Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo
Notas iniciais do capítulo
Ok, me matem. Depois que eu terminar essa fic, claro, mas acho que têm o direito disso.
Sinto muito por demorar. Eu tive um bloqueio com essa fic, mas aqui está o novo capítulo tão esperado por vocês.
Boa leitura.
Eu abri a porta do quarto devagar. Podia ouvir uma pequena discussão vinda do andar debaixo, e poderia apostar que eram Hades e Deméter brigando.
Não entendi muito bem a lição que Hades quisera passar, mas eu entendia duas coisas.
Uma, estava com sede.
Outra, eu tinha que descer as escadas para pegar água. E assim, provavelmente chamaria a atenção de Apolo.
Mesmo estando levemente com vergonha, desci os degraus. Esperava que eles não fizessem barulho, mas assim que pisei neles, eles começaram a ranger. Imediatamente, todos pararam e olharam para mim. Olhei para eles também, e permaneci parada.
Pude ver meu pai olhando para mim fixamente, com uma cara amarrada (como se fosse uma criança contrariada). Hades, Deméter e Perséfone só observavam para ver o que eu faria. Olhei novamente para meu pai e respirei fundo.
- Eu... – Ele me interrompeu.
- Queria pedir desculpas? Queria dizer que eu existo? – Perguntou cruzando os braços. Eu parei uns instantes, e acabei sendo sincera.
- Não, eu queria água. – Respondi. Hades desviou o olhar para um canto da sala, e prendeu o riso. Deméter levantou-se calmamente e sorriu para mim.
- Você deve estar desidratada por causa desse sol. – Disse indo para o começo da escada. Eu olhei para ela e assenti.
- Ah, sim! Ponha a culpa em mim mesmo! – Exclamou Apolo em birra – Por que é sempre culpa minha?!
- Quietinho! – Exclamou Deméter de modo maternal e autoritário. Apolo cruzou os braços novamente, e bufou desviando o rosto. Ela olhou para mim com um sorriso doce no rosto – Vamos, querida. Tem água na cozinha.
Eu ia acompanhar Deméter, quando uma pergunta me passou pela cabeça. Não consegui me controlar, por isso me virei em direção ao sofá, e olhei para Apolo.
- Você tem uma marca em forma de estrela em algum lugar do seu corpo? – Perguntei, e ele foi ligeiramente pego de surpresa. Ele franziu o cenho de leve, e repetiu a pergunta em um murmuro.
- Se eu tenho uma marca de estrela em algum lugar do meu corpo? – Murmurou. Tinha certeza de que ele perguntaria de onde eu tirei tal pergunta, como qualquer um faria, mas na verdade, ele reagiu normalmente – Tenho sim. Fica bem no meu...
- Ei, ei, ei! – Berrou Hades tampando os ouvidos de Perséfone e fazendo uma cara de nojo.
- Pé! – Exclamou Apolo olhando para ele – No meu pé!
- Acho bom. – Disse soltando Perséfone. Apolo olhou para mim ignorando Hades.
- Você também tem, não é? – Perguntou ele. Eu assenti e olhei para o meu pé. Estava usando chinelos, pois Deméter os tinha deixado no meu quarto. Bem no cantinho, onde o dedão começava, estava uma pequena estrela com pontas irregulares.
- Você é mesmo o meu pai... – Murmurei pensativa – A dobrinha do nariz, a estrela...
- Eu tenho também um... – Apolo se interrompeu ao ver que Hades tampara os ouvidos de Perséfone novamente – Fio ruivo!
- É uma mexa? Bem pequena? – Perguntei mexendo em meu cabelo. Perto de minha nuca, eu puxei uma pequena mexa. Era clara como o resto de meu cabelo, mas tinha um tom mais escuro, mais para o cobre – Achei!
Ele sorriu para mim.
- Sou seu pai. Quer mais alguma prova? – Perguntou ele sorrindo. Hades tampou os ouvidos de Perséfone mais uma vez.
- Acho que não precisa. Ela captou a mensagem. – Comentou ele.
Apolo abriu a boca para reclamar, mas o atravessei com outra pergunta.
- Você não devia existir, mas se existe e está aqui dentro... O Sol vai cair na Terra? – Perguntei confusa. Apolo olhou para mim.
- Não, o Sol não caí na Terra. – Rebateu ele como se fosse uma pergunta estúpida, mas então franziu o cenho – Bem... Caiu uma vez, mas não sobrou nenhuma testemunha, então... Sh! Eu não conto se você não contar.
Eu fiquei levemente surpresa, e senti um toque em meu ombro. Virei o rosto e encontrei Deméter segurando um copo de água.
- Tome e sente-se um pouco. Acho que você e seu pai tem que conversar. – Disse ela delicadamente. Ela olhou para Perséfone, e Hades – Vamos sair um pouco e ver o que plantaremos aqui.
- No Sol? – Disse Hades chocado – Prefiro ouvir a conversa.
- Hades, vamos. – Disse Perséfone puxando-o pelo braço – Deixe eles em paz. Vão precisar de um booom tempo juntos.
Eles três saíram, e eu fiquei um tanto nervosa. Preferia que ficassem aqui, pois eram as únicas pessoas que eu conhecia. Ao menos, parcialmente.
- Em que está pensando? – Perguntou ele analisando meu rosto.
- Que eu não te conheço. – Respondi sinceramente – Não sei nada sobre você.
Ele assentiu.
- Estava pensando a mesma coisa. – Disse ele, e de repente senti um enorme abismo. Ele não sabia quem eu era, nem eu sabia quem ele era. Não sabia a cor favorita dele, como conheceu minha mãe, o que faz quando não dirige o sol... Nada.
Ele apontou para o sofá, e eu fui para lá. Sentei-me á sua frente, e nós passamos um tempo nos encarando.
