Guerra Das Sombras escrita por Neko D Lully


Capítulo 17
Senhor do DestinoxBrutos: Vontade sobre Forças


Notas iniciais do capítulo

Ok, depois de tanto tempo sem postar nada venho com mais um capitulo de Guerra das Sombras. Estou pensando em voltar com a maior parte das minhas fanfics sem terminar, então aproveitem ^^



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Guerra das Sombras

Cansados, estavam completamente cansados. Depois de terem espalhado o recado da guerra, informando cada vampiro que encontravam na região das Américas, sentiam que tudo o que queriam era deitar em uma cama, fechar os olhos, e deixar tudo desaparecer. Se pudessem ter um momento com suas parceiras seria ainda melhor. E se por acaso tivessem notícias dos filhos, melhor ainda! Caminhavam quase iguais a zumbis pelos corredores do imenso castelo, olhando apenas para frente com os olhares perdidos.

Tudo estava um caos. Os humanos ainda estavam tendo um surto de medo tão desenfreado que parecia até mesmo que iam se matar, os suicídios estavam mais frequentes e mais intensos, logo os sete bilhões de seres humanos do mundo desapareceriam sem nenhuma guerra ou problema aparente para eles. Os seres da noite recuavam, sentindo o perigo no ar, sabendo o que estava prestes a acontecer com a aproximação da chegada de Gaia. Os demônios tinham desaparecido, voltando para seu mundo para não interferir nessa guerra tão assustadora como essa que estava prestes a acontecer. Os seres do dia, apesar de não terem contato com os seres da noite, se sentiam tão assustados quanto qualquer outra raça. Não foram criados para guerra como os seres da noite, não foram feitos para lutar e muito menos se defender, seus poderes eram fracos ao igual que seus instintos. Como não tinham para onde correr seriam eliminados nesse ultimo confronto, que com certeza atingiria todos os mundos que existiam na Terra.

A única esperança eram os controladores do caos. Porém, por causa de boatos espalhados com o decorrer dos anos, muito dessa esperança tinha se perdido e agora poucos encontravam um motivo para lutar, poucos tinham o animo de enfrentar um problema que consideravam perdido. Gaia esmagara a confiança dos seres da noite e se continuassem espalhados, de uma maneira tão desorganizada e ignorante, o mundo cairia verdadeiramente no próprio caos. Ainda não compreendiam como Racer garantia que teriam guerreiros para lhes ajudar... Parecia que nenhum ser da noite queria acreditar que “o fim do mundo” estava próximo e se recusavam a arriscar suas vidas.

Chegaram então, finalmente, a sala onde suas parceiras se encontravam. Shadow e Sonic tinham as pernas tremulas de tanto correr e ao verem as garotas tão calmas rindo uma com a outra custavam a acreditar que tinham saído dali algum dia. Elas tinham sido encarregadas de cobrir toda a área da Ásia, que não é nada pequena. Confusos, se entreolharam e então se aproximaram das garotas que sorriram para eles com sorrisos forçados, tentando disfarçar a tensão que se espalhava pelo mundo por tudo isso que estava acontecendo. Shadow sentou na frente de Maria, deitando em seu peito e deixando que ela lhe acariciasse os cabelos, como costumava fazer para lhe acalmar. Sonic já se manteve em pé, de braços cruzados do lado de sua parceira, tentando entender como elas tinham sido mais rápidas que os dois vampiros mais rápidos de todo o planeta.

– Vocês realmente percorreram toda a Ásia? – questionou encarando atentamente sua parceira que apenas lhe sorriu e negou com a cabeça, de maneira zombeteira e irritantemente brincalhona, tentando imitar o toque extrovertido do garoto. Ele se sentiu desconcertado. – Então o que estão fazendo aqui? Deveriam ter informado a todos os vampiros.

– Uma logica que quase todos os humanos conhecem: a fofoca. – respondeu lhe piscando ainda de maneira divertida e lhe puxando para um abraço. Queria apenas sentir que ele estava perto, que por enquanto tudo estava bem. Não poderia ter Racer ali do seu lado para garantir que ele estava bem, e por mais que quisesse sabia que ele estava fazendo o certo, lutando por todos. – Fale para a pessoa certa e todos vão saber em poucos dias.

– Mulheres... – murmurou ele sorrindo levemente e suspirando cansado. Ele tinha percorrido praticamente toda a América, falando de vampiro a vampiro enquanto ela tinha falado para alguns e então voltara para casa, e era bem capaz do jeito dela ser mais efetivo que o seu... Isso era desanimador. Amy lhe deu um beijo no rosto e lhe abraçou com um pouco mais de força, tentando manter o sorriso no rosto. Em tempos de luta tudo o que eles queriam era finalmente ter um descanso.

Maria deu um pequeno beijo no topo da cabeça de seu parceiro, o abraçando com um pouco mais de força. Ela tinha ficado calada de repente, percebeu o rapaz, e talvez soubesse a resposta. Muitos consideravam sua filha muito parecida com ele, tanto que era quase inevitável que já soubessem que ela era sua filha, e Maria era uma das que relacionava esse tipo de questão. Ela deveria estar lembrando sobre a pequena. Haviam acabado de recuperá-la, não havia muito tempo que tinha voltado, e já corriam novamente o risco de perde-la. Compreendia esse sentimento dela, mas não queria vê-la preocupada, não queria que ela ficasse da maneira como estava agora.

