- Me matar? – Perguntei.

- Te matar. – Confirmou Kim. Eu passei a mão pelo meu cabelo e olhei para ela um tanto confuso.

- Mas... Matar como? Ele vem aqui com um rifle ou vai passar por cima de mim com um tanque de guerra? – Perguntei sem saber – Tem milhares de opções.

- É, tem mesmo. – Confirmou Kim. Eu estava no andar debaixo da biblioteca, entre algumas estantes, e Kim estava comigo. Eu a ouvira abrindo a porta e consegui colocar minhas roupas antes que tentasse me matar por atos impróprios em lugar público.

Ela estava com uma aparência de sono, como se tivesse acordado mal.

- Aquele idiota foi para a minha casa, foi tudo isso que eu sei. Ele disso que de hoje você não passava. – Contou ela dando de ombros – Ah, dane-se. Até parece que isso dá medo em alguém.

- É porque não é você que não passa de hoje. – Rebati em um murmuro.

- Quer saber? Eu tenho um palpite do que ele vai fazer. Tem 99% de chances de isso acontecer, acredite. – Contou ela. Eu olhei para Kim, e esperei pelo resto – Ele vai mandar um javali atrás de você.

- Um javali? – Repeti achando aquilo estranho. Sem querer, acabei rindo. Kim permaneceu séria.

- Está rindo de que, idiota? – Perguntou ela.

- Javali? Você diz aquele porquinho rosado que fica rolando na lama o dia todo? – Perguntei achando aquilo estranho – Aquele bicho de fazendo que não passa do meu joelho?

- Não. Ele é enorme e feroz. É outro tipo de javali. – Respondeu ela sem ironia nenhuma. Eu assenti.

- Claro. Não teria graça se fosse um porquinho rosado cheirando a lama. – Comentei.

- Ah, não desanime. Ele provavelmente deve cheirar a lama. Esses bichos fedem, não importa o tamanho. – Disse Kim zombando de mim – Sente-se melhor agora?

- Não. – Respondi – Por que acha que ele vai mandar um javali?

- A verdade é que Ares é um cara extremamente sem criatividade. – Comentou Kim dando de ombros – Se ele quer matar alguém, ele manda um javali. Foi assim com Adônis. Até Hércules teve que lutar contra esse bicho.

- Como eles mataram isso? – Perguntei tentando me acalmar. Se duas pessoas tinha lutado contra ele antes, eu talvez tivesse chances.

Kim mordeu o lábio como se a resposta não fosse nada boa. Ela franziu o cenho tentando pensar no melhor jeito de me contar.

- Bem... Adônis não chegou a matar o javali. – Comentou ela.

- Por quê? – Quis saber.

- Porque o javali matou ele antes. – Respondeu. Passei a mão pela testa, completamente tenso.

- E Hércules? – Perguntei tentando ter esperanças.

- Ahm... Ele não matou também. Ele só... Prendeu. – Respondeu ela dando de ombros – Mas não desanime. Prender um bicho desses é mais difícil do que matá-lo.

- É. Quando você é super forte também ajuda. – Comentei revirando os olhos.

- Mas você tem uma vantagem sobre esses caras. Não é uma vantagem física, mas geográfica. – Incentivou ela.

- Que vantagem seria essa? – Perguntei.

- Você mora em Nova Iorque. – Disse ela como se fosse óbvio.

- É. Nós... Matamos javalis para sobreviver desde criança por aqui. – Confirmei em sarcasmo.

- Não, inteligência rara. – Ela revirou os olhos. Kim aproximou-se de meu ouvido e contou o plano. Assim que ela se afastou, eu pisquei os olhos surpreso.

- É isso?! – Perguntei.

- É. – Confirmou.

- Esse é o plano? Mesmo? – Perguntei.

- Sim. – Confirmou ela – Vai por mim. É mais simples e brilhante do que qualquer um que ele poderia ter. Você vai conseguir se seguir o que eu disse.

- Eu... Eu vou tentar. – Disse ainda achando que ela estava de brincadeira comigo.

- Pela raiva daquele idiota hoje de manhã, ele não estava de brincadeira quanto o prazo de tempo. – Comentou Kim irritada – Deve atacar você essa tarde no máximo.

- Ele estava com tanta raiva assim? – Perguntei sem entender.

- Estava. Deve estar de TPM. – Confirmou Kim.

- Deve ser por causa da Alice... – Murmurei lembrando de meu sonho, que agora parecia mais real do que nunca. Kim franziu o cenho para mim, e eu expliquei – A namorada dele o chutou para fora de casa.

- Oi? – Perguntou ela – Como você sabe disso?

- Eu vi no meu sonho. – Respondi achando um tanto estranho. Para a minha surpresa, Kim não achou nada estranho. Me perguntei se ela tivera a mesma experiência que eu – Ele pediu desculpas para ela, e levou flores. Só que Afrodite fez uma pegadinha. Ela fez o buquê jogar tinta na Alice, e ela literalmente empurrou ele para fora de casa.

Kim estava prendendo o riso.

