Guerra Das Sombras escrita por Neko D Lully


Capítulo 2
Vidas Sombrias


Notas iniciais do capítulo

E aqui esta o primeiro cap de Guerra das Sombras. Queria ter postado ele ontem, mas não consegui terminar, e ainda teve um certo problema na minha rotina hoje que me deixou completamente enrolada x.x. Bom... O proximo só vai sair depois que terminar Cavaleiros do caos, e espero estar com animo o suficiante para terminá-lo -.-'.
Bom... Aproveitem a fic ^^



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Guerra das Sombras

“Com os anos o mundo parece apenas entrar em um estado mais decadente. Todas as nações temem que essa onda de medo e desespero que passa por cada pessoa sem motivo algum tenha seu termino. Esses suicídios que abalam o mundo estão se tornando cada vez mais freqüentes e parece que não terminaram tão cedo. Será que algum dia todo esse pesadelo terá seu fim?”

– Bem que eu queria saber... – falou uma voz masculina um pouco grossa e potente, mas com um “q” infantil, porém fraco, que havia se perdido no tempo com várias outras coisas de sua pessoa. Ele estava em um quarto escuro, perto de uma janela que dava vista para um belo jardim banhado pela noite escura. Seus olhos verdes reluziam na escuridão enquanto bebia uma taça com um liquido estranho dentro, de um vermelho um tanto viscoso que vendo de ângulos diferentes parecia escuro ou até mesmo claro.

Ele acabara de desligar o rádio que estava passando a tão trágica notícia e dera mais um trago naquela tão saborosa bebida. Sentado no marco da janela olhava para o portão de sua casa que já não se encontrava mais nas mesmas condições que um dia estivera. Seus olhos vazios percorreram cada parte da mata que tinha fora dos limites de seu lar e pode ver dois vultos se aproximando. Suspirou levemente ao perceber que um era robusto, em uma posição um tanto intimidadora e ao mesmo tempo hesitante, por mais que fosse quase imperceptível. A outra era menor, que não escondia sua tristeza e melancolia nos passos que dava na direção do castelo que tinha a sua frente.

Desviou o olhar por um instante e fechou os olhos, deixando seu corpo relaxar e devagar pelo tempo, voltando até o momento que tudo aconteceu e as coisas mudaram. Como uma só pessoa podia fazer tanta falta? Como uma só pessoa podia fazer com que uma família inteira quase caísse? Mesmo com os anos a cicatriz permanecia, mas por que? Ainda podia vê-la em todos os lugares, caminhando pelos corredores, lendo um livro na biblioteca, bebendo um pouco de sangue na cozinha para se acalmar depois de mais um de seus sonhos...

Uma lágrima solitária escapou se seus olhos fechados marcando a dor de seu coração que não mais se mostrava por expressões faciais, que não mais se revelava ao mundo para que os outros vissem sua fraqueza ou felicidade. Agora ele se fechara, atrás de uma mascara de indiferença e sede de vingança.

“Se deixou deslizar pelo chão até onde estava Yin, conseguindo segurar sua mão poucos segundos antes da sombra da mesma desaparecer. Rapidamente travou seus pés no chão e levou a mão livre até o mesmo e a fincando dentro da terra para assim ter mais firmeza.

– Racer... – sussurrou Yin vendo como o garoto fazia uma enorme força para manter a ambos ali, e mesmo assim não parecia estar funcionando muito bem. Os pés do garoto escorregavam no chão e se erguiam de vez em quando, a mão dele dentro do chão parecia que logo se soltaria e se isso acontecesse ambos iriam para dentro daquele portal. - Me solta!

– O que?! – exclamou o garoto sem poder acreditar no que estava ouvindo. Soltá-la? Soltá-la?! Isso era a ultima coisa que poderia fazer, não deixaria que ela fosse embora por um plano tão arriscado que ele bolara. Não, deveria ser ao contrario. – Perdeu a cabeça?! Não vou fazer isso! Vamos sair todos daqui, sem exceção!!

– Se continuar assim você vai ser puxado junto!! – gritou de volta mirando diretamente os olhos do garoto que logo soltou um forte gemido de dor ao sentir como seu braço parecia estar sendo separado do corpo. – Tem que me soltar assim, apenas eu vou! Não precisa ter mais de um sacrifício!!

– Não vai ter sacrifício nenhum!! – gritou Racer a puxando para mais perto enquanto seus o pés voltavam a deslizar sobre a terra e sua mão era cortada pela terra áspera que estava envolta dela. Com um pouco mais de esforço quase conseguiu fazer com que pudesse abraçar o corpo da pequena. – Prometi, prometi que não deixaria nada acontecer a vocês! Que eu cuidaria de todos vocês!! Não vou perder você Yin, não vou!!

– Por favor, não faça isso ser mais difícil do que já é Racer. – sussurrou com um sorriso triste no rosto enquanto via Racer tentar puxá-la para mais perto. Se continuassem assim os dois seriam puxados para dentro do portal, sendo que o mesmo estava quase se fechando.

– Você não pode desistir tão fácil!! Ele não pode te levar!! – gritou o garoto desconcertado perdendo a força por um só instante fazendo com que suas mãos escorregassem levemente uma da outra, mas não ao ponto de se soltarem. Não podia permitir que isso acontecesse.

