A Caçada escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 21
Capítulo 21 - Achamos nosso guia


Notas iniciais do capítulo

Então, eu disse que ia postar esse capítulo ontem, eu sei. Me desculpem por isso. Mas, na verdade, a culpa não é minha. Reclamem com a senhorita Nubia, porque eu avisei que não ia postar o capítulo antes dela ler o último. Até agora eu não sei se ela leu. Enfim, me desculpem por isso.
Semana que vem (e agra eu prometo mesmo) e vou postar na segunda, até porque é o penúltimo capítulo (eu sei, triste) e o último vou postar na terça-feira.
Enfim, sem mais demoras, aí vai o capítulo 21, o antepenúltimo, para vocês. Desculpem os erros. Espero que vocês gostem.



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Era mesmo como se eu estivesse olhando para um espelho.

            Ela tinha o mesmo olhar cauteloso ao olhar em minha direção, os mesmos olhos castanhos. Uma arma em mãos preparada para atacar em sinal de perigo. Os mesmo lábios rachados por causa da falta de água. A mesma palidez que eu esperava no rosto por causa da fome. E, principalmente, o mesmo rosto inchado do tipo “estive chorando por horas”, que eu imaginava no meu rosto.

            Sem contar que ela tinha uma aparência igual a minha, as mesmas feições.

            Eu já estava convencida que eu estava olhando para um espelho, mesmo no meio de uma floresta, quando a imagem saltou para cima de mim.

            Eu devia ter percebido.

            A outra garota usava calça legging, tudo bem, eu também. Mas, enquanto a minha camiseta era azul petróleo, do mesmo estilo da camiseta que ela usava, a da garota era rosa clara. E enquanto o meu tênis era preto, o dela era roxo.

            Sem contar que o penteado em nosso cabelo era diferente. Meu cabelo estava trançado, enquanto o cabelo dela estava preso em um coque meio desarrumado.

            Além disso, eu estava armada com um arco e flecha e ela... Espera, o que era aquilo? Um chicote? Uau, eu quase nunca tinha visto alguém usando essa arma. Na verdade, apenas em filmes.

            — Eu pensei que você tinha morrido — Kate disse, enquanto me abraçava.

            Joguei meu arco e flecha no chão e a abracei de volta. Eu não podia acreditar. Ela estava viva? Era minha irmã ali, me abraçando, sólida. Eu quase chorei de felicidade.

            — Nunca mais faça isso — Kate se separou de mim e pegou as minhas mãos. Era inacreditável. A própria profecia dizia que alguém tinha que morrer. Por que estávamos todos vivos? Não que eu estivesse reclamando. Claro que não. Aquilo fora só um alarme falso.

            Desde quando eu tinha acordado, eu achei que estava morta, no Mundo Inferior. Eu tinha desmaiado bem quando o supermercado explodira e depois acordara no escuro. Onde mais eu poderia estar? Não era assim que uma pessoa morria? Meio difícil de saber, já que ninguém poderia contar depois.

            Mas então Phoebe e Mary apareceram. Elas disseram que estávamos na floresta e que não sabia onde os outros estavam. Então deduzimos que eles estavam mortos.

            Acho que eu nunca chorei tanto na minha vida como chorara naquele dia.

            Eu devia ter percebido já bem antes. Eu tivera aquele sonho com Afrodite de novo, o mesmo sonho de criança. O sonho que eu e Kate tivemos juntas. Isso era um sinal, dizendo que ela também estava sonhando aquilo.

            Mas não. Eu pensei que o sonho estava se repetindo por causa da nossa “perda”.

            E, um pouquinho antes, na floresta, eu devia ter percebido que o grito era de Kate. Mas, não sei. Tinha sido um grito tão feroz. Não combinava com a delicadeza dela.

            E aquele chicote? Como ela tinha conseguido aquilo? Meus olhos foram para o seu pescoço. Não estava o colar ali. Será que aquilo significava que sua arma tinha mudado?

            Sentia meus olhos arregalados. Era tanta coisa que meu cérebro nem podia processar tudo. Mas, o mais importante, Kate estava viva.

            — Eu sei — Kate disse, sorrindo como eu nunca tinha visto antes. — Eu também não posso acreditar.

              — Eu pensei que você estava morta — finalmente consegui falar, mesmo sendo uma coisa óbvia. — O que aconteceu?

            Phoebe e Mary conversavam com James e Oliver. Mesmo odiando garotos, elas pareciam felizes em ver os dois. Até eu estava feliz em ver James, mesmo achando ele insuportável na maioria das vezes.

