Sem Rumo escrita por Mandy-Jam, ray_diangelo


Capítulo 10
Hippies sem casa


Notas iniciais do capítulo

Ok, me matem. Depois que eu terminar essa fic, claro, mas acho que têm o direito disso.
Sinto muito por demorar. Eu tive um bloqueio com essa fic, mas aqui está o novo capítulo tão esperado por vocês.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/162929/chapter/10

Eu abri a porta do quarto devagar. Podia ouvir uma pequena discussão vinda do andar debaixo, e poderia apostar que eram Hades e Deméter brigando.

Não entendi muito bem a lição que Hades quisera passar, mas eu entendia duas coisas.

Uma, estava com sede.

Outra, eu tinha que descer as escadas para pegar água. E assim, provavelmente chamaria a atenção de Apolo.

Mesmo estando levemente com vergonha, desci os degraus. Esperava que eles não fizessem barulho, mas assim que pisei neles, eles começaram a ranger. Imediatamente, todos pararam e olharam para mim. Olhei para eles também, e permaneci parada.

Pude ver meu pai olhando para mim fixamente, com uma cara amarrada (como se fosse uma criança contrariada). Hades, Deméter e Perséfone só observavam para ver o que eu faria. Olhei novamente para meu pai e respirei fundo.

- Eu... – Ele me interrompeu.

- Queria pedir desculpas? Queria dizer que eu existo? – Perguntou cruzando os braços. Eu parei uns instantes, e acabei sendo sincera.

- Não, eu queria água. – Respondi. Hades desviou o olhar para um canto da sala, e prendeu o riso. Deméter levantou-se calmamente e sorriu para mim.

- Você deve estar desidratada por causa desse sol. – Disse indo para o começo da escada. Eu olhei para ela e assenti.

- Ah, sim! Ponha a culpa em mim mesmo! – Exclamou Apolo em birra – Por que é sempre culpa minha?!

- Quietinho! – Exclamou Deméter de modo maternal e autoritário. Apolo cruzou os braços novamente, e bufou desviando o rosto. Ela olhou para mim com um sorriso doce no rosto – Vamos, querida. Tem água na cozinha.

Eu ia acompanhar Deméter, quando uma pergunta me passou pela cabeça. Não consegui me controlar, por isso me virei em direção ao sofá, e olhei para Apolo.

- Você tem uma marca em forma de estrela em algum lugar do seu corpo? – Perguntei, e ele foi ligeiramente pego de surpresa. Ele franziu o cenho de leve, e repetiu a pergunta em um murmuro.

- Se eu tenho uma marca de estrela em algum lugar do meu corpo? – Murmurou. Tinha certeza de que ele perguntaria de onde eu tirei tal pergunta, como qualquer um faria, mas na verdade, ele reagiu normalmente – Tenho sim. Fica bem no meu...

- Ei, ei, ei! – Berrou Hades tampando os ouvidos de Perséfone e fazendo uma cara de nojo.

- Pé! – Exclamou Apolo olhando para ele – No meu pé!

- Acho bom. – Disse soltando Perséfone. Apolo olhou para mim ignorando Hades.

- Você também tem, não é? – Perguntou ele. Eu assenti e olhei para o meu pé. Estava usando chinelos, pois Deméter os tinha deixado no meu quarto. Bem no cantinho, onde o dedão começava, estava uma pequena estrela com pontas irregulares.

- Você é mesmo o meu pai... – Murmurei pensativa – A dobrinha do nariz, a estrela...

- Eu tenho também um... – Apolo se interrompeu ao ver que Hades tampara os ouvidos de Perséfone novamente – Fio ruivo!

- É uma mexa? Bem pequena? – Perguntei mexendo em meu cabelo. Perto de minha nuca, eu puxei uma pequena mexa. Era clara como o resto de meu cabelo, mas tinha um tom mais escuro, mais para o cobre – Achei!

Ele sorriu para mim.

