O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 7
... AND DEEPER




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Eu estava andando em meio a vários stands. Olhava atentamente para cada um deles e continuava andando. As pessoas sorriam para mim, atrás de suas enormes panelas ferventes. Eu sorria em retribuição, mas continuava andando. O corredor de stands parecia fazer uma curva e eu seguia, procurando. Então percebi que havia voltado ao primeiro stand. Eu tinha dado a volta. Me afastei e percebi que os stands iguais formavam uma grande roda. Aquilo me aliviou por algum motivo. Naquele momento comecei a ouvir ‘Milk Tea’. Conhecia aquela voz, não era Fukuyama Masaharu quem cantava. Comecei a correr na direção oposta, verificando todos os stands novamente. As pessoas continuavam a sorrir para mim, mas eu estava preocupada demais procurando o dono daquela voz. Então o sol me cegou e eu parei de correr. Olhei em volta e reparei que não estávamos na escola, mas sim numa praça. A voz de MinSuk enchia o ar. E eu sorria, cega pela luz. Queria continuar procurando mas queria mais ainda ficar ouvindo.

Abri os olhos e vi que a música vinha de meu celular. Era meu despertador. Apertei o ‘soneca’ e virei para o lado para dormir mais um pouco. Nem o sono nem o sonho voltaram. Após alguns minutos resolvi levantar.

O sol brilhava bonito lá fora e eu me senti feliz pois também estava sol no sonho.

Levantei, coloquei uma blusinha fina sobre o pijama e desci as escadas, sorridente. As meninas estavam sentadas na sala.

– Bom dia! – disse alegremente ao passar por elas e ir para a cozinha.

– Bom dia! – disseram algumas vozes, eu pude perceber claramente uma voz masculina.

Voltei à sala e MinSuk já estava em pé. Puxei rapidamente a blusinha, tentando me esconder e engolindo seco, afinal eu nem tinha penteado os cabelos... não fazia ideia de como seria minha aparência. Todos eles riram.

– Bom dia MinSuk... O que você faz aqui?

– A gente combinou de ir mais cedo para falar com o Robert sobre o trabalho da feira das nações. – ele sorriu.

– É verdade. Nem lembrei. Já volto. – e subi as escadas correndo enquanto eles riam mais um pouco.

Chegando ao quarto a primeira coisa que fiz foi olhar no espelho. Para alguém que tinha acabado de acordar, até que estava tudo ok. Suspirei aliviada por não ter causado nenhum trauma em MinSuk. Tomei banho e me arrumei o mais rapidamente que pude.

Desci e os encontrei tomando café na cozinha, conversando animadamente sobre algo.

– Espero que não estejam mais rindo de mim. – disse ao entrar.

– Não. Agora a gente está rindo da Jane. – disse Mayreen.

– Por que? – perguntei pegando um copo de suco.

– É que a minha turma também vai participar da Festa das Nações. – Jane parecia sem graça por causa do riso dos outros. – Só que a gente vai ter que fazer tipo um show de talentos.

– E o que tem de engraçado?

– Um show de talentos para o público infantil. – concluiu ela.

Eu ri.

– O que você vai apresentar? – perguntei.

– A sala inteira vai fazer dois teatros. Mas eu vou ter uma apresentação ‘solo’. – ela riu de si mesma. – Vou dançar e cantar uma música típica alemã.

– Putz! – eu ri. – MinSuk, nós, definitivamente, nos demos bem nessa!

– Com certeza. – ele concordou veementemente.


Fomos procurar Robert antes de a aula começar, a fim de dizer o que estávamos bolando, ouvir a opinião dele, ou qualquer sugestão que ele pudesse nos dar.

– Vocês se importam se eu comentar o que vocês estão fazendo com outros grupos? – Robert nos perguntou ao final.

– Não. – disse olhando para MinSuk, que confirmou o mesmo.

– Porque tem uns grupos que estão realmente perdidos. Talvez os ajude a se acharem. – ele riu. – Ah! E inspirado na feira das nações aqui da escola, amanhã a noite eu vou tocar no Danny e vou colocar músicas do mundo todo. Se vocês estiverem a fim, arranjo uns VIPs para vocês.

– Eu quero! – disse rapidamente.

– O seu e das meninas já estão separados.

– Eu aceito também. – disse MinSuk.

– Ok. Eu entrego para vocês amanhã. E sobre o trabalho de vocês, está excelente. Podem finalizar e eu reservo um datashow para vocês.

Nós agradecemos e nos retiramos.