- Ela disse... Nossa, eu fiquei com medo. – Comentei – Ela disse: “Se você mostrar sua cara de novo, eu vou te chutar no meio das pernas até você chorar”.

Kim riu, mas logo ficou séria e olhou para mim.

- Olha, não é só porque ela está sendo super simpática e legal nos seus sonhos que você vai se esquecer que ela faz parte do time inimigo, ouviu? – Lembrou ela.

- Time inimigo? Aquela garota só me salvou até agora. – Comentei.

- Ela está com o Ares! Ponha isso na sua cabeça. – Insistiu Kim – Ninguém merece... Você é inocente demais.

Afrodite desceu as escadas e foi até nós. Ela sorriu para mim, e eu sorri de volta. Estava extremamente linda, e ficar perto dela ainda me deixava um tanto atrapalhado. Kim olhou para ela e depois para mim.

- Ok. Nem tão inocente assim. – Comentou revirando os olhos.

- Vamos dar uma volta agora, amor? – Perguntou ela em um tom doce. Kim fez uma careta.

- Acho que peguei diabetes só de ouvir isso. Se mandem daqui logo. – Disse ela indo para o balcão.

Afrodite fez uma careta de desprezo para Kim, mas sorriu para mim. Ela entrelaçou o braço no meu, e nós saímos de lá. Esperava que Kim estivesse certa quanto ao plano.

 xXx

Devia ser por volta de 3 da tarde quando Ares tentou novamente falar com Alice. Ele até sua casa, e entrou sem bater novamente.

Alice estava sentada no sofá com Apolo. Ele tocava violão e tentava mostrar para ela como se fazia alguns acordes mais difíceis. Ela ria quando ele começava a tocar grande facilidade, e negava com a cabeça.

- Não tem como eu fazer isso. – Disse ela.

- Ah, que isso! Você consegue. – Incentivou ele. Alice estendeu a mão para pegar o violão, quando Ares pigarreou.

- Ahm... Boa tarde. – Disse ele olhando para ela sem graça. Alice sorriu para ele e se levantou. Ela estava pronta para lhe dar um lindo chute entre as pernas, quando ele conseguiu segurá-la – Wow! Sem chutes. Calma!

- Vai embora! – Exclamou ela – Eu disse para não aparecer de novo!

- Eu só quero explicar...! – Ele foi interrompido.

- Uma pena eu não querer ouvir! – Exclamou ela.

- Ora, você é sempre uma pirralha chata, não é?! – Reclamou ele – Só vim para fazer as pazes e você vem gritando comigo, sua lesada?!

- Ah, que lindo! Como se já não fosse suficiente a sua palhaçada de manhã, você veio aqui de novo para poder reclamar comigo! – Exclamou ela – Me faça um favor, e dê o fora.

Ares passou a mão pela testa.

- Será que você nunca vai parar para me ouvir?! – Reclamou ele – Até parece que eu ia me dar o trabalho de fazer uma pegadinha para você! Já vejo você se ferrando todo dia mesmo.

Alice trincou os dentes, e virou-se para Apolo.

- Me dá o violão. – Pediu ela com raiva. Apolo olhou para Ares, e depois para Alice. Ele puxou o violão um pouco para trás.

- Alice... Eu acho que você devia respirar um pouco, e... – Ele foi interrompido.

- Me dá logo a droga do violão! – Exclamou ela com raiva.

- Nossa! Um violão! Estou morrendo de medo. – Zombou Ares. Alice virou-se e deu um chute certeiro no meio das pernas dele. Apolo fez uma careta de dor ao ver a cena, e Ares curvou-se morrendo de dor.

Ele ficou completamente mudo, mas seu rosto extremamente vermelho mostrava que aquilo tinha doído muito. Alice cruzou os braços.

- Eu te avisei. – Foi tudo o que ela falou. Ares deixou-se cair no sofá, e começou a respirar fundo. Ele apontou para ela e abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas como ainda sentia muita dor, fez outra pausa para respirar.

- Tem gelo na cozinha. Se eu fosse você... – Apolo ia sugerir, mas Ares estendeu a mão para ele calar a boca. Apolo tentou não rir dele, e voltou a tocar o violão. Ares estendeu a mão e puxou o instrumento, jogando-o no chão com raiva – Se não queria ouvir música, era só pedir.

Apolo estendeu as mãos em rendição e Ares apontou para Alice novamente. Teve que respirar profundamente algumas vezes, mas por fim conseguiu falar.

- Eu... Eu não quero mais falar com você. – Disse ele ainda sem fôlego – Não vou explicar mais... Droga nenhuma.

- Ótimo. Então tchau. – Confirmou Alice cruzando os braços.

Nesse momento Scott desceu as escadas. Ele estava indo em direção á cozinha, quando Ares virou-se a apontou para ele.

- Eu quero falar é com o Collins. – Disse ele. Scott parou e olhou para Ares, Alice e Apolo. Ele ficou um pouco confuso, e passou a mão pelo cabelo.

- Ahm... Boa tarde. – Disse sem entender.

- Com o Scott? Você odeia ele. – Disse Alice olhando para Ares e achando aquilo ridículo.

