Escolhido Ao Acaso escrita por Mandy-Jam


Capítulo 8
Vendo diferente


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Esse é engraçado e tenso no final.



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O apartamento da Kim era um lugar estranho. Tinha coisas completamente diferentes, mas que davam um tom engraçado ao lugar. Bem... Acho que devo encarar como um humor negro, ou coisa parecida, pois o local também podia ser confundido com um covil de um gênio do mal.

Kim jogou-se em uma poltrona preta e eu sentei no sofá branco listrado. De frente para nós, ao invés de ter uma TV, tinha um enorme aquário cheio de peixes estranhos nadando de um lado para o outro.

Deixei escapar um suspiro pesado, e depois olhei para ela. Kim fitava o chão, um tanto abalada, mas quando me ouviu chamar seu nome, seus olhos foram em minha direção mostrando o mesmo desinteresse de sempre.

– Kim? – Perguntei – O que foi aquilo?

– Foi um terremoto, ou você não viu? – Respondeu ela como se fosse óbvio.

– Mas... Aconteceu do nada. E justamente na hora em que vocês dois estavam quase se matando. – Falei franzindo o cenho. Kim assentiu tensa.

– É. Eu notei. – Murmurou ela – Mas... Isso é ridículo.

– O que? – Perguntei.

– Acha que aquele cara fez um terremoto? – Perguntou ela me achando louco – Tudo bem, aquilo foi estranho. Mas como aquele maluco podia ter feito isso?

Eu fiquei em silêncio. Não queria falar aquilo, pois poderia parecer maluquice, mas acabei deixando a observação escapar.

– Aquela onde de concreto atingiu ele depois que você berrou. – Comentei olhando para Kim, e esperando uma reação. Kim olhou para mim perplexa por um momento. Seu rosto representava enjôo. Como se tivesse comido sanduíche de atum estragado.

Ela engoliu em seco e negou com a cabeça.

– Isso é ainda mais ridículo. – Negou ela.

– Foi só o que eu vi. Só queria comentar. – Disse calmamente.

– Como eu podia ter feito aquilo? – Perguntou ela mais para si mesma que para mim – Se eu tivesse o poder de fazer terremotos eu teria destruído a escola quando eu era criança. Ou a porcaria da sua lojinha de instrumentos.

– Não estou dizendo que você tem super poderes. – Disse achando aquilo muito estranho – Só estou dizendo que foi uma grande coincidência.

– É. – Confirmou ela rápido – Uma grande coincidência. Você tem razão.

Ela não queria mostrar isso, mas estava com tanto medo quanto eu. Kim concordou com a primeira coisa que eu tinha dito só para não ter que pensar mais naquilo. E eu agi do mesmo jeito dela.

– Bem... Ao menos estamos livres daquele maluco. – Disse suspirando e me ajeitando no sofá – Nós poderíamos ter morrido se ele puxasse o gatilho daquela escopeta.

Kim levantou o rosto e franziu o cenho para mim, me achando tão maluco quando o motoqueiro.

– O que? Qual é o seu problema, Matt? – Perguntou ela de um jeito que fez parecer que eu era completamente lesado – Que escopeta?

– Kim, você não viu ele segurando a escopeta?! – Exclamei incrédulo – O cara apontou aquilo para nós milhares de vezes!

– Você é muito idiota, mas eu nunca pensei que fosse cego! O cara estava segurando uma espada! – Exclamou Kim, e eu virei o rosto com vontade de rir e certa incredulidade.

– Como assim? Qual é o seu problema? – Perguntei olhando para ela – Onde você viu uma espada?! Não... Que tipo de pessoa leva uma espada por aí para ameaçar os outros?!

– Foi exatamente isso que eu perguntei quando ele mostrou a arma. – Falou ela cruzando os braços – Matt, como você não viu a espada?

– Como você viu a espada. Essa é a pergunta certa. – Rebati. Kim ia falar alguma coisa, mas eu simplesmente neguei com a cabeça – Esquece. Acho que tem alguma coisa errada com você.

– Está dizendo que eu tenho problemas? – Perguntou ela começando a ficar com raiva.