Naquela tarde fomos comprar e preparar tudo o que seria necessário para montar nosso stand. Andávamos pelas lojas do centro, procurando alguns artigos. Contei a MinSuk que adorava fazer este tipo de trabalhos na época da escola e ele comentou que eu realmente estava tão animada como uma adolescente. Eu fingi ficar brava e ele de repente soltou:

– Quantos anos você tem, Ju?

Eu fiquei sem graça.

– Quantos anos você acha que eu tenho? – essa pergunta sempre era uma faca de dois gumes.

– A minha idade? – ele tentou e eu balancei a cabeça em negativo. – Mais? – eu concordei dessa vez e ele fingiu me estudar por um momento.

Eu me senti ruborizar. Aquele assunto nunca viera a tona porque eu sabia exatamente a data de nascimento de MinSuk, como toda boa fã.
Após alguns segundos ele disse:

– 22?

– 24. – ao dizer isso me senti envergonhadamente velha.

– Não parece. – disse ele, sem demonstrar qualquer emoção, apenas como alguém que diz ‘o céu é azul’, ‘o sal é salgado, ‘você não parece ser tão velha como é’, essas coisas.

– Uma coisa que eu não entendo é porque todos dizem que você tem 21. – disse, tentando mudar de assunto.

– Porque eu tenho. – ele parecia não compreender.

– Não tem não. Você ainda vai completar 20 anos.

– É assim que a gente conta na Coréia. Então, você só é 3 anos mais velha do que eu.

– Não, né, MinSuk?! Por que se for assim, eu tenho... – fiz as contas rapidamente. – Vinte e seis?!?! – constatei horrorizada fazendo-o rir.

– O que importa é que você parece ter menos. – ele concluiu.

Entramos na loja e ele começou a me dizer o que eram alguns enfeites, seus nomes impronunciáveis para mim, e seus significados.

Enquanto íamos de uma loja para outra, ele apontou para o céu.

– Olha Ju!

Parei e olhei. O céu estava repleto de balões. Alguns estavam perto o bastante para vermos suas cores. Tão lindos, preenchendo o céu...

– Eu tenho vontade de andar num desses. – disse ele, olhando para o céu.

– Acho que eu teria medo. Mas parece tão lindo... – eu estava encantada.

Estávamos parados, no meio da calçada, cheios de sacolas, olhando o céu.

– Isso me lembra um desenho japonês... – me vi dizendo.

– Qual?

– Acho que o nome dele em inglês é algo como “Howl’s moving castle”. É um castelo que voa. Eles viajam...

– Como se fossem várias dimensões. – lembrou MinSuk.

– Eu acho que sim. Não me lembro muito bem. Os filmes japoneses me parecem complexos demais as vezes. – dei de ombros.

– Uma das dimensões era muito bonita. Outra estava em guerra. Eu me lembro que o feiticeiro estava criando as dimensões para fugir da guerra, não era?

– Sim. Era isso mesmo. – confirmei.

Suspirei e minha mente vagou, meditando um pouco sobre aquilo. Pensei nas diversas dimensões de minha própria existência. Minha vida no Brasil – família, trabalho, amigos. Minha vida em Chicago – as meninas, escola, amigos. Qual delas estava em paz, qual delas estava em guerra... qual guerra eu estava tentando evitar...

– Em que está pensando?

– Nas dimensões de minha vida. Brasil, Chicago... – fiquei em silêncio por um instante. – Quais seriam as suas dimensões Cho MinSuk? – perguntei-lhe.

Ele meditou por um momento olhando os balões.

– O MinSuk e o Cho MinSuk. – disse ele após alguns segundos.

Eu não precisei pedir mais explicações, ainda que não conseguisse ver quanto essas dimensões estavam em paz e quanto estavam em guerra entre si.

Ele me olhou e eu sorri. O sorriso que me deu em retorno afastou todos os meus pensamentos. Então voltamos para nossas compras.


–---

Na quinta nós não tínhamos trabalho a fazer então ensaiamos mais um pouco após a aula.

Fomos ao parque e alugamos bicicletas. Depois mostrei a ele meu lugar favorito. Sentamos na grama sob a ‘minha’ árvore e eu contei-lhe que ia ali, sempre que podia, para ouvir música, pensar. Ele me disse que gostava de fazer o mesmo.

– Sabe, MinSuk, eu olhava para você e só via serenidade, profundidade... Mas agora que estamos convivendo consigo ver todos os sentimentos que passam por você. Só agora eu consigo vê-los te afetando.

