A última Noite de Luar escrita por Marie des Anges


Capítulo 2
Segunda




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"Naruto" e os demais personagens desta ficção são de propriedade de Masashi Kishimoto, estúdios Shonen Jump e TVTókio corp. Todos os direitos reservados.

 

 

SPOILERS; Capitulo 221(A Distant Brother), página 2.

 

“A última noite de Luar”

Betado por Innis Winter

 

Capitulo I:

 

Segunda:

 

“O primeiro dia”

 

“Se eu fosse jovem, eu fugiria desta cidade...”°

 

“Um ser humano tem mais necessidade de respeito do que de pão.” ¹

 

Durante anos, minha mãe viveu namorando possibilidades de status e ascensão social. E a academia ninja era uma delas.

 

Nossa família era constituída por pessoas simples: uma filha de verdureiro que se casou com um dono de mercadinho. Pessoas sem nenhuma habilidade ninja. As chances para nossa ascensão eram apenas duas, e estavam todas ligadas a mim: ou eu passava no teste da academia - coisa que naquela época parecia impossível, já que eu aparentava ser tão normal quanto meus pais -, ou eu conseguia um casamento com alguém de algum clã, e assim minhas gerações futuras poderiam, quem sabe, se tornar algum alto escalão na Vila e nos representar.

 

Imaginem o peso que carreguei durante algum tempo por conta disso. Eu me senti inúmeras vezes frustrada e atada às vontades de minha mãe. Era muito pequena e não tinha uma definição clara e coesa sobre o que seria aquele sentimento. Era algo sem nome, eu só sentia. Sentia as pressões de cada palavra e expectativa. Só achava que minha única obrigação era corresponder ao que meus pais queriam que eu me tornasse, mas especificadamente o que minha mãe desejava de mim. Não teria problema algum se eu tivesse condições para isso; mas eu não tinha como, e me martirizava por isso. No fundo eu achava que, por mais que eu tentasse, eu jamais conseguiria nem chegar perto da alta cúpula de minha vila.

 

Era nisso que eu pensava naquela segunda-feira. As coisas pareciam voar. Minha mãe me fez acordar às quatro horas da manhã, alegando que era para que eu não chegasse tarde em meu primeiro dia. E eu estava tão ansiosa com a data que não dormi nada, ou seja, estava extremamente cansada para qualquer exercício que a academia exigisse, por menor que fosse.

 

Quando o relógio badalou às 07h30min, estávamos prontas.

Minha mãe queria ostentar algo que não era - pelas palavras dela, por pura preocupação com meu futuro, já que os bons partidos só me dariam atenção se eu fosse, quero dizer, aparentasse provir de “boa família”.

 

Eu era fraca, muito magra para minha idade e bem comum. As duas únicas coisas diferentes que havia em mim eram minha testa absurdamente grande, disfarçada por uma franja que parecia cobrir a minha cara como um lençol, e os cabelos rosa-berrante.

Eu não era nem bonita, para começo de conversa, e estava estupidamente ridícula num vestido amarelo, mais espalhafatoso que meu cabelo.

 

“Assim todos olharão para você mais facilmente”, foi a desculpa de minha mãe.

 

Eu me sentia sufocada naquela roupa, mas, de acordo com minha mãe, eu apenas tinha que abrir minha boca e mostrar meus dentes, assim como um bom cavalo puro sangue faz quando é vendido; ou seja, sorrir.

 

Li uma vez, em um livro que se intitulava Gesto e seus efeitos, que falava sobre os efeitos dos gestos na cultura humana, que o sorriso era citado como um dos mais poderosos gestos humanos, capaz de movimentar diversos músculos faciais. Quando verdadeiro, o sorriso causa ao corpo uma sensação de bem estar e prazer. O sorriso também é, no geral, um gesto visto como amigável. Dizem que um sorriso nunca anda sozinho.

Bom, meu sorriso não ficou desacompanhado por muito tempo, já que eu me tornei literalmente o centro das atenções...

 

Faltavam quinze minutos para o grande Hokage fazer o pronunciamento de abertura daquele ano. Foi nesse exato momento que chegamos ao pátio cheio de árvores de médio porte, onde o chão era todo em pedras de calcário exportado da vila da pedra. Lá mais à frente, no meio do recinto, havia um púlpito em forma de chamas que ficava um nível acima, cimentado, que daria destaque à excelentíssima figura que falaria ali. À esquerda, havia umas sessenta e nove pessoas, acho. E todas estavam com os olhos vidrados em mim; aquela pequena menina de testa assombrosa e cabelos rosa-gritante, que estava vestida ridiculamente pomposa em um vestido amarelo tão vivo que cegava quem se atravesse a encará-lo por mais de 10 segundos.

