Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 7
Conhecendo gente nova


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pelo atraso! Mesmo!
Olha... Estou tendo problemas para entrar, por isso espero que não fiquem chateados se eu demorar bastante para responder os reviews. Mas tem a Ray também, por isso vocês podem continuar mandando que ela responde por mim.
Beijos e boa leitura!



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Meus olhos se abriram bem devagar. Eu sentia meus braços arderem, e sentia a minha cabeça arder por causa do Sol que tinha pego enquanto corria daquele monstro.

Eu fitei o teto com a visão turva, e soltei um pequeno gemido.

- Uhm... – Fiz dando um pequeno sinal de vida.

- Ah, você está viva! – Sorriu um homem ao meu lado. Eu franzi o cenho e olhei para o lado.

O homem vestia uma bermuda preta e uma camisa branca sem mangas com uma caveira. Seu corpo estava todo vermelho de queimado, mas algumas partes tinham grandes manchas brancas. Ele sorriu ainda mais ao ver que eu estava notando isso.

- Você ganhou a minha eterna admiração, garota do protetor solar. – Sorriu ele.

Franzi o cenho sem entender, e cocei a cabeça ainda deitada.

- Onde... – Minha voz falhou. Ele se inclinou para frente tentando me ouvir, e eu repeti – Onde eu estou?

- Ah, em uma casa de campo no meio de lugar nenhum. – Respondeu ele como se aquilo não o agradasse – Quem liga? O importante é que agora eu tenho protetor solar. Ah, e que você está viva, é claro.

Eu tentei me colocar sentada, mas meus braços estavam fracos. Ele ia falar mais alguma coisa, quando uma voz veio do andar debaixo.

- Espero que você não esteja se aproveitando da pobre menina, seu sujo!

Olhei para ele sem entender, e ele revirou os olhos irritado.

- Eu só estou falando com ela, sua velha! Falando! – Exclamou ele irritado, e depois olhou para mim – Você é filha única?

- Sim. – Respondi.

- Você está subindo ainda mais no meu conceito, garota do protetor solar. – Assentiu ele se levantando – Bem... Pode dormir mais. Eu tenho que descer para mandar a minha adorável irmã para um lugar não muito bonito.

Ele abriu a porta do quarto, e saiu. Eu fiquei parada ali, sem entender nada, até que resolvi me levantar com calma. Demorou, porque eu ainda estava fraca, mas consegui ficar sentada. Eu me pus de pé e caminhei até a porta, um tanto hesitante.

Senti que meu rosto estava quente, mas isso devia ter sido por causa do Sol abundante lá fora. Eu desci a escada que dava direto a sala de estar. Lá estavam duas mulheres, e o homem que tinha falado comigo.

Ele parecia estar discutindo em um tom baixo com uma mulher de 30 e tantos anos. Ela tinha cabelos castanhos ondulados, e parecia estar reclamando com ele também. A outra mulher estava ignorando os dois, e costurando alguma coisa.

Eu devo ter pisado em algum tábua que rangeu no chão, pois de repente eles três ergueram os olhos para mim. A mulher mais velha olhou para mim e sua raiva sumiu.

- Como está o seu braço, querida? – Perguntou ela. Eu olhei para meus braços, que agora estavam enfaixados. Eu encolhi os ombros, um tanto envergonhada.

- Eu não sinto nada, senhora. – Respondi.

- Ora, sente-se aqui. – Pediu ela de um modo extremamente gentil – Venha para cá e fale um pouco sobre você.

- Sim. – Assenti descendo as escadas. Minhas pernas estavam bambas, mas eu consegui sentar no sofá de frente ao que o homem estava sentado.

- Então. – Disse ela – Qual é o seu nome?

- Eu... Eu sou Abby. – Respondi sem usar meu nome de verdade – Abby Starr.

- Abby. Que nome engraçado. – Comentou o homem rindo um pouco.

- Por que você não cala essa boca? – Perguntou ela irritada novamente – Será que não sabe ser gentil nem com as visitas?!

- Antes mal educado do que intrometida, não é? – Rebateu ele.

- Eu só perguntei o nome dela! Não tem nada demais nisso! – Reclamou.

- Ahm... – Eu fiz desconfortável – Quem são vocês?

Eles olharam para mim, e hesitaram.

- Eu sou Hades. – Respondeu o homem – Essa linda garota do meu lado se chama Perséfone, e essa criatura do seu lado se chama Deméter.