– Nem sempre conseguimos fazer o que prometemos. – disse sentindo como seu pulso deslizava para fora da mão do garoto. Logo se soltaria, sabia disso. Seu bracelete que seus pais lhe deram de aniversario escorregava para fora de seu pulso junto com a mão de Racer, quando ela se soltasse tudo teria terminado...

– Pára de falar como se estivesse dizendo adeus!! – gritou enquanto lágrimas começaram a descer por seus olhos e apertava ainda mais o pulso da garota, mas isso parecia não adiantar nem um pouco. Ela continuava escorregando... Não... Pelo amor de deus... Não!

– Cuide de tudo ok? – perguntou com um pequeno sorriso e logo sua mão escorregou da de Racer, o bracelete tinha se soltado e agora seu corpo era puxado para dentro do portal logo acima.

– Não!! Yin!!! – gritou ainda tentando segurar o pulso dela antes que se afastasse, mas era inútil e a garota passou pelo portal que logo soltou um forte brilho e logo desapareceu, junto com o escudo. As esmeraldas caos se dispersaram para vários lados enquanto Racer caia de costas no chão observando céu agora completamente limpo, com as estrelas brilhando junto com a lua. Atordoado se ajoelhou e observou a mão que tinha escorregado da dela, tudo o que lhe restava era o bracelete que ela passara a usar sempre desde seu aniversario... Uma lágrima escorreu por seu rosto e caiu bem encima do bracelete, logo depois sua mão se fechou em um punho e seus olhos se fecharam com força fazendo mais lágrimas saírem deles.

Esmurrou o chão enquanto gritos e mais gritos saiam de sua boca. Gritos que passaram a ecoar por todos os lados mostrando a dor que sentia.”

Abriu os olhos logo no final da lembrança. Amaldiçoava sua existência de vampiro por não poder se esquecer das coisas com o tempo, era como se pregassem na mente e nunca mais quisessem sair. E essa mais do que qualquer outra deveria ser esquecida, deveria ser deixada de lado para assim poder seguir em frente sem tropeçar, mas era a que mais machucava, era a que mais ficava em sua mente lhe torturando dia após dia, por ter sido tão incompetente e ter errado daquela maneira.

Ouviu então como a porta de seu quarto era aberta e passos se aproximavam de onde estava. Sem nenhum interesse aparente virou o rosto na direção da pessoa que tinha a seu lado. Seus olhos verdes opacos se encontraram com dois olhos azuis escuros que o miravam de maneira séria e preocupada ao mesmo tempo. Esperou até o dono daquele par de olhos falar para assim poder dizer qualquer coisa... Se necessário.

– Temos visitas. – murmurou coisa que para o vulto de olhos verdes era mais que obvio. Continuou mirando de maneira desinteressada o seu inquilino esperando mais alguma informação, alguma que no momento seja útil para seus afazeres. Com um suspiro o vulto de olhos azuis escuros continuou. – Manic quer a todos na sala principal imediatamente.

– Já vou... – murmurou com uma voz arrastada, sem nenhuma emoção, completamente morta. Seu inquilino suspirou mais uma vez e logo pode ouvir seus passos indo para fora do quarto e fechando a porta logo em seguida. Ficou um tempo olhando para o lado de fora, observando aqueles pinheiros ou árvores comuns em uma maça negra que era escondida pela noite sem luar. Levantou-se do marco da janela deixando o copo na escrivaninha ali perto e logo pegou a bainha de uma espada com a mesma dentro.

Não que precisasse usá-la, seu interesse nela não era matar os visitantes, ela tinha assuntos melhores a tratar. Logo depois daquele estúpido encontro iria treinar, coisa que já fazia todos os dias, cinco ou seis horas, se não mais. Colocou a espada presa nas costas, era a única arma que ficava visível em seu corpo, o resto só ele sabia onde estava, e quando alguém descobria já era tarde de mais...

Saiu do quarto com passos lentos e despreocupados, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça. Não estava nem um pouco animado com aquela “conversa” com os convidados, mas se seu tio queria que fosse não podia contrariá-lo. A menos que quisesse se meter em confusão depois.

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– Eu avisei a vocês dois que se colocassem o pé dentro de meus domínios não hesitaria em matá-los. – disse o rei dos vampiros parado na frente dos novos “convidados”. Talvez não tivesse o direito de chamá-los assim, principalmente pelo o que tinha acontecido no passado, mas lhe intrigava o fato de terem aparecido depois de quatorze anos sem saber nada de ninguém. Desde que aquilo acontecera não tiveram mais contato com o mundo das bruxas e dos lobisomens.

O rei dos vampiros, Manic, era um garoto de estranhos cabelos esverdeados, de olhos azuis, corpo bem formado, com pele clara e que aparentava ter seus vinte e poucos anos, mas era um dos mais velhos vampiros existentes na terra. Usava no momento uma roupa causal, sem nada de mais. Uma calça jeans negra, uma blusa verde de mangas curtas e tênis vermelhos com branco. Seus braços cruzados contra o corpo mostravam sua indignação com as duas presenças no lugar, mas era apenas isso que mostrava, seu rosto estava sério, sem nenhum rastro de emoção.