Estava sem graça, totalmente desconcertada, não sabia como falar e, o essencial: nem o que dizer. Só via ataques à minha frente de velhas senhoras, que encaravam a mim e minha mãe com desprezo e escárnio em seus semblantes.

 

Alguns riram abertamente de mim, no geral estes eram crianças; outros escondiam o riso com a mão ou viravam a cara para dar um discreto riso, e muito poucos conseguiram se controlar ou não achar graça alguma. Na verdade, só três pessoas: um garoto espevitado loiro, que me encarou de forma espalhafatosa e bem esquisita; um homem com cara emburrada, este mais para minha mãe do que para mim (inusitadamente, minha mãe sorriu-lhe por instantes imperceptíveis à maioria. O senhor ficou sem ação por um tempo, porém depois desviou o olhar abruptamente, ignorando a existência de minha mãe e eu por completo); e, em companhia deste senhor, um menino que aparentava ter minha idade, apesar da expressão séria e vazia. Ele me observou durante cinco segundos. E, durante esse mísero lapso de tempo, senti que ele instigava meu interior de forma estranha, como se quisesse sugar tudo de mim. Senti que do olhar dele emanava um sentimento inquisidor, mas, diferentemente das outras pessoas daquele local, não era pelo que eu vestia ou aparentava ser, mas por algo que não consegui identificar naquele momento. Foi meio assustador.

 

A análise do garoto foi interrompida, já que um velho senhor de semblante amistoso subiu ao púlpito. O rosto deste senhor, desde muito cedo, todos na vila aprenderam a reconhecer: era o grande “Deus Shinobi” Hiruzen Sarutobi, ou mais conhecido como Sandaime Hokage. ²

 

Todos se calaram perante a valorosa figura. As pernas que antes brincavam ficaram estáticas, os braços que antes balançavam tornaram-se inertes, as bocas que antes emitiam sons agora estavam caladas, os narizes que antes inspiravam e espiravam estridentemente pelas falações, nesse momento faziam suas atividades de forma imperceptíveis, e os olhos que olhavam e “desolhavam” se focaram em um só ponto - o púlpito. Pernas, braços, boca, nariz e olhos, todos focados naquele único alvo.

Nem as folhas das árvores se atreviam a balançar ante ao discurso do “Grande Hokage”.

 

Externamente, este homem parecia apenas um simples velho gagá que se esqueceu de se aposentar. Muitos diziam que ele não tinha a força e o vigor antigos, e que já esquecera o impressionante taijutsu que tanto caracterizou sua carreira no mundo shinobi. Ele inflou os pulmões calmamente, com um largo e doce sorriso, que creio ter feito até as pedras se sentiram netas dele, e começou, com uma voz terna e firme:

 

“Antes de tudo, peço aos futuros shinobis que trabalhem arduamente, e desde já dou meus parabéns a todos aqui presentes!”. Alargando o sorriso e acentuando as suas rugas, ele continuou, gentilmente: “Quero que, antes de aprenderem qualquer conceito, vocês coloquem uma coisa acima de tudo o que venham a aprender: a vontade do fogo. Proteger Konoha não significa proteger um lugar, uma vila, um local geográfico específico, mas sim proteger as pessoas que estão nesse local. Konoha foi construída para ser uma vila de ninjas que lutam pela paz. É uma vila pacífica, diferente, e é por isso que muitas vezes é tripudiada e desprezada pelas demais vilas, que vivem em guerra. É um lugar edificado para ser diferente do mundo afora, ser um modelo. Por isso, todos os ninjas de Konoha têm de ter a vontade do fogo, a forte vontade de proteger Konoha. Enquanto nós tivermos essa vontade, todos dessa vila serão parte de uma só família”.

 

Eu ouvia cada palavra do “Grande Sandaime” e notava ao meu redor a admiração que aquele homem conseguia fazer com que todos nutrissem por ele. Todos o ouviam. Ele era definitivamente cativante e firme; mesmo que uma bomba caísse naquele pátio, ninguém deixaria de ouvir qualquer som que aquele ser emitia. Eu jamais conseguiria tamanha simpatia e admiração. Aliás, seria um milagre se me notassem por algo que não fosse minha imensa testa ou o mau gosto de minha genetriz ³, como agora a pouco.

