Escolhido Ao Acaso escrita por Mandy-Jam


Capítulo 10
Mesma história, novo azarado


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem muito desse capítulo. Talvez seja um pouco frustrante no final, mas calma. Com o tempo as coisas vão ser explicadas.
Divirtam-se!



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Kim levantou os olhos para mim, e depois franziu o cenho.

- Você está muito estranho. – Disse ela – Está com tanto medo assim?

- O que? Não. De onde você tirou isso? – Perguntei sem entender.

- Você está usando um sobretudo preto, e um bigode falso. – Falou Kim olhando para mim – Sem falar nos óculos escuros.

- Eu gosto de andar assim. – Falei dando de ombros e fingindo estar completamente descontraído.

- Você acha que ele não vai te reconhecer assim? – Perguntou ela levantando-se da cadeira, e inclinando-se no balcão da biblioteca para poder falar comigo melhor – Matt, isso é loucura...

- Shhhhhh! – Fiz bem alto – Não fala o meu nome! Ficou louca?!

- Porque você não pediu a minha ajuda? – Perguntou ela negando com a cabeça e fingindo estar com pena de mim – Eu conheço uma loja que vende fantasias melhores. Tem uma de ninja que eu tenho certeza que iria te ajudar a se camuflar nas sombras.

- Corta essa. – Disse revirando os olhos. Eu olhei para os dois lados com um pouco de medo e depois passei as mãos pelo cabelo.

- Então você se lembrou dele? – Perguntou Kim olhando para mim séria – Ou o seu cérebro ainda está com um nó?

- Ainda está com um nó. Um nó cego e maldito, que não me deixa pensar, e nem andar na rua sem ter medo de ser fuzilado por uma bombadão de dois metros de altura. – Respondi tenso – Era ele mesmo? O cara que foi na loja?

- Era. E sim, ele tentou te matar. Não, ele não tinha uma escopeta. E sim, ele é o ex namorado psicótico daquela cujo o nome eu não quero mencionar. – Confirmou Kim.

- Legal. Legal. Muito legal mesmo. – Estava começando a roer as unhas. Kim parecia um tanto tensa, embora fosse do jeito dela. Ela não estava me dando foras, ou me incomodando, o que já mostrava que algo estava errado – Como você soube o nome dele?

- Ele... – Kim fez uma pausa antes de continuar – Veio falar comigo. Ontem.

- Como? Ele sabe onde você mora? – Perguntei franzindo o cenho.

- Sabe. Tanto que invadiu meu apartamento. E depois sumiu. – Confirmou ela.

- Sumiu? Ele deu no pé tão rápido assim? – Perguntei franzindo o cenho.

- Não. Literalmente. Ele não usou a porta, a janela, a saída de incêndio, nem nada. Ele sumiu. Só sumiu. – Disse Kim franzindo o cenho também – Isso tudo é bizarro demais para mim.

- Não é só para você. – Neguei com a cabeça. Eu me apoiei no balcão e olhei para ela – O que ele foi falar com você?

Kim me olhou como se eu estivesse morto. Como se estivesse olhando para um defunto dentro de um caixão no dia do enterro.

- Ele disse para eu sair do caminho, porque a única coisa que ele quer é acabar com a sua raça. – Contou ela em um suspiro – Em outras palavras... Ele vai quebrar todos os ossos do seu corpo.

Assenti calmamente, sabendo que o meu fim poderia chegar á qualquer momento. Kim olhou para mim com um tanto de pena, e desviou o olhar.

- Olha. São 10 da manhã. Você não tem que trabalhar naquela lojinha sem graça? – Perguntou ela tentando mudar de assunto. Eu assenti.

- Era. Mas... Eu queria ficar um tempo longe de lá. – Contei – Para confundir a mente dele.

- Acha que ele vai pensar que você largou o trabalho só porque está com medinho? – Perguntou ela – Isso é sinal de fraqueza, sabia? Ele com certeza vai notar isso.

- Kim. O cara é o triplo de mim. Franqueza não chega nem a ser uma ofensa no momento. – Revirei os olhos e saí da biblioteca. Mas antes que chegasse na porta, Kim falou comigo uma última vez.

