meu corpo e tentava me fazer voltar para todo aquele barulho e aquela animação que invadia o nosso dormitório.

Estudar em um país diferente pode ser uma experiência agradável, ainda mais quando você vai morar em um dormitório cheio de garotas da sua idade que aparentemente tem muito em comum com você e podem fazer companhia. Esse não foi meu caso.

A princípio todas as garotas pareciam legais, atenciosas e cheias de vida. Nós éramos 7 garotas livres da pressão dos pais, morando em um mesmo dormitório que ficava em um prédio onde todos os outros vizinhos eram também estudantes em dormitórios. Tínhamos tudo para ser grandes amigas e curtir tudo na cidade, mas não foi assim que as coisas aconteceram.

- Jess? Você tá bem? – Era a voz de Amber, uma das poucas pessoas naquela festa que realmente se importava comigo. Com certeza ela teria me visto saindo e ficado preocupada.

- Amber! – tentei parecer surpresa e disfarçar minha voz de choro. – Estou sim, por quê? Aconteceu alguma coisa?

- Não, te vi vindo pra cá e sei que quando você sai assim de um lugar é porque não está muito bem. – seu rosto parecia realmente preocupado e sua testa estava muito franzida, como se ela tivesse acabado de reparar nos meus olhos que deviam estar bem vermelhos. – Vamos pro seu quarto, preciso refazer essa maquiagem.

Amber nunca se vestia como uma menina normal, muito menos sabia muito sobre maquiagem, então tive que rir quando ela falou isso. Ela sorriu ao me ver sorrindo e pegou minha mão. Fomos disfarçadamente até meu quarto, tentando não chamar muita atenção de todos os outros garotos e garotas que estavam dançando e bebendo no meio da sala.

Meu quarto era relativamente pequeno, ainda mais porque eu o dividia com Hyo e sua desorganização deixava aquilo uma tortura visual, mesmo assim conseguimos passar, sem pisar, pelos vestidos de festa jogados no chão e sentar na minha cama. Amber apressou-se em pegar alguns lenços umedecidos para limpar meu rosto, fazendo uma cara de preocupada.

- Eu tô legal, você sabe.

- Foi o Onew, não é? O que ele fez? – Amber parecia já saber a resposta, ainda mais porque só a menção daquele nome fez uma nova lágrima descer sobre minha face. Amber apenas me abraçou. Ela sabia de tudo que estávamos passando e sabia que eu não tinha apoio nenhum em toda aquela história. Aquele abraço me fez desmoronar.

- Por favor, me leve junto com você! Quero ir morar com vocês! O seu dormitório é tão mais legal. Ninguém aqui me abraçaria e me ajudaria!

- Jess, você sabe que isso é mentira e que todas aqui adoram você... você só é meio... dramática, sabe? E muito dura com todas elas... as vezes você deveria deixar de ser a ‘Princesa do Gelo’ e passar a ser mais... você.

Eu sabia que ela estava certa, mas aquilo não me acalmava e nem me deixava melhor. O fato é que eu estava no meio de uma separação e nenhuma das garotas tinha vindo ver como eu estava. Na verdade, elas o convidaram para a festinha de aniversário da Tiffany e ele, nesse momento estava na sala, conversando e bebendo com todas elas.

- Amber, você vê muito o lado bom das pessoas... acho que é por isso que você me atura por tanto tempo.- Minha pausa dramática fez ela mexer a boca como se fosse contra-argumentar, mas preferi cortar logo aquele clima ruim - Vamos voltar para a festa, não posso mostrar a todos que estou machucada e ferida.

Amber sorriu ao me ver levantando e ir até o espelho. Meus cabelos loiros eram contrastantes como meus olhos asiáticos, mas mesmo assim era praticamente impossível achar alguma outra coreana que ficasse tão bem loira quanto eu. Olhando bem meus traços e meu rosto, já sem maquiagem, pude reparar, mais uma vez, o quanto eu era realmente bonita. Nunca duvidei disso e nunca me menosprezei como fazem as outras garotas.

- Vamos Jess, pare de se olhar, você sabe que é linda e que vai conseguir outro alguém o mais rápido possível! Vamos logo, ainda preciso beber mais pra ficar um pouco mais animada.

Eu só conseguia rir de suas afirmações e de sua cara de animação pra voltar pra festa.  Afinal, eu não precisava dele pra sobreviver. Podia muito bem continuar vivendo e aproveitando com os outros milhões de garotos por aí. Era só uma questão de tempo até eu achar a pessoa certa.