Sem aviso se levantou do lugar, saindo dos braços de sua parceira e segurando-lhe a mão e a puxando corredor a dentro, caminhando com lentidão até o quarto que compartilhavam. Maria não compreendia nada, apenas seguia o parceiro sem reclamar, o encarando de maneira confusa e fazendo de tudo para acompanhar as passadas largas e rápidas de Shadow. Nem mesmo percebeu quando já se encontravam na porta de seu quarto, nem mesmo quando seu parceiro a tacou com cuidado na parede, prensando seu corpo contra o dela, tomando seus lábios em um profundo beijo. Suas pernas bambearam pela intensidade de emoções que pode sentir e sem nem mesmo pensar mais passou os braços pelo pescoço do parceiro, fechando os olhos e retribuindo com a mesma profundidade o beijo.

Ficaram assim por algum tempo, andando lentamente para dentro do quarto, sem se desgrudar nem um instante se quer. As mãos do garoto perambulavam de cima para baixo no corpo de sua parceira, com toda a liberdade que sabia que tinha. Já a garota estremecia e se preocupava apenas em pisar corretamente e abraçar com força o pescoço de seu parceiro. Ela procurava deixar a mente em branco, procurava relaxar e apenas esquecer de todas as preocupações que sentia, mas estava difícil. Shadow era muito parecido com sua pequena, apenas de olhar para ele, sentir a energia dele, lembrava dela, lembrava que ela poderia estar em perigo e ele percebia isso. Separou-se dela e a encarou, acariciando seu rosto com carinho.

– Pare de se preocupar tanto Maria. – murmurou enquanto ela abaixava o olhar, fechando os olhos para conter as lágrimas que queriam sair dos mesmos pela preocupação quase excessiva. – Confie nela, mesmo que a tenhamos perdido uma vez isso não vai acontecer de novo. Eu te prometo que não vai, mas no momento temos que acreditar que ela é forte o bastante para enfrentar esses problemas que estão surgindo.

– Mas... – começou a garota, porém não conseguiu terminar seu protesto. Ignorando qualquer coisa que ela podia falar o moreno tomou os lábios dela com vontade, calando qualquer reclamação que pudesse sair. Com delicadeza colocou-a na cama e se posicionou sobre ela, fazendo caricias leves e profundas, conseguindo finalmente distrair a mente de sua companheira, que retribuía tudo com desejo, querendo que aquilo passasse.

Ele passou os beijos para o pescoço dela, ouvindo os suspiros e sentindo os arrepios que percorriam o corpo dela cada vez que sua boca encontrava a pele sensível que possuía naquela região. As mãos dela já tinham se entrelaçado em seu cabelo, acariciando sua cabeça com carinho e amor. Porém, mesmo que ela poderia ter esquecido por alguns instantes da situação atual do mundo, mas ele ainda se mantinha conectado. Seu peito estava apertado e rogava para que sua pequena realmente voltasse sã e salva para casa.

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Seus punhos ainda se encontravam fechados com força, tremendo de maneira incontrolável enquanto concentrava toda sua força neles, tentando conter a raiva e preocupação que sentia por dentro. Seus olhos, antes focados em um ponto morto do lugar, deslizaram para a figura de seu amigo logo a sua frente. Ele corria pelas escadarias, enquanto estrondos retumbavam por todos os lugares indicando as lutas que ocorriam nos andares mais abaixo, lutas que poderiam terminar em um final não muito agradável. Mesmo assim Racer continuava a correr, como se nada estivesse acontecendo, como se a vida de suas amigas não estivessem em jogo nessa busca suicida.

Os adversários eram muitos, e já haviam demonstrado que poderiam ganhar, que eram absurdamente fortes. Aquela luta que travavam agora para decidir quem continuaria e quem cairia era algo que para ele, nesse momento, não tinha a menor lógica. Sua visão tinha sido tampada pelo medo e pela preocupação, estava cego por pensar que talvez nunca mais veria as pessoas que tanto amava, que não pudesse ouvir a resposta daquela garota que a pouco tinha se confessado e até o momento não tinha respondido nada ainda por causa do que sucedeu em seguida.

A raiva aumentava, a impotência de continuar parecia cada vez mais forte e sentia que logo cairia de joelhos naqueles degraus que não pareciam ter uma sustentação certa. Talvez estivesse iguais a eles, carregado por uma força invisível que poderia desaparecer a qualquer momento. Mais um estrondo ecoou pelo lugar e por um instante pensou que iria cair. Suas pernas bambearam e seu morto coração se apertou. Já não aguentava mais, já não podia suportar essa agonia. Tinha que fazer alguma coisa, não podia deixar as duas garotas sozinhas lá embaixo lutando com adversários tão poderosos.

E foi então que parou...

– Já não posso mais Racer. – sussurrou quase se deixando cair no degrau que se encontrava. O garoto a sua frente parou e o encarou de maneira confusa. Com os punhos ainda mais apertados, Ramon procurava não encarar o amigo, mantendo-se de cabeça baixa, encarando o degrau abaixo de seus pés. Tudo isso estava confuso de mais para sua cabeça, não queria perder ninguém, se sentia como se novamente fosse uma criança, sem poderes de longa distancia. Tudo que sempre pode fazer era ver o futuro, e saber, de modo antecipado, o sofrimento de seus amigos. – Não aguento mais, pra que isso tudo?! Estamos correndo em círculos, sem chegar a algum lugar enquanto as meninas estão se matando lá embaixo.

– Ramon, sei que esta preocupado, mas não temos tempo pra isso agora. Se não chegarmos logo ao próximo andar, de nada vai adiantar o sacrifício que as garotas fizeram! – ele não se importava, ele não via o perigo que as duas estavam correndo, ele estava mais preocupado com aquelas pedras idiotas. De que valia ter as esmeraldas caos se todos não estivessem juntos para lutar novamente contra Gaia e vencer tudo? E será que realmente poderiam vencer? Racer colocou a mão no ombro do amigo, percebendo sua agonia. – Olha, sei o que sente, mas...