– Digamos que não tive muita opção sanguessuga. – respondeu uma voz estrondosa vinda de um dos inquilinos. Ele era alto, como qualquer outro lobisomem. Um homem enorme e moreno de cabelos castanhos bagunçados, olhos roxos vibrantes e garras e presas bem afiados, mas que em sua forma transformada ficava ainda pior. Um dia já teve a honra de ser considerado o mais forte dos lobisomens, mas no momento as coisas tinham mudado e estava ali a contra gosto para dar as informações ao vampiro que mais detestava. Tinham uma enorme rixa com ele, mas que nunca fora paga já que Manic ponderou um pouco e desistiu da guerra que tinha prometido. Usava no momento uma blusa negra, calça jeans da mesma cor e botas negras com detalhes prateados. – Vim aqui apenas informar que agora tem um novo líder dos lobisomens.

– Fiquei sabendo disso. – comentou uma garota de estranhos cabelos rosa arroxeados, pele clara, olhos verdes, o corpo esbelto tampado por uma blusa vermelha justa, uma saia azul marinho e sapatos boneca azuis. Ela tinha um pequeno sorriso no rosto, muito divertida pelo o que tinha acontecido com o lobisomem. Seu nome era Sonia, irmã mais nova de Manic e sua fiel ajudante. Há muito tempo não tinha o mesmo caráter divertido de antes, desde que o desastre acontecera. – Finalmente encontrou alguém para te colocar na linha Dairos?

– Ora sua... – grasnou o lobo, mas logo a pequena figura a seu lado lhe segurou pelo braço pressionando de leve um pequeno nervo que tinha no lugar, fazendo o lobisomem ficar estático. A pequena tinha seus olhos tampados por um chapéu pontudo de longas abas que não permitiam ver seus belos olhos verdes.

– Agora chega Dairos. – murmurou fazendo o lobisomem rosnar de leve e voltar a sua posição original, arrogante e superior. A pequena mirou os pares de olhos que tinham a sua volta. Todos conhecidos, todos que a julgavam e se sentia constrangida por estar novamente de volta a aquela casa sem ter esclarecido as coisas. Era a líder das bruxas, Cassandra, uma pequena garota de cabelos branca de belos olhos verdes, um corpo esbelto, mas um pouco discreto, um dia fora amiga de todos os vampiros que estavam ali, mas ao ser obrigada a cometer o maior erro de sua vida nunca mais teve a chance de pedir perdão a todos. Principalmente ao mais importante deles. Usava um leve vestido negro que chegava até metade de suas cochas, uma bota que ia até seus joelhos e seu típico chapéu pontudo de bruxa. Seus olhos espertos perceberam que faltava algumas pessoas por ali. – Onde estão os...

– Aqui. – respondeu uma voz antes mesmo de poder se quer terminar a frase. Todos voltaram seus olhares para o lugar onde a voz tinha sido proferida. Não era nada mais nada menos que um garoto de cabelos branco arrepiados, os olhos azuis escuros, e a pele morena, quase chegando ao perfeito. Aparentava ter seus vinte ou dezenove anos, igual sua idade atual, era belo, com um “q” sedutor, principalmente usando um casaco sem mangas que deixava a mostra seu peito nu, uma calça jeans que quase escorregava por suas pernas e botas negras. Ele estava na frente de mais duas pessoas que estavam meio escondidas na escuridão do local.

Uma era um garoto de estranhos cabelos azulados com uma enorme franja rosa tampando completamente um de seus olhos verdes agora opacos. Escorado na parede tinha uma posição descontraída, principalmente com os olhos fechados e a cabeça ligeiramente para baixo junto com o tronco curvado, um de seus pés estava na parede enquanto o outro permanecia no chão. Usava uma blusa negra de mangas compridas, uma calça jeans um pouco folgada e tênis vermelhos com branco. Aparentava ter seus vinte ou dezenove anos como o outro, mas seu jeito era mais sério e desinteressado, até mesmo chegando ao ponto de ser meio sombrio. Mais escondido na escuridão, quase não aparecendo estava uma figura feminina, quase completamente coberta por roupas escuras. Seus olhos eram de um dourado intenso, analítico que quase te despia, seus cabelos prateados longos e presos em um rabo de cavalo alto combinavam bem com sua pele pálida. Era um garota bela, com um corpo de uma adolescênte de mais ou menos dezenove ou vinte anos. Usava uma calça de malha negra que tampava toda suas pernas, ficando bem justa nas mesmas, uma blusa sem mangas justa também da cor negra, uma luva que ia até um pouco acima do cotovelo deixando os dedos a mostra e uma bota negra sem salto para assim não causar nenhum ruído. Em sua testa tinha uma bandana negra que deixava pedaços de decido descer até sua nuca.

– Cresceram bastante. – comentou a pequena bruxa albina, sem poder evitar que um pequeno sorriso aparecesse em seus lábios. A muito tempo não os via, e se sentia quase revigorada ao ver que todos pareciam estar muito bem apesar do toque sinistro que passaram a possuir depois do incidente.

– Não esta faltando um? – perguntou Dairos, fazendo o sangue da bruxa gelar. Afastou-se um pouco do lobisomem sabendo que ai vinha encrenca. Percebera que todos os vampiros ali ficaram tensos com a simples menção da pergunta. Até mesmo o garoto de cabelos azuis e mecha rosa abriu um dos olhos para mirar o lobisomem sem aparentar algum interesse, mas todos sabiam que ele seria o primeiro a explodir se não fosse... Olhou para trás discretamente vendo dois vultos de um casal. Um era um homem moreno com mechas vermelhas em seus cabelos, olhos também vermelhos, usando uma blusa negra com uma jaqueta negra por cima, calça jeans também negra e botas negras com vermelho, do lado dele estava um pequena garota loira de olhos azuis e os cabelos escorrendo até o quadril, usava um delicado vestido azul que ia até metade de suas cochas e um delicado sapato boneca da mesma cor que o vestido. Ela abraçava um pequeno ouriço de pelúcia que tinha muitas semelhanças com seu parceiro. Mas o que a assustava era o moreno que já tinha seus olhos vidrados no lobisomem. – Onde esta aquela pirralha que sempre andava carregando um ouriço de pelúcia? Por acaso não agüentou a pressão?