Ele meditou um pouco sobre o que eu disse. Quando falou, seu tom, um misto de autoridade e carinho, me surpreendeu quase tanto quanto suas palavras:

– Isso acontece comigo também. Agora eu consigo perceber seus sentimentos, Ju. Consigo ver como as coisas te afetam ou não te afetam, mesmo quando você disfarça. – ele piscou para mim, me fazendo engolir seco. – Nós dois somos iguais nisso. Tentamos sempre manter os sentimentos só para nós mesmos. Eu guardo embaixo de minha superfície de seriedade e você, sob sua simpatia. – ele disse esta última parte muito calmamente, estudando minha reação a cada palavra sua. Seus olhos me penetravam ainda mais do que de costume.

Olhei ao longe meditando sobre o que ele dissera, vendo a verdade de tudo aquilo.

Eu tivera uma vida complicada desde muito cedo, de modo que tive que ser forte antes dos outros. Em algum momento, percebi que mostrar meus sentimentos era uma fraqueza. Mas a simpatia e a docilidade me eram comuns e não me atrapalhavam, de modo que, inconscientemente, foi exatamente o que fiz. Sempre sorridente, sempre disposta a ajudar e aconselhar, a ouvir a dor dos outros... todos me adoravam, sem sequer desconfiar o que eu mesma já passara, o que eu sentia. Não que eu me esquecesse de mim mesma, mas só confiava em pouquíssimas pessoas e, ainda sim, muito guardava para mim.

Só naquele momento percebi o quanto eu, inconscientemente, havia confiado em MinSuk. Em sua curiosidade educada, ele obtivera de mim informações, histórias, pontos de vista que eu nunca tinha compartilhado com ninguém, ou até mesmo em meus silêncios... Aquele pensamento me desconcertou. O que ele tinha que me fazia ficar tão a vontade, tão disposta a revelar minha alma para ele?

– Me desculpe... – ele começou a dizer.

– Não. – eu interrompi, sem jeito. – Nunca se desculpe pela verdade, MinSuk. – disse olhando para ele.

Ele tinha um olhar sério, profundo. Só que desta vez eu pude perceber que não era a superfície que ele ostentava, mas sim, sentimento. Sentimento intenso. Ele pegou minha mão e eu tentei evitar estremecer, sem conseguir.

– Eu gosto muito de você, Ju.

– Eu também gosto muito de você, MinSuk.

E não sei por quanto tempo ficamos ali, as mãos dadas, passando nossos sentimentos em silêncio um para o outro.


À noite MinSuk foi até minha casa e nós pegamos um táxi para ir à festa que Robert nos convidara.

Casa lotada como sempre quando Robert tocava. Refleti que tudo em Chicago parecia sempre cheio. As pessoas sempre estavam nas ruas, nos bares, nos lugares, como se houvesse algo que as impedissem de ficar em casa. Isso era uma das coisas que eu mais gostava lá. Frequentemente ficava em minha janela observando as pessoas em minha rua. E agora parecia que todas as pessoas tinham ido para ali.

Muitos amigos estavam lá: Samara, Rodrigo, Michele, Andy... praticamente dominamos a área VIP, um mezanino comprido ao lado de onde o DJ comandava a festa. Eu e Jane tentávamos cantar mais alto que o som a música ‘Techno D-Day’ do Joe Strummer & The Mescaleros, enquanto nossos amigos conversavam.

Quando pareceu que a casa não comportaria mais ninguém, Robert foi ao microfone saudar os clientes.

– Sejam todos muito bem-vindos a nossa casa. Estão preparados para dançar? – alguns gritaram. – Yeah... – a voz de Robert era mais sensual que entusiasmada e isso me fez rir. – Para esta noite vamos celebrar a diversidade musical. Afinal, o ritmo é o idioma em todos nós somos fluentes. – mais gritos concordando.

Em seguida ele começou a tocar músicas espanholas, mexicanas, gregas e em árabe, mixadas de maneira que era impossível ficar parado. Todos dançavam, tanto ali como na pista abaixo de nós.

Foi então que eu, Mayreen e MinSuk reconhecemos uma batida familiar. Ele foi para o parapeito, olhando a casa lotada, uma alegria desmedida em seu rosto. Eu me aproximei.

– Todo mundo está dançando Gothee! – ele disse, parecendo até um pouco emocionado. – Eles estão dançando minha música!

Meu sorriso foi tão enorme quanto o dele. Eu não conseguia imaginar como era aquilo, mas tinha uma idéia ao vê-lo.