– Não sabe! – com um tapa afastou a mão do amigo de seu ombro, apertando com mais força os punhos, cerrando os dentes. Tudo estava confuso de mais para ele, tudo aparentava estar perdido. De que adiantava toda aquela luta? Não poderia defender ninguém assim! – Você não se importa! Esta mais concentrado nessa droga de busca. Não vê que as garotas podem estar perdendo! Elas podem morrer a qualquer instante e você nem se importa!

– Não me importo, Ramon?! Igual a você, a garota que eu amo esta lá em baixo, lutando por algo que todos nós acreditamos, e acha mesmo que não estou preocupado?! – viu o amigo fechar os olhos, sabia que o albino estava dominado pelo medo e não o culpava. Ele mesmo, em certos momentos enquanto subia, se vira quase devorado pelo mesmo, querendo sempre voltar para ajudar suas amigas, mas sabia que se fizesse estariam colocando tudo a perder. Precisavam retornar rápido para ajudar seus pais a montar um exercito o quanto antes. Gaia não iria esperá-los. – Olha, sei que você se confessou para Mi antes disso tudo acontecer. – Ramon o encarou, surpreso. – Sei que quer saber a resposta dela, sei que esta preocupado com ela, eu também estou. E te garanto que você vai ouvir ela te dizendo que também te ama, quanto tudo acabar vocês vão estar juntos como sempre sonhou, e eu vou poder falar para Yin o que sinto, mas para isso preciso que confie em mim. Preciso que acredite na força que as garotas tem e que continue a lutar a meu lado, para assim acabarmos com isso logo e podermos ir para casa com elas. Juntos! Preciso de você a meu lado, Ramon.

– Eu sei... Me desculpe. – murmurou, decepcionado consigo mesmo por ter se deixado levar tão facilmente pelo medo. Racer sorriu, tinha seu amigo de volta, seu irmão de volta. Ramon respirou fundo, tentando voltar a cabeça para o lugar e então encarou Racer, assentindo rapidamente. – Você tem razão. Agora não temos mais tempo para voltar, vamos!

Racer sorriu mais uma vez, seguindo o amigo pelas escadas, continuando a subir na direção do próximo quarto. A porta logo apareceu, tal como tinha ocorrido com a anterior e sem pensar duas vezes saltaram para dentro, continuando a correr por entre a estranha decoração do quarto. Branco, tanto nas paredes como no chão. Tinha pedaços de carne espalhados por todos os cantos, pendurados por enormes ganchos presos por correntes encaixadas ao teto. Pesos enormes de metal estavam jogados ao chão, atrapalhando as vezes a corria de ambos os vampiros na direção da escada que levaria ao próximo andar. Talvez naquele quarto não tivesse ninguém e pudessem passar ilesos dessa vez.

Todavia, por alguma fração de segundos, Ramon conseguiu ouvir um leve movimento. Não mais que uma pequena e quase imperceptível respiração em uma parte distante do quarto, mas bastou isso para conseguir salvar Racer. O enorme lobisomem tinha se lançado na direção do líder dos controladores do caos, o enorme punho fechado preparado para impossibilitar qualquer movimento do inimigo travado em sua mira. Porém, Ramon lhe antecipou o ataque, empurrando o amigo para longe do golpe e, com certe dificuldade, apanhando o punho do adversário, pressionando os pés contra o chão para que não fosse lançado ao ar pela tamanha força que tinha sido aplicada no golpe.

Racer voltou-se surpreso, não tinha reparado o ataque e se não fosse por Ramon, com certeza estaria com alguns ossos quebrados, incapaz de se mover por alguns instantes. Viu como o amigo parecia ter dificuldades em continuar a prender o inimigo, o corpo já tremulo arrastava pouco a pouco pelo chão enquanto o enorme lobisomem não parecia ter se dado conta que tinha errado o alvo.

– Racer, vai! Eu cuido disso! – não hesitou, sabia que estaria em problemas se o fizesse, seu amigo precisava de todo espaço para lutar com aquela coisa, não poderia ajudar. Ramon era o mais forte dos quatro, por não ter poderes relacionados a longa distancia tivera que se preocupar em treinar seu físico, a única arma que teria contra o inimigo. Essa seria a luta dele. O rapaz albino sorriu ligeiramente, vislumbrando seu líder desaparecer pelas próximas escadas. Agora só lhe restava vencer para conseguir acompanhá-lo. – Vamos lá grandão, vejamos do que é capaz.

Usou todo seu peso para empurrar a enorme mão do adversário para o chão, saltando sobre seu braço e acertando seu rosto com um potente chute. O lobisomem cambaleou para trás, tonto e desnorteado pelo golpe inesperado. Ramon conseguia sincronizar tanto velocidade como força, poderia não ser o mais rápido como Yin e Racer, mas ainda assim era mais rápido que aquele brutamontes, lhe dando pelo menos uma mínima vantagem.

– Maldito Senhor do Destino! Não interfira em meus assuntos! – outro soco, mas Ramon já estava mais preparado. Esquivou-se com facilidade, vendo como o punho do lobo acertava um dos enormes pedaços de carne, destroçando-o em vários pequenos pedaços que se espalharam por todo o quarto. O albino suspirara aliviado ao se ver longe do soco, agradecendo por vampiros, muitas vezes, serem mais velozes que os lobisomens. – Fique parado para eu poder te acertar!

– Nem sonhando, cachorrão. – com velocidade impulsionou seu corpo na direção da enorme criatura que enfrentava, preparando-se para acertar-lhe um potente soco. Todavia, não fora rápido o suficiente para conseguir acertar, sendo atingido primeiro pela enorme mão do lobo, jogando-o contra um dos pedaços de carne erguidos. Ficou tonto, seu corpo bambeou e não conseguiu evitar a evidente queda contra o chão. Talvez tivesse deslocado o maxilar, ainda não sabia quais tinham sido os efeitos com aquele simples impacto, mas uma coisa tinha certeza: não poderia mais ser atingido.