- Se você sobreviver até o fim do dia, eu te acompanho até em casa. Acho que vai precisar de guarda-costas. – Comentou ela. Eu fingi que não ouvi e saí de lá.

Depois de atravessar as ruas, eu entrei na loja, mas fiquei olhando para cada canto dela, como se do nada algum motoqueiro pudesse pular com um bastão de baseball e me espancar até a morte.

Eu parei atrás do balcão, e achei meio ridículo a possibilidade dele se esconder em um lugar onde até eu apareço. Tirei o bigode falso, mas mantive os óculos escuros e o sobretudo. Tentei esconder meu rosto para que ninguém que entrasse me visse, embora eu não precisasse ter todo esse trabalho.

Estava convencido de que ninguém nunca entrava ali mesmo, mas foi aí que...

- Bom dia. – Disse uma voz de frente para o balcão. Eu dei um pulo de susto e olhei para a pessoa com medo. Ela também se assustou, tanto que deu um passo para trás – O que houve? Eu assustei você?

Era uma garota. Eu suspirei aliviado, e neguei com a cabeça sorrindo de leve.

- Não. Que isso. Imagina. – Eu ri, mas de repente fiquei sério – De onde você veio?!

- Eu... – A garota franziu o cenho para mim . Ela se virou de vagar e apontou para a porta da loja com um dedão – Eu vim daquela porta ali, mas se eu estiver incomodando, posso sair por ela agora mesmo. Problema nenhum.

- Não. Não precisa sair. Na verdade, ninguém entra, então... Ahm... Seja bem vinda. – Disse sorrindo de leve e tentando disfarçar toda a minha maluquice. Ela riu de leve, e assentiu.

- Certo. – Disse ela. A garota pegou um violão que estava levando nas costas em uma capa, e colocou em cima do balcão. Ela retirou a capa, e eu pude ver o modelo da marca Giannini – Olha... Eu acabei, sem querer, arrebentando as cordas. Será que você poderia repor para mim?

- Ah, claro. – Confirmei. Ela sorriu e ajeitou o cabelo castanho bagunçado para trás da orelha. Estava usando um suéter azul escuro, e uma camisa branca por baixo. Eu olhei para o violão e depois para ela – Você está aprendendo agora?

- É. É por aí. – Confirmou ela – Só que não estou me saindo muito bem.

- Deu para ver. – Ri um pouco, e ela revirou os olhos – Estou brincando. Eu acabaria até pior que você se tentasse, sabe?

- Você trabalha em uma loja de instrumentos e não sabe tocar nada? – Perguntou ela franzindo o cenho.

- Eu só vendo. – Eu encolhi os ombros, ele assentiu.

- E eu só tento aprender. Mesmo assim... Pode repor essas duas cordas? – Perguntou ela calmamente. Eu assenti.

- Ah, só vai levar um... Ah! – Exclamei virando o rosto de repente. A garota olhou para mim com os olhos levemente arregalados. Eu respirei fundo – Olha... É melhor você sair daqui. A sua vida corre perigo.

- O que? – Perguntou ela sem entender – O que houve?

- Aquele cara, do outro lado da rua. O grandão furioso. Ele ainda não me viu, e é melhor que não veja. E não veja você, e não veja ninguém. – Disse ficando nervoso. Ela olhou discretamente para o lado de fora, e viu o motoqueiro parado do outro lado da rua, distraído.

Ela soltou um suspiro pesado e olhou para mim.

- Ele está te incomodando? – Perguntou ela com pena.

- Não. Ele... Só quer me matar. – Respondi rindo – Nada demais. Agora... Vai embora. Antes que ele... Ah meu Deus, ele está vindo para cá!

Ares tinha visto a garota, e por algum motivo estava avançando em direção á loja. Para a minha sorte, ele não tinha me visto, por isso me joguei para baixo do balcão e me encolhi como fazia aos meus 6 anos brincando de pique-esconde.

- Você não me viu, ok? – Sussurrei, e a garota assentiu. Olhei por uma pequena TV que tinha debaixo do balcão. Lá mostrava as câmeras da loja.

A garota virou para trás assim que Ares abriu a porta da loja. Ela ergueu as sobrancelhas fingindo estar surpresa.

