Oitava Maravilha escrita por NRamiro


Capítulo 1
Único




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Ele andava pelas ruas tão conhecidas – às vezes se aventurava até pelas não conhecidas – com sua caixa de tamanho médio. Sua caixa era dourada e amarrada com cordas finas, ele só a abria no momento certo. Afinal, quem quisesse ver o conteúdo da caixa deveria primeiro ser encantado pelas palavras do homem que não podia mais ser chamado de “jovem”. Já tinha uma idade um pouco avançada, mas isso não o impedia de caminhar todas as noites vendendo a oitava maravilha do mundo. Era isso que guardava na caixa.

Naquela noite o céu estava claro, sem nuvens para impedir a visibilidade das estrelas. Até isso dava um ar mais poético ao homem. Talvez, apenas talvez, poderia se aproveitar disso.

Muitos daqueles que freqüentavam aquela praça já o conhecia, então o homem tentou achar alguém diferente. Um garoto, uma garota, um grupo novo. Por bem ou por mal, achou. Endireitou-se e foi até eles que estavam sentados em um banco um pouco mais afastado.

- Olá – Disse ao chegar perto deles.

O trio assustou por um momento. Talvez estivessem pensando que ele era um desses moradores de rua que saíam pedindo dinheiro. No entanto, ele não era. Apenas vendia arte, era isso que fazia.

Sentou-se sobre sua caixa dourada e depois de um murmúrio, continuou: - Hoje o palhaço não veio, então quem está aqui sou eu. Como podem ver, não sou palhaço, na verdade, sou muito sério – Manteve uma falsa feição séria em seu rosto, fazendo as duas garotas e o garoto rirem. – Venho aqui para apresentar a vocês a oitava maravilha do mundo, mas antes, digam-me um tema. Qualquer tema. Fácil, difícil, apenas um tema.

Os três garotos se entreolharam, uma das garotas um pouco risonha. Ela queria um tema difícil, mas quando seu amigo disse “amor” rolou os olhos. “Amor? É clichê e fácil”.

- Não, não é – Rebateu o homem gentilmente. Endireitou o tronco o máximo que podia para então com a voz grave e levemente rouca, começou o breve poema.

“Mandar-te-ei cartas para lembraste do dia onde confessei,

Dar-te-ei beijos apressados como se temesse alguma lei,

Quando vertes meus olhos refletindo as estrelas...” (Olhou para o alto)

“... saberás que o tempo é diferente para elas,

E quando, por Deus quando, sorrir-me

Terei a certeza que entre bruxos e bruxas,

O amor é nosso maior feitiço” ( Levantou-se e aumentou levemente o tom de sua voz)

“Mandar-te-ei cartas de saudades,

Dar-te-ei beijos para aborrecerdes,

E quando, por Deus quando, sorrir-me

O brilho de teus olhos contrariarão o tempo das estrelas”

Ao acabar o poema levantou sua caixa e a segurou fortemente em seus braços. Observou o rosto dos três adolescentes, tão jovens e inexperientes com o fascínio. A garota que antes havia dito sobre o clichê tinha um sorriso nos lábios. Ele sabia que no fundo daquele jovem coração um amor habitava talvez escondido.

- Se gostaram do poema, vou mostrar-lhes a oitava maravilha do mundo – O homem sorriu começando a desamarrar as cordas finas que prendiam a caixa. – No entanto, essa maravilha tem um preço. É uma maravilha, então sei que vão gostar e querer. Querem vê-la?

Os garotos concordaram com cabeça rapidamente. Estavam ansiosos para descobrirem o que havia dentro da caixa. Todos ficavam demasiados curiosos.

- Vou mostrar, se desejam. Mas por favor, não se assustem! – Disse em tom dramático. – Não vai fazer-lhes mal algum.

Já havia desamarrado todas as cordas. Segurou a caixa onde ela se abria e a aproximou dos garotos, estes se afastaram um pouco temerosos. “Não se assustem!” Cochichou. E então, depois de uma leve atuação, abriu a caixa. Os olhares temerosos viraram olhares surpresos, sorrisos surgiram na face dos três.em suas faces.

A oitava maravilha era bombons.

O homem sabia que não vendia bombons, vendia arte. Todas as noites quando preparava cuidadosamente os brigadeiros, preparava sua mente também. Num mundo onde a arte havia se tornado superficial, o vendedor da oitava maravilha do mundo, fazia surgir sorrisos sinceros em mais diversos lábios pela simplicidade e inocência do conteúdo da caixa dourada.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim!



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