Tudo começou quando eu matei o Itachi.

Sim, teoricamente esse deveria ser o fim de minha saga. Isso foi o que sempre achei. Somente no instante em que seu coração parou sob a minha adaga, percebi que aquilo era só o começo.

Eu tinha dedicado anos e anos de minha vida em uma vingança e agora precisava recuperá-los com urgência. Quando vi o corpo inerte de meu irmão à minha frente, quase chorei. Não por alívio, nem por tristeza, mas pela bucólica sensação de ter deixado algo esvair de minhas mãos. Um sentimento incompreensível e sufocante, mas que fez parte de meu peito, assim que percebi o que tinha feito. Eu tinha finalmente matado meu irmão...E agora? Que sentido havia para a minha existência? Aonde deveria ir? Ainda haveria alguém esperando por mim?

Aquilo tudo era complexo demais. Cansativo demais. E não podia ser respondido com o bom uso da lógica. Portanto, desisti de refletir. Por alguns instantes, ignorei a vingança, ignorei o passado, o presente e o futuro. Apenas me deitei na neve alva e gelada que acariciava gentilmente minha pele. Senti o cheiro de eucaplito. Senti meu peito apertando. Senti os ferimentos arderem como profundas e abertas chagas em meu corpo. Senti saudades. Senti medo. Senti de tudo um pouco e um pouco de tudo. Senti como jamais tinha sentido na vida.

Pela primeira vez em anos, senti-me vivo. Logo no momento, em que estava prestes a morrer.

A dura batalha com meu irmão, havia deixado sérios ferimentos em meu corpo e o veneno de Orochimaru, queimava meu corpo por dentro. Eu não tinha mais ninguém. Estava sozinho e ferido. Pensei que se morresse não faria diferença a ninguém. E foi isso que me deu forças para sobreviver naquela fria noite de inverno. Eu não permiti que minha alma fosse levada de maneira tão insensata.

Eu havia dedicado todos aqueles anos à minha vingança contra Itachi. E agora que ela havia terminado, eu tinha que viver. Para corrigir velhos erros e conquistar novos sonhos.

" Sonhos...Desde quando essa palavra adquiriu um timbre tão doce?"

E pensando assim, marchei em direção a konoha.

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Não me lembro bem como as coisas aconteceram, minhas lembranças da minha trajetória a Konoha são como vultos nublados. Estava ferido demais, afinal. Só retornei a plena consciência quando já estava em uma cama de hospital. Suspirei com alívio. Que bom estar em casa...

- SASUKE!!!!!

" E o barulho começa"

Adivinhei que pela altura dos décibeis alcançados, aquela pessoa só podia ser Naruto. E vi minhas suspeitas confirmarem-se quando olhei para a figura a minha frente. Era ele. Não havia mudado nada. Talvez tivesse crescido alguns centímetros, mas ainda parecia o mesmo moleque hiperativo para mim.

- SASUKE!!!

"Será que ele pensa que eu não ouvi? Esse idiota..."

- SASUKE!!!!

- Pare de ser tão barulhento. Idiota.- Reclamei, dirigindo a ele, um olhar repreensivo. E ele, por algum motivo, ficara muito feliz com aquele gesto. Com os olhos cheios de lágrimas e um grande sorriso, ele me abraçou.

- SASUKE!!! Você realmente você voltou, Sasuke-temme!!

- Claro que voltei, Dobe...

- Prometa que nunca mais vai nos abandonar! Prometa!

- Do que você está falando? Eu abandonarei você assim que puder. Não venha mais aqui ou serei obrigado a fugir do hospital.

- SASUKE-TEMME!!!!

Minhas respostas arrogantes sempre irritaram Naruto e não seria diferente agora, mas...

- É bom te ver de novo, Naruto.

Ele encarou-me surpreso. Sem reação. Depois voltou a sorrir calorosamente.

- Também penso assim, Temme!

Após alguns instantes, ouvindo Naruto falar de todas novidades, inclusive as mais inúteis- "Sabia que os peitos da Obaa-chan cresceram dois centímetros???"-de Konoha, decidi fazer uma pergunta que me veio em mente.

- Onde está a Sakura? Pensei que o papel da "dama que chora por mim" fosse dela...

- Ah!!! Não faça piada com a Sakura-chan!!!- Pediu Naruto com uma cara muito assustada.

- Sim, eu sei da sua queda por ela, Naruto, mas...

- Não! Não é isso! É que se a Sakura-chan ouvir uma piada sua a respeito dela, ela...!
Antes que o dobe completasse aquela estúpida sentença, a hokage bateu na porta, entrando logo em seguida. Com um sorriso jovial, ela disse:

- Olá, Sasuke. Fico feliz que tenha se recuperado.

- Também fico feliz por isso, se quer que eu seja sincero.