– O que estava dizendo, mosquinha? – cambaleante, ergueu-se do chão, esculpido um pouco de sangue que manchar o piso branco. Sorriu, todavia, para si mesmo ao ver o que tinha para enfrentar. Se algum dia pediu um desafio para seu treinamento, lá estava ele. Derrotar aquele brutamonte seria a prova viva que conseguira se fortalecer em força bruta. Porém tinha que pensar, apenas músculos não lhe ajudariam naquele momento. – Vamos logo, será que é tudo isso que os controladores do caos tem a oferecer?

– Você ainda não viu nada. – ainda um pouco tonto usou o enorme pedaço de carne para se defender do próximo ataque que vinha em sua direção. O impacto tinha sido potente, mas fora amortecido pelos quilos de gordura colocados a frente. Deslizando os pés sobre o piso liso deu a volta pelo escudo improvisado e acertou o rosto do lobisomem em um forte soco, deixando-o ligeiramente tonto, mas um estrago mínimo.

Afastou-se, saltando par trás e se escondendo atrás de outro pedaço de carne. Se os usasse talvez conseguisse escapar dos golpes e ter mais chances de atacar, talvez levasse um pouco mais de tempo para conseguir ultrapassar aquela camada de músculos e machucá-lo de verdade, mas ainda tinha chances de ganhar. Respirou fundo, sentindo todos os músculos do corpo. As feridas causada pelo primeiro golpe já tinham se curado, mas teria que tomar cuidado, se caso o acertasse mais de uma vez não acreditava que pudesse levantar como fizera da ultima vez.

Sentiu então um movimento a suas costas, mas não era de seu oponente. Os enormes pedaços de carne estavam se movendo, puxados pelos ganchos que, só agora percebera, estavam ligados a um mecanismo no telhado, que movimentava todos os pedaços em um ciclo, aparentemente, desigual. Desnorteado, encarou a confusão de vultos que se movia ao seu redor, empurrando-lhe e o obrigando a desviar sem saber para onde iria. Não conseguia se concentrar, eram vários objetos entrando e saindo de seu campo de visão, mas... Onde estava seu oponente?!

Tarde de mais percebera que tinha se distraído por muito tempo. Com um golpe certeiro e mortal, sentiu seu corpo ser esmagado contra o chão, sendo atingido desde a cabeça até os pés. O chão se quebrou, conseguiu sentir os flocos de concreto se despedaçando com a enorme força exercida sobre seu corpo. A dor foi insuportável, o sangue inundou sua boca, tudo ficou escuro por instantes e sabia que por alguns momentos grande parte de seus ossos se encontrava quebrada.

Tão fraco era para perder de maneira tão fácil? Apesar de todo o treino que tivera, depois de toda a luta que teve para se manter mais forte, para se manter igual a seus amigos, não tinha passado de atitudes vãs? Sem importância? No final terminaria ali? Sem poder ajudar seus amigos?

O enorme brutamonte ergueu-se de cima de seu corpo, encarando o estrago que tinha feito. Parecia orgulhoso consigo mesmo, Ray com certeza aprovaria sua força agora. Queria tanto que seus pais o vissem, que pudesse mostrar que era mais forte que aqueles malditos sanguessugas que arruinaram sua vida.

– Nunca imaginei que os controladores fossem tão fracos! – as palavras o atingiram mais do que imaginava. O golpe poderia suportar, mas ser chamado de fraco pelo inimigo não. Já ouviu muito isso, pessoas subestimando a sua força e a de seus amigos, desacreditando em sua família, mesmo que fosse a única que tentasse ajudar.

Socou o chão, espalhando mais estilhaços de concreto. Poderia até morrer ali, mas não seria como um perdedor. Ganharia essa luta, mesmo que perdesse todos os ossos de seu corpo, ganharia. Levantou-se, a boca e o nariz completamente manchados de sangue. Os olhos azuis encararam o adversário, bem sabendo que não era muito bom em ataques inteligentes, mas com uma força bruta capaz de compensar a deficiência. Precisava ser rápido e astuto, não forte. Precisava ser igual a Yin, que tinha seu tamanho em desvantagem e atacava com velocidade e destreza.

Suspirou, deixou que seus sentidos o guiassem. Como não podia mais contar com a visão pela movimentação rápida das carnes que lhe confundiam. Olfato seria descartável, pelo simples fato de o cheio forte da carne fresca tomar conta de todo o local. A audição seria sua melhor aliada naquele momento junto com seus instintos. Seus músculos e ossos ainda doíam, reclamando de sua movimentação apressada, mas não podia esperar que se curassem, era muito arriscado continuar no chão.

Esperou que seu oponente fizesse o primeiro movimento, soltando uma pequena gargalhada e movendo-se em sua direção. Chute, pensou ao ouvir o barulho das garras rapando no chão. E com mais velocidade do que o lobisomem pudesse acompanhar, abaixou, esticando o corpo pelo chão e chutando a perna na qual ele se apoiava, jogando-o ao piso. O estrondo fora eminente pelo peso do lobo, todavia, não se preocupou, afastou-se o quanto antes, procurando não exigir de mais de suas feridas.

Furioso o lobo se levantou, correndo desembestado na direção do vampiro, que apenas o esperava. Estava pronto para segurar-lhe o corpo e lançá-lo contra a parede, isso provavelmente destruiria suas costelas e danificaria sua coluna, impossibilitando-o de se mover. Todavia quando se encontrava próximo de alcançar o vampiro o mesmo saltou, pulou em suas costas e com um pequeno empurrão o jogou contra a parede. A mesma se quebrou com o impacto e o lobo se viu preso nas rachaduras que haviam se formado a sua volta e os pedaços deslocados de concreto.