- Você é muito burro, não é?! – Exclamou Deméter – Tinha que dizer os nossos...?! Ah, esquece.

- Ei... – Disse apontando para as mãos de Hades – Esse protetor é meu.

- Acho que eu preciso mais do que você. – Disse ele mostrando o quanto estava vermelho. Eu recuei o braço.

- Não, não é isso. É que... Ele caiu quando eu desmaiei. Foi você que me ajudou? Eu lembro de alguém me salvando. – Disse tentando lembrar de seu rosto.

- Fui eu sim. – Confirmou ele – Posso ficar com o protetor solar por causa disso?

Eu ri um pouco, e confirmei com a cabeça.

- Pode. Pode sim. – Disse sorrindo de leve.

- Mas... Me diga, Abby. – Disse Deméter olhando para mim – Onde você mora? Seus pais não estão preocupados com você?

- Eu... – Pude notar que os três estavam olhando para mim curiosos, e isso me desanimou um pouco – Eu não tenho casa, senhora.

Houve um pequeno silêncio.

- E... Nem pais? – Perguntou Perséfone devagar.

- Tenho. Mas... – Eu fiquei muda por alguns segundos, pois senti uma lágrima se formar em meus olhos. Ultimamente estava me sentindo mais sozinha do que nunca – Eles morreram.

Houve um silêncio desconfortável. Hades mudou de posição no sofá, Perséfone olhou para o chão, e Deméter pensou no que dizer, mas não achou palavras.

- Acontece com todo mundo. – Murmurou Hades olhando para mim discretamente – Você... Não é a única passando por isso, acredite.

Eu respirei fundo e assenti com a cabeça.

- Ahm... Acho que eu dei muito trabalho para vocês. Sinto muito. – Disse com vergonha. Eles negaram com a cabeça.

- Ah, está tudo bem. Não deu trabalho nenhum. – Disse Deméter sorrindo de leve – Acho melhor você comer alguma coisa.

- Pronto. – Murmurou Perséfone – Mamãe, você não vai mandar ela comer cereal, não é?!

- Ora, mas é claro que eu vou! – Exclamou Deméter se levantando e indo para a cozinha – Olha só como ela está magra! Eu vou buscar cereal agora mesmo.

- Tudo bem. – Disse para Perséfone – Eu gosto de cereal.

- Vai por mim. Depois de comer uma tonelada, você enjoa. – Falou ela revirando os olhos. Deméter voltou e me deu uma tigela com bastante cereal – Esse é aquele colorido. Froot Loops.

- Jura?! – Exclamei sem querer em grande animação. Deméter franziu o cenho sem entender – Desculpa, é que... Ele é tão gostoso! Ninguém comprava para mim, porque era muito caro, mas eu amo esse cereal!

- Pode comer a vontade. Tem de todas as marcas na cozinha, se você quiser ir pegar mais. – Sorriu Deméter. Ela olhou para Perséfone – Nós vamos ter que ajeitar as flores ainda. Você se importa de ficar aqui dentro com o Hades, Abby?

- Não. – Respondi comendo o cereal.

- Você é realmente uma garota em um milhão. – Comentou Deméter. Hades fez uma careta para ela, e ela retribuiu – Tome conta dela direito. Qualquer coisa, grite, certo Abby? Não deixe essa nojento tocar em você.

- Pare de queimar a minha imagem! – Reclamou Hades – E também, eu estou queimado de Sol! Como eu poderia tocar em alguém?!

- Não sei. Mas não confio em você mesmo assim. – Respondeu Deméter indo para fora com Perséfone. Assim que elas bateram a porta, Hades deixou-se afundar no sofá. Eu prendi o riso, e voltei meu olhar para o cereal quando notei que ele me ouviu.

- O que foi? – Quis saber ele.

- Nada. – Neguei com a cabeça.

- Está rindo de mim? – Quis saber ele.

- Ahm? Não. Não é isso, é que... – Eu ri um pouco de novo – Ela parece que gosta de você.

Foi a vez de Hades rir. Ele começou a rir da idéia, e deu um tapa na própria perna, se esquecendo completamente de que ela estava queimada de Sol. Ele berrou de dor, mas depois respirou fundo e olhou para mim.

- Ela me odeia. – Negou ele.

- A... A assistente social que cuidava de mim sempre brigava comigo. Ela reclamava e tudo mais, mas ela só queria me ajudar. – Comentei voltando a comer o cereal.

