Parecia que eu estava num sonho muito confuso. Primeiro eu era convidada para participar do clipe Patience dos Guns´n´Roses, mas eu dizia que pensaria no caso. E enquanto eu pensava, eu entornava uma Jack Daniel´s.

Mentira. Não foi apenas uma, foram no mínimo cinco.

“Como eu sou retardada” pensei com meus botões. “Não vou conseguir pensar direito bêbada...”

Mas eu não parei. E agora, eu sentia minha cabeça latejar.

Não, não era o peso da minha consciência. Era ressaca mesmo.

Abri meus olhos lentamente tentando me situar. Azulejos brancos – e nada limpos – muito mármore, branco também...

Toquei na borda de algo liso e tomei um susto repentino. Eu havia dormido na banheira.

Na banheira.

Pus a mão na testa tentando inutilmente aliviar a dor, mas o que eu vi a seguir só me perturbou mais.

Cinco garrafas de Jack Daniel´s jogadas no chão, ao lado de uma poça de vomito. Afundei na banheira. Não havia sido um sonho...

Suspirei irritada. O que eu havia respondido a eles sobre a proposta? Coisa boa não havia de ser.

- Argh... – resmunguei. Ao menos eu não estava nua. Estava vestida com uma camiseta dos Rolling Stones (que notei servir perfeitamente em mim, embora não seja minha) com uma das mangas rasgadas, uma calcinha preta (essa era minha mesmo. Obrigada Deus) e meus coturnos.

Minha cara não deveria estar melhor. Levantei com dificuldade da banheira e me olhei no espelho embutido ao armário de remédios e cigarros.

Olheiras contornavam meus olhos azuis, que estavam levemente avermelhados. Minha boca estava borrada de batom, e no meu cabelo encontrei metade de um sutiã vermelho.

- Ótimo... – sussurrei enquanto pegava uma aspirina numa das prateleiras – Simplesmente ótimo...

Joguei o sutiã no chão e sai do banheiro a procura de respostas para minha situação.

Porque eu havia bebido tanto? Eu nunca bebi mais de seis doses de vodka!

Passei para a sala onde encontrei Izzy babando encostado na parede, com três garotas perto dele. Todas numa situação parecida com a minha. Mais adiante, Duff e Steven estavam jogados no tapete, abraçados com uma prostituta e uma garrafa de vodka. Slash dormia de cara no sofá, ainda segurando sua Jack Daniel´s na mão, e Axl tinha a cabeça reclinada para trás na cadeira em que estava.

A casa estava um verdadeiro inferno de bagunça. Cigarros, garrafas e prostitutas jogadas no chão. Além claro, de uma das cobras do Slash, que agora se arrastava tranquilamente pela prostituta do Izzy.

Revirei meus olhos e fui até Duff cutuca-lo.

- Duff? – sussurrei – Duff?

- Hum – Hum... – ele murmurou débil.

- Duff... – chamei o mais gentilmente possível – DUFF!

Ele abriu os olhos vermelhos e me olhou carrancudo.

- Que você quer, porra!

- O que houve aqui? – perguntei.

- E eu vou saber? – ele resmungou voltando a se ajeitar no tapete.

- Morre, ‘tá legal? – retruquei irritada.

Larguei ele e decidi começar a tirar as vadias de lá.

- Vamos retardadas... – cutuquei uma com o pé, ela grunhiu – Sumam daqui...

Eram ao todo nove garotas (descobri algumas nos quartos), que saiam furiosas da HellHouse.

- Vão... Vão... – fiz um gesto de saída para elas.

- Ah, vai te foder vagabunda... – uma morena disse para mim, apontando a unha bem entre meus olhos.

- Eu não sei exatamente se eu já fiz isso ou não – respondi sarcasticamente – Alguma de vocês lembram?

Elas se olharam por um segundo e depois me encararam confusas.

- Não...

- Tanto faz... – empurrei as duas ultimas para fora – Fora!

- Vou reclamar de você para o meu gato! – a ruiva berrou.

Suspirei.

- É, vai sim. Thauzinho. – e fechei a porta na cara delas.

Tranquei a porta com minha chave e fui ver que horas eram. 10:45.

Oh meu deus.

Eu precisava achar minhas calças. Agora.

Saltei por cima de Steven e comecei a revirar tudo atrás das minhas calças. Olhei em todo canto, cozinha, banheiro, sala, varanda, quartos... Em tudo. Eu estava começando a me desesperar de verdade, principalmente depois de ouvir batidas na porta.

Merda!

- Já vai! – berrei.

Mais batidas. Girei a chave com violência e abri a maldita, me deparando com uma Glister irônica.

- Bela noitada, hein?

- Hã?

Ela revirou os olhos azuis e maquiados fortemente em amarelo, e foi entrando na casa.