Não conseguia mais ver o vampiro que tinha a suas costas e estava demasiadamente desconcentrado para se concentrar em qualquer outro sentido que lhe era disponível. Ramon agora tinha a vantagem.

O lobisomem enfurecido tentou se soltar, usando toda a força de seus músculos para arrebentar o resto do concreto. Todavia, no primeiro esforço que fez, não teve tempo de acumular energia. Seu corpo foi novamente pressionado contra a parede por um forte impacto em suas costas, se era um chute ou um soco, não saberia dizer com precisão, mas sabia que pouco a pouco o tempo dos golpes iam diminuindo e mais fundo na parede ia se enfiando. Seu sangue fervia pela indignação da posição em que se encontrava, mas até os ataques pararem por um tempo mais prolongado não teve chance de escapulir.

Ramon sabia que, pela raiva que aquele enorme lobisomem estava acumulando com o decorrer de seus ataques ele não demoraria muito para escapar daquela situação. Ele sabia muito bem que fúria era um ótimo tempero para momentos como aquele, então, enquanto ainda se encontrava em sua sequencias de ataques, arquitetou um plano que poderia ajudar a escapulir do adversário por alguns instantes, até arrumar a próximo oportunidade de atacar.

Brutos demorou menos de dois segundos para conseguir retirar seu enorme corpo do buraco que estava se formando no concreto. Machucados feitos pelo concreto que conseguiu ultrapassar sua barreira de músculos e ferir sua carne, manchavam ligeiramente sua pelagem com os filetes de sangue que escapuliam, prontamente cessando com a velocidade em que se curava. Lobisomens poderiam não ter a mesma capacidade de regeneração de um vampiro bem alimentado, entretanto ainda era o suficiente para que conseguissem lutar por um longo período de tempo sem se desgastar. E para compensar a velocidade a pele que possuíam era espessa de mais por causa de seus músculos exuberantes e rígidos, evitando a maior parte dos ferimentos sérios que poderiam adquirir em uma briga.

Sacudiu a poeira de seu corpo e logo se virou, encarando todo o ambiente em que se encontrava, procurando a figura de seu inimigo. Carnes iam e vinham pelo movimento eletrônico das trilhas de ferro, vultos cortavam o ar de um lado para o outro, mas tinha certeza que nenhum deles era seu inimigo. Farejou o ar, mas como Ramon já tinha percebido, era impossível distinguir cheiros com o forte odor das várias carnes que se encontravam no lugar, elevado ainda mais por se encontrarem em um ambiente fechado. Não era tão bom em distinguir os sons como alguns vampiros e não tinha a capacidade sensitiva das bruxas. Seus instintos eram bons, mas não poderia usá-lo como um radar, apenas alertá-lo caso seu adversário fosse atacá-lo.

De alguma forma o jogo tinha virado.

Cauteloso, bufando irritado, caminhou pelo cômodo a procura de quem queria. Sem saber, entretanto, o plano que seu ardiloso adversário estava montando. Ramon tinha saltado em uma das carnes, pendurando-se nela de tal maneira e em tal angulo que seu enorme adversário brutamontes não conseguisse vê-lo. Como as carnes já se moviam por conta própria pelo movimento das correntes instáveis que a puxavam não tinha que se preocupar com algum movimento errado. Tudo que lhe restava agora era esperar que Brutos ficasse na posição que queria.

Fato que, surpreendentemente, não demorou a acontecer. O lobisomem passou próximo da carne que estava apoiado, fungando e bufando em uma tentativa falha de sentir seu cheiro. Ele ficou de costas e, aproveitando o embalo que tinha adquirido com o movimento do equipamento eletrônico do quarto, saltou para as costas de seu adversário, empurrando-o ao chão.

Desnorteado e despreparado Brutos só percebeu o ataque quando ele já tinha acontecido, encontrando-se novamente enterrado no concreto. Grunhiu irritado, já farto dos jogos escorregadios do maldito vampiro albino contra quem lutava. Todavia, não teve tempo de se recuperar. Quando deu por si seus tornozelos tinham sido segurados pelas mãos de Ramon, que sem muita dificuldade o ergueu do chão e o lançou até outro canto do quarto. Um impulso logo em seguida, acompanhando o movimento de seu adversário. Calculando para que, assim que ele atingisse a parede o acertasse com os pés a boca do estomago.

O lobisomem perdeu o ar, seus sentidos ficaram turvos e desesperado tentou segurar o vampiro que já tinha se afastado, preparando o próximo ataque. Depois disso tudo que conseguiu perceber foi uma sequencia incessante de golpes rápidos. Rosto, estomago, maxilar... Todos os pontos que poderiam forçar a perda de consciência do enorme brutamontes era acertado com eximia precisão. Ramon não pouparia forças para vencer aquela luta.

Bastou alguns minutos da sequencia de golpes para que se afastasse, esperando o resultado ainda em posição de ataque. Todavia o lobisomem se moveu bambo, cambaleando para fora das rachaduras na parede e então despencou no chão, aparentemente desacordado. Ramon ainda esperou alguns instantes para ter certeza que havia conseguido nocautear o adversário para, só então, relaxar e tentar pensar em uma solução para imobilizar seu adversário e poder assim seguir caminho até Racer.

Existe um comando, uma brincadeira, que humanos fazem enquanto treinam seus cachorros. "Finge de morto", essa pequena ordem e o cão se joga no chão com os olhos fechados, fingindo-se de morto para conseguir ganhar uma guloseima. Essa tática pode ser usada até mesmo em casos de predador e presa, onde o predador desanima de atacar sua presa por ela já estar morta, quando na verdade ela apenas está fingindo estar em tal estado, esperando seu predador das as costas para assim bater em retirada para um esconderijo ou lugar seguro. Nesse caso não foi muito diferente, havia apenas um porém: Brutos, apesar de ser um brutamonte apenas com músculos, ainda possuía uma consciência "inteligente" e por tal motivo, também conseguia enganar quando queria.