- Sou seu pai. Quer mais alguma prova? – Perguntou ele sorrindo. Hades tampou os ouvidos de Perséfone mais uma vez.

- Acho que não precisa. Ela captou a mensagem. – Comentou ele.

Apolo abriu a boca para reclamar, mas o atravessei com outra pergunta.

- Você não devia existir, mas se existe e está aqui dentro... O Sol vai cair na Terra? – Perguntei confusa. Apolo olhou para mim.

- Não, o Sol não caí na Terra. – Rebateu ele como se fosse uma pergunta estúpida, mas então franziu o cenho – Bem... Caiu uma vez, mas não sobrou nenhuma testemunha, então... Sh! Eu não conto se você não contar.

Eu fiquei levemente surpresa, e senti um toque em meu ombro. Virei o rosto e encontrei Deméter segurando um copo de água.

- Tome e sente-se um pouco. Acho que você e seu pai tem que conversar. – Disse ela delicadamente. Ela olhou para Perséfone, e Hades – Vamos sair um pouco e ver o que plantaremos aqui.

- No Sol? – Disse Hades chocado – Prefiro ouvir a conversa.

- Hades, vamos. – Disse Perséfone puxando-o pelo braço – Deixe eles em paz. Vão precisar de um booom tempo juntos.

Eles três saíram, e eu fiquei um tanto nervosa. Preferia que ficassem aqui, pois eram as únicas pessoas que eu conhecia. Ao menos, parcialmente.

- Em que está pensando? – Perguntou ele analisando meu rosto.

- Que eu não te conheço. – Respondi sinceramente – Não sei nada sobre você.

Ele assentiu.

- Estava pensando a mesma coisa. – Disse ele, e de repente senti um enorme abismo. Ele não sabia quem eu era, nem eu sabia quem ele era. Não sabia a cor favorita dele, como conheceu minha mãe, o que faz quando não dirige o sol... Nada.

Ele apontou para o sofá, e eu fui para lá. Sentei-me á sua frente, e nós passamos um tempo nos encarando.

- Lembra-se da sua mãe? – Perguntou ele. Eu neguei com a cabeça.

- Quase nada. – Respondi abaixando a cabeça – Só lembro dos meus tutores. Mais ninguém.

- Não eram pais adotivos? – Perguntou ele.

- Eles ficavam comigo por um tempo, mas... Nunca para sempre. – Respondi sentindo um tanto mal. Era aquilo que eu sempre quis esconder das pessoas. O meu sentimento de abandono, mas de repente eu acabara de revelá-lo para um completo estranho.

Ele sorriu triste.

- Eu não queria que fosse assim, mas isso é bem irrelevante. – Disse ele – Nós não podemos fazer nada de qualquer jeito. Só conviver com isso.

- Eu convivi com isso. – Confirmei – Por todos os anos. E... Agora estou aqui.

Ele pensou em algo para dizer, mas fui mais rápida.

- Nunca me levou para o seu apartamento nos fins de semana ou em dias alternados. – Comentei. Ele olhou para mim confuso.

- Como? – Perguntou.

- Nunca me levou para o seu apartamento nos fins de semana ou em dias alternados. – Repeti – Minha amiga tinha pais divorciados. Bem... Amiga, não. Colega. Mas o detalhe é que os pais dela a dividiam. Você nunca dividiu os dias de ficar comigo com os meus tutores.

- Bem, eu não sou divorciado. – Comentou ele.

- Mas tem um apartamento. – Rebati.

- Eu não tenho um apartamento. – Negou ele com a cabeça. Eu franzi o cenho extremamente confusa. Inclinei-me ligeiramente para frente, e ele notou que eu o analisava – O que? O que foi?

- Você tem alguns probleminhas, não é? – Murmurei, e ele inclinou-se para frente também.

- Como é? – Perguntou.