— X—

- Vamos Khun, ou a gente vai se atrasar! – Era JunHo novamente me apressando para que eu saísse do banheiro. Mas eu nunca o ouvia mesmo, mesmo estando ali há 30 minutos, não conseguia sair de debaixo do chuveiro. A água escorria pelo meu corpo de uma forma prazerosa e eu podia sentir todos os meus músculos contraídos graças ao frio.

- Relaxa JunHo, quando a Barbie resolver suas cosinhas, vai sair. Ele vai ver a Vic hoje, então tem que dar uma relaxada antes. – Agora era Chansung que, aparentemente, se juntara a JunHo na porta do banheiro, esperando sua hora chegar.

Esse era o principal problema em viver em um dormitório, existia fila para tudo que você fosse fazer, mas a do banho foi a que mais me surpreendeu. Achei que ao sair dos EUA pra ir morar em um dormitório masculino, viveria mais largado e a vaidade passaria de lado. Tudo foi completamente diferente do que eu pensava, vivia agora com mais 6 caras, um mais vaidoso que o outro e era a hora do banho a mais congestionada.

- Vão bater na porta do Taec, ele já deve ter saído! – Tentei argumentar, mas já sabia bem o que tinha acontecido, Taec era bem mais princesa que eu na hora do banho.

- Ele já saiu, já está terminando de se arrumar, mas o Woo já ocupou o banheiro! Dá pra se apressar, por favor! – A resposta de JunHo foi surpreendente. Talvez eu tenha passado mais tempo do que esperava!

Droga! Perdi minha chance! Meus pensamentos ficaram confusos enquanto eu me apressava para sair, mas essa pressa não era pra dar aos meus queridos amigos uma ajuda. Eu que precisava de ajuda agora. Como eu tinha perdido a noção do tempo?!

Agora eu teria que esperar outro banho para ver o que eu mais queria ver... Taecyeon.  O pensamento era completamente estúpido e eu não sabia porque ele passava na minha cabeça! Eu tenho namorada! Mas era isso que sempre acontecia quando eu ia tomar banho, aquele corpo não saia da minha cabeça. Eu sempre me apressava para ser o primeiro e sair primeiro, afinal, nós dividíamos quarto e essa era minha chance de ver tudo que eu sempre desejei.  Claro que eu tinha que disfarçar, afinal, não tinha a mínima intenção de assumir meus sentimentos, mesmo sabendo que quando Junsu assumiu todos foram legais com ele.

Enrolei uma toalha pela cintura e, literalmente, voei pela porta do banheiro, dando apenas uma pausa para ver a disputa acirrada entre JunHo e Chan brigarem para ver quem entrava primeiro. A briga terminou com o Chan vencedor e um JunHo caído no chão com aquela bunda enorme virada pra cima. Sorri e voltei ao desespero. Aquilo que eu mais desejava estava no meu quarto nesse momento e, se tudo ocorresse bem e fosse meu dia de sorte, ainda não estava completamente vestido. Queria ter a chance de ver o que quer que seja!

- Khun! Tem como você me ajudar?! – Meu peito arfava procurando ar ao ver tudo aquilo na minha frente. Taec ainda estava só de cueca, uma cueca Box preta e super grudada no corpo que me permitia ver todos os contornos possíveis e, me fez automaticamente,  pular na cama para cobrir,tudo que estivesse acordando, com um travesseiro que, por mais pura sorte, era o dele.

- Em que? Eu ainda estou bastante atrasado e preciso chegar na hora se não a Vic me mata. – Tentava disfarçar o desejo na minha voz, mas meu impulso era de pular nele naquele momento e nunca mais largar. NichKhun, você tem que se controlar!

- Não sei muito bem que roupa usar. Todas as garotas do prédio vão estar lá e eu preciso me distrair um pouco, nada melhor que um romance novo! – Ele começou a gargalhar sozinho e se aproximar de mim. Eu tentei sorrir também, mas no fundo desejei que ele não chegasse tão perto. Não tão perto...

Ele sentou ao meu lado e ficou olhando pro meu rosto com um olhar de inocência e pureza que só ele conseguia fazer. Parecia uma criança, como sempre, esperando que oppa o ajudasse. Eu não conseguia resistir a todas aquelas contradições. Seu rosto de criança que contrastava seus traços másculos, como aquele peitoral, barriga tanquinho e as coxas mais grossas que eu já tinha visto.

- Tudo bem Taec, eu vou te ajudar – Mesmo tentando fazer aquilo parecer um esforço pra mim, ele sorriu e me abraçou de uma forma tão ingênua que eu até acreditei, por um momento, que se eu falasse tudo pra ele naquele momento, ficaríamos juntos para sempre.