Mikaella escrita por no-chan


Capítulo 1
Seguindo em frente




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O saco de areia sacudia com violência liberando um estrondo alto a cada golpe. As correntes que o seguravam no teto tremiam e forçavam-se a ponto de desprenderem de seus elos e serem arremessadas longe.

Romanov assistia sua aprendiz praticar, desinteressado. Os chutes da italiana eram poderosos e precisos, mas ele sabia bem que ela poderia fazer muito melhor. Mikaella estava distraída e Romanov não estava nem um pouco satisfeito.

- Você conhece um lutador chamado Vega, Romanov? – perguntou Mikaella de repente, mas sem interromper seu treino.

O comandante russo a olhou de soslaio um pouco surpreso pela pergunta, mas não permitiu que seu rosto demonstrasse mantendo-se completamente impassivo.

- Talvez. – respondeu ele com frieza.

- É um loiro gostoso e metido a besta que usa uma máscara, garras de ninja e ataca mais rápido que o bote de uma cobra! – dizia a italiana aumentando a força dos chutes a cada palavra, maltratando o saco de pancadas com tanta continuidade que as correntes não mais agüentaram e arrebentaram-se, jogando o saco metros longe.

Romanov aproximou-se da jovem ficando ao seu lado e observando-a com dúvida. Mikaella ofegava nervosa e sua mente parecia estar em um lugar distante, num pensamento não muito agradável.

- Você enfrentou Vega? – perguntou o russo, mas logo se corrigiu balançando a cabeça – Mas é claro que não. Se tivesse eu estaria desenterrando seu corpo agora.

- Não estou brincando, Alexander! – falou ela irritada.

- Nem eu, recruta! – disse ele com a voz cortante fazendo-a calar-se.

Mikaella baixou a cabeça e o silêncio se espalhou entre os dois. Ela sabia que Romanov estava certo. Ela viu o que Vega era capaz! Com aquela agilidade e força, se ele realmente os quisesse mortos, ele os teria matado, não há dúvida. E, pela primeira vez, ela agradeceu por ter nascido com a beleza que possuía. Agradeceu por Vega tê-la tratado diferente, exatamente por isso, se não sua impertinência teria sido sua sentença de morte!

- Nós o irritamos. – começou ela depois de um tempo – Atrapalhamos seus planos libertando Barakk e prendendo um dos mandantes. Ele, com certeza, não parecia alguém que deixaria impune aqueles que o atrapalham. Vega vai se vingar.

- Onde você se meteu, Mikaella?

A italiana olhou para o russo assustada. Se era raro ele se interessar por algo que ela falava, era ainda mais raro ele chamá-la pelo nome! Sua face continuava a mesma. Fria e dura como uma máscara cortada por uma enorme cicatriz, mas ela acreditava, ou queria acreditar, que depois de tanto tempo ele nutria pelo menos preocupação por ela.

- Ele sabe meu nome, Alexander. Em um momento de fraqueza eu disse meu nome e, mesmo que ele não tenha percebido na hora, tenho certeza que descobrirá quem eu sou. Eu... eu estou... com medo.

Mikaella tremeu por um instante. Jamais admitiria isso na frente dos outros Punhos, mas era verdade. Ela estava com muito medo desde o rapto de Fiona. Medo, não por ela, mas pelas poucas pessoas com quem se preocupava.

Romanov não disse uma palavra. Afastou-se até o saco de pancadas caído e levantou os vinte quilos com uma única mão na maior facilidade. Trocou as correntes rapidamente e recolocou o saco no teto e voltando-se para Mikaella.

- Se está com medo de morrer, é melhor voltar a treinar e prestar atenção no que está fazendo e não só ficar brincando de chutar.

- Não estou com medo por mim, Romanov! Eu sei me cuidar, ou posso aprender, mas meus pais não! É com eles que estou preocupada. – Mikaella enfim retomou a voz e encarou o russo nervosa e ele levantou a sobrancelha de leve.

- Pois devia estar com medo. Você irritou alguém perigoso.

A jovem hesitou por um segundo. Olhou para o russo com receio que logo foi substituído por uma expectativa contida.

- Você pode fazer alguma coisa não pode? Você pode mantê-los seguros?

- Talvez, mas eu não vou. – disse ele simplesmente.

Romanov já esperava o que viria a seguir. A jovem, mimada como era, iria irritar-se e mandar que fizesse o que fora pedido. Iria dizer que ele era pago para isso e se não conseguisse iria ameaçá-lo. Ações típicas da garota Parllazzo.

Mas ele se enganou.

Para a surpresa de ambos, Mikaella riu.

Um leve riso que parecia vir de uma piada interna, guardada em sua própria mente. Ela olhou para o russo ainda com um sorriso nos lábios e seus olhos tinham um quê de carinho escondido.

- Eu sabia que diria isso. – falou ela sorrindo, mas logo suspirou tristemente- E está mais do que certo. Não foi você que os colocou em perigo, fui eu. Acho que preciso me responsabilizar pelos meus atos pelo menos uma vez na vida.

Romanov quase não acreditou no que ouvira. Aquelas palavras não poderiam estar saindo da boca da mesma pirralha mimada que dez anos antes tentara tratá-lo como servo. A mulher a sua frente, de alguma forma amadurecera em pouco tempo.

- Sabe, mesmo com toda essa confusão, eu não me arrependo. – continuou ela já acostumada ao silêncio do russo – Não me arrependo de ter conhecido os Punhos, muito menos de ter salvo Barakk e menos ainda de ter feito aquele loiro correr atrás do touro mutante. – disse ela parando para rir na última parte, mas voltando a ficar séria – Só sinto pelo que a Fiona passou, mas eu teria feito tudo de novo só para acabar com os planos corruptos daqueles idiotas.

O comandante russo viu os olhos de Mikaella brilharem com um fogo que ele já conhecia. A raiva e a impulsividade combinadas com o desejo ardente de lutar. A razão pela qual aceitara treinar a garota dez anos atrás. Um brilho que sempre acompanhava os melhores lutadores.

- Isso sem falar das lutas! Foi incrível Romanov, queria que tivesse visto! Tantos lutadores fortes, tantas técnicas que eu nunca vi! E quando eu cheguei à final eu só pensava que queria lutar com todos naquele momento! – o entusiasmo na voz da jovem era claro. Ela olhou para seu mentor com empolgação e foi recompensada pelo breve ar de respeito exibido nos olhos dele. O orgulho inflou seu peito ao perceber que ele aprovava sua empolgação e ela perdeu a fala naquele momento.

Romanov ergueu a mão lentamente e segurou o ombro da jovem.

- Então nada foi em vão, Mikaella. – disse ele e ela sorriu.

- Não, não foi.


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