O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 12
DO TUDO AO NADA... E AO TUDO DE NOVO




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No dia seguinte acordei ainda me sentindo exausta. Parecia-me que estava lenta para fazer mesmo a mais simples das coisas como lavar meus cabelos, vestir-me, pegar pratos no armário.

Do mesmo modo lento, percebi que as meninas me observavam, esperando por uma explicação sobre a noite anterior. Senti um pouco de conforto ao olhar para Jane e ver que ela esperaria até que eu quisesse dizer algo.

Fui a escola torcendo para não encontrar MinSuk em qualquer lugar. Nos intervalos não saí, parte também porque estava cansada. Ao final da aula saí rapidamente, não olhando nada além do meu caminho. Quando estava no fim das escadas, senti alguém me segurar pela mão. Meu coração bateu forte, como se meu corpo já tivesse se acostumado com aquele toque, reconhecendo-o, ansiando-o.

Levantei os olhos lentamente, encontrando os de MinSuk, não conseguindo sustentar por muito tempo.

– Nós precisamos conversar Ju.

A expressão dele me confundia. Ele... estava pesaroso? Seria isso em seus olhos?

Engoli seco. “Já é depois?”, pensei.

– MinSuk, por favor, hoje não. – minha voz de repente saiu estrangulada.

– Ju, eu... – ele começou a protestar mas meu olhar o fez parar.

– Nós vamos conversar, mas hoje não. Só isso.

E com toda a delicadeza de que dispunha, me soltei de sua mão. Continuei andando, sem olhar para trás.

Ao entrar em casa, vi Jane sentada na poltrona da sala.

– Ju? – ela pareceu surpresa ao me ver.

Eu precisava tanto dela, de suas palavras animadoras... Fui até ela e ajoelhei em sua frente, pousando a cabeça em seus joelhos.

– Eu tentei Jane, eu juro que eu tentei.

– Ah, Ju... – ela começou a acariciar meus cabelos, sua voz doce. – MinSuk?

Contei-lhe rapidamente o que ocorrera na noite anterior.

– Eu não queria. Eu nem posso sequer querer, Jane. Depois de ontem eu simplesmente não sei mais o que fazer! – levantei a cabeça para olhá-la.

Ela me olhava com ternura, mas de repente seus olhos seguiram por cima de mim. Ao acompanhar seus olhos, vi a figura de JungHo que acabara de entrar na sala, vindo provavelmente da cozinha.

– JungHo? – levantei, surpresa, passando os dedos nos olhos, me certificando de que não havia nenhuma lágrima lá.

Ele olhava de Jane para mim, indeciso sobre o que dizer.

– Se é tão forte assim, por que vocês simplesmente não ficam juntos Ju? – ele foi tão direto como costumava ser, mas sua voz era doce.

Ele estava lá, me vendo em cacos. O que mais eu poderia querer preservar?

– Eu não sou assim JungHo. Eu não sei ficar com alguém por alguns dias, só por... pelo menos não com alguém como MinSuk, e...

– E quem disse que é essa a ideia? – ele me interrompeu. – Eu estou acompanhando essa história há mais tempo do que você imagina, Ju. Sei dos sentimentos de MinSuk por você e eles não são para durar ‘só alguns dias’.

Desisti. Adorava JungHo, mas ele não ia ajudar em nada se continuasse me motivando a ter sentimentos que eu não queria ter, dizendo coisas da parte de MinSuk que ninguém sabia se eram verdade ou não.

Ouvi Jane se levantar atrás de mim. Só então me dei conta de como a situação era constrangedora, não só sob a minha perspectiva.

– Sinto que estou atrapalhando aqui... Desculpem-me. – sorri sem graça.

Nenhum dos dois pareceu ficar desconfortável. Jane colocou a mão em meu ombro e JungHo me deu um de seus melhores sorrisos. Aquele conforto silencioso me quebrou, de modo que eu precisava sair dali.

Peguei minha bolsa e saí novamente.

Almocei, andei no centro olhando as vitrines que pouco me interessavam... Buscando ardentemente algo em que ocupar a cabeça.

Sentei-me em um banco. Observando uma fila de formigas carregando pequeninos pedaços de folha, consegui clarear a mente.

