CAPÍTULO 01

Lá estava eu com meu vestido violeta. Eu tinha uma leve memória de tê-lo visto em uma vitrine, me chamou a atenção por ser comportado, mas ao mesmo tempo atrevido. Meu corpete me apertava, quase me asfixiava. Tinha muita gente no salão de festa, de certo era um baile, e só havia as pessoas mais importantes da cidade. O que diabos eu estava fazendo lá? 

– Minha filha, pode vim aqui?- vasculhei o salão á procura da voz.  

Quando voltei meu olhar para frente, tudo estava negro. A luz e as vozes iam ficando distantes... Tudo o que sobrou e o que era visível na negrura, eram apenas olhos grandes com íris verdes como esmeralda e um sorriso malicioso com dentes brancos e rígidos. 

– Nos encontramos de novo, bela Julie – a voz ecoou por toda a escuridão e entrou pelos meus ouvidos como navalhas, gritei em meio ao desespero. 

Senti um toque leve. Abri os olhos, espantada, encontrei apenas os olhos de minha mãe adotiva, Jara. 

– Shhhhsss... Está tudo bem, foi só um sonho, amor. – Ela sussurrou.  

–Mãe! Parecia tão real.

– Eu sei querida. Tentei ver seus sonhos... Mas não consegui de novo.  

Jara era metade vampira, metade anjo. Ela tentava ao máximo
descobrir o que podia fazer, e o que não podia fazer, e descobriu á uns trinta
anos o que podia entrar nos sonhos e pesadelos das pessoas, pode alterá-los
facilmente, mas ninguém sabe porque ela não consegue fazer isso comigo. Eu
considero o fato de eu ser metade vampira, metade bruxa branca, a pergunta é: O
que é uma bruxa branca? Não faço idéia.

– Tudo bem. 

– Posso dormir aqui com você, meu amor?

– Se quiser - falei indiferente, mas desejando com fervor que
ela ficasse.

Ela se deitou, e logo me puxou para ela, eu amava a sensação
de segurança que seu abraço me trazia. Três batidas na porta me surpreenderam,
minhas três irmãs entraram no quarto, vestidas com camisa de manga e calça
moletom, mas é claro que aquele pijama não era usado diariamente á noite, elas
haviam vestido agora.

– Que coisa feia, Julie e dona Jara. Fazendo uma festa do
pijama e nem convidaram a gente. Magoei - Paulina falou fazendo biquinho, ela
conquistava todos, ela literalmente pertencia ao reino das fadas, mas apenas
menos da metade de sua genética era de uma fada, o resto de uma vampira.

– Nem eu te convidaria para uma festa do pijama, você é
insuportável, Paulina.- Anita falou com seu mau humor de sempre.

– Claro que você não me convidaria, na verdade não
convidaria ninguém além de seu Marido do Joel. Seu bruxinho metade vampiro e
metade bruxo – Paulina falou divertida.

– Meninas, acalmem-se - Astrid interrompeu antes que Anita
respondesse.

Olhei para Jara, e ela sorriu nos sentamos na cama, é claro
que não iríamos conseguir dormir.

Apesar de eu ficar muito cansada, não poderia ter sido uma
noite melhor. Claro que não foi uma festa do pijama normal, jamais seremos
normais. Em uma festa do pijama normal, não se divide sangue com as amigas, no
meu caso irmãs e mãe, não se conta historias de mais de dois ou três séculos
atrás, não se discute que tipo sangüíneo é mais delicioso. Ficamos nisso até as
02h30min da manhã quando os meninos chegaram me deixando sem graça como sempre.

– Julie – Benito falou, na verdade gritou. Invadindo, isso
aí! INVADINDO! Nem bateu na porta esse mal educado, está roubando nossas
mulheres?

– Benito, ainda acho que deveríamos ter batido - Tom falou
meio envergonhado. Tom digamos que é o mais certinho e calmo, mas isso vale por
que ele é metade vampiro, e ao passar séculos com monges orientais, metade
manipulador mental, pedi pra ele me ensinar, mas ele apenas me olhou com desaprovação...Chato.

– Cala boca, monge, vai fazer sua oração - já falei que meu
irmão Benito ama dar apelido pra todo mundo?Pois é, ele ama fazer isso.

– Não é uma oração, é meditação, e eu preciso da Paulina pra
fazer isso.- falou tímido.

No mesmo instante vi um sorriso triunfante nos lábios de Paulina e
seus olhos brilharam, e um sorriso pequeno e tímido em Tom. Pergunto-me como é
essa sensação de apaixonado, porque eles parecem um bando imbecis, mas claro
que pra quem entende deve ser emocionante e lindo, mas pra mim é repulsivo.

– É claro que precisa my Love, baby forever – Paulina
sussurrou na orelha de seu marido, lhe causando arrepios. Deram as mãos e
saíram.

Anita sussurrou palavras maliciosas, das quais prefiro não
compartilhar, contra os lábios de Joel, Benito beijou Astrid, e ambos se foram.

–Está tudo bem, minha
filha?- Bruce, meu pai adotivo, falou preocupado.

– Sim, pai – respondi - porque á pergunta?

– Por nada, minha filha. Vamos Jara? Temos assuntos á
tratar.

– Claro- Jara respondeu, entrelaçando suas com as de Bruce.
Eles deram um beijo em minha testa e foram, assim como os outros, para seu
quarto.

Mesmo que Bruce não tivesse dito eu sabia por que da
pergunta, ele sabia que me incomodávamos todos esses casais juntos, e eu sempre
sozinha sem ter com conta e compartilha tudo isso, já que não encontrávamos com
muita freqüência vampiros, ainda mais solteiros, ou simpáticos. Ele tinha
razão, tudo aquilo me incomodava, mas não sou nenhuma desesperada, claro. Mas
essa historia de amor é uma coisa meio idiota e cega, se tiver de ser será, agora
se não tiver de ser fuck you.

Voltei á dormi, e com muita sorte, um sono sem sonhos nem
pesadelos. Acordei torcendo para que fosse tarde e não desse tempo de ir à
escola, não tive sorte ainda era 06h45min, vesti uma calça skiny preta, com uma
bota cano longo, e blusa de ombro caído branca, peguei minha bolsa, olhei pela
janela avistando a linda Paris, sai correndo pelo corredor descendo as escadas
em minha velocidade de vampira, só pra descobrir que hoje não iríamos para escola, reunião
de família, essas reuniões eram reservadas para assuntos especiais, no entanto
falta aula era muito raro, na hora de ir para escola éramos praticamente
expulsos de casa.

Deixei minha mochila de lado, e me juntei á eles na mesa de
jantar.

– Eu vou ser rápido e objetivo, tenho coisas á resolver, são
tantas coisas que eu e Jara tivemos que nos dividir, por isso vou dizer logo de
uma vez, vamos nos mudar para uma cidadezinha chamada Mistic Falls, não á nada
que possam fazer, passagens compradas, casa vendida, e outra comprada.

– O QUÊ?! – gritamos!