O pior erro de Ramon foi não ter levado em conta essa pequena possibilidade, dando as costas para seu adversário enquanto se dirigia a chave de comando do equipamento que movia as carnes. Sua ideia era pegar uma das correntes para amarrar o lobisomem no lugar, todavia, assim que virou-se de costas, o lobisomem aproveitou a brecha. Em um instante estava caminhando, no outro se encontrava preso entre braços fortes, em um abraço esmagador que j[a começava a esmagar os ossos de sua costela e de seu braço.

– Nunca pensei que chegaria a usar essa ideia de novo. - riu o lobisomem, recordando-se de seu triste passado. Para ele era engraçado pensar que uma ideia que um dia lhe causou desgraça, agora estava ajudando-o a ganhar uma luta contra um inimigo poderoso. Apertou um pouco mais os braços conseguindo sentir o romper dos ossos de seu adversário que tentava, inutilmente, escapar. Chegou a ergue-lo do chão, para assim ficar mais fácil imobilizá-lo. - Devo admitir que você me deu trabalho, mas nossa luta vai terminar aqui! Não posso perder depois de Ray acreditar tanto em mim!

Em um impulso poderoso, Brutos jogou seu corpo para trás, fazendo sua coluna desenhar uma parábola enquanto seus pés se mantinham firmes no chão. Acertou a cabeça de Ramon com força no chão, provavelmente havia fraturado o crânio com aquele ataque. Sangue escapou da boca do albino enquanto seu corpo ficava fraco.

Era a chance que o lobisomem precisava.

Sem perder tempo ajeitou-se no lugar, pegou a cabeça do vampiro e acertou contra o chão. Não uma nem duas vezes, mas várias. Pancadas seguidas uma a outra, juntando velocidade com força. Quando se cansou e percebeu que o vampiro teria uma imensa dificuldade em se regenerar o levou até um dos ganchos que erguiam as carnes. Retirou a que se encontrava presa e colocou o vampiro no lugar, perfurando seu ombro sem piedade.

Ramon já se encontrava anestesiado com a dor, depois do grito que soltara pelo desprender da carde de seu ombro não mais conseguia distinguir realidade de inconsciência. Nunca havia dormido, o máximo que tinha conseguido foi em suas meditações onde ficava em um estado de animação suspensa, todavia, nunca poderia conseguir chegar naquele estado com todas as dores que lhe espalhavam pelo corpo. Sabia que estava em perigo, que precisava fazer alguma coisa para inverter a situação, mas seu corpo não mais respondia a seus comandos, por mais que quisesse.

Brutos arrebentou a corrente que erguia o gancho que segurava o vampiro e o segurou pelo pescoço, vendo como esculpia mais sangue em sua mão. O rosto machado de sangue, o ombro destroçado ainda tendo aquele metal fincado nele, impedindo a regeneração. Era um estado lamentável, mas percebia que precisava deixar o vampiro no pior estado possível para conseguir, finalmente, terminar com a luta.

O levou até uma das paredes, arrancando mais quatro ganchos no caminho. Pressionou o corpo do albino contra o concreto e sem perder tempo usou a parte de encaixe entre os ganchos e a corrente para perfurar os braços e pernas do rapaz, prendendo-o a parede. Ele não poderia mais se mover sem causar uma enorme dor a se mesmo, e no estado em que se encontrava, duvidava que pudesse conseguir. A luta tinha acabado, tinha certeza, e a vitória era de Brutos. Retirou prontamente o frasco com o veneno de seu bolso e o preparou para forçar a passagem do liquido pela garganta do vampiro.

Ramon, apesar de seu estado semi consciente, sabia que não poderia fazer mais nada. Era desanimador pensar, mas tinha perdido. Mesmo depois de todo o tempo treinando, mesmo depois de tanto tempo se esforçando e tentando burlar o destino cruel que sempre se apresentava a sua frente, ele havia fracassado miseravelmente...

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E Assim que ia se levantar para passar para o próximo andar foi jogada ao chão. Braços finos e fortes envolviam seu pescoço enquanto uma alegria silenciosa e contagiante espalhava-se a sua volta. A presença era conhecida e devia estar bem cansa para não notá-la desde o momento em que pisou no cômodo que se encontrava.

– M-mi... - tentou não sorrir, mas era difícil com tanta demonstração de afeto. A garoa de cabelos prateados esfregava seu rosto no de Yin como se de um gato se tratasse, não permitindo que a pequena conseguisse se erguer do chão. E mesmo que também estivesse feliz por ver a amiga inteira e com toda aquela animação, não poderiam ficar enrolando em continuar seu caminho. Racer e Ramon estavam esperando logo acima, tinham que continuar se não queriam deixar tudo nas mãos deles. - Vamos Mi! Ainda temos que continuar nosso caminho!

Mitsuki se ergueu, um enorme sorriso ainda desenhado em seu rosto, fazendo exuberantes gestos com a mão, os quais Yin não conseguia acompanhar. As duas não sabiam, no entanto, que estavam sendo detalhadamente observadas. Se Aracno havia se impressionado com o sorriso de Yin assim que o derrotou então não tinha palavras para descrever o que sentia ao ver o sorriso da vampira que agora falava com as mãos. Tão brilhante quanto a luz do sol, apesar de seu rosto estar ligeiramente manchado com o sangue da luta que anteriormente tinha tido, ele ainda brilhava na escuridão do lugar. Era a face mais bela que já tinha presenciado.

