*No intervalo*

— Então... você saiu correndo? - indagou Mayumi um pouco decepcionada por saber que eu havia mais uma vez recuado. Mas eu tinha meus motivos, motivos até de mais.

— Mayumi, isso não é um anime homossexual! Isso é a vida real! 

— Tem razão, nos animes os personagens falam japonês... - ela pensou um pouco e comeu um pedaço de bolo de morango. 

— Você pode me emprestar o seu caderno para eu copiar oque a professora passou na terceira aula? - perguntei. 

— Sabe o que é... - ela sorriu — É que... como você não estava lá, eu acabei pegando no sono e não copiei também... 

— Mayumi... Hanase... diga que não fez isso. - eu a fitei com um olhar frio como se eu fosse mata-la. 

— Mas... pode ter sido só uma revisão do que ela já passou antes. 

— E se não tiver sido?! 

— Afinal, quem mandou você cabular aula? - ela apontou o garfo para mim. 

— E quem mandou você dormir na aula, hein?  

— Ora, meus olhos! - ela sorriu vitoriosamente. 

— Droga. - fechei meus olhos e deitei minha cabeça sob a mochila de Mayumi. Logo cai no sono... 

A voz de Matt invadiu minha mente e voltou a me perturbar, aquilo me irritava. Quero dizer, por que ele me preocupava tanto? Eu sabia que eu não era homossexual e sabia que nunca iria ser... porque se eu nasci homem era natural que eu me sentisse atraido pelo sexo oposto. Espera, eu não estou dizendo que sinto atração por ele, ok? Porque seria estranho um jovem de quatorze anos, aparentemente saúdavel começar a se sentir atraído por um homem. É, seria muito estranho... 

— LUCAS! - Mayumi gritou enquanto jogava uma colher na minha cabeça. — Vamos para a aula! - ela acrescentou parecendo nervosa. 

— Hãn? Eu dormi?! - me levantei assustado. 

— Sim, dormiu o intervalo inteiro. - informou. 

— Nossa! - exclamei — Eu estava realmente cansado. 

— Pude perceber... 

Nós caminhamos pelos enormes corredores da escola e avistamos Matt junto a uma garota, uma garota bonita...

Eles conversavam e riam bastante enquanto eu disfarçadamente olhava cada movimento dos dois. 

— Mas afinal, por que estou preocupado com isso? - me perguntei em voz alta. 

— Hãn? Preocupado com o quê? - indagou a japonesa.

— O quê?!

— Você disse que está preocupado com algo. 

— Não, eu não disse. - sorri.

— Você disse sim! Não me faça passar por louca, porque não sou. 

— Eu só estava pensando em voz alta, só isso. - respondi ainda olhando para o Matt e aquela garota com quem ele conversava. 

— Lucas, você gosta de meninos? - Mayumi me perguntou um pouco sem jeito. 

— O-Oquê?! Lógico que não! - respondi. 

— É que... 

— Eu não gosto de meninos! - eu disse e sai andando deixando-a para trás. Eu não tinha nada contra quem era homossexual, mas... eu era hetero e gostava de mulheres... 

*Na hora da saida*

Eu estava saindo da escola, quando de repente fui abordado por Mayumi. 

— Ei, Lucas! - ela disse. 

Eu olhei para ela e fiquei em silêncio, eu não estava afim de conversar com ela e nem com ninguém... eu me sentia mal por algum motivo que não fazia sentido algum. 

— Lucas, eu não queria te ofender hoje mais cedo. Eu só perguntei... 

— E por que você está dizendo essas coisas? - perguntei. 

— Porque você não falou comigo o resto do dia, nem olhou na minha cara... eu não gosto que você se afaste de mim, Lucas. 

— Me desculpe. - sussurrei. 

Mayumi arregalou os olhos, não era comum eu dizer aquelas duas palavras. Mas eu não queria que Mayumi pensasse que eu estava com raiva dela, porque eu não estava... eu só estava... esgotado daquele dia. 

— Me desculpe também... se por acaso eu o ofendi, não era minha intenção. 

Então eu a puxei para um abraço caloroso e confortavel, senti o corpo dela estremecer. Ela retribuiu o abraço e quando as coisas começaram a ficar estranhas nós nos afastamos. 

— Você quer jogar video-game mais tarde? - ela perguntou. 

— Na verdade, acho que vou dormir o resto do dia... - respondi. 

— Ah, então nos vemos amanhã. - Mayumi sorriu e seguiu em direção ao carro de seu pai que a esperava impacientemente, ele era um executivo bem importante, então não tinha muito tempo livre... 

Eu, por minha vez fui até o ônibus que estava parado em frente a escola, subi os degraus e entrei. Logo pude ver que Matt já estava no ônibus, ele ocupava o último acento junto á duas meninas bem bonitas. Eu não dei tanta importância, simplesmente me sentei no primeiro acento que vi que estava disponível. A viagem de volta para minha casa foi longa, eu cochilei um pouco... mas logo eu acordei e desci do ônibus. 

Entrei dentro de casa e fui direto para meu quarto, eu me senti aliviado quando finalmente deitei em minha cama e senti a maciez dos cobertores. Fechei meus olhos, abracei meus travesseiros e dormi.