Não é minha culpa ter me apaixonado por MinSuk. Tamanha foi a proximidade e a afinidade que até que me segurei por bastante tempo. Claro, eu sinto vergonha sobre a noite anterior, com certeza, mas é algo que eu posso deixar passar, colocar a culpa no álcool, quem sabe.” Não importava que eu estivesse apaixonada. Ele não sentia o mesmo e isso era algo em que me apoiar. “Sem recíproca eu nem sequer preciso pensar em evitar, uma vez que não há nada a ser evitado. Ele só me beijou porque eu o afrontei, chamando-o de ‘menino’. Esta parte eu deveria me desculpar.

Era realmente formidável. Meu senso de auto-preservação nunca me deixava na mão. Eu estava em paz, com tudo resolvido em minha cabeça. Agora era só resolver as coisas com MinSuk. Odiaria perder a amizade dele por causa de um momento de descontrole.

As formigas agora estavam subindo em uma árvore. Olhei em volta e vi que estava no parque próximo ao lago. Fiquei sentindo a brisa, quando meu celular tocou. Era de casa, provavelmente Jane preocupada com minha demora.

– Alô?

Oi Ju, é a Jane. Tudo bem?

– Tudo ok, Jane. Eu só queria pensar direito... agora está tudo bem claro..

MinSuk esteve aqui. – disse ela e eu emudeci. Meu silêncio a fez continuar. – Eu não disse nada a ele, nem JungHo. Ele só queria falar com você. Então disse que você tinha saído para andar. Aí ele saiu, dizendo que achava que sabia onde te encontrar... Ju, você está me ouvindo?

– Estou.

Ele parecia tão mal Ju! – como eu nada disse, Jane desistiu – Ok, era só para te avisar.

– Muito obrigada Jane... agradeça JungHo por mim.

Ok. Cuide-se. Tchau.

Desliguei e olhei para os lados. Tentava pensar com a mesma serenidade com a qual pensara minutos antes. Suspirei lembrando que deveria resolver logo as coisas, para que nenhum mal entendido afetasse nossa amizade.

Levantei e rumei para o lugar de sempre, parando alguns metros antes. MinSuk já estava lá, de frente para onde eu vinha, e me olhava. Aquilo me comoveu. Decidi que não colocaria nossa amizade em risco por nada. Ele sorriu com a minha aproximação, então o cumprimentei e sentei a seu lado.

Sentados lado a lado no parque, compartilhando mais um silêncio que normalmente não incomodaria nenhum dos dois. Mas desta vez estava me matando. Eu simplesmente não sabia quem tinha que começar.

Ele me olhou e eu não pude evitar de sorrir.

– Eu não quero parecer insistente Ju. – ele riu sem entusiasmo. – Mas eu preciso te dizer uma coisa... e já que você veio ao meu encontro, acho que é melhor eu começar.

Como eu nada disse, ele olhou ao longe por um tempo e continuou:

– Ainda que hoje não seja ‘qualquer dia’, vou te contar a verdade sobre o nosso encontro acidental...

– Você vai me contar?! – demonstrei surpresa e felicidade.

Ele sorriu e eu fiquei desconfiada. Afinal, o que aquilo tinha a ver com a conversa que a gente deveria estar tendo naquele momento?

Quando ele falou tinha um sorriso de alguém que tinha aprontado e se orgulhava daquilo.

– A verdade é que aquele acidente foi totalmente premeditado. Quer dizer, lógico que eu não queria ter quebrado seu MP4...

– Como assim? – sibilei.

– Eu... queria que você me visse. – ele sorriu ao confessar.

Franzi o cenho tentando raciocinar. Sem se importar com a confusão em meu rosto, ele continuou sorrindo e contando sua história:

– No dia anterior eu estava muito entediado. Resolvi sair para andar. Sempre tinha ouvido falar desse parque próximo ao lago. É o cartão postal de Chicago que mais me atraía. Então, eu vim andar aqui.

Eu continuava confusa. “O que isso tem a ver com o acidente no supermercado?”, pensei.

– Eu estava andando a esmo – continuou ele – sem prestar atenção em muita coisa. E então eu te vi. – nesse momento ele olhou para mim para continuar sua história, o que me fez tremer por dentro. – Você estava de óculos escuros e fones de ouvido. Eu estava de fones de ouvido também... Eu te achei tão linda! Estava te observando por um tempo quando sua amiga chegou e então você tirou os óculos...

– Que decepção! – brinquei.

– ... e eu te achei mais linda ainda! – ele continuou como se não tivesse me ouvido. – Você sorriu de um jeito que eu nunca tinha visto ninguém sorrir na minha vida... Eu não consegui tirar meus olhos de você.

