“Bom, o que mais posso falar? Já faz tanto tempo... Mas cinco anos se passaram sem nada ter mudado. Em todos os sentidos. As pessoas não entendiam que eu não era o meu pai, e Sírius Black continuava a me tratar como se eu fosse invisível. Mas houve uma noite, no meu quinto ano. Eu tinha 16 anos, era o baile de Primavera. Seria à fantasia. Minha mãe me mandou uma carta, disse que enviaria a roupa que ela usara num baile quando tinha a minha idade. E ela mandou. Estava em perfeito estado, e era linda. Quando eu fiquei pronta, me olhei no espelho e peguei a máscara, colocando-a sobre o rosto.

Eu não reconheci a imagem no espelho. Meus cabelos curtos estavam presos num coque com uma bonita presilha escura. A mascara negra com detalhes em prata e pequenos diamantes escondia parte da franja reta. Eu conseguia ver graças a uma poção para os olhos que inutilizaria meu óculos por cerca de 24 horas e fora muito difícil de fazer. O vestido era longo e negro, e possuía uma imponente saia rodada, com camadas de seda presas em vários pontos com pequenos diamantes. Da cintura para cima era uma espécie de corset, todo fechado em cadarços de seda, também negros. Havia alguns diamantes minúsculos formando alguns padrões simples na parte da frente. Era lindo, mas é difícil descrever.

No meu pescoço havia uma corrente negra e fina que ostentava um pingente de diamante no formato de uma serpente enrolada num coração. Eu não quis usar quando soube que fora um presente de Tom à minha mãe, mas ela insistiu, e o colar completou o visual. Mas o que mais chamava a atenção na fantasia era o gigantesco par de asas negras presas às minhas costas.

Entrei no Salão lindamente decorado e diversos olhares se viraram para ver a entrada do Anjo da Noite. A maioria das pessoas estava irreconhecível em seus trajes, mas, vagueando pelo Salão, reconheci um par de olhos vindo em minha direção. Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. Eram os mesmos olhos cinzas que eu vira no meu primeiro dia em Hogwarts. Os mesmos olhos cinzas com os quais eu tinha devaneios e com os quais eu sonhava todas as noites.

- Senhorita. - Ele disse, se aproximando, numa voz sussurrada, e me estendeu a mão. Coloquei minha mão na dele, que se curvou e depositou um beijo lá. Ele se aproximou, e depois disso a noite foi rápida. Foi como se apertassem o botão avançar, até o momento em que ele colocou a mão no meu rosto e me puxou para perto, ao mesmo tempo em que se aproximava. Fechei os olhos instintivamente quando ele pressionou os lábios contra os meus. Seus lábios traçaram o contorno dos meus, como quem pede permissão. Sentir sua língua na minha era indescritível. E por uma única noite, eu me senti completa.”

Dominique suspirou ao terminar de contar a história às suas netas.

- Mas vovó, e o vovô? - Perguntou Tik, a mais nova.

- Bom, alguns dias depois eu soube que Tom Riddle chegara ao cúmulo de sequestrar a minha mãe para que ela ficasse com ele querendo ou não, e ele viria atrás de mim. Tive que fugir. Comprei roupas trouxas e comecei a trabalhar desde cedo. Deixei o cabelo crescer e quebrei minha varinha. Viveria como uma simples trouxa. Algum tempo depois, conheci seu avô.

- Mas o que aconteceu com Sírius Black? - London, a mais velha, indagou.

- Ele morreu, há alguns anos atrás. - Ela respondeu, desviando os olhos para tentar esconder o brilho das lágrimas.

- E depois do baile? Ele voltou a te ver?

- Ah, querida, ele nunca soube que era eu.

Dominique levantou-se da cadeira e se dirigiu lentamente ao seu quarto. Abriu a gaveta e tirou de lá um pequeno pedaço dobrado de pergaminho amarelado e gasto pelo tempo. Um bilhete que encontrara entre suas coisas quando fugira, e a única lembrança que fazia questão de guardar. Abriu com cuidado o papel, e, com lágrimas nos olhos, leu mais uma vez aquela frase.

“Eu sempre soube que era você.”