– Primeiro: você sabia que ele era o ex da Ashley e sem nem mesmo ter visto o cara antes. Como explica isso? – Perguntei me levantando. Kim se levantou também. Ela tinha uma pose raivosa, mas de sua boca não saia nenhuma palavra – Segundo: você viu uma espada na mão dele, quando estava mais do que claro que era uma escopeta.

– Era uma espada, sua anta! – Exclamou Kim.

– Terceiro e pior de tudo: você fez aquele terremoto! – Exclamei para ela, e Kim negou com a cabeça – Isso pode parecer estranho, mas foi você! Só pode ter sido, Kim! A não ser que encontre outra razão para que aquilo tenha acontecido!

– Cala essa boca, Harris! Não fui eu! – Exclamou ela com raiva – Eu não tenho nada a ver com todas essas maluquices, entendeu bem?!

– Então me diz... Quem era ele?! Como você conhecia aquele cara?! – Exclamei com raiva, e nem sabia porque estava tão irritado.

– Não é da sua conta o que eu sei ou deixo de saber. – Respondeu ela com raiva – Tem mesmo a cara de pau de falar para mim que eu fui a culpada por isso tudo?!

– Não foi isso que eu disse. – Neguei com a cabeça, mas Kim me deu um empurrão para trás com força.

– Fala a verdade, idiota! Você realmente acha que a culpa foi minha?! – Rugiu ela com raiva. Eu caí no sofá. Poderia facilmente empurrá-la para trás, mas antes que eu pudesse reagir, olhei para o aquário sem querer.

A estante na qual ele ficava, estava tremendo assim como aconteceu antes com o chão da rua. O aquário inteiro estava balançando. Os peixes ficaram mais agitados.

– Kim, calma. – Disse ainda olhando o aquário – Você tem que ficar calma.

– Não me manda ficar calma, Matt! – Reclamou ela ainda irritada. O tremor continuou.

– Kim, olha o que você está fazendo! Fica calma! – Exclamei olhando fixamente para o aquário. Kim ainda estava com raiva, mas quando olhou para o aquário...

– O que?! – Berrou ela com raiva. Com esse grito o aquário deu um pulo e bateu com força na estante novamente. O vidro não rachou por um milagre, mas alguns CDs que estavam na estante caíram no chão. Kim arregalou os olhos, chocada.

Ela deu alguns passos para trás, e esqueceu completamente da raiva que estava sentindo por mim. Ela sentou-se na poltrona novamente, cobrindo a boca com as mãos.

– Eu fiz isso? Fui... Fui eu, não é? – Disse ela sem acreditar. Eu confirmei em silêncio e ela fechou os olhos tentando se acalmar.

– Você não pode ficar irritada. – Falei para ela devagar – Eu... Eu não sei como você fez isso, mas... Vai acontecer de novo se você se estressar.

– Como você pode ter tanta certeza?! – Exclamou ela com raiva novamente.

– Kim, você quer realmente arriscar? – Perguntei mantendo a calma. Ela engoliu em seco e negou com a cabeça. Kim nunca ficou tão abalada antes. Vê-la daquele jeito me deixou realmente surpreso.

– Como isso pode estar acontecendo? – Perguntou ela em um tom de voz baixo. Eu olhei para ela sem ter a mínima idéia da resposta, mas resolvi não falar isso. Franzi o cenho.

– Você vê diferente. – Disse eu analisando a situação – Você viu uma espada.

– Por que era uma espada! Você é que é cego demais para notar! – Exclamou ela. Confirmei calmamente. Não podia tirar ela do sério, senão era capaz de Kim por abaixo o prédio inteiro.

– O que mais você vê diferente? – Perguntei.

Ela olhou para mim como se aquela pergunta fosse completamente sem sentido.

– Como assim o que mais eu vejo diferente? Como é que eu vou saber? – Perguntou ela sem entender – Se você não vê a mesma coisa que eu, a culpa não é minha.

– Qual é a cor da minha camisa? – Perguntei apontando para minha camisa azul.

– Eu não sou daltônica, idiota. – Respondeu ela revirando os olhos – Tem diferença entre ver cores trocadas e armas trocadas.

– Certo. – Assenti revirando os olhos.

– Até a loira burra da sua namorada ia saber a cor disso. – Resmungou ela, e eu franzi o cenho confuso.

– Loira? Mas... Ashley é ruiva. – Falei sem entender. Kim olhou para mim sem acreditar.