Desviei o olhar, sentindo meu corpo tremer. Eu estava ofegante mas mesmo assim ele continuou:

– Eu queria ir até lá mas... sinceramente, o que eu ia dizer? Até então eu nem imaginava que você pudesse me conhecer. Então eu fiquei te olhando, tentando decidir. De repente o tempo virou, as pessoas começaram a andar mais depressa, dali a cinco minutos estaria chovendo. Sua amiga levantou e te puxava mas você rodava e sorria, seu cabelo ao vento... eu só conseguia sentir meu coração batendo forte. – nesse momento ele engoliu seco.

Eu também engoli seco. Aquilo era realmente inacreditável! Sentia meu corpo tremer, olhei para baixo e vi minhas unhas azuladas, como sempre acontecia quando me ocorria uma emoção muito forte.

– Então no dia seguinte, quando eu te vi no supermercado... eu senti como se fosse para ser, Ju. Qual era a probabilidade? Segui você por um dos corredores até ter a ideia de esbarrar em você, para, sei lá, talvez você me olhasse... Mas foi um desastre maior do que eu tinha planejado! E eu adorei isso.

Ele sorria, porém meu olhar o fez ficar sério. Eu sabia que tinha que dizer algo mas as palavras estavam demorando demais para se organizarem.

– Você... está querendo me dizer que, que... você... me achou linda?

Ok. De todas as perguntas na minha cabeça, definitivamente aquela não era a que tinha que ter sido feita. Ele riu.

– Sim. Você é muito linda... Isso foi o que me chamou atenção, Ju, mas quanto mais eu te conhecia, mais eu fui me apaixonando. Tudo o que você faz, o que diz... Agora estou aqui, do seu lado, meu coração querendo sair pela minha garganta, minhas mãos querendo te tocar... – ele pareceu sofrer um pouco com a afirmação.

Respirei fundo. “O que eu tenho que fazer...?”.

– Você está bem? – perguntou ele.

Não...”, eu queria dizer. De repente sentia muito frio, meu corpo inteiro tremia.

– Ju...

– E o que a gente faz com isso, MinSuk...? – minha voz saía estrangulada.

Ele me olhou, a confusão estampada em seu rosto. Eu respirei fundo, as palavras de repente transbordando:

– Você gosta de mim, eu de você, mas o que a gente pode fazer com isso? MinSuk, eu não posso deixar isso acontecer... Seria horrível para nós dois! – para minha infelicidade, minhas palavras tinham soado mais frias do que eu pretendia e, para me sentir ainda mais infeliz, vi que ele percebera.

– O que você quer dizer, Ju? Eu...

– Eu quero dizer, imagina só? A gente deixa acontecer e, daqui a duas semanas, eu volto para o Brasil, você para a Coréia, e acabou sem nem começar...

– Não precisa ser assim.

A voz dele era tão doce e contrastava tanto com o cenário triste que eu tinha em mente que eu não consegui evitar que meus olhos se enchessem de lágrimas.

Nesse momento ele me abraçou, repetindo: “Não precisa ser assim...” em meu ouvido.

Em apenas um segundo, minha mente fez dois caminhos: o meu “eu tenho certeza que vai ser assim” e o “não precisa ser assim” de MinSuk. Não demorei nem dois segundos para ter certeza de que eu estava certa. Abruptamente soltei-me de seus braços e levantei. Não precisei olhar para perceber que aquilo tinha o magoado.

– Eu não posso... – minha voz continuava a sair estrangulada.

– Se você quiser, se você deixar...

– MinSuk: Olha para nós! – havia choque em minha voz. E ao ver a mágoa no rosto dele vi que era um caminho sem volta. Continuei: – Eu sou mais velha que você! Você ainda tem um monte de coisa para ver... tem uma vida com mil opções... – me interrompi pois o pensamento era tão descontrolado que fiquei com medo.

– Então é disso que se trata? Você acha que eu vou, sei lá, não te querer?

Dei-lhe as costas. Era exatamente o que eu tinha certeza que aconteceria. Mas em compensação eu... eu já o queria tanto!

MinSuk veio para minha frente. Ele estava perturbado. Eu conseguia ver em seu belo rosto. Com certeza, de todas as reações que ele imaginava que eu teria, aquela não estava listada.

– Ju, isso é muito sério. E eu não te diria nada se não soubesse que você sente exatamente o mesmo por mim.

