Escolhido Ao Acaso escrita por Mandy-Jam


Capítulo 2
Mude-se para o outro lado da rua


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o segundo capítulo. Agora que "Minha Viagem Infernal" acabou, eu vou postar regularmente aqui, certo?
Espero que vocês gostem dessa fic. Boa leitura!



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Estava começando a ventar bastante. O céu estava escurecendo, o que para mim era ótimo, já queria desesperadamente ir para casa.

Kim apareceu na porta da loja assim que eu saí de lá, e nós dois á fechamos juntos. Quando estava tudo trancado, eu me virei para ela e me encolhi colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco.

- Então... – Disse Kim em um suspiro entediado – Mais um dia de trabalho inútil?

- Pois é. – Respondi dando de ombros – Ao menos estou indo para casa.

- Essa é a maior emoção que você tem no dia, não é? – Comentou ela, e eu revirei os olhos.

- Olha... Eu realmente não entendo porque você fica o tempo todo jogando na minha cara o quanto a minha vida é sem graça. – Disse andando com ela pela calçada. Kim estava com o mesmo frio que eu, por isso andava de braços cruzados.

- Ficou deprimido agora? – Zombou ela com um leve riso. Neguei com a cabeça, já acostumado ao jeito de Kim, e ela deu de ombros – Eu só estou dizendo a verdade. Se ela dói, aí já não é comigo.

- É. Tenho certeza que um dia você ainda vai fazer do mundo um lugar melhor com esse pensamento. – Murmurei.

- Não enxergo tão longe. – Rebateu ela. Nós dois paramos na porta do meu prédio. Um pequeno edifício de talvez 10 andares (pequeno comparado aos outros prédios de NY) quase caindo aos pedaços de tão velho – Como você consegue morar aí?

- Pagando as contas no fim do mês. – Respondi sinceramente.

- Eu estou rindo por dentro. Pode apostar. – Disse ela com uma cara indiferente. Kim revirou os olhos e desviou o olhar para o outro lado da rua. Ela apontou para lá e eu olhei – Está vendo aquele prédio ali, Matt?

- Qual deles? – Perguntei.

- O com varando. – Respondeu ela – Ali. Logo no meio daquelas duas árvores grandes.

- Sei. O que tem ele? – Perguntei.

- Sabe que tipo de gente mora ali? – Perguntou ela olhando para mim. Eu neguei com a cabeça e Kim respirou fundo tentando manter a calma.

- Gente que não quer morar aqui. – Respondeu ela jogando a cabeça para o lado em direção ao meu prédio – Você realmente acha que vai poder morar em um lugar daquele um dia desses se continuar com essa vidinha medíocre?

- Kim, eu... – Ela me interrompeu.

- Só pense nisso, ok?! As pessoas daquele lado da rua... Pelo menos uma pessoa daquele lado da rua devia ter uma droga de vida. Até que um dia ela acordou e pensou... – Eu a interrompi.

- Ela pensou “Eu tenho que mudar e morar do outro lado da rua”? – Perguntei.

- Não. Ela acordou e pensou “A minha vida é uma droga. Eu odeio a porcaria do mundo.”. – Respondeu Kim, e eu franzi o cenho.

- Não é uma frase muito animadora. – Comentei.

- Mas deve ter sido isso. – Ela deu de ombros – Pelo menos, seria o que eu pensaria. E logo depois de pensar nisso, eu pensaria “Quer saber? Dane-se! Eu vou me dar um jeito de me mudar para o outro lado da rua e jogar na cara de idiotas como o Matt Harris que eles são mais babacas que eu”.

Eu assenti.

- Eu também adoro você, Kim. – Comentei em sarcasmo.

- Estou só tentando ajudar. – Respondeu ela.

- Eu sei. Do seu jeito estranho, revoltado e bizarro você está tentando dizer que eu preciso melhor em alguns aspectos. – Comentei entendendo seu ponto de vista – Eu vou. Sério.

- Sério? – Repetiu ela duvidosa.

- Sério. – Confirmei – Um dia... Um dia talvez próximo de hoje, talvez distante...

- Você é um preguiçoso inútil, Harris. – Disse ela revirando os olhos e voltando a andar – Até amanhã.

- Para onde você vai? – Perguntei.

- Para o prédio do outro lado da rua. – Respondeu ela – Eu moro lá, mas esperava que você lembrasse disso.

Eu não lembrava mesmo. Acenei para Kim, enquanto ela andava até o outro lado da rua. Virei-me em direção ao portão do prédio estreito e procurei minhas chaves no bolso.

Estava realmente frio. O vento parecia ser capaz de cortar qualquer pessoa sem casaco ao meio. Eu estava me encolhendo cada vez mais, e ao mesmo tempo, tentava achar a chave no meu bolso.

Peguei o chaveiro e procurei chave por chave nas minhas mãos trêmulas. Quando eu finalmente achei a chave certa e estendi a mão para a abri o portão, alguém tocou no meu ombro.