Em menos de um piscar de olhos a lamina de uma espada estava posicionada na garganta de Dairos enquanto atrás do mesmo estava o garoto sombrio, ainda com os olhos fechados e a expressão séria. Ele estava de lado nas costas de Dairos carregando com uma mão o cabo da espada que encostava a lamina de leve no pescoço do mesmo fazendo com que ficasse tenso no lugar. Os vampiros do lugar não pareciam incomodados, na verdade seguravam um extenso sorriso que queria brotar de seus rostos.

– Se falar nela mais uma vez... – sussurrou em um tom de quem não quer nada. Dairos deu uma ligeira olhada para trás vendo como os olhos do garoto se abriam mostrando a imensidão verde que eram, percebendo que não mais havia alegria neles, mas sim desejos insanos de vingança. – Juro que te mato.

Novamente, em um piscar de olhos o garoto desaparecera e voltara a aparecer caminhando para fora da sala, as mãos nos bolsos e a coluna ligeiramente encurvada, com a espada dentro da bainha como se nunca tivesse saído de lá. Risos comprimidos foram ouvidos ao redor, e logo lentamente os vampiros foram se dispersando dispostos a voltar a suas tarefas diárias.

– Saia logo daqui Dairos. Já deu seu recado. – falou Manic dando as costas para o mesmo e desaparecendo em um corredor. O lobisomem passou a mão pelo pescoço, impressionado pela velocidade do vampiro. Cassandra negou de leve com a cabeça sabendo que aquilo ia terminar nisso. Dairos nunca aprendia.

– Você teve sorte. – murmurou uma voz atrás deles fazendo com que se virassem de leve. A pequena jovem loira fora a única vampira que sobrara, ela olhava com tristeza para o pequeno boneco que carregava sempre consigo. Seus olhos azuis estavam um pouco cristalinos enquanto falava. – Se Racer não tivesse entrado na frente não garanto que Shadow não o tivesse matado.

A garota então caminhou na direção que seu parceiro tinha ido deixando os dois “convidados” sozinhos na sala. Dairos soltou um ligeiro “tsck” com os lábios e segurou o braço de Cassandra a puxando na direção a porta. Sua raiva estava presente, não conseguia acreditar que tinha sido derrotado tão rápido por um vampiro praticamente recém nascido!

– Vamos embora! – exclamou já erguendo a mão para abrir a porta quando de repente uma pontada de dor tomou seu outro pulso fazendo com que soltasse a bruxa e virasse seu rosto para mirá-la. Ela tinha o rosto raivoso e determinado, deixando de lado a melancolia decidira concertar seu erro do passado.

– Você não tem mais poder sobre mim Dairos. – respondeu com firmeza na voz fazendo o lobisomem recuar alguns passos. – Com o novo líder dos lobisomens minha prima será finalmente solta e eu finalmente terei minha liberdade de volta. Agora se me dá licença tenho que ajeitar as coisas que você estragou.

Sem dar importância para o lobisomem deu as costas para ele e correu na direção onde Manic tinha ido. Sabia que sua velocidade não se comparava a de um vampiro, mas talvez soubesse para onde ele tinha ido. Atravessou corredores e mais corredores enquanto memórias e mais memórias inundavam sua mente dos tempos que costumava visitá-los a diário. Quando ela e Manic ainda sorriam junto e compartilhavam segredos que apenas os dois sabiam. Queria esses momentos de volta e para isso precisava esclarecer as coisas que tinham ficado manchadas no passado já distante, mas nunca esquecido.

Parou quando chegou na frente de uma enorme porta de madeira entreaberta. Com a respiração um pouco entrecortada abriu um pouco mais a porta, de uma maneira hesitante e temerosa. Viu perto de uma das mesas da enorme biblioteca que se encontrava um vulto em pé, com os braços apoiados na mesa inclinando por conseqüência o tronco. Ainda hesitante caminhou até aquele vulto, os braços colados ao peito e os passos lentos e cuidadosos.

– Manic? – perguntou, mas o vulto não fez nenhum movimento. Por uma questão de segundos distinguiu a cor dos cabelos tão peculiares daquele vulto percebendo que se tratava de nada mais nada menos que o rei dos vampiros. Sorriu um pouco mais aliviada constatando que era Manic que se encontrava ali. Se aproximou um pouco mais confiante e colocou do lado dele, pondo com cuidado uma mão em suas costas.

– O que ainda faz aqui Cassandra? – perguntou com a voz em um tom morto, fazendo a garota recuar um pouco. Aquele não parecia o Manic que conhecera anos atrás, aquele parecia apenas uma casca vazia, sem nenhum sentimento além da dor. – Devia estar junto de seu parceiro.