– Eu sinto... – me ouvi dizer, incrédula. – Eu quero... Acho que quero desde o começo... e desde o começo coloquei empecilhos, lembrando deles cada vez que te olhava...

– Eu sei que se você nos der uma chance... – e dizendo isso ele se curvou, olhos nos meus olhos...

NÃO!” A imagem triste reapareceu gritando em minha mente. Quase instintivamente, desviei quando ele estava prestes a me beijar.

Ele pareceu não acreditar no que eu estava fazendo.

– Você não me quer? – havia um misto de surpresa, tristeza, negação...tudo naquela doce voz e isso me fez sofrer tanto!

– Eu não posso. – apertei os lábios.

Fui para trás, peguei minha bolsa e comecei a andar rápido. Eu estava fugindo, com medo de que ele me seguisse, mas, pelo que eu conhecia, ele devia estar parado, atônito, inseguro.

Agora que ele não estava mais lá, deixei as lágrimas virem. Enquanto eu caminhava, os dois caminhos vinham novamente à minha mente, mas desta vez o de MinSuk persistia e eu conseguia ver nós dois juntos, ele me apresentando à sua família, nós vivendo juntos, acordar ao lado dele de manhã... E eu chorava muito.

Ao entrar em casa não quis acender as luzes. Fui tropeçando para meu quarto e me joguei na cama, deixando a dor e a dúvida me invadirem. “Trilhar um caminho é melhor do que ficar parada.”, este sempre fora meu lema. E por que agora eu estou evitando tudo aquilo?

Me virei para olhar o teto. Eu sabia exatamente o porquê. A dor que MinSuk me causaria seria maior do que qualquer outra e eu não sabia como ficaria depois que eu juntasse os cacos. Sim, porque haveriam cacos. De alguma forma, essa certeza me confortou e eu parei de chorar. Comecei realmente a achar que tinha feito o certo. Então, por que ainda doía tanto?

A imagem da felicidade já tinha feito morada em minha mente, mas, de alguma forma eu conseguiria passar por isso. Eu já tinha conseguido coisas mais difíceis. Eu era forte.

Me levantei. Ainda eram oito horas da noite e mesmo assim vesti meus pijamas. Deitei e fiquei esperando o sono me vencer.

–---

Pela manhã Jane veio me acordar e eu senti a pontada nas costas. Tentei me mover mas aquilo doía demais. Eu estava travada, com certeza por causa das fortes emoções da noite anterior.

Não fui às aulas. Permanecia deitada. Agradeci imensamente quando Jane chegou e me trouxe remédios e comida. Eu só queria ficar ali até que a dor melhorasse. Sentia-me cansada, mas não adormeci.

Vi o dia passar, levantando eventualmente, porém, como a dor persistia, sempre voltava para cama.

No fim da tarde Jane entrou no meu quarto novamente.

– Ju.. – disse ela – Tem alguém aqui que veio te visitar...

Estava tão acostumada com aquela presença que nem precisei olhar para saber que ele estava na porta do quarto esperando permissão para entrar.

Sem olhar para porta, sorri sem graça e disse:

– Oi MinSuk.

Ele sorriu e entrou, ficando ao lado de Jane que exatamente naquele momento me entregou um remédio. O gosto parecia mais amargo que dos anteriores.

MinSuk estava em pé ao lado de minha cama e eu me perguntava como estaria minha aparência. Instintivamente, me cobri um pouco mais com o lençol, uma vez que não tinha tirado o pijama.

– Bom, vou deixar vocês conversando porque daqui a pouco esse remédio vai te dar muito sono, Ju. – e dizendo isso ela nos deixou a sós.

Por um instante, eu consegui observá-lo de um jeito diferente, pude observá-lo de longe. Observei que desde que nos conhecemos, ele parecia mais maduro para mim. Antes eu o via como um garoto, um rapazinho de um grupo musical, mas agora eu conseguia perceber o homem formado, a convicção de uma personalidade marcante em seu belo rosto. Ele me pareceu sério e pensativo como sempre.

– O que você tem? – sua voz pareceu mais grave que o normal, então pude perceber que era preocupação o que o estava deixando sério, e isso me fez corar.

– Nada demais, só dor nas costas. Muita dor nas costas.

Ele contornou a cama e sentou-se do outro lado. De uma maneira mais lenta do que eu queria, me virei para ele.