– Matt, se você estiver falando isso só para me sacanear... – Ela ia me ameaçar, mas eu neguei com a cabeça.

– Não. É sério. Kim, você realmente enxerga diferente. – Disse incrédulo.

Ela revirou os olhos como se aquilo fosse algo completamente trivial.

– Grande coisa. – Resmungou ela – Como se já não bastasse quase ser morta hoje, ainda tenho que ficar ouvindo essa historinha de enxergar diferente.

Acho que eu passei algum tempo encarando a Kim, pois ela desviou o olhar várias vezes até finalmente perder a paciência.

– O que foi agora?! – Perguntou ela com raiva.

– Como você... Como você pode fazer isso? – Perguntei olhando para o aquário que quase quebrara – Você faz terremotos?!

– Eu não...! – Kim ia protestar, mas ela simplesmente negou com a cabeça. Sua mãos afundaram em seu cabelo e ela fitou o chão, tensa – Eu não sei.

Eu assenti calmamente e me deixei afundar um pouco no sofá. Minha cabeça ainda estava girando um pouco, e eu não conseguia ligar todos pontos para analisar a situação. Não tinha como uma coisa daquelas ser possível.

Kim conseguia fazer terremotos? Um cara com uma espada tentou me matar? Eu estava namorando uma garota super linda? Estranho. Tudo muito estranho.

– Acho... – Murmurei – Que a Ashley deve conhecer aquele cara.

– Claro que conhece aquele cara, idiota. É o ex dela. – Rebateu Kim estressada. Kim olhou para mim franzindo o cenho, e depois respirou fundo – O que acha que foi tudo isso?

– Não sei. Mas... Tem uma explicação. Nós só estamos afetados demais para descobri-la. – Respondi me colocando de pé.



POV Kim

Eu me coloquei de pé também. Olhei para Matt ainda achando que tudo aquilo era um completo mal entendido.

– Escuta... Tem alguma coisa errada nessa história. – Disse colocando as mãos nos bolsos – Até porque...

Eu não consegui terminar a frase, pois tocaram a campainha. Olhei para a porta pensando o mesmo que Matt.

– Será que...? – Matt olhou para mim tenso – Não atende, Kim.

– Acha que é ele? – Perguntei, e ele assentiu. Eu neguei com a cabeça – Não... Aquele idiota já teria colocado a porta abaixo.

– Mas... Isso seria invasão de domicílio. – Falou Matt

– Para quem ia cometer um homicídio, invadir casas alheias não deve ser algo tão preocupante. – Retruquei e fui atender a porta. Quando a abri senti vontade de batê-la com força novamente – Você?!

– Boa tarde para você também. – Respondeu Ashley sorrindo falsamente. Ela passou direto por mim e foi para perto de Matt. Trinquei os dentes com raiva, mas não fiz nada além de fechar a porta – Ooown, você está bem!

– Ashley... – Disse Matt, mas parou quando ela o abraçou. Pude notar o sorriso bobo que surgiu em seu rosto, e revirei os olhos. Como os homens são burros...

– Como sabia que ele estava aqui? – Perguntei cruzando os braços – E como sabia onde fica o meu apartamento?

– O Matt comentou. – Respondeu ela calmamente – Mas alguma pergunta, querida?

Senti vontade de socá-la por me chamar de querida, mas me resumi a continuar com mais uma pergunta.

– Sim. Você gosta mesmo de namorar trogloditas, ou só faz isso para ver uma boa briga de ciúmes? – Perguntei com raiva.

Matt se tocou de tudo que tinha acontecido antes e olhou para Ashley piscando os olhos. Ela o soltou e continuou olhando para mim, mas seu rosto representava uma enorme calma.

– Ashley... Quem era aquele cara? – Perguntou Matt.

– Ah, ninguém amor. – Respondeu ela, mas estava na cara que era mentira.

– Ninguém. Ok. – Confirmei com a cabeça – Você acha que nós temos cara de trouxas, é isso?!

Só você. – A voz dela soou na minha mente, o que foi muito estranho, pois ela nem mesmo moveu os lábios. Ela só sorria, como se fosse um lindo dia de Sol feliz e duendes e fadas dançassem pela minha sala de estar.