– Dairos não é meu parceiro Manic. – falou por fim chamando atenção do vampiro que apenas dirigiu o olhar até sua pessoa. Sorriu de leve para ele, se colocando na frente do mesmo com as duas mãos em seu rosto, acariciando-o com carinho. – Ele me obrigou a te dizer aquilo para fazer você ficar arrasado e assim ter um poder a mais sobre você. Ele seqüestrou minha prima e a ameaçou para que eu pudesse fazer o que ele queria. Realmente sinto muito Manic, pode me perdoar?

O garoto a mirou diretamente nos olhos, procurando algum rastro de mentira, mas nada encontrou além da sinceridade e da suplica por perdão. Com cuidado colocou o rosto no ombro da garota, passando os braços pela cintura da mesma a abraçando com força. Cassandra retribuiu o abraço passando os braços pelo pescoço do garoto e acariciando sua cabeça com delicadeza. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto, considerando aquilo como um “sim”.

– Ela costumava se sentar aqui perto quando eu estava estudando. – murmurou fazendo a bruxinha albina o mirar um pouco confusa. Ele tinha o olhar perdido em uma das cadeiras daquela mesa. Em sua mente ele montava a imagem de uma pequena menina sentada naquela cadeira, seus pés ficavam longe do chão, e quase que seu rosto não alcançava o topo da mesa, a obrigando muitas vezes a se ajoelhar na cadeira. A viu com um livro na mão, para logo virar o rosto em sua direção e sorrir, como costumava fazer sempre que o via. Pena que era só sua imaginação. – Era sempre ela que me ajudava em meus trabalhos. Sempre a que estava aqui me fazendo companhia... Mas agora não esta mais... Não mais...

Surpresa Cassandra viu como lágrimas escorriam dos olhos do tão glorioso rei que os fechara de leve tentando apagar aquela tão preciosa memória que lhe trazia tanta dor, mas como qualquer vampiro não podia, porque sua mente era fadada a lembrar de tudo. Com cuidado Cassandra limpara as lágrimas que escorriam, mirando com tristeza ao pobre rapaz que estava mergulhado em dor, como todos os que moravam naquela casa.

De repente o rei dos vampiros quebrara a distancia unindo seus lábios em um profundo beijo que fizera a pobre bruxa ficar ligeiramente atordoada. Suas mãos estavam na nuca do garoto sem saber exatamente o que fazer. O rapaz continuava com o beijo até sentir que seus pulmões queimavam e lhe exigiam ar, apesar de sua existência não precisar necessariamente do mesmo. Se separou da garota, mas não pode mirá-la, ficou com o olhar baixo um pouco constrangido.

– Desculpe. – murmurou. Nem mesmo sabia se era aquilo o que ela sentia e mesmo assim o fez. Apesar de tudo não se arrependia nem um pouco, estava era muito feliz por ter feito. – Ela gostaria que tivesse feito antes... Mas estava com medo que...

Antes que pudesse terminar a garota novamente juntara seus lábios em mais um beijo intenso deixando dessa vez o rapaz atordoado. Por alguns instantes não soube o que fazer, mas logo fechou os olhos antes arregalados e passou os braços pela cintura da garota a apertando com mais força enquanto ela tinha os braços entrelaçados em seu pescoço o puxando para mais perto. O beijo ficava mais intenso a cada instante, e no calor do momento Manic colocou a garota sentada na mesa enquanto colocava os braços na mesa do lado dela, quase deitando seu corpo sobre o dela. Quando se separaram e se miraram a garota sorriu.

– Não tem problema. Fazia tempos que queria fazer isso também. – respondeu fazendo o garoto sorri e voltou a beijar a pequena bruxa que tinha a frente. As coisas iam esquentando no lugar, e mesmo não sendo um local muito adequado nenhum dos dois se importava, estavam felizes por estarem juntos, finalmente juntos...

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Não conseguia acreditar que ele novamente fazia aquilo, não conseguia acreditar que mesmo depois de muito tempo ele continuava com essa mesma mania! Tinha que fazer alguma coisa, mas cada vez ficava mais difícil se comunicar com ele, na verdade, cada vez ficava mais difícil falar com qualquer um da casa. Todos estavam desolados, tristes e com as esperanças no zero. Seus pais se afastavam cada vez mais, lutando contra os Dark Chaos que voltaram a aparecer, procurando não envolvê-los muito para que assim a mesma coisa não voltasse a se repetir.

Seus amigos... Suspirou, cada vez pareciam mais distantes, mais inalcançáveis. Não se abriam, não falavam muito... As vezes pensava que isso nunca iria mudar. Quando aprenderiam que ele também estava sofrendo? Quando perceberiam que o que estavam fazendo apenas piorava ainda mais a situação que estavam? Ela não iria gostar de vê-los assim, ela ficaria triste, sabia disso.

Sentado na varanda de uma das varias salas que tinha pelo castelo observava como Racer novamente se enchia de treinamentos pesados, séries de exercícios que só deus sabia quem poderia suportar. Um dia ele ia acabar se matando com aquilo e mesmo assim ele não se importava. Depois que ela tinha ido, ele mergulhara em um mar de dor e culpa, vendo como única solução a vingança. Cometera até mesmo a loucura de fazer um juramento de alma! Ele parecia não mais ter amor a própria vidar.