Hades parou por um segundo, e ficou em silêncio avaliando se aquilo poderia ser verdade, mas então negou a cabeça novamente.

- Não. Ela realmente me odeia. – Confirmou ele – Você é que não entende, mas ela me odeia.

- Desculpe. Foi só a minha opinião, mas eu devo estar errada. – Disse voltando a comer cereal.

Hades deitou no sofá devagar, e eu continuei comendo até que ele começou a falar.

- Ela é a minha sogra. – Contou ele fazendo careta. Eu vi que ele estava fitando o teto enquanto falava isso, e me senti uma terapeuta. Resolvi entrar na brincadeira, por isso continuei comendo e olhando para ele.

- Nossa. – Foi tudo o que disse – Continue.

- Mas antes ela era só a minha irmã. – Continuou ele tentando se lembrar daquilo – Ela ficou chata desse jeito depois que eu fiquei com a filha dela.

- Ahm... Isso não é ilegal? – Perguntei franzindo o cenho.

- Bem... Eu me casei com ela antes dessa lei sobre incesto existir, então tecnicamente, eu estou dentro da lei. – Explicou ele.

- Mas essa lei existe há um bom tempo, não é? – Disse um pouco incerta.

- Tanto faz a lei. O fato é... A minha família é uma droga. – Reclamou ele – Sabe... Talvez você tenha sorte. Você não tem ninguém mesmo.

- É... – Eu concordei olhando para a tigela em minhas mãos – Eu não tenho ninguém.

- Não... – Ele olhou para mim sem graça – Não foi isso que eu quis dizer. É só que você é sozinha, e... Não! Não que você esteja sozinha no mundo inteiro. Só... Não tem família nenhuma.

Ele só estava piorando a situação, por isso eu voltei a comer o cereal. Ele ia dar um tapa na própria testa, mas lembrou-se de que estava queimado de Sol.

- Desculpa. – Disse ele em um murmuro.

- Está tudo bem. – Confirmei – Eu também me enrolo com as palavras e falo besteira às vezes. Mas está tudo bem.

Hades ficou quieto e assentiu. Nós ficamos alguns minutos sentados ali, no completo silêncio, até que pude sentir a sala ficar mais quente. Hades colocou-se sentado novamente e resmungou algumas coisas.

- Mas que droga... Será que ele não se toca que vai colocar fogo na casa toda?! – Queixou-se indo em direção á varanda. Eu franzi o cenho sem entender. Queria perguntar sobre o monstro que me seguiu, mas resolvi esperar sentada lá.

Pude ouvir o som de um carro. O motor dele foi desligado e o calor diminuiu.

- Nossa... Isso é uma reunião de família? – Comentou uma voz. Provavelmente o dono do carro.

- Reunião de família uma ova! – Reclamou Hades – Somos prisioneiros dessa tirana.

- Eu não pedi para você vir! – Reclamou Deméter.

- Eu não pedi para você chamar a minha esposa para vir! – Rebateu ele.

- Minha filha. – Corrigiu ela.

- Minha esposa. – Corrigiu ele.

- Pois é. Estou com sede. – Disse o dono do carro – E... Nossa! Que calor aqui! Eu vou pegar um copo de água lá dentro.

Em cerca de alguns minutos a porta da sala se abriu. Meus olhos encontraram um homem de mais ou menos 25 anos. Ele tinha um cabelo extremamente loiro e olhos azuis, que procuraram pelo cômodo onde poderia ficar a cozinha.

- Cara... Aqui dentro está bem mais fresquinho. – Sorriu ele entrando. Ele não tinha me notado, até que seus olhos foram para o canto perto da lareira. Algo estranho aconteceu.

O homem devia simplesmente dizer “oi” e ir para a cozinha, mas ao invés disso ele ficou parado lá, encarando-me como se eu fosse algo completamente estranho. Eu olhava para ele também, mas depois de algum tempo isso se tornou vergonhoso para mim, por isso eu abaixei meus olhos para a tigela em minhas mãos e voltei a comer cereal.

- Ahm... Oi. – Disse em um tom de voz baixo. Eu não costumava ser tímida, mas estava me sentindo tão estranha por ele me encarar, que isso foi o máximo que conseguir dizer.

-... Olá. – Respondeu ele depois de alguns minutos.

Mas para o meu desconforto, ele continuou parado me encarando.


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