– Matty, fica calmo. – Disse ela lhe dando um beijo. Seus olhos fitaram o de Matt profundamente, e por um segundo eu podia jurar que ele estava hipnotizado – Nada aconteceu, certo? Aquilo foi só um cliente revoltado. Eu nem mesmo conheço aquele cara. Agora... Esquece isso.

– Mas... – Matt franziu o cenho. Sua voz era fraca, e falhada – Mas e o terremoto? A Kim...?

– Terremoto? – Repetiu ela fazendo-se de desentendida, mas estava na cara que ela sabia do que ele estava falando – Ah, amor. Aquilo foi só a obra que estava acontecendo na rua. Não lembra? Por isso que o chão ficou quebrado.

Ridículo, tenho que dizer. Eu estava esperando o momento pelo qual Matt ia começar a rir, ou negar dizendo a verdade, mas meu queixo foi no chão quando ele falou debilmente...

– Ah, sim. A obra. Eu esqueci dela. – Falou ele dando um sorriso fraco. Ashley sorriu para ele. Um sorriso triunfante e satisfeito, e logo depois lhe deu um beijo.

– Isso mesmo. – Confirmou ela – Mas a obra acaba hoje, por isso vai estar tudo no lugar amanhã.

Passei a mão na testa. Por alguns segundos eu estava até me convencendo de que nada daquilo tinha acontecido. Que o terremoto na verdade nunca tivera acontecido. Que fora só uma obra que quebrara o chão. O cara da loja? Ah, só um cliente que não gostou da cor da guitarra.

Tudo isso estava se tornando claro para mim, até que... Até que eu lembrei do rosto dele. O rosto daquele cara no meu pesadelo, depois na rua quando quase me atropelou, e depois o inesquecível rosto de surpresa que ele fez ao ver que eu o tinha derrubado com uma avalanche de concreto.

Não, ela estava mentindo. Não tinha obra. Não era um cliente revoltado.

Eu tinha feito o terremoto, aquele cara era o ex revoltado dela que tinha uma espada, e ele tentara sim matar o Matt.

– Mentira. – Disse negando com a cabeça. Ashley largou Matt, e ele olhou para mim franzindo o cenho – Matt, você não está ouvindo isso, não é?! Você não lembra?! O cara tentou te matar!

– O que? Kim... Você está bem? – Perguntou ele como se eu fosse louca – O cara só foi fazer uma reclamação.

– Uma reclamação armado?! – Exclamei – E depois?! O terremoto que eu fiz, e quanto a isso?! Você esqueceu desse detalhe?

Matt franziu o cenho como se estivesse prestes a se lembrar, mas a risada de Ashley estragou tudo.

– O que? Não me diga que você acha que pode fazer terremotos? Ah, querida, sua imaginação voa alto, hein? – Riu ela. Trinquei os dentes de raiva, e Matt concordou com ela.

– É, Kim. Foi a obra. O que deu em você? – Perguntou ele rindo um pouco – Eu acho que vou indo. Ashley, você vem comigo?

– Claro. – Sorriu ela para mim ao invés de para Matt. Ele saiu, mas antes que Ashley cruzasse a porta, eu segurei a gola de seu vestido e a empurrei contra a parede. Ela olhou para mim com grande naturalidade, mas eu estava fervendo de raiva – O que foi?

– O que você fez com ele? – Perguntei trincando os dentes – Por que ele não lembra de nada?! – Ela só riu um pouco, e depois olhou para mim com curiosidade.

– Você lembra de alguma coisa diferente? Acha mesmo que é capaz de fazer terremotos? – Perguntou ela. Pensei que estivesse tirando uma com a minha cara.

– Você não passa de uma...! – Ela me interrompeu. Só levantou a palma de sua mão e eu fui arrastada para trás por alguma força invisível. Ashley sorriu para mim, ajeitou o vestido, e encolheu os ombros.

– Você devia ser mais gentil com as pessoas. Nunca se sabe quem elas são de verdade. – Sorriu ela. Ashley deu um tchauzinho para mim com a mão, e fechou a porta atrás de si.



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Notas finais do capítulo

Bizarro!
Manipular a névoa é um golpe baixo. Humpf.
Veremos o que isso vai dar...
Espero por reviews! Beijos.



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