- Odeio nada. – Negou Ares.

- Odeia sim. – Confirmou ela e Apolo.

- E só porque eu odeio o moleque, quer dizer que eu não posso falar com ele?! Vem cá agora, Collins! – Exclamou ele apontando para o sofá. Scott andou até lá com um pouco de medo, e Ares o fez sentar-se.

- Ares, deixa de ser ridículo! Só está fazendo isso para não ir embora. – Reclamou Alice.

- A casa não é só sua, benzinho. – Disse ele olhando-a – É dele também. Você não tem o direito de me expulsar, se ele quiser que eu fique.

- Ele quer que você vá embora. – Falou Alice.

- Ah, você quer, Collins?! – Perguntou Ares para intimidá-lo. Ele estalou o punho como se fosse dar um soco em alguém – Vai me expulsar daqui, por acaso?!

- Ahm... Não. Não, que isso! Pode ficar sim. – Disse Scott quando Ares ergueu o punho. O filho de Hefesto se encolheu no sofá – Alice, deixa ele ficar.

Alice soltou um suspiro pesado e irritado. Ares abaixou o punho.

- Ótimo. Se quiser fique aí, filhinha de Hermes. Para mim tanto faz. – Disse ele dando de ombros. Ares virou-se para Scott – Você não acha que as mulheres são literalmente um pé no saco?

- Como é que é?! – Exclamou Alice com raiva.

- Eu perguntei isso para você, por acaso? Não. Agora responde, Collins. – Disse Ares olhando para o filho de Hefesto. Ele olhou para sua amiga e notou que se respondesse a pergunta de Ares, poderia apanhar dela mais tarde.

- Ahm... Não é bem assim... – Murmurou ele com medo.

- Ah, então você não acha chato quando elas complicam a sua vida inteira só por causa de besteirinhas? – Perguntou ele.

- Eu não fiz isso, seu...! – Alice foi interrompida.

- Quer dar licença?! Estou no meio de uma conversa. – Disse Ares como se ela fosse extremamente mal educada.

- É... Bem... Sim. – Respondeu ele.

- Sim?! – Exclamou Alice olhando para Scott com raiva – Você está concordando com ele?!

- Alice eu só... É que... – Ele foi interrompido.

- Ah, ótimo! – Ela olhou para Apolo – Apolo, você não acha que o cara que grita com você, tenta voltar com a ex, e ainda por cima te dá um golpe baixo é um perfeito cretino?!

- Eu não...! – Alice interrompeu Ares.

- Estou falando com o Apolo! – Exclamou ela com raiva. Apolo se encolheu quando ela olhou para ele novamente – Então?!

- Eu... Eu não sei...

- Ah, então você apoia isso?! – Exclamou ela com raiva.

- Não! O que?! Não! Sim, é um grande cretino. – Confirmou ele com medo de ser estrangulado. Ares levantou-se do sofá.

- Tá bom! Perfeito! Então as garotas mimadas que não aceitam as desculpas desses caras são extremamente cabeças duras! – Exclamou Ares olhando para Alice.

- Eu sou cabeça dura?! A culpa foi sua! – Exclamou ela – E não grite comigo!

- Eu não vim gritar com você, mas como sempre você me faz fazer isso! – Exclamou ele – Tinha que ser! Em 3 mil anos, nunca tive uma garota tão irritante e infernal quanto você!

- E eu nunca vi um cara tão idiota e egoísta como você! – Exclamou ela de volta. Apolo e Scott estavam se encolhendo cada vez mais, com medo de se machucarem seriamente por estarem tão perto de uma briga de Alice e Ares.

- Egoísta?! Eu vim até aqui para resolver tudo, e você ainda me chama de egoísta?! – Exclamou ele.

- Ah, resolver tudo! Claro! Como se você realmente se importasse comigo! – Exclamou ela com raiva.

- Claro que me importo! – Exclamou ele com raiva.

- Fala sério, para que veio até aqui?! – Exclamou ela sem acreditar na história dele.

- Vim aqui porque eu quero um jantar com você ás 7. – Respondeu ele. Conforme a briga foi acontecendo, eles tinham chegado cada vez mais perto um do outro. Alice estava extremamente próxima de Ares, e vice versa. Alice olhou diretamente para os olhos dele, e segurou a gola de sua camisa com força.

- Então é melhor ser um jantar muito bom, porque não vai ser fácil me convencer. – Respondeu ela com raiva ainda.

- Eu te pego ás seis e meia. – Disse ele.

- Se atrase, e eu te chuto de novo. – Disse ela com raiva. Os dois se viraram e cada um foi para um canto. Alice subiu as escadas, e Ares foi embora. Scott olhou para Apolo. Ambos ainda estavam com medo.

- Bom... Podemos tirar uma lição disso tudo... – Comentou Apolo.

- Mesmo? – Quis saber Scott – Ahm... Não faça besteira com uma garota?

- Não. – Respondeu Apolo – Se você quer que uma garota aceite sair para o jantar, tenha uma briga com ela.

- Eu tenho medo deles dois. – Murmurou Scott soltando um suspiro.