- Nossa, você aqui? Que mundo pequeno. – Comentou como se conhecesse ele. Ares fez uma careta para ela – Veio comprar uma guitarra bem barulhenta para tocar de noite, ou...?

- Não enche. – Resmungou ele. A garota virou para frente novamente, e alisou o violão em cima do balcão. Ele foi em direção dela com o cenho franzido – O que está fazendo aqui?

- Eu? Eu estava no Empire States. Aí aconteceu um pequeno acidente no meio de uma das minhas aulas, e eu parei aqui. – Contou ela olhando para as cordas arrebentadas – O que você faz aqui?

- Estou atrás de um idiota. – Respondeu ele estalando o pescoço com um movimento simples. Eu tremi debaixo do balcão, mas a garota se manteve calma.   

- Que azar. Não tem ninguém aqui. – Disse ela. Ares ergueu uma sobrancelha para ela, como se pensasse que ela estava mentindo, mas sua expressão não mudou – Eu cheguei há uns minutos, mas não tem ninguém aqui para me atender. Então acho que vou para outra loja.

- Vazia, é? – Disse ele rindo de leve – Medroso.

- Quem? O garoto que está com ela? – Perguntou ela – Veio aqui atrás dele?

- Como sabe disso? – Perguntou ele cruzando os braços e ressaltando todos os seus músculos imensos.

- As notícias voam. Quer dizer que tem um azarado como eu agora? Pretende mesmo repetir a mesma história de novo? – Sorriu ela. Ele deu de ombros, e seu sorriso sumiu. A garota negou com a cabeça de um modo repreendedor – Espero que você entenda que isso é completamente ridículo. Já vimos esse filme antes, não é?

Ele deu de ombros como se aquilo não afetasse ele. Eu comecei a gostar mais daquela garota.

- Deixa ele em paz, Ares. – Pediu ela.

- Deixa ele em paz, Ares. – Imitou ele de implicância – Olha só. Há quanto tempo eu não via isso! Alice Kelly, protetora dos fracos e oprimidos! Realmente muito heróico da sua parte, mas ele já está na minha lista negra. Não tem como sair. Só morrendo, é claro.

Ela virou o rosto como se alguma coisa a incomodasse.

- Você ficou com tantos ciúmes assim? Por ele ter ficado com ela? – Perguntou Alice de um jeito calmo. Ele revirou os olhos.

- Isso não tem nada a ver com você. – Rebateu ele.

- Você está fazendo de tudo para ter ela de volta e isso não é da minha conta? – Riu ela como se aquilo fosse alguma coisa sem sentido. Ele ergueu a mão em sinal de “pare”, e ela parou de falar.

- Nem vem, ok? O meu “eu” em Jersey está sentadinho no sofá esperando você voltar para casa. Ele é todo seu, mas você não tem o direito de exigir que minhas outras partes sejam também. – Disse ele como se aquilo fizesse sentido. Ela suspirou e tocou algumas notas no violão com a ponta dos dedos.

- Eu exijo cordas novas, mas acho que não vou conseguir, não é? – Comentou. Ela ficou com um ar um tanto cansado, e Ares notou isso. Ele segurou sua cintura e a puxou contra si. Ele segurou o queixo dela e o puxou para cima, de modo á olhá-la nos olhos.

- Ah, não fica assim. Você ainda é todinha minha. – Ele ia lhe dar um beijo, mas ela desviou o rosto, e ele acabou beijando a bochecha dela.

- Sou. Mas só do seu “eu” em Jersey. – Alice o empurrou para trás, e ele fez uma careta irritado.

- Incrível como eu me sempre me esqueço que você é uma pirralha irritante. – Disse ele fazendo uma careta – Se você ver o idiota do Harris, diz que ele não vai fugir de mim por muito tempo.

Ares saiu da loja irritado como sempre, e a garota olhou para baixo do balcão.

- Ei. Pode sair daí. – Disse ela calmamente. Eu dei um pulo de lá com mil dúvidas na cabeça, mas a que não queria calar era...