Novamente um suspiro escapara de seus lábios. Não o culpava por se sentir assim. Um vampiro só amava uma vez e Racer tivera o azar de ser por sua própria prima, que no momento estava desaparecida, jogada em um mundo diferente do deles e que nem mesmo sabiam se ainda permanecia viva. E pelo amor de deus que ainda estivesse! Racer já se culpava por tudo o que tinha acontecido, não precisavam de mais essa.

Mitsuki... Ela praticamente desaparecera, se tornara invisível para tudo e todos. Não que ninguém ligava para ela, apenas que ela vivia escondida nas sombras, sem dizer uma palavra por causa de seu voto de silencio. Meu deus, todos tinham perdido o juízo! Quase que tudo desmorona e ele ainda lá tentando manter a todos erguidos. Faltava a esperança, faltava a força de vontade, mas apenas ele via a possibilidade dela voltar. Apenas ele acreditava que ela voltaria.

Um ligeiro arrepiar na nuca o fez suspirar mais uma vez. Era aquela sensação de estar sendo observado, mas diferente de outras sensações essa ele tinha uma ligeira idéia de quem a causava. Mesmo sabendo que se si virasse não veria nada, como se estivesse sozinho.

– Mitsuki? – perguntou e teve um ligeiro barulho em resposta, mostrando que estava certo. Olhou para o céu um pouco triste, com um pequeno sorriso melancólico nos lábios. – Por que não se mostra? Para mim. Por favor. – silencio. Como sempre acontecia quando pedia aquilo. – Nem uma só palavra? – mais silencio, o obrigando a suspirar derrotado. – Por quanto tempo isso vai durar? Tudo parece estar caindo a nossa volta...

Apesar do silencio conhecia bem a tensão que pairava no ar. Não precisava que ela falasse para que entendesse o que ela sentia o queria dizer. Mesmo assim, queria ouvir ela dizendo alguma coisa, queria ouvir a voz dela mais uma vez depois de quatorze anos. Queria ela de volta depois de tudo. Aquele jeito brincalhão e extrovertido, como queria Racer de volta a liderança.

Um grito chamou sua atenção. Olhara novamente para a parte do jardim onde seu melhor amigo, praticamente irmão, treinava. O mesmo tinha caído no chão com o rosto virado para o céu. Novamente os gritos de dor saiam de sua garganta como o velho ritual que tinha todos os dias. Sempre quando ele lembrava daquele dia quando seu ultimo plano fracassara e sua mão escorregara da dela. Suspirou mais uma vez.

– Será que um dia ela vai voltar para fazer com que tudo volta ao normal? – se perguntou recebendo a resposta do silencio...

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– Agora me diga – sibilou um homem de cabelos escuros, de um azul marinho com pontas brancas parecendo ser de cristal, os olhos vermelhos onde deveria ser branco e amarelo na íris. Quando precisava acumular energia ficava nessa forma, não era sua verdadeira, mas era bem útil. Ele segurava pelo pescoço uma criatura completamente negra, com os olhos do mesmo estilo dos seus, as unhas parecendo garras bem afiadas e perigosas e as presas de uma maneira animalesca que passava calafrios por todo o corpo. Nada mais nada menos que um de seus servos mais inteligentes, um que servia como espião e informante. - o que foi que aconteceu?!

– Ela invadiu o castelo mais uma vez, meu senhor. – respondeu aquela criatura com uma voz sibilada e arrastada, como se mal conseguisse falar, mas não era por estar sendo pressionada pelo pescoço. Por mais que sua existência lhe obrigasse a não sentir medo, na presença de seu criador isso era impossível. – Roubou mais mantimentos e livros, sem falar que mandou de volta para o outro mundo mais duas de nossas presas.

– Essa praga está se tornando um problema maior do que eu previa. – falou em um sussurro quase inaudível jogando a criatura para o lado fazendo com que batesse as costas no chão. Deu as costas para ela sem se importar se estava bem ou não e caminhou com uma mão no queixo em um estado pensativo. – Tenho que dar um jeito de me livrar dela, antes que meus planos vão por água a baixo. O alinhamento se aproxima e cada vez fico mais fraco, não posso errar em nenhum calculo. Quais foram os livros que ela roubou?

– Algumas anotações suas e... – hesitou em falar sabendo muito bem que seu criador, e senhor, ficaria furioso ao ter a notícia. Quando ele lhe mandara uma mirada penetrante e assustadora engoliu em seco e continuou apesar dos riscos era melhor enfrentar a fúria dele agora do que se descobrisse sozinho. – O que conta as origens das esmeraldas...

– O que?! – gritou. Um grito tão estrondoso e potente que fez todo o castelo que morava se estremecer fazendo várias das criaturas que perambulavam por perto se estremecerem e soltarem uivos esganiçados e tétricos, que ecoaram pelo ar como sempre acontecia. Naquele mundo sombrio isso era comum, no outro isso era o sinal da morte se aproximando... – Vão atrás dela!! Quero ela morta!! Quero que tragam meus livros de volta!!

– Mas senhor, nenhuma esquadra que foi atrás dela voltou. – murmurou a criatura se arrastando para longe se seu senhor, procurando um lugar seguro para que assim não perdesse a vida. Sabia que seu mestre poderia criar outro dos seus, mas com ele fraco seria difícil repor as baixas que sofreriam e tinham que economizar tudo para o plano que tinha formado.