– De manhã, quando percebi que você não apareceu na escola eu fiquei preocupado... – ele hesitou por um momento, parecendo escolher as palavras com cuidado. – Esperei que você aparecesse mais tarde, para ver o jogo. Então decidi passar aqui, para saber. Achei que fosse por causa de ontem, sei lá... aí a Jane me contou e eu quis te ver.

Não importa quantas vezes eu tenha visto na internet, não importa que já nos conhecêssemos há dias... toda vez que ele me olhava com aqueles lindos e sorridentes olhos, aquele carisma me inebriava e por um momento eu esquecia como se respirava.

– Obrigada por vir me ver. Ah, e, sobre ontem...

– Tudo bem, não vamos falar disso de novo agora.

Ok. Ele era perfeito. Agora o veredito estava dado.

– É, nem dá porque daqui a pouco o remédio vai me fazer dormir... – brinquei. – Aliás, já estou sentindo os efeitos. - e ao dizer isso, não consegui evitar um bocejo.

Ele me olhou de modo bem sério, o que me fez estremecer.

– Tem alguma coisa que eu possa fazer?

Como ele consegue ser tão...!”, pensei e aquilo me incomodou bastante.

Depois de toda a sinceridade na noite anterior, ele sabia o quanto era difícil, para mim, manter o “vamos ser somente amigos” e não me facilitava as coisas!

Então, num dos lapsos de bom senso que ele me causava, eu disse:

– Você pode ficar comigo até eu adormecer...

Ele olhou pela janela e eu me arrependi imediatamente. Então, subitamente ele deitou ao meu lado, por cima das cobertas. Deitados de frente um para o outro... “Ele realmente não vai me facilitar nada.”, constatei.

Me vi numa busca desenfreada por um assunto neutro. Qualquer coisa que fizesse ele me olhar com menos intensidade e que não lembrasse em nada a noite anterior.

– Como foi o jogo? – “Brilhante!”, fiquei orgulhosa de mim mesma.

– Foi ótimo. Vencemos. 92 a 86. Eu fiz 18 pontos.

– Nossa! Isso aí.. Ace MinSuk! – e nós dois rimos.

– O que tem suas costas? – perguntou ele depois de um tempo.

– Vez e outra eu tenho uma crise dessas... mas aí é só eu me dopar e tudo fica bem.

– Se o Bae estivesse aqui ele te fazia uma massagem. Ele gosta de fingir que sabe.

– Seria bom ter ele e os outros aqui... nós demos boas risadas!

E nós rimos de novo, concordando.

Comecei a sentir minha voz mais enrolada e tentava, em vão, permanecer acordada, quando de repente MinSuk me lança:

– É verdade que eu era o seu favorito?

A pergunta saiu de uma forma tão natural que parecia que ele estava perguntando de outra pessoa, de outra banda.

Lembrei que, desde que nos conhecemos, sempre evitei falar qualquer coisa como fã apaixonada pois, com certeza, eu já tinha passado da idade, ainda que os sentimentos fossem os mesmos que de muitas outras. “Será?”, naquele momento aquilo pareceu uma mentira enorme. Nunca ninguém sentiria por MinSuk algo como o que eu sentia. Talvez perto, mais ou menos... mas igual não haveria.

Me agarrei na esperança de que o remédio fizesse efeito naquele instante. Resolvi que, uma vez que ele tinha sido totalmente sincero na noite anterior, merecia o mesmo em troca. Fechei os olhos, achando que assim seria mais fácil.

– MinSuk, você já se perguntou, de verdade, por que as pessoas exaltam seu carisma?

Como não obtive resposta continuei:

– A primeira vez que vi um vídeo clipe de vocês foi num programa que passa clipes de vários países. Eu nem estava prestando atenção à TV... só vi as calças skinnys coloridas e não dei muita atenção. Então mudei de canal. Em outro dia, mesmo programa, vocês de novo. Como eu estava mais entediada que no outro dia, olhei a TV... bem no momento em que você apareceu. Eu não entendia uma palavra do que vocês diziam, mas não consegui tirar os olhos da tela. Então eu entendi a palavra “Replay”. E você ficou na minha mente. Eu não sabia o nome da banda, nem da música, nada. Mas mesmo depois de dias, eu ainda me lembrava de você, de ‘replay’ e fui buscar na internet.

Nesse momento minha curiosidade falou mais alto e eu abri os olhos. Ele me olhava com a ansiedade de quem está ouvindo uma boa história. Continuei fixando-me em seus olhos.