Era uma pena, pensou, em saber que a garota já tinha um companheiro. Se recordava direito, ela era a escolhida pelo vampiro albino, haviam presenciado, sem querer, a declaração dele para ela. E sabia muito bem que era muito raro o amor de um vampiro não ser correspondido, o que queria dizer que aquela garota, de tão exuberante sorriso, já o dirigia para outra pessoa. Seu coração já tinha dono e ele estava agora do lado inimigo. Sorriu com pena.

– Tenho inveja dos rapazes que são donos do coração de tão belas senhoritas. - resmungou, chamando a atenção de ambas as vampiras. Elas já tinham se erguido do chão, Yin já havia conseguido acalmar o desenfrear movimento da companheira e agora conversavam como podiam. Sorriu para as duas, tentando achar uma posição mais confortável no chão. - Principalmente do Senhor do Destino. Ter tão reluzente vampira como companheira, eu não teria nem ao menos coragem de me confessar. Seu nome não te faz jus, Dama da Chamas.

Mitsuki sentiu seu rosto arder, recordando-se daquele momento. Com toda a confusão havia se esquecido por um tempo, por um curto período de tempo, o que Ramon havia lhe confessado, o que não tivera tempo de responder. Yin, por sua parte, rapidamente ligou os pontos, compreendendo do que o monstro a sua frente estava falando. Encarou sua amiga com extrema surpresa e felicidade.

– Mi! Por que não me falou que Ramon havia se confessado pra você?! - exclamou indignada, encarando a amiga com certo desconcerto nos olhos, todavia, não conseguindo segurar o enorme sorriso que lhe aparecia no rosto. Mitsuki tentou fazer vários gestos, tremendo as mãos enquanto os fazia, como se estivesse gaguejando enquanto tentava explicar a situação. - Tudo bem, com essa confusão realmente não tivemos tempo de pensar em alguma coisa. Ta perdoada, mas só por causa disso! Não se esqueça nunca mais de me contar algo tão importante! - Mitsuki assentiu, como um pedido de desculpa por ter esquecido de algo tão importante. Apesar de se sentir estranha por ter levado um sermão sobre isso. - Aaahh!! Temos que ir rápido para o próximo andar a acabar com isso! Quero ver vocês dois juntos logo!

Sem mais demora Yin segurou o braço de sua companheira a puxando para as escadas. Mitsuki não pôde fazer mais a não ser seguir sua companheira, ainda com o olhar atento de Aracno sobre as duas. Ele apenas não conseguia ver mais o jeito ameaçador dos controladores. Eles eram tão estranhos, não seria errado chama-los de guias do seres da noite.

A esperança... Não era errado tê-la um pouco.

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Talvez tenha sido o toque frio do vidro em seus lábios, ou a pressão em seu maxilar para que abrisse a boca. Não sabia ao certo o que poderia ter trazido de volta sua mente para os momentos presentes, ter acendido a chama de força e vontade em seu peito. Memórias lhe enchiam a mente, mas não era aquelas que passavam quando você estava prestes a morrer, era diferente. Seu poder as vezes estava mais para um maldição do que um dom, mas era em momentos como aquele, em momentos em que via toda esperança cair que conseguia ver a luz que brilhava no final. As palavras de seu pai nunca foram uma ideologia tão certa.

Sempre achou que nunca fizesse diferença entre o grupo dos controladores. A única coisa com a qual prestava era o de ver desastres o de dizer que não poderiam conseguir o que almejavam. Racer sempre esteve a frente com a liderança, sempre foi forte, fiel, confiável... Yin era o coração do grupo, a inteligência, aquela que não se importava se você é forte ou fraco, ela apenas aceitava quem quer que fosse. Mitsuki era a alegria, era a luz do grupo, a que brilhava em chamas enquanto o mundo caia em caos. Tudo o que ele fazia era prever as desgraças de seis amigos.

Todavia as palavras de Racer voltaram a sua cabeça. Ser necessitado, ter alguém que precisa de sua presença... Não sabia se seu amigo sabia o que aquilo significava, não sabia se ele tinha noção do poder daquelas palavras, mas agora elas eram as que traziam o albino de volta para a luta. O que era aquela dor física comparado a todos aqueles anos de sofrimento? O que era seu sentimento de quase morte comparado a tristeza que sentiram durante quatorze anos?

Os seres da noite ignorantes, que não haviam participado de suas lutas, presenciado e sentido seus sofrimentos, que não conseguiam passar a mascara da formalidade, acreditavam apenas que eram membros da elite, que tinham tudo e todos. Acreditavam que não eram nada, que eram arrogantes, que eram livres dos pesares da guerra que preenchia o mundo naqueles tempos de caos. Mal sabiam eles tudo pelo qual lutavam, passavam e ralavam para conseguir ter, para conseguir viver. Apenas ele, que se manteve atento a todos da casa, sabia por tudo o que eles tinham passado. Manteve a mente aberta, os olhos focados para sustentar quem precisava.

Ramon era a sustentação de seu grupo. Aquele que mantinha seus amigos ainda de pé, mesmo que ele mesmo estivesse no chão. E ele nunca percebeu.

Um de seus braços se soltou da parede, agarrando o frasco nas mãos do lobisomem, quebrando-o em mil pedaços enquanto o liquido ligeiramente amarelado escorria por seu braço, misturando-se com o vermelho de seu sangue. Sabia que havia assustado o brutamontes que tinha a frente, sabia que ele tinha se afastado, por mais que ainda não tivesse focado ainda sua visão.

