Naquela manhã eu estava praticamente quebrada. Todos os meus ossos, tecidos, músculos, e até veias e artérias estavam doloridos. Tudo isso por culpa dele, do Gabriel. Ainda não sei explicar o que tinha acontecido na noite anterior, eu jurava que ele tinha saído, mas ele disse que passou a noite lá. Será que eu estava com problemas, sei lá... Podia ser uma nova síndrome.  Ele estava na minha frente cuidando dos meus machucados, ele tinha feito um curso de enfermagem, por isso tinha tantos conhecimentos sobre curativos. Ele estava tranqüilo, mas seus olhos entregavam uma eminente agonia, olhos de terror. E tudo que eu mais queria era que ele me desse um sorriso, mas isso não aconteceu...

- Podemos conversar agora?

- Estou ocupado, tenho que me concentrar. Ou você quer que eu erre algum curativo e você acabe tendo uma complicação?

- Nossa, eu só perguntei.

- Desculpa.

-Certo, eu desculpo sim. Mas eu acho que nós devíamos... – Ele não me deixou completar.

- Você é que está ficando louca, eu estava lá o tempo todo, não saí.Você que deve estar com algum distúrbio do sono, ou sei lá o quê.

- Por que você está agindo assim comigo?

- Desculpa.

- É só isso? Um frio “Desculpa”? Estou começando a achar que não foi uma boa idéia termos vindo pra cá.

- Você vai entender qual o real motivo de estarmos aqui.

- Então não era pra ficarmos juntos aproveitando esses últimos dias?

- Aproveitando... Últimos dias... Faz sentido.

- Sentido? Nada mais faz sentido... Eu nem sei mais o que pensar.

- Você vai saber...

Até tentei puxar mais conversa, ganhei apenas seu longo silêncio durante toda a tarde. Ao anoitecer não agüentei, fui para perto dele e desabei a falar...

- Querido, desculpa... Eu nem sei o que dizer. Só te peço que não se afaste. Que você não fique sem falar comigo, Que você me mostre aquela alegria que só você me fazia sentir, por favor... Eu estou pedindo...

       - Desculpa, eu... também não sei, o que aconteceu comigo, eu só... entende?

       - Tudo bem, olha... Vamos esquecer isso tudo tá? Começar de novo, viver os dias mais lindos de nossas vidas...

       - Certo, começando agora?

       - Claro que sim...

       - HAHAHAHA.... – Que risada maléfica.

Pois é, ele me agarrou e fomos até a barraca. Sabe como é? Depois que começa, vicia. Finalmente, ele sorriu pra mim, muitas e muitas vezes... Naquele momento senti que seria feliz pro resto da minha vida. Pelo menos, eu esperava que fosse assim.