Três Corações - Learning To Breathe escrita por mariana_cintra, Mityy


Capítulo 6
Faxina


Notas iniciais do capítulo

Depois de, sei lá, um ano? Acho que não dá pra evitar de apanhar né rs



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               Acordei na sexta-feira me sentindo obrigada a dar uma ordem na casa, afinal, meu pai cuidara para que tudo continuasse intacto e limpo, mas isso era só por cima. Eu precisava limpar as coisas dentro dos armários da cozinha e do quarto, além de ver tudo o que faltava e fazer uma lista melhor de coisas a comprar. Até que eu comprasse um carro, talvez tivesse que fazer as compras aos poucos no supermercado do bairro, mas tudo bem, sem problemas.

                O único problema de ter que organizar a casa era o fato de meu corpo doer por causa do atropelamento. Meu braço não estava lá muito útil e eu sabia que seria difícil fazer algumas tarefas. Felizmente, era meu braço esquerdo e eu sou destra, portanto, ele não me atrapalharia tanto nas atividades diárias e no trabalho que eu começaria na semana seguinte.

                Tomei um breve café da manhã e resolvi dar uma olhada nas coisas espalhadas pelos armários da cozinha. Embora meu pai tivesse contratado alguém para manter tudo limpo e organizado por fora, os utensílios guardados estavam, em sua maioria, empoeirados, afinal, se passaram sete anos desde que alguém os usara.

                Limpei e lavei o que podia, e a cada panela limpa, me lembrava de Dan preparando algo a utilizando, a cada prato lavado, me lembrava de algum almoço ou jantar com Dan naquela casa, a cada taça que eu segurava em mãos, me lembrava de jantares românticos com vinho e seguidos por tórridas noites de amor. Duas horas depois, quando quase tudo na cozinha estava limpo e eu já tinha tido memórias o suficiente, resolvi limpar o armário do quarto.

                Subi as escadas e abri nosso armário. Ainda havia muitas roupas minhas ali, roupas que não levei quando fui embora. Muitas delas eu nem sabia se ainda serviam ou se eu queria usar. Meu corpo havia mudado um pouco nesses anos, claro. Na época em que parti, mesmo com dezenove anos, ainda tinha um corpo mais parecido com o de adolescente do que com o de mulher. Não sei, talvez fosse só bobagem minha.

                Empacotei algumas roupas minhas que não usaria mais e deixei de lado. Depois, decidi fazer uma coisa que precisava muito ser feita. Então, abri o outro lado do armário embutido e comecei a tirar os cabides um por um, com roupas cheirando a pó. E em alguns minutos, a maior parte das roupas de Dan estava jogada sobre a cama. Dobrei uma por uma e coloquei em caixas. E a cada vez que uma lembrança ameaçava tomar conta da minha mente, eu a expulsava. Já não bastava ter que lembrar ele ao limpar pratos e panelas, agora isso? Já era o bastante. Talvez eu apenas precisasse seguir em frente.

                Tudo bem, Dan me deu um coração pra que eu pudesse viver. Foi uma prova perfeita de amor. Mas eu tenho certeza que ele não fez isso para que eu me prendesse a ele para sempre. Tenho certeza de que ele gostaria que eu seguisse em frente. Sei que até ele já deve achar que sete anos já é muito tempo. É claro que eu nunca o esqueceria e o amaria para sempre. Mas não eu não poderia chorar todos os dias, certo? Porque amar alguém significa ser forte também.

                A poeira das roupas já estava me fazendo espirrar sem parar quando ouvi a campainha. Terminei de dobrar um sobretudo, coloquei-o cuidadosamente na caixa e desci para atender. Abri a porta e me surpreendi com a pessoa que vi do outro lado.

                - Tudo bem?

                - Ah, você. Acho que sim, tudo bem. Aaaaaatchim! – aaaarg, aquele maldito pó!

                - Precisando de um médico? – ele riu.

                - Acho que tenho um bem aqui – sorri, até que simpática.

                - E você vai deixar ele do lado de fora?

                - Ah, me desculpa! Fico praguejando contra o pó dos armários na minha cabeça e me esqueço de coisas como essas. Entra Matt, por favor – dei passagem para que ele entrasse e me controlei muito para não seguir o rastro de perfume que ele deixou no ar.

                - Então, na verdade eu vim te convidar pra almoçar – ele disse, sentando-se no sofá branco.

                - Ué, você não está tipo super ocupado sendo um médico? – ironizei, mas não de forma pejorativa.

                - Sim, mas até médicos têm folga, acredita? – ele fez voz de surpresa e depois riu. Não me lembrava dele assim, com ar brincalhão.

                - Vou levar um tempo pra digerir essa informação, mas é, vou superar.

                Ele deu uma risada curta e percebi que seus olhos tinham um brilho diferente do que tinham há alguns anos. Antes era um brilho maroto, do adolescente que ele era quando nos conhecemos. Agora já não era mais assim, embora eu não soubesse explicar que brilho era aquele, por mais simples que fosse.

                - E então? Vai aceitar meu convite pra almoçar ou não?

                Pensei por alguns segundos e então decidi que mesmo que eu quisesse muito saber como Matt está e quem ele é agora, eu não poderia fazer isso antes de saber quem eu sou e como eu estou. Precisava fazer uma faxina nos meus pensamentos, memória e coração, e talvez o melhor jeito de fazer isso fosse começar a faxina pela casa que me trazia tantas lembranças.

                - Ah... Então, você me pegou bem no meio de uma faxina daquelas! Preciso arrumar tudo aqui, tirar as coisas que não devem mais permanecer – disse isso com outro sentido, e pelo olhar de Matt, acho que ele entendeu o verdadeiro significado daquelas palavras.

                - É uma pena que na única folga desse pobre médico você vai deixá-lo almoçar sozinho – Matt fez uma cara de coitado. Eu realmente não sabia que ele podia ser tão bom ator!

                - Me desculpe. Talvez amanhã à noite, se você não estiver ocupado? – começou como afirmação e terminou como pergunta, como quase tudo que eu digo quando estou insegura.

                - Não sei se não vou estar no hospital. Mas se eu não estiver, vou te levar pra comer o melhor rigattoni al funghi da sua vida!

                - Combinado então! Se estiver livre, não precisa nem me avisar, apenas dê uma passada por aqui e nós podemos sair! – eu disse, até que animada.

                - Vai ser um prazer – ele sorriu e permaneceu com o sorriso no rosto, me olhando gentilmente. E só então eu percebi que sentia falta daquele sorriso. Aquele sorriso sincero tem se escondido provavelmente desde que eu magoei Matt ao escolher Dan. E era tão bom vê-lo em seu rosto outra vez!

                Conversamos sobre a mudança de volta para a cidade por um tempo e depois Matt foi embora, dizendo que precisava almoçar e voltar ao hospital. Com isso, voltei à minha faxina, sem saber ao certo se tinha agido corretamente ao combinar de jantar com Matt. Claro, isso seria só um jantar entre amigos. Nós dois sabíamos que não era um encontro, embora o que alguns conhecidos da cidade pudessem dizer. Mas não sei se era o momento certo para me reaproximar tanto assim dele.

                Bom, deixa pra lá. É só um jantar, não é? O que demais poderia acontecer, afinal?


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Notas finais do capítulo

Ainda mereço reviews?



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