Meu sangue gelava a cada instante, meu coração palpitava de medo e meus olhos se enchiam de lágrimas agonizantes. Olhei novamente no calendário que estava do meu lado da mesa de trabalho e nada era mais certo do que está data.

7 de Setembro

Nada era mais certo... De que eu o amava. Sim, aquele maldito português de olhos esverdeados e sotaque ridículo, nada era mais certo que isso, nem minha própria existência era mais certa do que isso.

Ding Dong

Meu corpo petrificou-se e meus olhos úmidos se focaram na porta do hall de entrada. Não precisava ser um vidente para saber quem estava do outro lado da porta, não precisava nem se quer ter boa audição para conseguir escutá-lo gritando.

Gritando pelo meu nome.

- MARIANA! MARIANA! ABRA A PORTA, POR FAVOR! – Gritava uma voz grossa do outro lado da porta.

Minhas lágrimas começaram a queimar e minha mão vacilou sob a maçaneta da porta. A porta se abriu e eu só consegui cair ajoelhada neste momento. Minhas lágrimas embaçavam minha visão e a única coisa que eu conseguia ver era um homem de olhos verdes fitando-me com um pequeno sorriso nos lábios.

- Mariana...

O homem moreno se ajoelhou ficando da minha mesma estatura. Meu corpo tremeu e minha cabeça foi jogada para frente quando senti que o português me abraçava.

- L-Luciano? – Pronunciei soluçando.

- Acalme-se, Mari, por algum acaso suspeitava de minha ausência? – Sorriu o português enquanto limpava minhas lágrimas com doçura – Achou mesmo que eu esqueceria a pessoa mais importante para mim?

- T-TIRANO! – Berrei sendo mais prensada ainda contra o corpo do português – VÁ PARA O INFERNO! V-VOLTE PARA SUA CASA! VOLTE P-PARA SUA MALDITA CASA!

- Mari.

- NÃO QUERO OUVI-LO! – Disse tampando meus próprios ouvidos – VÁ EMBORA! VÁ E NUNCA MAIS VOLTE!

O português afastou minhas duas mãos de meus ouvidos e roçou os lábios na pele de meu pescoço me fazendo suspirar. Como aquele português consegue ter lábios tão suaves?!

- Mari, eu venho te fazer um pedido.

- Vá embora! – Solucei sem forças – Nunca existirá um pedido seu q-que eu co-consiga a-acei-...

- Case comigo?

Olhei surpresa e com os olhos arregalados para Luciano, seus olhos verdes mostravam um brilho intenso e sua pele morena ganhou um tom rubro e irresistível ao toque.

Sem esperar uma resposta, o português atacou meus lábios em uma urgência imensa, pude sentir claramente a suavidade daqueles pequenos pares de lábios que eu um dia amei. Talvez eu estivesse sendo rude comigo mesma por pensar que eu o “amava”, afinal de contas eu ainda não o amo? Não foi culpa dele eu existir? Não foi culpa dele meu amor pelo mesmo?

- Amo-te, Mariana – Sorriu o português.

- T-Te a-amo, Luciano – Senti minha face arder ao fitar seu rosto novamente – P-Por que v-veio m-me p-pe-pedir isso só hoje?

- Porque eu me lembrei...

Luciano passou sua mão suavemente pelo meu rosto e segurou uma pequena mecha de meus cabelos enquanto encostava os mesmos nos lábios me fazendo corar.

- Eu me lembrei que sem você eu não sou ninguém. Mari, você aceita meu pedido?

- TIRANO! MAS É CLARO QUE EU ACEITO!

Pulei em sua direção sorrindo em meio às lágrimas. Meus lábios se juntaram novamente com os dele e seu sorriso bobo tomou conta de minha atenção.

- Como sempre... Exagerada...

- Cala-te! Ou peço divórcio no primeiro dia! – Brinquei enquanto continuava deitada sobre o português.

- Mari.

- O que quer?

- Deixe-me violá-la?

A mão direita do português abaixou minha cabeça enquanto o mesmo mordiscava minha orelha.

- TIRANO!!! REI DAS ANTAS!!!

Pulei para o chão e espanquei o português com algum pedaço de madeira que achei por ai.

- Mari!  AI! Isso dói sua maldita! AI AI! Aonde você arranjou essa coisa?! Merda, Mariana! – Agonizava o ser espancado.

- Morra junto com seu país infestado de antas, medíocre servo!

Eu estava muito ocupada espancado o português com um toco de madeira e só fui capaz de notar “flashes” fotográficos quando fitei a porta esquecida aberta com um chileno e um argentino parados ali.

- Cuidado con la muchacha! – Berrou o chileno para o argentino que tirava as fotos.

- HERMOSA POSE! – Gritou o argentino verificando as fotos.

- EU MATO VOCÊS DOIS! SEUS LATINOS DESGRAÇADOS!!!

O toco de madeira que antes estava em minhas mãos voou diretamente para a testa do argentino que caiu no chão imóvel.

- LA MUCHACHA ES LOCA!!! – Berrou o chileno moreno de olhos castanhos.

- Só perceberes ahora? – Falou falhadamente o argentino baleado pelo toco.

- VÃO EMBORA AGORA MALDITOS!!!

Ergui nas mãos outro pedaço de madeira e joguei novamente na testa do argentino.

- POR QUE SÓ EU SOU ACERTADO? – Indignou-se o argentino.

- Porque é um idiota! MORRA! – E lancei outro toco na sua direção.

Luciano assistia todo o (homicídio) ataque com muita calma, seus olhos verdes ainda fitavam-me com admiração e só pude perceber isso depois de expulsar os dois latinos de minha casa.

- É forte – Comentou o português assustado.

- O bastante para te matar – Acrescentei em fúria.

O português riu e me puxou para si possessivo, depositou um leve selinho em meus lábios e sorriu em seguida.

- O bastante para me deixar apaixonado.

- Te odeio... – Minha voz indicava o contrário, pois eu estava completamente submissa pelo maldito das antas.

- Chega de besteiras, Mari, deixe-me ser seu, amor.

Corei violentamente e tentei debater-me em seus braços.

- Não se pode brincar com você.

- ME SOLTE TIRANO! – Berrei em prantos.

- O seu tirano...

 Disse por fim o português antes de beijar-me calorosamente em uma leve valsa que acontecia entre nossos lábios. Apenas me deixei levar agarrada contra seu casaco negro de couro.

Ninguém poderia ser melhor...

Do que o meu odioso amado.