            — Venhas — Kate me puxou em direção a uma clareira. — Nós contamos tudo para vocês.

            Nós nos sentamos e eles nos contaram tudo. Como pensaram que estávamos seguindo-os, como Kate acabou desmaiando, igual a mim, talvez ao mesmo tempo, como eles andaram por aqueles dois dias na floresta, como um monstro aparecera ali há pouco tempo.

            — Então foi você mesmo que deu aquele grito de fúria? — perguntei a Kate, franzindo a testa.

             — Hum... foi. — Kate pareceu um pouco envergonhada. — Acho que eu me empolguei um pouco. — Houve um pouco de silêncio. — Acho que preciso de água. Temos ainda?

            James deu de ombros. Ele abriu uma das bolsas e tirou três garrafas. Todas tinham o conteúdo na metade. Kate pareceu preocupada.

            — Temos mais algumas garrafas se vocês quiserem — ela disse. — E comida também...

            — Ah — Phoebe exclamou. — Vocês têm comida! Nossa comida está realmente escassa e não podemos mais viver comendo pêssegos em calda.

            — Com certeza — Mary continuou. — Nossas mãos ficam meladas o tempo inteiro e limpar em folhas simplesmente não funciona.

            — Mesmo que depois, no outo dia, estarem completamente limpas — completei. — Mas temos bastante água.

            Kate riu. Ela pegou sua mochila e tirou de dentro um saco grande de batatinhas. Phoebe, Mary e eu praticamente atacamos o saco de batatinha nos primeiros minutos.

            Quando paramos de comer feito predadores quando finalmente alcançam uma presa, e Kate e os outros beberam água o quanto precisavam, Kate perguntou:

            — E o que vocês fizeram?

            Nós contamos uma história quase igual à deles. Apenas acrescentamos como nos atrasamos na hora de sair do supermercado e nada de interessante tinha acontecido conosco na floresta. Só se considerarmos todas as vezes que eu caíra como interessante.

            Depois de tudo revelado, resolvemos que estava na hora de descansarmos. Despejamos tudo o que tínhamos e dividimos entre nós igualmente.

            Combinamos que eu e Kate ficaríamos de guarda, já que éramos as únicas que dormimos nas duas noites que se passaram.

            Todos dormiram logo. O silêncio tomou a pequena clareira. Eu não me sentia desconfortável, mesmo Kate estando acordada ao meu lado. Era até bom. Apenas sentir a felicidade de saber que Kate estava viva.

            Eu não sabia como ficara tão sentimental nos últimos dias. A sensação de pensar que minha irmã estava morta... Era horrível. Acho que isso era uma boa ajuda.

            Eu só tinha percebido que às vezes era bom mostrar o que você sente. Era mais fácil, menos pesado. Era bom não tentar ser o tipo de pessoa que sempre se sente perfeitamente bem.

            Antes de me esquecer, perguntei a Kate:

            — Como você conseguiu aquele chicote?

            — Também não sei — ela respondeu. — Quando tirei o colar, lá estava ele.

            Apenas assenti como resposta.

            Ficamos então em silêncio.

A noite tinha sido longa, mas finalmente amanhecia. O relógio de James apontava para quase 6:15, pelo o que eu via. Logo teríamos que acordar os outros.

            Estava tudo em silêncio, quando ouvi algo. Parecia que alguma coisa andava por ali. Eu ouvia o que parecia ser o barulho de folhas sendo amassadas. Apurei os ouvidos.

            Nada.

            Relaxei. Talvez fosse apenas impressão minha. Olhei para Kate e não parecia que ela tinha visto nem ouvido alguma coisa. Talvez não fosse nada.

            Mas daí ouvi o barulho indiscutível de um galho se quebrando.

            Eu e Kate nos entreolhamos. Aquilo não poderia ser algo bom. Puxamos os nossos colares e logo meu arco e flecha estava em minhas mãos, enquanto Kate segurava o chicote.

            Eu nunca me acostumaria com aquilo.

            Os sons continuaram, mais perto. Nada parecia, mas eu sentia que, o que quer que fosse aquilo, estava rondando a clareira.

            Foi aí que, do outro lado da pequena clareira, algo reluziu. Talvez fosse uma pessoa, com uma espada, o que era ruim, pois nenhuma de nós tinha uma espada para duelar. Ou outra daquela coisa que Kate, Oliver e James tinham visto.