– E quanto mais eu via, mais eu gostava de vocês... e principalmente de você. Muito, muito mesmo. Então, eu criei um MinSuk para mim. De uma maneira totalmente consciente eu sabia que existia o ‘meu’ MinSuk, com as qualidades de um sonho, e que existia o MinSuk do Gothee. É por isso que...

Parei para respirar. Era quase possível ouvir a ansiedade dele. Engoli seco e fechei os olhos.

– É por isso que você pode imaginar como foi difícil... como foi difícil para mim te conhecer e ver que você era tudo o que eu imaginava que era, com todas as qualidades que sonhei...

Nessa hora, mesmo apertando os olhos fechados, pude sentir as lágrimas rolando pelo meu rosto e indo morrer no travesseiro. Tentando segurar o choro, forcei a voz a soar normal e continuei:

– Ás vezes eu sinto você hesitar, MinSuk. Sinto que você hesita em assumir o que é. Você brinca, admite para os outros, mas não para si. Mas você é.. MARAVILHOSO. – essa última palavra saiu de uma forma tão dolorida que eu me encolhi um pouco. Mais lágrimas. Continuei: – Você é humilde. Tem um coração enorme, vê as pessoas como elas são, trata todos de uma maneira tão carinhosa que beira a inocência! Meu Deus, você é bom em tantas coisas... e nas poucas outras, você decide ser melhor e se torna cada vez melhor, tem força de vontade e paciência. A sua felicidade transborda pelos seus olhos, por suas palavras... A sua presença é viciante, eu...

Neste momento as lágrimas aprisionadas nos olhos fechados pareceram doer. Senti seu toque em minha mão. Abri os olhos e as lágrimas livres correram ainda mais. Percebi que os olhos de MinSuk estavam brilhando, emocionados.

– E além de tudo, você tem o rosto mais bonito que eu já tive a sorte de ver...

Tentei sorrir mas, por algum motivo, isso doeu e mais lágrimas caíram. Então fechei os olhos, tentando recuperar o bom senso.

– Em alguns momentos você parece tão decidido como se soubesse tudo o que a vida te reserva e isso me passa uma paz maravilhosa. Só peço para que nunca desacredite da sua fé em si mesmo. Nunca deixe nada nem ninguém diminuir ou destruir o que você é e nem o que você está se tornando... você faz a diferença na vida das pessoas... por favor, nunca se esqueça disso, MinSuk.

Enquanto sentia-o acariciar minha mão, aos poucos a calma e o sono me venceram.


Acordei e vi que MinSuk adormecera ao meu lado. Pela janela já era noite escura. Tentei me mover e então vi que nossas mãos ainda estavam unidas. Fiquei observando-o dormir por um instante me perguntando porque eu simplesmente não dizia sim, porque eu simplesmente não o acordava e dizia que tinha voltado atrás, que eu queria viver aquele momento independente do fim. Mas eu não tinha coragem para isso. E de uma maneira muito egoísta estava privando ele de amar. Esse pensamento me entristeceu de uma maneira tão forte que eu precisei levantar. Soltei nossas mãos de modo que ele não acordasse.

Desci as escadas no escuro quase sem forças. Sentei-me no último degrau, de repente com ‘Quasimodo’ em meus ouvidos. A dor nas costas tinha desaparecido, mas em compensação, sentia um aperto tão forte que quase estava sem ar. Eu ia perder MinSuk. De uma maneira ou de outra eu ia perde-lo ao final do mês quando eu voltasse para minha cidade, para minha vida. E isso era um pensamento insuportável.

Acendi a luz da cozinha mas estava muito difícil enxergar por trás de meus olhos mareados. Enxuguei as lágrimas tentando afastar o pensamento, porém a dor no peito continuava.

Olhei para o relógio, eram duas e meia da manhã. Eu estava há mais de 12 horas sem ingerir nada que não fossem remédios. Talvez comer ajudasse a distrair os pensamentos. Com cuidado para não fazer barulho, comecei a preparar um sanduiche.

Cerca de cinco minutos haviam passado quando ouvi passos leves na escada. MinSuk entrou na cozinha e eu senti o aperto no coração aumentar. Ele estava com um sorriso sem graça e sonolento.

– Que horas são? – perguntou-me.

– É de madrugada.

Ele olhou no relógio e arregalou os olhos.

– Está com fome? – perguntei.