– Sim! Não é demais!?! – ele concordou com meu comentário. – E sabe o que é o melhor, MinSuk? Só nós sabemos dançar isso!

E dizendo isso, eu o puxei pela mão e nós descemos até a pista de dança.

Não sei se era por ser a primeira vez que eu ouvia aquela música tão alto, mas parecia que o ritmo dançante invadia minha mente. Aliás, de todos por ali. O clipe rolava no telão enquanto eu e MinSuk dançávamos, misturando a coreografia que eu desconhecia com outros movimentos distintos. Ele ria de felicidade. Nós continuamos dançando mesmo quando a música acabou e outra recomeçou.

Cerca de duas músicas depois, outra música do Gothee, dessa vez seu último single. Sorrimos cúmplices.

– Vamos colocar a aula de dança a prova! – ele disse, mais alto que a música.

Dançamos a coreografia, sincronizados, numa espécie de espelho, devido ao pouco espaço. Eu havia praticado tanto que os movimentos eram naturais. Estava cantando, provavelmente tudo errado, mas não me importava. MinSuk também cantava, sorrindo para mim e olhou ao redor. Ele apontou e quando olhei, vi que Robert também estava dançando os passos corretamente. Nós rimos, felizes da vida. Todos ao redor dançavam, sem se importar em compreender a letra, apenas seguindo o ritmo. Nós todos entendíamos o ritmo, nossos corpos eram fluentes nisso, como Robert dissera.

Quando a música acabou, ele me puxou para um abraço. Sorríamos, ofegantes.

– Muito obrigada, MinSuk. – disse-lhe, minha voz saindo mais séria do que eu queria.

– Eu que agradeço por tudo isso. – ele tinha mais um sentimento intenso em seu rosto.

Ao nosso redor, as pessoas continuavam a dançar, adaptando-se ao ritmo da nova música. Nos separamos e fizemos o mesmo.

No entanto, algo havia mudado. Ainda sorríamos animados, mas nossos movimentos sugeriam algo mais sério. Pareceu-me que ele estava mais... insinuante. Aquele pensamento me deixou atordoada. Será que MinSuk estava bêbado? Ele havia tomado apenas uma dose de tequila... por mais que não estivesse habituado a beber, aquilo não era suficiente. “Mas eu tomei duas...”, pensei. Talvez eu é que estivesse enxergando coisas. Quando dei por mim, estava acompanhando os movimentos. Minha cabeça perdida enquanto MinSuk me puxava para si, colando-me a ele, e em seguida me virando para longe. De repente perto, muito perto, de repente para longe. Aquilo foi me enlouquecendo, pouco a pouco. Podia perceber MinSuk ofegar, ainda que não parecesse estar cansado. A proximidade também estava afetando-o, ao que parecia.

Quando ele me puxou, de modo mais demorado para perto de si, o perfume dele me inebriou. Eu me senti tonta e parei de dançar por um momento.

– Você está bem, Ju? – ele perguntou quando abaixei um pouco a cabeça.

– Estou... só um pouco zonza. – sentia dificuldade em focalizar MinSuk, olhando, reparando em seu corpo pela primeira vez. Ele usava uma regata branca com um paletó preto casual por cima. O tecido sugeria um corpo bem definido e quente. Senti-me suar frio. – Eu vou dar um tempo. – disse-lhe.

– Vamos lá fora, tomar um ar. – sugeriu.

Sentamos em um banco. Eu sentia meu corpo inteiro tremer, um frio súbito e imenso. Aquilo me era comum: sempre que eu passava por alguma emoção muito intensa eu sentia isso, fosse medo, raiva, desejo...

MinSuk passou o braço ao meu redor.

– Você está tremendo. – disse ele, esfregando meu braço, tentando me aquecer.

A respiração dele estava tão próxima que eu não conseguia me acalmar. Eu o queria. Engoli seco. Eu precisava me afastar dele.

– MinSuk, você pode chamar a Jane para mim?

– Eu não quero te deixar aqui. – ele ficou sério de repente, dessa vez, pude ver que era a superfície.

– Ah! - resolvi apelar também para minha própria superfície: a simpatia. – Eu realmente queria falar com Jane. Ela entende bastante de quedas de pressão... acho que foi isso que aconteceu.

Droga, ele percebeu.”, constatei. O olhar de MinSuk não mudou, mas eu pude ver que ele sabia o mesmo sobre mim.

– Você vai ficar bem? – dizendo isso ele me apertou contra si.