            O brilho ficava mais próximo. Eu já me posicionara para atacar qualquer coisa que saísse do meio das árvores, quando um animal saiu.

            ― O que é isso? ― sussurrei.

            ― Uma corça ― Kate respondeu, simplesmente. Eu não podia imaginar o que uma corça estava fazendo ali. Esse tipo de animal não tinha medo e fugia de humanos?

            ― Mas ela não é normal, é?

            Kate balançou a cabeça negativamente.

            ― Olhe os seus chifres e os cascos. ― El apontou com sua mão livre. Realmente, era diferente. Mais brilhante. ― É de ouro e de bronze, eu acho. Eu acho que este foi um dos trabalhos de Hércules.

            Analisei a corça. Parecia normal, a não ser pelos chifres e cascos reluzentes. Estava parada e, olhando assim, parecia muito indefesa. E, mesmo estando armados com o chicote e o arco e flecha, ela não fugiu.

            ― Ela não vai nos fazer mal, vai?

            Kate deu de ombros. Se abaixou e soltou seu chicote no chão. A corça parecia nem piscar. Ela então se levantou e estendeu a mão. Com passos vacilantes, foi se aproximando da corça, até que sua mão tocou o pelo do animal.

            A corça apenas ficou quieta.

            ― E acho que ela é nosso guia ― Kate disse.

            Acordamos em pouco tempo os outros. Eles nem hesitaram em levantar com a nossa notícia. Logo, estávamos todos em pé em volta da corça, alguns ainda acordando aos poucos, mas surpresos.

            ― A corça de Cerineia ― Phoebe disse, com um quê de admiração no seu tom de voz.

            ― Ela não devia ter se transformado em constelação ou algo assim? ― Mary perguntou.

            ― Bem... sim. ― Phoebe estava claramente confusa. ― Mas tenho certeza de que essa é mesmo a corça de Cerineia.

            ― E é o que mais se parece com um guia ― Oliver comentou.

            Ficamos em silêncio. Por sorte, a corça não saíra por aí, andando na floresta. Ainda não sabíamos o que fazer.

            ― O eu fazemos? ― James tirou as palavras da minha boca.

            ― Primeiro ― Kate, como sempre, respondeu ―, comer e beber água, por favor. E depois... ― ela não soube o que falar.

            ― Vemos se ela nos leva a algum lugar ― completei.

            Concordamos. Todos terminamos de comer um saquinho de batatinhas e bebemos metade de uma garrafa de água. Incrivelmente, ainda tínhamos bastantes provisões.

            E, pela primeira vez li dentro, talvez, sabíamos para onde ir.

            Assim que terminamos tudo, não precisamos nem falar nada, a corça parecia saber exatamente o que fazer. Ela se virou e adentrou a floresta. Pusemo-nos a segui-la.

            Seguir uma corça em uma floresta era um pouco difícil. Ela era mais rápida do que nós e tinha facilidade para andar ali. O único que acompanhava a corça sem muita dificuldade era Oliver.

            Enquanto isso, Phoebe e Mary iam um pouco atrás. Sendo Caçadoras, elas eram mais acostumadas em andar em floresta. Ao contrário de mim, não ficaram tropeçando a cada minuto nos últimos dois dias.

            Claro que, sem o choro, era realmente mais fácil andar por ali. Eu via mil vezes melhor. Mesmo assim, eu não deixava de tropeçar de vez em quando.

            O meu único consolo era que Kate e James também não eram mestres em andar em florestas. Kate não parava de tropeçar ou arranjar um novo corte. James nem tanto. Ele quase se igualava com as Caçadoras.

            De um modo geral, andar na floresta não tinha sido igual eu imaginara. Não havia insetos e o ar lá dentro chegava até ser mais fresco.

            Ficamos andando assim até meio-dia. Aí, resolvemos parar para tomar o fôlego. Bebemos mais um pouco de água. E comemos todos metade de um pacote de bolacha, acabando com os únicos que tinha.

            Não esperamos muito para recomeçar nossa caminhada. Agora, com as esperanças renovadas, não tínhamos muito tempo a perder.

            Era quase duas da tarde quando as sombras das árvores se dissiparam, finalmente. O sol tomou conta da minha visão fortemente, de forma que eu não podia enxergar nada.

            Quando minha visão se acostumou, pude ver uma espécie de cabana na minha frente.

            Mas eu sabia que aquilo não era uma cabana.

            Era a entrada de uma mina.


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Notas finais do capítulo

E então? Quero reviews!



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