Aos poucos foi retirando seus outros membros da parede, puxando cada um dos ganchos junto, deixando-os presos em sua carne até o momento em que pudesse retirá-los. O lobisomem não conseguia entender, via as feridas e o sangue de seu adversário caindo ao chão como jorros escarlate que faziam até mesmo sua pele estremecer. Passava calafrios apenas por olhar, como se sentisse a enorme dor que ele poderia estar sentindo. E mesmo assim aquele vampiro não parava, retirava cada membro, um após o outro e assim que se viu solto retirou os ganchos, deixando cada um deles cair sobre as pequenas possas de sangue que se formavam no chão.

Uma sombra cobria seu rosto, não conseguia ver os olhos azuis do rapaz. Ele se aproximava e por algum motivo sentiu medo, como há muito tempo não sentia. A pressão esmagadora rodeava o controlador como se fosse um urso prestes a atacar, afastava-se inconscientemente. E como não poderia?! Aquela pressão... Aquela sensação estranha de puro pavor tomando conta de seu corpo, como se tivesse voltado a ser uma criança. Começou a se embolar nas várias carnes que passavam a sua volta, desnorteando-se ainda mais, desesperando por perder de vista de vez em quando o vampiro que tinha a frente.

Era engraçado pensar que um ser tão grande como um lobisomem, em seu pleno estado de transformação, pudesse temer um ser menor do que ele, mas Brutos não sabia como explicar aquela situação. Só então, quando um enorme pedaço de carne passou pelo seu campo de visão, bem entre ele e o vampiro a sua frente é que o perdeu de vista. Bastou aquela fração de segundos, para que Ramon, assim, pudesse quebrar a distancia que tinham, mantendo-se a poucos centímetros de distancia do lobisomem a sua frente.

Depois tudo veio muito rápido. O lobisomem sentiu seu pé sendo sobreposto por outro, tão forte e firme que sentiu que estava preso ao lugar apenas com aquele simples gesto. Todavia, não teve tempo de olhar para baixo e ver sua situação. Assim que a dor da pisada veio para seus sistema nervoso outra foi detectada, dessa vez em seu rosto. Havia sido um potente soco que o acertara em cheio no nariz que já começava a sangrar. Mais um veio, antes mesmo que seu corpo pudesse ter sido empurrado para trás.

Sentiu a cartilagem se romper, os ossos do maxilar tinham trincado. Mais um soco e seu crânio quase se partiu. Só então o vampiro voltou-se para sua caixa torácica, quebrando suas costelas, danificando seus órgãos internos. Um soco vinha atrás do outro, não tinha tempo de pensar ou reagir. Seu ombro tinha deslocado, com um golpe ele quebrou o outro braço. Todas as barreiras musculares que um lobisomem tinha, para aquele vampiro, não pareciam nada!

Da onde tirava tamanha força? Lobisomens, em matéria de força física, eram mais fortes que os vampiros. Mas aquele o qual enfrentava, aquele que tinha a frente, era absurdamente forte. E pensar que antes ele estava quase morto... O que era aquela mudança repentina? O que o fez ficar tão forte? Ray havia dito que as esmeraldas o deixavam fortes, mas não havia nenhuma ali, então o que seria?

Foi por uma fração de segundos, seus olhos pousaram nos do rapaz, ultrapassando a sombra que havia se postado lá. O azul fervia como lava, nem ao menos parecia azul, destacando-se no vermelho que ainda manchava seu rosto. Era uma intensidade tão grande, mas tão grande, parecia nem ao menos ficar em seus olhos, espalhando-se pelo ambiente.

E foi então que percebeu. A origem de toda aquela força, da mudança em seu comportamento, toda aquela reviravolta repentina... Não passava de vontade! A mais pura vontade de continuar a viver, de continuar a lutar, de continuar seu caminho pela frente. Ele já tinha visto aquilo algumas vezes, mas nunca daquela maneira, não de forma tão condensada. Seus punhos se tornavam mais pesados, se tornavam mais fortes.

Era a vontade sobre a força! Não tinha outra explicação. E mesmo assim se sentia impressionado, mesmo com todas as dores de seu corpo causada pelos golpes seguidos não conseguia acreditar que realmente se tratava daquilo. Mas... No final, deveria admitir: aquele vampiro era extremamente forte.

Os golpes então pararam, seu corpo começou a cair para trás, sua consciência oscilava e sabia que tinha perdido aquela luta. Correntes fortes envolveram seu corpo e antes que desse por si já estava no chão, imobilizado e sem poder mais lutar, apenas esperando a morte que deveria se seguir. Queria pedir desculpas a Ray, apesar dele ser um vampiro sempre o admirou, o havia tirado da miséria e lhe dado uma família. Uma bem estranha, mas ainda eram uma família. Todavia, agora acabava e não poderia dar a vitória a seu líder. Era uma pena.

– Ah! - a exclamação de alivio lhe veio de repente, como se o trouxesse de volta a consciência mesmo com as dores em seu corpo dizendo para descansar. Viu, surpreso, o albino jogado ao chão, sentado como se estivesse relaxando de uma longa e árdua caminhada, apesar de sue corpo estar completamente manchado de sangue. - Você é realmente forte, por instantes, pensei que realmente ia morrer. Tive sorte de ganhar! - comentou despreocupado, uma mão a passar sobre os cabelos brancos, agora com manchas avermelhadas. Piscou, sem compreender o que aquilo tudo poderia dizer. Ramon o encarou e sorriu. - Vamos lutar de novo uma próxima vez, sem termos que arriscar nossas vidas é claro.

Os controladores eram pessoas realmente estranhas.


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Notas finais do capítulo

E então? Se ainda tem algum leitor aqui agradeço pela leitura e por dedicar seu tempo a essa humilde fic que já está atrasada a bastante tempo. Tentarei continuar, mas tenho vários projetos em minha mesa pedindo que termine. Então muito obrigada novamente e me voi!
Bye bye



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