- Sarcástico como sempre!

- Certas coisas nunca mudam.- Respondi secamente. Não estava disposto a puxar conversa com a hokage.- Não estou interessado em conversar. Quero apenas meu tratamento médico.- Acrescentei com sinceridade. Os ferimentos em meu corpo, já estavam quase cicatrizados, mas ainda ardiam bastante.

- Compreendo...E o Naruto?

- Aquele Dobe é sempre exagerado. Aposto que ia falar alguma besteira.

- É muita frieza da sua parte, falar assim com um amigo que acabou de encontrar. Ele estava muito preocupado com você, sabia? Assim como todos...

-...

Permaneci em silêncio. Não queria pensar sobre isso.

- Apenas cuide das minhas feridas. Caso contrário, não hesitarei em destratá-la sendo ou não você a hokage...

Ela se espantou, a princípio. Depois encarou-me com seriedade e preocupação.

- O que pretendes fazer agora, Sasuke? Desde que tinha doze anos, seu foco já era a vingança...Agora que conseguiu cumprí-la, o que fará?

- Como sabe que já a cumpri?- Perguntei, desconfiado.

Ela acentuou o sorriso.

- Se não tivesse cumprido, você jamais voltaria a essa vila, não é?

Nem pelos meus amigos. Nem pelos meus enlaces. Nem pelos meus sonhos. Nem pela mais profunda saudade. Eu jamais retornaria se não tivesse cumprido a minha vingança.

- É verdade.- Afirmei, convicto.

- Então, Sasuke? O que você quer agora?

Eu também não sabia. Sinceramente, o que eu estava querendo no momento era alguém para me dizer o que eu queria. Eu já tinha cumprido minha vingança. Meu irmão morreu em uma luta sangrenta, sofreu tanto quanto meus pais, foi punido por seu horrível crime. Se eu pudesse, mataria-o de novo. Esse era o desejo intenso de meu coração. Mas isso já não era mais possível. Uma vez morto, sempre morto. Itachi, minha vingança, meu passado...estavam todos enterrados agora. E de algum modo, isso ardia tanto quanto minhas feridas.

- Sabe...Essa expressão de dor nos seus olhos é a mesma de anos atrás...Ainda não está satisfeito, Sasuke? Ainda existe ódio em seu coração?

...Existia. Um ódio profundo, intenso e inexplicável. Um ódio do qual meu peito não conseguia se libertar.

Eu precisava superá-lo. O ódio em excesso me cegaria e tornaria-me fraco. Naquela altura do campeonato, eu não podia me dar ao luxo de enfraquecer. Eu era um Uchiha. O último Uchiha. Tinha que estar acima de tudo e todos.

Como enfraquecer meu ódio para fortalecer minha alma? Além da vingança, o que mais eu desejava?

" ...meu desejo é matar um certo homem e reestituir meu clã."

Lembrei-me do dia em que Kakashi nos apresentou. O dia em que eu, Naruto, Sakura e ele nos encontramos. Kakashi, claro, não se apresentou. Ele sempre foi um homem cheio de mistérios. Por isso mesmo, eu o respeitava como sensei. Com o mistério, há menos enlace e com menos enlace há mais força.

Agora, eu tinha que reestituir meu clã. Deixar de ser o último Uchiha. Essa era uma tarefa a ser cumprida com responsabilidade. Eu tinha que escolher de maneira racional, uma mulher que fosse conveniente aos propósitos da família Uchiha. E principalmente, uma mulher que fosse forte o bastante para me dar um herdeiro de igual valor.

Seria também importante que essa mulher fosse de Konoha, para manter velhas tradições.

Seria fácil conquistá-la, mulheres facilmente caem por certas palavras. Sakura era um exemplo perfeito disso. Eu sabia disso perfeitamente, já que havia a dispensado há alguns anos atrás.

A escolha da nova senhora Uchiha, era meu novo objetivo. E eu deveria escolhê-la cuidadosamente.

- Sasuke, que cara é essa?- Perguntou a hokage, percebendo a minha profunda reflexão.- Então? Você já decidiu o que quer?

- Sim. Hokage, por favor...permita-me ficar em Konoha.

-...Ficar? Você??? Tem certeza????

- Por que está tão espantada? Eu viverei na sede dos Uchiha, como minha família sempre fez há gerações...

- Eu não sei, Sasuke...Não acha que irá ficar meio deslocado aqui?

- Não importa. Não quero ficar aqui por baboseiras sentimentais, se é o que a preocupa...

Ela estava surpresa e atenta a cada palavra minha. Então decidi concluir aquilo de uma vez e ser bastante claro.

-...o único motivo que me leva a ficar aqui é o desejo de reestituir meu clã.

A hokage suspirou.

Continua...