 

Neste exato momento olhei para minha mãe e, pelo semblante dela, ela estava lutando internamente para não dormir. Apesar de eu estar me sentindo ridícula naquele vestido, tinha que admitir ela tinha planejado e trabalhado muito para que eu não fizesse ridículo diante das pessoas. Algo em meu estômago despencou. Mesmo sabendo que os motivos dela tinham sido um pouco egoístas, minha obrigação para com ela triplicou. E enquanto eu a encarava, a voz firme do grande Hokage se tornava distante ao ponto de apenas vaguear em meus tímpanos como zumbidos longínquos. As pálpebras pesadas e olheiras fundas de minha mãe testemunhavam o quão intensamente eu deveria me lancear na academia. Sendo que eu a representava, ela estava pondo todas as suas fichas em mim; mesmo que, muito provavelmente, eu não obtivesse sucesso algum, ela ainda acreditava em mim. Então, por mais ridícula e triste que eu parecesse, eu deveria tentar, e não me acuar do jeito que eu estava fazendo. É muito fácil reclamar das pressões que a vida nos oferece. Eu ainda hoje reclamo de muitas situações frustrantes por que passo, mesmo sabendo que reclamar não vai resolver nada; todos nós fazemos muita coisa que sabemos não ser o “certo”, mas, diabos, ainda assim fazemos.

 

Então, eu me enchi de coragem. Aquele foi um dia relativamente bom, se considerarmos que ainda estou viva e respirando hoje. Mas, mesmo não sendo um dia muito feliz, pois tudo que fiz incrivelmente foi um desastre, era meu primeiro dia de aula. E foi o primeiro dia em que Haruno Sakura teve coragem...

 

Quando a abertura acabou, eu entrei na sala de cabeça erguida, disposta a tentar o que me dissessem pra fazer. Naquele momento, eu senti pela primeira vez que uma voz nascia em mim...

 

E assim nasceu uma segunda Sakura, que fala e esbraveja. Mas será que essa era verdadeira ou apenas mais uma ilusão que ficaria trancafiada dentro dela?

                                             

                                       - ۩ -

Continua...


 

° Esse trecho é de uma música que escolhi como tema desta fic, Elephant Gun de Beirut. Toda vez que escrever um capitulo, acreditem, estarei ouvindo essa música. E a cada capitulo que eu postar, um trecho dela será colocado. Espero que gostem dela.

 

¹ É uma famosa frase de Karl Marx, onde ele denota que todo operário precisa mais de respeito do que de pão. Pois enquanto o pão alimenta o corpo o respeito alimenta o principal o espírito. Quem não é um operário da vida?

² Sandaime Hokage. Primeiro o que é um Kage? É o mais poderoso Shinobi de um vilarejo. Seu poder só pode ser comparado ao de outro Kage. Sua finalidade é administrar toda vila, incluindo os shinobis dela, as missões e seus moradores. Caso haja uma guerra, o Kage sempre está disposto a dar sua vida pelo seu vilarejo. E o que são Hokages? No universo do anime/manga Naruto, é um título dado ao líder político e militar do vilarejo de Konoha, sendo considerado o ninja mais forte do mesmo. Na escolha não é avaliada apenas a força do ninja, mas também suas atitudes e sua personalidade. Ele manda em Konoha com a ajuda de um conselho. Em cinco países existem cinco Kages, líderes dos cinco mais importantes Vilarejos Escondidos, sendo Hokage o líder da Vila da Folha Oculta e do país do Fogo. E Sandaime é o título correspondente ao Terceiro Hokage.

³ Genetriz é o mesmo que mãe.

 


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Notas finais do capítulo

Nota:

Oi, tive um mês de cão por isso demorei tanto pra atualizar, peço desculpas a todos...
Nesse capitulo vocês testemunharam o nascimento da inner da Sakura, espero que tenham gostado.
Queria mandar um enorme beijo para a minha beta predileta (a única) Innis Winter. Beijo, tia, não sei o que seria de mim sem ti....
Um beijão para Cassi “A grande pedra no sapato NaruSaku”, bem mais ou menus pelo menos não a minha né, sou 50% NaruSaku e 50% SasuSaku e ela convive muito bem com todas as minhas partes...
A BastetAzazis um abraço!!!!
E até a próxima...



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