– Não interessa! Quero aquela peste fora do meu caminho de uma vez por todas!! – gritou de uma maneira tão assustadora que a pobre criatura no chão assentiu sem mais objeções e foi dar o alarme, desaparecendo da sala que estava em um piscar de olhos deixando seu mestre sozinho com sua fúria. Um grito de raiva novamente ecoou pelo lugar fazendo novamente as criaturas que por ali andavam soltarem uivos esganiçados e arrepiantes.

Enquanto isso, perto da floresta negra e morta que preenchia todo aquele mundo um pequeno vulto corria pelas árvores carregando alguma coisa pequena em suas costas. A poucos metros atrás de si mais vultos apareciam correndo a alta velocidade de uma maneira um tanto animalesca, farejando o ar a sua volta em busca daquele primeiro vulto que praticamente desaparecia na escuridão. Com sentidos mais aguçados que qualquer coisa que um dia podia existir, era fácil achar aquela pequena criatura que era sua caça, ouvindo seus paços suaves, mas apressados, que soltavam ao ar leves barulhos que apenas sua audição apurada podia ouvir, o cheiro que despregava de seu corpo e deixava em todo o lugar que passava. Não o viam, mas isso não era preciso... Ou pelo menos isso achavam.

De repente todo o grupo dessas criaturas parou em um ponto da floresta de árvores negras com galhos retorcidos para todos os lados, sem folhas em nenhum deles. O céu sempre negro não ajudava a iluminar o lugar, não existia lua, era apenas um astro um pouco mais escuro que o céu, de forma arredondada que ficava acima da cabeça de todos. Não existia estrelas, o céu era um buraco negro de escuridão sem esperança. Cada uma daquelas coisas farejava o ar como um cão faminto, algumas tinham formas bem parecidas, o corpo completamente escuro, presas enormes, garras imensas, o corpo um pouco encurvado, sendo algumas com corpos magricelos outras com corpos robustos. Mas as mais assustadoras delas eram as maiores, com formatos indefinitos que misturavam todo tipo de animal que um dia caminhara na terra. Por causa de seu tamanho muitas vezes quebravam os galhos das árvores que tinham a sua volta, causando um estrondo alto, mas que não atrapalhavam em nada em escutar outros sons que precisavam.

O motivo pelo qual pararam era bem simples. Sua presa simplesmente desaparecera. Os passos já não eram mais ouvidos, o cheiro estava espalhado por toda a floresta impedindo que reconhecessem exatamente onde a pessoa que o possuía estava, o escuro da noite eterna não permitia que vissem nada e seus outros sentidos eram falhos para uma caçada. Alguns recuaram, outros permaneceram de cabeça erguida farejando o ar, mas sem se mover do lugar, outros, mais corajosos, avançaram, cautelosos. Não foram criados para ter medo, muito menos para pensar, mas como seus instintos eram bem avançados reconheciam o perigo que existia em volta e sabiam de experiência que aquela floresta já não era mais deles.

Um vulto cortou rapidamente a paisagem, tão rápido que não pode ser reconhecido por nenhuma das criaturas. Segundos depois ele novamente cortara as áreas entre as árvores, só que em um local diferente de onde estava antes. Os sentidos de cada criatura estavam em seu máximo tentando achar o local onde essa presença se encontrava, mas os sons que antes não existiam naquela floresta até alguns anos atrás encheram os ouvidos de cada um fazendo com que se desesperassem, de uma maneira que se sentissem vulneráveis. Os papeis tinham se invertido e agora a presa era o predador e o predador era a presa.

De repente um feixe de luz enchera a escuridão e logo em seguida um esganiçado guinchar foi ouvido. O chão, que tinha a aparência negra, mas que na verdade era um vermelho intenso como sangue ficou manchado com um liquido brilhante, também negro, mas que se destacava por ser um negro um pouco diferente. Corpos e mais corpos começaram a cair no chão, não seguindo um padrão que tivesse sentido, em cada canto um caia e menor o numero ia ficando.

Logo apenas um sobrara das dezenas que tinha ido. A mesma pulou nos galhos das árvores, sentindo um cheiro mais potente de sua presa/caçador. Seguiu o cheiro, determinado a acabar com tudo aquilo e ser aquele que derrotara o predador. Confiante chegou até uma parte onde as sombras ficavam um pouco menos especas e se podia enxergar um pouco melhor. Pulou no chão e olhou envolta, percebendo que ali era onde estava concentrada a maior para te cheiro. Com passos lentos caminhou até o centro de tudo e mirou os galhos das árvores. Onde estava o que procurava?

Segundos depois seu corpo foi partido lateralmente, do ombro direito até a lateral do quadril na parte esquerda, caindo ambas as partes que se dividiram no chão espalhando o liquido negro que deveria ser seu sangue. Um feixe de luz ainda se encontrava no lugar, um chicote feito de luz estava na mão de um ser escondido nas sombras que tinha seus olhos brilhando de uma mistura de vermelho e azul. Ao abrir a mão o chicote desaparecera, já que não tinha mais utilidades para usá-lo.

Sem nenhuma dificuldade aquele ser subira nas árvores que tinha espalhadas pelo local, chegando até uma área onde os galhos formavam uma espécie de ninho onde podia se posicionar sem risco de cair. O ser se posicionou ali colocando a mochila que carregava em um buraco dentro de uma das árvores que formavam o tal ninho. Com preguiça aquele vulto deitou em um dos vários conjuntos de galhos e se acomodou, olhando para o céu com um tom sonhador.