- Você é a namorada dele?! – Perguntei chocado. Eu imaginava ele saindo com uma garota como Ashley. Toda produzida, um tanto mimada, e extremamente atraente. Ou talvez uma garota cheia de tatuagens e pircens pelo corpo. Mas ela era completamente diferente. Usava roupas normais, era simpática, e tinha um jeito delicado e discreto.

- Só em Jersey pelo visto. – Comentou ela desviando o olhar, mas depois ela olhou para mim curiosa – Você é o tal de Matt Harris?

- Sou. – Confirmei – Sou eu sim, e... Ah meu Deus, você namora ele!

- É. Nem eu acredito. – Confirmou ela – Ahm... Prazer. Alice Kelly.

- Matt... Harris. Você é a namorada dele. – Disse ainda chocado. Ela passou a mão pela testa calmamente, e depois olhou para mim.

- Pela terceira vez... Sim. Mas esquece isso. Isso não muda nada para você. – Falou ela negando com a cabeça.

- Não? Bem... Você podia falar com ele! Podia fazer ele esquecer a Ashley, e me deixar em paz! – Pedi em desespero. Ela franziu o cenho para mim.

- Ashley? Quem é Ashley? – Perguntou ela sem entender.

- A ex dele. A minha namorada. – Falei franzindo o cenho. Ela fez o mesmo, e parecia que nós dois estávamos falando línguas diferentes. Alice olhou para mim, e depois parou para pensar.

- Você... Matt. Olha. Você sabe quem ele é? – Perguntou ela.

- Ele... É um motoqueiro selvagem que quer me matar. E é o seu...

- É, eu sei. Meu namorado. Realmente chocante, mas... Além disso. Você sabe quem ele é? – Perguntou ela como se houvesse uma outra resposta. Eu neguei com a cabeça. Ela arregalou os olhos para mim, chocada, e acabou falando consigo mesma – Que covarde! Então é verdade?! Você não tem nada a ver com a gente?!

- Com vocês quem? – Perguntei sem entender.

- Ahm... Esquece. – Ela negou com a cabeça e depois olhou para mim com pena de novo. Era a segunda pessoa do dia que me olhava como se eu fosse um defunto – Escuta. Eu já tive problemas sérios com ele. Mesmo. E com ela também. E se tem uma coisa que você precisa entender, é que esses dois são encrenca. Eles infernizam as pessoas por milhares de anos. Você não pode entrar no caminho deles.

- Mas eu... – Eu não sabia o que falar.

- Termina com ela. – Disse Alice – É o melhor que você pode fazer para acertar as coisas. Fica longe dele, e principalmente da Afro... Er. Ashley. – Disse Alice devagar – Você não pode vencer deles.

Eu parei para pensar um minuto.

- Como você sabe disso? Como sabe... Disso tudo que está acontecendo? – Perguntei achando isso estranho. Ela abriu a boca para responder, mas então fechou-a novamente. Eu franzi o cenho – Você sabe disso. Sabe que loucura é essa que está acontecendo, não é? Sabe de tudo.

- Eu não sei... Se eu posso te contar. – Disse ela incerta.

- Eu preciso saber. – Pedi olhando para ela – Me fala.

Ela olhou para mim, e negou com a cabeça. Suas mãos tocaram o violão em cima do balcão, e seus olhos encontraram os meus.

- Repõem as cordas para mim. Concerta o que tiver que concertar, faz tudo que precisar. Isso pode levar um tempo, sem problemas. Se depois de tudo isso, você ainda tiver alguma dúvida... Eu respondo. Mas não posso te ajudar mais do que isso. – Ela me deu uma nota de vinte – Toma. Fica com o troco, se tiver. Eu volto depois.

- Ei, espera! – Exclamei, mas ela saiu correndo da loja. Eu olhei para o violão, e depois olhei para a porta que tinha acabado de fechar. Alguma coisa estava extremamente errada, e já estava na hora de descobrir o que era.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Na dúvida, sempre se escondam embaixo do balcão! Hahaha.
Espero por reviews, sim? Vou respondê-los! Yeeeeah!
Veremos agora se a Kim consegue descobrir alguma coisa também. Ao menos o Matt conhece alguém que pode dar conselhos para ele agora.
Até o próximo capítulo!