- Lembra-se da sua mãe? – Perguntou ele. Eu neguei com a cabeça.
- Quase nada. – Respondi abaixando a cabeça – Só lembro dos meus tutores. Mais ninguém.
- Não eram pais adotivos? – Perguntou ele.
- Eles ficavam comigo por um tempo, mas... Nunca para sempre. – Respondi sentindo um tanto mal. Era aquilo que eu sempre quis esconder das pessoas. O meu sentimento de abandono, mas de repente eu acabara de revelá-lo para um completo estranho.
Ele sorriu triste.
- Eu não queria que fosse assim, mas isso é bem irrelevante. – Disse ele – Nós não podemos fazer nada de qualquer jeito. Só conviver com isso.
- Eu convivi com isso. – Confirmei – Por todos os anos. E... Agora estou aqui.
Ele pensou em algo para dizer, mas fui mais rápida.
- Nunca me levou para o seu apartamento nos fins de semana ou em dias alternados. – Comentei. Ele olhou para mim confuso.
- Como? – Perguntou.
- Nunca me levou para o seu apartamento nos fins de semana ou em dias alternados. – Repeti – Minha amiga tinha pais divorciados. Bem... Amiga, não. Colega. Mas o detalhe é que os pais dela a dividiam. Você nunca dividiu os dias de ficar comigo com os meus tutores.
- Bem, eu não sou divorciado. – Comentou ele.
- Mas tem um apartamento. – Rebati.
- Eu não tenho um apartamento. – Negou ele com a cabeça. Eu franzi o cenho extremamente confusa. Inclinei-me ligeiramente para frente, e ele notou que eu o analisava – O que? O que foi?
- Você tem alguns probleminhas, não é? – Murmurei, e ele inclinou-se para frente também.
- Como é? – Perguntou.
- Não! Já entendi! Você mora em uma casa. – Disse, mas ele negou com a cabeça – Não? Tipo... Com um jardim, cachorro, e...
- Não. – Negou ele.
- Você é um hippie? Eles dizem que não precisam de casas, mas eu acho isso meio estranho. Comida você até arruma, mas onde vai tomar banho? – Comentei confusa – Espera... Você toma banho, não é?
- É claro que eu tomo banho! – Exclamou ele ofendido – Tomava banho até na minha fase hippie.
- Você teve mesmo uma fase hippie? Tipo Yellow Submarine e tudo mais? – Perguntei surpresa, e ele sorriu.
- Claro. Foi divertido. Eu tive várias fases na minha vida. Minha longa vida. Já curti jazz, blues, rock, samba, bossa nova... Mas isso é assunto para outro momento. – Disse ele dando de ombros – O que estava dizendo sobre minha casa?
- Você disse que não tem casa. Que mora na rua. – Expliquei.
- Eu não disse que morava na rua! – Exclamou ele em protesto – Eu disse que não tinha casa, nem apartamento.
- Então você mora onde? – Perguntei.
- No meu templo. Lá no Monte Olimpo. – Contou ele com naturalidade.
- Você acredita mesmo nisso? – Perguntei franzindo o cenho – Você realmente é doidinho.
- Ah, desculpe! Eu esqueci que a senhorita ainda está na fase de “eu acho que meu pai não existe”. Acha mesmo que não sou de verdade, não é? Então não deveria falar comigo. – Reclamou ele cruzando os braços.
Notei que tinha que ser cuidadosa ao falar com ele. Era muito sensível.
- E se eu disser que quero acreditar em você? – Perguntei. Ele ergueu uma sobrancelha.
- Começa a melhorar. – Murmurou.
- Então fale sobre você. Quem é você? – Perguntei querendo saber de verdade.
- Eu? – Perguntou ele me olhando – Eu sou Apolo Febo, Deus do Sol, da música, da medicina e das artes. Resido no Monte Olimpo, Empire States 600º andar. Pratico arco e flechas, sou adorado pelas minhas musas e por muitos outros, e dirijo o carro do sol.
Eu pisquei por alguns minutos, e fiquei olhando-o.
- A mamãe realmente gostou de você? – Perguntei incrédula. Como ela poderia gostar daquele louco?
- Claro que sim. Sua mãe me achava lindo, e estava certa. Ela se interessava pelos meus assuntos. Pintamos alguns quadros juntos, mas eu não pude ficar perto por muito tempo.
- Só o tempo suficiente. – Murmurei para mim mesma. Apolo pareceu um tanto ofendido.
- Não é o que pensa! – Protestou ele – Todos têm essa ideia, mas é mentira. Eu amava muito sua mãe. Foi uma dor quando... Aconteceu aquele acidente. Mas nunca quis deixá-la, do mesmo jeito que nunca quis deixar você.
- O que pretendia? Viver com nós duas no Monte Olimpo? – Perguntei.
- Se possível, seria bom. – Confirmou ele.
- Você realmente quer que eu acredite em você desse jeito? – Perguntei incrédula – Eu não... Não consigo levar isso á sério.
- Você é mesmo uma cética, não é? – Disse ele cruzando os braços.
- Eu não tenho muitos motivos para acreditar nessas coisas. – Falei olhando-o – Sabe quem eu sou? Eu sou Abigail Stangford, 17 anos, órfã. Pulo de casa em casa, porque ninguém quer realmente ficar comigo. Gosto de tocar violão, de ver a chuva cair, e de animais.
Ele assentiu com a cabeça.
- E eu nunca pude acreditar em nada que não fosse certo. – Eu tinha tristeza em minha voz – Por que depois de um tempo... A esperança em algo mais... Dói.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Dá dó, não?
Aguardo pelos reviews, e juro que vou tentar não demorar tanto, certo?
Beijos e muito obrigada por serem tão pacientes.