- Porque não esta pronta ainda? E onde você arranjou a camiseta?

Franzi meu cenho.

- Não achei minhas calças e também não sei de onde veio essa camiseta.

Ela pegou a manga inteira da camiseta e puxou a rasgando.

- Pronto assim esta melhor.

- Obrigada. Hum... Glister?

- Sim?

- Você sabe o que aconteceu ontem?

Ela riu seca.

- Se eu sei? Não só eu, como toda a vizinhaça sabe, Draffy...

Engoli seco. Ela me encarava de sobrancelha erguida.

- Você no corredor de lingerie gritando coisas meio esquisitas, e pedia por um tal de IPod...

Eu devo ter empalidecido.

- Depois, você apareceu na porta de casa com essa blusa ai. Eu deixei você entrar e você vomitou no meu banheiro...

- Desculpe...

- Tudo bem, já limpei.

- Eu comentei algo sobre alguma proposta?

- Sim.

Arregalei meus olhos.

- O que eu disse?

- Que você havia aceitado. Muita sorte a sua, não? É uma pena, eu não ter a mesma sorte...

- EU O QUE?

- Aceitou participar do clipe. Por que não me disse nada?

- Eu estava bêbada! Eles me embebedaram por causa de um clipe estúpido! EU VOU MATÁ-LOS!

- Calma aí... – Glister pediu, mas eu já gritava em plenos pulmões.

-ACORDEM! AHHHHHHHHHHHHH!!!!!!

Birra. Pratica-la na infância, te ajuda muito num momento assim.

Todos se levantaram sobressaltados e me olharam feio, soltando vários palavrões.

- Sua desgraçada! Qual o seu problema? – Izzy gritou.

- Vocês! – falei possuída – Me embebedaram para mim aceitar a proposta! Seus... filho de uma...

- Nós não te embebedamos! – Slash defendeu – Você aceitou numa boa!

- Não! Eu jamais aceitaria! – retruquei.

- Você aceitou sim! – ela retrucou de volta.

Puxei meus cabelos e deu um grito de frustração.

- O que eu aceitei? – falei entre os dentes.

- Fazer tudo que a gente pedisse... – Slash continuou com um sorriso sacana. Lhe lancei um olhar fulminante.

- Mas isso não explica as vadias... – Glister interrompeu antes que eu me lançasse no pescoço de Slash.

- Vadias? – Axl perguntou – Quem é você?

- É a vizinha gostosa Axl – Steven comentou. Noção? Zero.

Glister corou.

- Hum... valeu – ela disse baixinho.

Eu massageava minhas temporas tentando me recordar de coisas importantes.

- Certo, eu bebi. Depois bebi mais... – falei comigo mesma arrancando olhares – Depois... porra! Não lembro!

- Por que você esta de roupa intima? – observou Izzy.

- Estou trabalhando nisso...

Forcei aquilo que chamo de cérebro a pensar. Bebida, Izzy e Steven chegam bêbados com vadias... Festa, mais bebida... Eu fico piradona... bebo mais, saio no corredor... Deus, a uma velhinha me viu assim... Fumo e bebo ao mesmo tempo... beijo alguém... Quem foi? Hum, não consigo lembrar... Casa da Glister... vomito, muito vomito... eu chorando bêbada, ela me expulsando de lá... Bebo um pouco mais, beijo mais alguém... Que não me recordo. Estou me sentindo uma puta... Vomito no chão do banheiro, deito na banheira e acabo com cinco Jack Daniel´s.

Cara, eu poderia estar em coma alcoólico agora.

- Quem você beijou? – Axl perguntou curioso.

- Hum? – me assustei. Droga, eu penso alto.

- Não sei! – exclamei desesperada.

Slash se levantou do sofá espreguiçando-se. Oh meu pai! Minha calça!

- Minha calça! – pulei no sofá. Debaixo de uma almofada, lá estava, toda amassada, minha calça jeans. A vesti rapidamente.

- Isso explica parte da historia... – disse Glister maliciosamente.

- Cale sua boca – resmunguei corando.

Ela deu um risinho estridente e começou a me puxar.

- Vamos dar o fora logo. Já são 11:30...

- Ah, ok...

- Thau garotos – Glister falou sensualmente. Algo me leva a acreditar que ela gostou do elogio.

Eu me limitei apenas a os encarar ameaçadoramente.

- Aonde vamos primeiro? – perguntei já no corredor. A velhinha que havia me visto colocava o gato para fora – Ah, alô... – cumprimentei. Ela fechou a porta na minha cara escandalizada.

- Você não presta, hein? – Glister brigou – Coitada da sra. Meredith!

Eu ri. Glister me acompanhou.

- E aí, onde vamos primeiro?

- Cabelereiro!

- Não! Não vou cortar meu cabelo!

- Vai sim, vamos, tenho horário marcado...