Eu sabia que não era Kim, pois o toque foi sutil demais. Virei-me curioso para saber quem era, e quando descobri fiquei completamente sem reação.

- Olá. Você é o Matt, não é? – Perguntou a mesma mulher linda que tinha entrado na loja hoje de manhã. Meu queixo caiu, e eu tive que me controlar para não babar.

De um modo trêmulo e gaguejante, eu respondi sua pergunta.

- Bah... Uh... É. – Respondi – Sou.

Ela sorriu para mim e eu quase desmaiei. Olhei para o prédio do outro lado da rua e ri mentalmente. Vocês tem garotas assim desse lado? Eu acho que não, otários!

- Oown, você é tão fofo. – Disse ela com um sorriso charmoso – É que sabe... Eu acabei perdendo a minha bolsa, e o meu dinheiro estava lá dentro. Eu moro um pouquinho longe, e vou ter certos problemas em voltar para casa.

- Ah... – Foi tudo que pude dizer. Se ela mandasse eu sair por toda a New York procurando sua bolsa perdida, eu faria isso. Não sei por que, mas faria.

- Eu estava pensando... Oh, me sinto tão envergonhada em te pedir isso. – Disse ela cobrindo parte de seu rosto com suas mãos delicadas.

- Pode me pedir. – Falei sorrindo.

- Que gracinha. – Disse ela alisando meu cabelo. Sorri bobo e sonhador – Você poderia ser gentil e deixar eu usar o seu telefone?

- Aham. – Respondi ainda lesado pelos seus lindos encantos. Nunca pensei que seria tão bom receber uma massagem na cabeça.

- Você é realmente uma gracinha. – Disse ela piscando para mim. Ela sorriu torto para mim de um jeito sedutor e antes que eu pudesse abrir o portão, ela puxou meu rosto contra o seu e me deu um beijo.

Meus olhos se arregalaram, mas logo fecharam. Aquele foi provavelmente o melhor beijo da minha vida. Eu em pé em uma rua deserta, lutando contra o frio cortante do inverno de New York e contra a grande tontura e vontade de desmaiar.

Quando ela afastou seus lábios dos meus, colocou-os bem perto do meu ouvido direito e sussurrou em um tom sedutor.

- Então? Eu posso subir? – Perguntou ela passando suas mãos pelas minhas costas. Assenti freneticamente, e ela riu para mim.

De começo eu não achei aquilo estranho, mas a garota esticou a mão e abriu o portão sem nem mesmo precisar de chave. Será que eu já tinha aberto antes do nosso beijo? Provavelmente... Eu devia ter me esquecido.

Mas naquele momento o importante para mim não era saber quem abriu o portão, e sim que quem agarraria quem primeiro.

Nós dois subimos as escadas correndo, e eu nem sei porque. Assim que parei na porta do meu apartamento, procurei desesperadamente a chave certa para a porta, mas novamente a garota estendeu a mão e abriu-a novamente sem chaves.

Eu abri a boca para perguntar como ela fizera aquilo, mas ela me beijou novamente, e eu esqueci até mesmo do meu nome.

- Sh. Você não vai mais precisar falar agora. – Riu ela em uma curta pausa.

Ela me puxou para dentro do quarto, e fechou a porta com força.

Eu acordei com a maior preguiça do mundo. O frio da noite anterior permanecera, de modo que o dia começou com um vento gélido que fazia você querer se encolher debaixo das cobertas e não levantar.

Foi isso que eu fiz. Eu puxei as cobertas para mim, mas junto com elas vieram um par de mãos, que abraçaram o meu pescoço delicadamente.

Na hora eu não me toquei. Sorri debilmente de olhos fechados e aninhei-me com as mãos que me abraçaram.

- Adoro isso... Mãos quentinhas... Cobertores quentinhos... – Pensei sonolento – Acho que foram as melhores coisas que eu comprei. Quanto custou mesmo? 2 dólares no Exército da Salvação. Eles tem coisas legais lá... Espera. Eles vendem mãos?

Tateei debilmente as mãos e continuei até me tocar que elas davam em braços. E os braços estavam ligados á garota mais linda que eu já tinha visto na vida.

Meus olhos se arregalaram ao ver seu rosto. Era sereno e doce, mas ao mesmo tempo muito charmoso. Ela estava encolhido debaixo das cobertas, e agarrada á mim. O melhor... Era que eu tinha quase certeza que ela estava sem roupas.

Dei um jeito de me levantar da cama sem que ela acordasse, e fui correndo para a sala. Minha casa era bem pequena. A sala era um quadrado espaçoso, mas só na medida do necessário. Um pequeno corredor levava até a cozinha, na frente ficava o banheiro, e no fim dele estava o meu quarto, onde ela dormia calmamente.

Eu olhei pela janela da sala e vi o prédio de Kim. Estava um pouco longe, mas nada que uma ligação não conseguisse diminuir a distância.

Eu tinha um largo sorriso no rosto, enquanto digitava apressadamente os números do telefone de Kim.

Chamou um pouco... E ela atendeu.