Ele concordou com a cabeça e se aproximou. Continuamos a fazer nossos sanduíches em silêncio. Comemos em silêncio.

Quando terminamos ele olhou novamente o relógio e disse:

– Acho melhor eu ir pro sofá...

– Não. – me vi interrompendo.

Ele me lançou um daqueles olhares que eu não conseguia decifrar. Rapidamente eu corrigi:

– O sofá está imundo depois do karaokê de ontem.

Ele sorriu lembrando do motivo. Eu sorri também, sem graça. Mas depois ele ficou sério novamente. Eu continuei:

– Olha, provavelmente as meninas te viram dormindo lá do meu lado e acharam melhor não te acordar... você pode continuar lá e elas não vão pensar nada de mal...

– Não sei se... Eu saí do jogo, fui para casa trocar de roupas e vim para cá... eu estava tão cansado.

– Elas devem ter percebido que você pegou no sono. Ainda mais depois daquela história de dormir dois dias seguidos!

E nós dois rimos.

– Ok. Mas você pega um lençol pra mim?

– Claro.

Ele se deitou ao meu lado. No entanto, ao contrário de antes, ambos ficamos olhando para o teto, em silêncio.

Naquele momento, nenhum de nós dois conseguia dormir. Eu podia ouvir a respiração dele e isso fazia a dor no meu peito aumentar.

Quase como se sentisse o mesmo, ele começou a dizer:

– Vai doer muito...

Ele pareceu com dificuldade para respirar e meu peito parecia prestes a se romper. Com dificuldade ele continuou:

– Vai doer muito. Mas vai doer muito mais se eu não tiver você nem por um momento.

E dizendo isso ele se virou para mim. Eu vi a decisão se formar em seus olhos, mas eu estava cansada demais, não queria mais fugir.

Tudo o que eu podia ver eram seus olhos percorrendo meu rosto e seu corpo se aproximando do meu, lentamente. Fechei meus olhos e deixei que ele me abraçasse. De uma maneira muito carinhosa ele beijou minha testa, depois minhas bochechas e todo o meu rosto. Abri meus olhos e assenti. Então ele me beijou.

Estava diferente do que eu me lembrava. Com mais sentimento, como se nada mais importasse, como se quisesse me prender ali.

Como da primeira vez, o beijo foi evoluindo, o sentimento se intensificando pouco a pouco. Ele começou a entrar embaixo de meu lençol... Me afastei e abri meus olhos só para encarar o rosto suplicante de MinSuk. Tudo o que eu queria naquele momento era que ele me fizesse dele, mas eu ainda não conseguia deixar. Então o puxei para mais perto de mim e comecei a beijar seu rosto, do mesmo modo que ele tinha feito. Aquilo não estava adiantando muito... o simples toque de meus lábios em sua pele nos fazia estremecer. Senti as mãos dele em minha cintura, então parei.

– Eu não... MinSuk...ainda.. – foi tudo o que eu consegui dizer, minha respiração entrecortada.

Ele se afastou, pedindo desculpas. Levantou-se e foi até a janela, abrindo-a um pouco. O vento entrou e eu me dei conta de como meu corpo estava quente próximo ao dele.

Antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, ele se deitou ao meu lado novamente e me puxou para seus braços. Imediatamente eu fiquei inebriada pelo cheiro dele, mas me controlei. Ele me apertou bem contra si e começou a acariciar meus cabelos.

Aos poucos nos acalmamos.

– Quer namorar comigo? – ele disse após alguns minutos.

Aquilo me pegou desprevenida. Senti que ele segurava a respiração.

Sem me mover disse:

– Mas nós só temos 13 dias...

Senti que ele sorriu ao dizer:

– Esse não é o seu número favorito?

Delicadamente, ele me puxou pelo queixo, olhando-me nos olhos, dizendo:

– Eu sei que vai doer. Vai doer muito. Mas eu prefiro ter você ainda que por pouco tempo do que nunca te ter.

A decisão na voz dele o fez parecer mais velho. Eu só consegui sussurrar:

– Tem certeza?

Ele se aproximou sem tirar os olhos dos meus:

– Mais do que já tive sobre qualquer coisa nesta vida. – disse-me.

Voltei ao meu lugar apoiando minha cabeça em seu peito e disse, apenas uma vez:

– Eu aceito.

Ele voltou a me puxar, desta vez para uma sequencia maravilhosa de beijos.


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