- Não! Já entendi! Você mora em uma casa. – Disse, mas ele negou com a cabeça – Não? Tipo... Com um jardim, cachorro, e...

- Não. – Negou ele.

- Você é um hippie? Eles dizem que não precisam de casas, mas eu acho isso meio estranho. Comida você até arruma, mas onde vai tomar banho? – Comentei confusa – Espera... Você toma banho, não é?

- É claro que eu tomo banho! – Exclamou ele ofendido – Tomava banho até na minha fase hippie.

- Você teve mesmo uma fase hippie? Tipo Yellow Submarine e tudo mais? – Perguntei surpresa, e ele sorriu.

- Claro. Foi divertido. Eu tive várias fases na minha vida. Minha longa vida. Já curti jazz, blues, rock, samba, bossa nova... Mas isso é assunto para outro momento. – Disse ele dando de ombros – O que estava dizendo sobre minha casa?

- Você disse que não tem casa. Que mora na rua. – Expliquei.

- Eu não disse que morava na rua! – Exclamou ele em protesto – Eu disse que não tinha casa, nem apartamento.

- Então você mora onde? – Perguntei.

- No meu templo. Lá no Monte Olimpo. – Contou ele com naturalidade.

- Você acredita mesmo nisso? – Perguntei franzindo o cenho – Você realmente é doidinho.

- Ah, desculpe! Eu esqueci que a senhorita ainda está na fase de “eu acho que meu pai não existe”. Acha mesmo que não sou de verdade, não é? Então não deveria falar comigo. – Reclamou ele cruzando os braços.

Notei que tinha que ser cuidadosa ao falar com ele. Era muito sensível.

- E se eu disser que quero acreditar em você? – Perguntei. Ele ergueu uma sobrancelha.

- Começa a melhorar. – Murmurou.

- Então fale sobre você. Quem é você? – Perguntei querendo saber de verdade.

- Eu? – Perguntou ele me olhando – Eu sou Apolo Febo, Deus do Sol, da música, da medicina e das artes. Resido no Monte Olimpo, Empire States 600º andar. Pratico arco e flechas, sou adorado pelas minhas musas e por muitos outros, e dirijo o carro do sol.

Eu pisquei por alguns minutos, e fiquei olhando-o.

- A mamãe realmente gostou de você? – Perguntei incrédula. Como ela poderia gostar daquele louco?

- Claro que sim. Sua mãe me achava lindo, e estava certa. Ela se interessava pelos meus assuntos. Pintamos alguns quadros juntos, mas eu não pude ficar perto por muito tempo.

- Só o tempo suficiente. – Murmurei para mim mesma. Apolo pareceu um tanto ofendido.

- Não é o que pensa! – Protestou ele – Todos têm essa ideia, mas é mentira. Eu amava muito sua mãe. Foi uma dor quando... Aconteceu aquele acidente. Mas nunca quis deixá-la, do mesmo jeito que nunca quis deixar você.

- O que pretendia? Viver com nós duas no Monte Olimpo? – Perguntei.

- Se possível, seria bom. – Confirmou ele.

- Você realmente quer que eu acredite em você desse jeito? – Perguntei incrédula – Eu não... Não consigo levar isso á sério.

- Você é mesmo uma cética, não é? – Disse ele cruzando os braços.

- Eu não tenho muitos motivos para acreditar nessas coisas. – Falei olhando-o – Sabe quem eu sou? Eu sou Abigail Stangford, 17 anos, órfã. Pulo de casa em casa, porque ninguém quer realmente ficar comigo. Gosto de tocar violão, de ver a chuva cair, e de animais.

Ele assentiu com a cabeça.

- E eu nunca pude acreditar em nada que não fosse certo. – Eu tinha tristeza em minha voz – Por que depois de um tempo... A esperança em algo mais... Dói.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dá dó, não?
Aguardo pelos reviews, e juro que vou tentar não demorar tanto, certo?
Beijos e muito obrigada por serem tão pacientes.