– Sim. – fechei os olhos e arquejei sob o pescoço dele. Sabia que não conseguiria segurar por muito tempo.

Ele engoliu seco e se levantou.

– Eu volto logo.

E fiquei observando-o se afastar.

Concentrei todas minhas forças, me acalmando, e aos poucos o frio ia passando. E a consciência voltando. Eu não conseguia acreditar que deixara ele me afetar daquela maneira. Coloquei a cabeça entre as mãos. “Eu não posso deixar isso acontecer. Não posso. Só estamos confusos. Bêbados, isso! Estamos alterados.”, me convencia.

Senti alguém tocar meu braço e levantei a cabeça devagar. Jane estava agachada à minha frente e MinSuk estava em pé atrás dela, mantendo a mesma expressão de pouco antes.

– Ju, o que você tem?

– Eu acho que minha pressão caiu, Jane.

– É, o MinSuk falou. Te trouxe essas azeitonas. Por favor, coma-as. – a voz de Jane era tão doce, que parecia até que ela sabia.

Peguei a taça e comecei a comer vagarosamente. Os dois me olhavam em silêncio.

– Por favor, gente, voltem lá para dentro. – pedi.

– Não. A gente espera você melhorar. – disse Jane.

Comi minhas três azeitonas e realmente me senti um pouco melhor. Talvez eu realmente tenha tido uma queda de pressão afinal, embora soubesse muito bem os motivos.

– Vamos? – disse, me levantando e indo para dentro, eles atrás de mim.

Voltamos à área VIP e eu fui conversar um pouco com Robert. Elogiei-o, comentando que o vi dançar. Ele riu, dizendo que tinha praticado um pouco, vendo os vídeos no youtube. Conversamos um pouco mais, enquanto ele ia colocando várias músicas.

– Se a Festa das Nações for o sucesso que isto aqui está sendo...! – comentei.

– É. – ele riu olhando ao redor. – O pessoal está curtindo não é?

– Sem dúvidas! Ah, e adorei o discurso sobre o ‘idioma do ritmo’. – brinquei.

– Eu sou uma pessoa inspirada, você sabe! – e rimos um pouco mais. – Já estou bolando outro evento para a escola.

– É? Me conta! – pedi.

– Estou pensando em pegar um sábado ou domingo e juntar todo mundo lá no clube. Chamar o povo das três unidades. Fazer uma tarde musical como aquela que fizemos, só que lá tem um monte de outras coisas para fazer, não é?

– Tem as quadras de esporte, o campo... – lembrei-me das fotos que vira.

– A piscina. Seria uma festa em tanto!

– Robert, você é o melhor diretor acadêmico de todos os tempos! – disse, afagando seu braço.

– Obrigado pelo elogio. Mas isso não te exime de me ajudar.

– Xi...

– É. Estou pensando em pegar vários instrumentos. Aí a gente pode montar, tipo uma banda, sabe? Vou precisar de alguém ao piano.

– Olha... eu estou sem tocar há quase um mês, Robert. Que músicas você tem em mente?

– Algumas que eu sei que você sabe. E algumas que eu sei que você consegue aprender até lá. – ele piscou para mim.

– Vou ter que alugar o estúdio da escola então.

– É, a gente vê como pode ser feito.

Levantei as sobrancelhas e ri. A ideia ainda não estava formada, mas Robert tinha a necessidade de compartilhar. E gostei de ter sido a escolhida dessa vez.

Olhei de longe para MinSuk. Ele estava conversando com Andy. Eu podia ver perfeitamente a superfície em seu rosto. Neste momento ele também olhou em minha direção, então desviei o olhar.

Voltei à pista de dança. Tentei evitar MinSuk o máximo que pude, mas vez e outra dançávamos juntos. Quando ‘Ready' começou a tocar, nós já tínhamos voltado ao normal, cada um bem protegido dentro de si. Voltamos a nos divertir e a noite foi muito boa.


Quando cheguei em casa, me joguei na cama, arfando. Eu ainda não conseguia me perdoar por ter deixado aquilo ocorrer. Fechei os olhos e me deixei lembrar da cena, como alguém que olhava de longe. MinSuk me puxando para si, meu corpo próximo ao dele... Percebi que tinha prendido a respiração e ofeguei.

– Não. Eu não vou deixar isso acontecer. Não vou. Eu me perdôo e prometo a mim mesma que nunca mais vou deixar isso acontecer. Não vou. – disse em voz alta.

Ainda sim, a cena ficou repetindo várias vezes, de vários ângulos, em minha mente, até adormecer.


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