Três Corações - Learning To Breathe escrita por mariana_cintra, Mityy


Capítulo 1
Recomeçando


Notas iniciais do capítulo

Gente, tá aí o primeiro capítulo. Espero que gostem dessa nova fase da vida da Lana (:



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O sol se põe outra vez, talvez porque seja de sua natureza desaparecer por algum tempo da vida de algumas pessoas e aparecer para iluminar a de outras. Todos têm que ter suas noites e aprender a lidar com a escuridão, pois o sol não é onipresente e nem eterno. Tampouco é a felicidade.

                Olho pela janela do avião e vejo algumas últimas nuvens cintilando no horizonte, banhadas por essa luz dourada que se esvai lentamente. Sei que estou chegando. Em breve terei contato com a melhor parte de mim outra vez.

                Penso no lugar ao qual me dirijo. Minha casa de sete anos atrás. Como faz tempo! Ainda assim, me parece que foi ontem que tudo aconteceu. Os flashbacks vêm como um fluxo de sangue passando por um corte, extravasando e fazendo doer.

                Lembro da minha infância, do sorriso doce da minha mãe e do olhar repreensivo do meu pai. Lembro da amizade que tive com Lucy desde os seis anos, uma amizade verdadeira e maluca, daquelas que te faz querer salvar alguém só pra poder matar depois. Lembro dos meus anos de escola e da dificuldade que eu tinha em aceitar minha própria presença naquele lugar. Lembro de como conheci Matt no dia da formatura. E também lembro dele. Lembro de Dan e de como ele encheu minha vida com sua presença e seu amor.

                Sem querer, chegam várias memórias à minha cabeça: o dia em que o conheci, nosso primeiro beijo, a declaração de amor, o anel na ponta do cordão, a lista de desejos, o salto de asa delta, a música no parque, o beijo no alto da ponte, o pedido de casamento e tantos outros momentos que por mais triviais que fossem, jamais seriam sem sentido.

                Uma lágrima escorre pelo meu rosto, exatamente como de costume. Eu a seco e mais uma vez me dou conta de que esse foi o mesmo gesto que tive quando o vi esperando por mim no altar. Mas aquela lágrima era de emoção. Emoção ao ver Dan me esperando para dizer "sim".

                Ah, o dia do meu casamento! Que lembranças doces, e que sentimento triste! Eu me recordo como se tivesse sido há um minuto, não perco um detalhe. A alegria ao vê-lo tão lindo naquele terno, sorrindo e me esperando chegar até onde ele estava; o vestido que me fez tão linda para encontrar o homem que eu amava; a lágrima nos olhos do meu pai; as palavras pronunciadas em juras de amor eterno, o tão famoso "até que a morte os separe" - coisas pequenas, detalhes que nunca sairão da minha cabeça e que me farão sentir várias vezes o mesmo amor daquela época. Porque a morte nos separou, mas jamais destruiu meu amor.

                As lágrimas me sufocam quando tenho mais flashbacks. Vejo diante de mim os dias de nossa lua de mel, a viagem à Grécia, a praia com cheiro de carinho, a casa com cheiro de ternura e nossa cama com cheiro de paixão. Sinto em minha pele o toque dele outra vez, como se tivéssemos corrido pela areia de mãos dadas agora mesmo, como se não houvesse tempo entre as lembranças e a realidade. Posso ouvir o som da voz dele formando uma melodia com o barulho das ondas, entoando um "eu te amo" mais que perfeito - e talvez por ser mais que perfeito fosse pretérito. Sinto em minhas narinas o cheiro dele, o perfume que eu inalava com tanta satisfação, e que naqueles dias vinha misturado ao cheiro de mar, areia e sol - porque ele materializou todas as coisas boas, e por causa dele o sol passou a ter um cheiro. Enlaço a mim mesma com meus braços e sei que não é como se ele me abraçasse, pois meus braços são frios e sem vida, enquanto os dele sempre tinham calor o bastante para me confortar. Os braços dele eram como minha casa. O lugar onde eu mais queria estar. O abraço dele era meu conforto, seu olhar era a luz que quebrava a escuridão das minhas incertezas, seu sorriso era a quebra de concentração desnecessária para ser feliz.

                Por quê? Por que é tão difícil aceitar que nada disso existe mais? Por que é tão difícil não sentir raiva de mim mesma por ter um coração tão fraco? Por que não posso deixar de pensar que era simplesmente absurda a ideia de ele me dar um coração só para que eu pudesse ficar com ele para sempre? É tudo tão mais forte que eu...

                Sinto que voltar pra casa será mais doloroso do que parece. Passei sete anos longe dessa cidade para amenizar o sofrimento e embaçar as lembranças, mas só de sobrevoar a cidade em que vivi meu grande amor tudo vem à tona.

                Uma voz anuncia que o avião vai pousar. Então é isso. Não há volta. Não há uma forma de adiar. É simplesmente melhor encarar tudo de uma vez, embora não seja a coisa mais fácil a fazer. Passei sete anos fugindo e os sete segundos que levei até decidir descer do avião foram os mais difíceis da minha vida. Mas se eu quiser ser realmente forte, tenho que fazer isso, pois até hoje não consegui sorrir para a dor. Já é mais que hora.


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Notas finais do capítulo

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