- Eu consegui! Eu mudei! – Exclamei em um tom que não pudesse acordar a garota que estava no meu quarto.

-... São seis da manhã. A única coisa que você conseguiu foi me deixar com raiva. – Falou Kim em um murmuro mau humorado de quem acabou de ser acordado.

- Eu consegui, Kim! Eu mudei! Minha vida não é...! Kim? – Ela desligou na minha cara.

Ah, não. Nem pensar. Estava animado demais e ela ia ouvir o que eu tinha para dizer. Liguei de novo, e ela atendeu depois do terceiro toque.

- Espero que não seja você. – Disse com voz de sono.

- Kim! – Exclamei baixo – Você tem noção... Do que aconteceu quando eu acordei?

- Tenho medo de imaginar. – Respondeu ela.

- Eu consegui. Estou melhorando a minha vida, Kim. – Disse animado demais para me deixar abater pela indiferença dela – Talvez eu até consiga me mudar para o outro lado da rua!

- Ah Deus, eu espero que não. – Disse ela – Mas o que você fez, Matt? Fala logo.

- Eu fiquei com aquela garota linda que entrou na loja de instrumentos ontem de manhã. – Contei com uma pose triunfal.

- Como assim? – Perguntou ela com seu tom de voz normal.

- Ela está dormindo lá no meu quarto agora mesmo. – Respondi com um sorriso feliz.

- Vocês dormiram juntos. Você... Ficou com uma completa estranha. – Disse ela para ligar os pontinhos.

- Falando desse jeito parece uma coisa estranha, mas... Não é qualquer garota. É aquela da loja de instrumentos. – Disse sentando-me no sofá.

- Ah meu Deus. – Disse Kim não muito animada.

- É isso mesmo. – Concordei com um sorriso.

- Isso quer dizer que... – Eu a interrompi.

- Quer dizer que eu estou mudando! Eu consegui uma garota bonita só para mim, e sem comprar um carro, viu? – Falei sorrindo, mas Kim continuou e ignorou o que eu tinha dito.

- Isso quer dizer que você está falando comigo pelo telefone completamente pelado. – Disse ela com um tom tenso.

- O que? Claro que não. – Neguei, mas então notei que era verdade – Ahm... Não. Nem pensar.

- É... Eu vou desligar. – Kim bateu o telefone na minha cara com força. Revirei os olhos. Eu me levantei e notei que minhas roupas da noite anterior estavam no chão. Eu vestia a calça, e logo um pensamento me veio a mente.

Liguei para Kim novamente.

- Você é burro ou simplesmente não entende qual é a mensagem que as pessoas passam quando desligam o telefone na cara das outras? – Perguntou Kim.

- Ela vai acordar. – Disse tenso – Quando ela acordar, ela pode ir embora e acabou. O que eu faço? Ela... Ela vai sumir para sempre?!

- Pergunta para ela, droga! – Reclamou Kim.

- É sério! Não queria tanto me ajudar?! Então aqui está sua chance. – Disse.

- São seis da manhã! – Exclamou ela – E estamos em um sábado!

- Deus ajuda quem cedo madruga. – Comentei. Sabia que Kim queria me enforcar por aquilo, e sorri. Era por esse e muitos outros motivos que eu amava o aparelho mágico chamado telefone, que nos permite falar com os outros á distância deles.

- Olha... Se quer tanto ficar com ela por mais um tempinho e enganar a sua pobre mente dizendo para si mesmo que sua vida vai deixar de ser uma droga por causa disso, então vai lá e fala isso para ela. – Disse Kim – Agora eu vou desligar na sua cara, e eu juro que se você atender eu vou até aí e enfio ele em um lugar não muito bonito do seu corpo. Tenha um bom dia, Matt.

- Obrigado, Kim. – Respondi.

-... E boa sorte. – Completou ela.

- Valeu Kim. – Respondi sorrindo de leve.

- Você realmente vai precisar. – Kim bateu o telefone com força, mas dessa vez eu não liguei novamente para ela.

Me levantei do sofá pronto para ir até o quarto e tentar falar com aquela garota sobre isso... Mas não seria estranho? Falar para um completo estranho que você quer ficar com ele por um pouco mais de tempo? Tipo... Um namoro?

Estava coçando a cabeça enquanto pensava nisso, quando ela apareceu. Encostou-se contra a parede do corredor com o cabelo levemente bagunçado e vestindo a minha camisa de ontem que ia até metade de sua coxa.

Ela sorriu debilmente para mim.

- Bom dia. – Disse ela.

- Bom dia. – Retribui sorrindo de leve também. Antes que eu pudesse puxar aquele assunto, ela me interrompeu.

- Acho que devemos namorar. O que você acha? – Perguntou naturalmente.

Onde você estava antes de cair do céu bem na minha frente?, pensei.


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Notas finais do capítulo

Certo. Aposto que esse é o sonho de todos os garotos, não é?
Pobre Kim... Ser acordada ás 6 da manhã no sábado. Acho que eu também gostaria de matar o Matt depois dessa.
Espero por reviews, certo?
Bijeos!