O tal vulto era uma jovem garota de pele morena, com os cabelos negros profundos com mechas loiras que chegava até o quadril, não era muito alta e tinha o corpo com curvas discretas, seus olhos eram de uma mistura estranha de vermelho e azul e sua aparência era de uma garota de dezenove ou vinte anos. Usava pouquíssimas roupas. Uma blusa azul marinho que apenas tampava os seios e tinha ligeiras mangas, sendo que a parte logo abaixo dos seios era completamente rasgada mostrando o ventre plano, um short jeans curto que mal chegava a metade das cochas, botas negras sem salto e uma enorme jaqueta negra, com as mangas cumpridas tampando seus braços até o pulsos, cheia de bolsos e que chegava até a dobra de seu joelho. Seu corpo podia aparentar estar relaxado, mas com o passar dos anos que vivera ali aprendera a sempre ficar alerta para qualquer perigo que podia aparecer, coisa que naquele mundo tinha muito.

Suspirou um pouco cansada e olhou para a esfera de um azul escuro que se destacava um pouco com o céu negro. Fora apenas mais um dia de trabalho, se dedicava a isso depois que tinha ido parar ali, mas nunca encontrara uma maneira de voltar para casa. Casa... Essa palavra parecia ainda tão distante de ser alcançada. Sentia saudades dos tempos que passara lá e se perguntava o que tinha acontecido no tempo que estivera fora. Sentiam sua falta? Ou já havia esquecido?

– Como estará tudo? – perguntou mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa que algum dia pudesse ouvi-la. Fechou os olhos e se deixou levar por aquela doce sensação de dormir, apesar de saber, agora que era mais velha, que não era dormir o que fazia, era apenas ir para outro lado de sua mente. Um lado onde tinha companhia.

– Quando vou poder voltar? – perguntou para aquele ser encapuzado que tinha logo a sua frente. O senhor do destino que se dedicara a ajudá-la já que seu próprio destino não era certo. Ela tinha uma escolha e estava ali para ajudá-la a ver qual era a melhor, apesar de sempre ter uma idéia bem clara.

– Quando for o momento criança. – respondeu ele com as mesmas palavras que sempre falava toda vez que perguntava. Estava sentada naquela faixa nem iluminada e nem escura, enquanto aquele ser encapuzado estava a sua frente, e uma criatura muito parecida com sigo, só que de uma maneira mais sombria, muito parecida com aquelas criaturas que a pouco matara, estava parada a seu lado, na parte escura da campina que se encontrava.

– Sinto saudades... – comentou abaixando de leve a cabeça enquanto as memórias iam e vinha varias e varias vezes. Aquela coisa que tinha a seu lado riu alto. Como tinha crescido aquela coisa também tinha e agora estava diferente. Virou o olhar de leve para ela só para ver o que tinha a dizer.

– Saudades para que? Você pode ter o mundo em suas mãos! Não precisa disso, já falei milhares de vezes. – como sempre aquele desejo estranho que o ser sombrio contra quem lutava também nutria. As vezes se questionava se aquela coisa era realmente parte de si, porque não parecia, em varias ocasiões.

Não falou nada, apenas ergueu o olhar se admirando com as estralas que tinha no céu, mas sabia que não era a mesma coisa que ver em seu mundo. Aquelas eram estrelas imaginadas por sua cabeça, como o sol que tinha do seu outro lado, não eram reais. Queria as reais, queria ver a lua brilhando daquele jeito prateado, queria ver as estrelas reluzindo formando desenhos que mostravam caminhos para lugares diferentes... Queria seu mundo! De repente sentiu alguma coisa em seu ombro e voltou seu olhar para o ser encapuzado.

– Criança, se tanto anseio tem de voltar a seu mundo, vou lhe dar uma dica. – falou ele fazendo a garota se ajeitar para ouvir bem. – De um lado vem o puro, do outro sai o negro. Não pode ser ao contrario, apenas se um puro passar usando a força do negro. Assim a esperança retornara ao mundo que realmente deveria estar.

– Não compreendo. – murmurou a garota inclinando levemente a cabeça para o lado mostrando sua confusão. Com cuidado aquele ser colocou a longa aba de sua manga no rosto da garota que ao abrir os olhos estava de volta a aquele mundo que tanto odiava.

Com cuidado levou a mão até o pescoço, tirando de dentro da pequena blusa um medalhão dourado o abrindo com delicadeza. No mesmo instante imagens foram produzidas para fora do mesmo em uma esfera que se mantinha suspensa sobre a parte aberta do medalhão. A garota sorriu ao ver seus amigos e parentes, a saudade novamente começara a atormentar e aquilo era a única forma de vê-los de novo. Na ultima imagem alguma coisa encheu seu peito e logo fechou o medalhão fazendo a magia desaparecer.

– Não se preocupem, eu vou voltar! – exclamou para o nada olhando o céu escuro que tinha acima de sua cabeça. – É uma promessa! Vou voltar para vocês, custe o que custar! Vou voltar para meu mundo!

O meu mundo...


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Notas finais do capítulo

Quem gostou do Racer maneiro do jeito que ta? (levanta a mão) bem que ele podia sorrir um pouco mais, mas isso logo se concerta. Gente to com um planejamento todo complicado aqui, mas tenho certeza que vou conseguir terminar todas as minhas fics.
Bjsss e até o proximo cap que provavelmente vai demorar um pouco a sair -.-'