Como Nascem os Centauros escrita por Alex_PS


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Backgroud do personagem de D&D Trebane Vincent Ironbones, inspirado no romance de Tormenta o Crânio e o Corvo.



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Aquela era apenas mais umas das inúmeras vilas sem graça que existiam em Arton. Muito pouco se tinha pra fazer, alguns então, pareciam apenas furnicar e furnicar por entre ruelas escuras em todo o tempo livre que possuíam.

É de um desses momentos de ócio que a história de nosso protagonista tem início.

Sua mãe era uma vadia e, portanto, não convém citar-lhe o nome aqui. Trabalhava quase que unicamente para pagar pelos serviços dos Clérigos que a curavam das doenças contraídas e das dores e mazelas adquiridas das parideiras seguidas. E para sobreviver.

Como se sua segunda função fosse, apenas parir, já que a primeira era roçar-se pelos braços de quantos homens estivessem dispostos a pagar-lhe, ela estava mais uma vez grávida. Exibia uma barriga de algo em torno de oito meses ou mais. Sentia as contrações cada vez mais fortes e freqüentes. Não deveria ter aberto sua banca de carnes naquela manhã. Mas abriu.


Não tardou para que o líquido viscoso lhe escorresse por entre as pernas. E com a mesma mão com a qual tratava as peças, tocou suas partes para então perceber que a bolsa havia se rompido.


Em meio a tripas de cervos, cabeças de coelhos, escamas de peixes, seu filho viria ao mundo. Não que aquilo lhe importasse, já que não seria a primeira vez. Este seria apenas mais um, que ela tinha a certeza, que nasceria morto. Suas entranhas já não sustentavam gravidez alguma.


Ela acomoda-se, então, em meio a toda sorte de imundícies e podridão. Aquele lugar não parecia ser limpo havia dias. Talvez nunca tenha sido. E definitivamente não era um lugar apropriado para qeu alguém parisse. As contrações causavam-lhe dor como se fossem estocadas de adagas perfurando-lhe a carne. O feto estava vindo.


Empurrando-o com os músculos do estômago, fazia força descomunal para livrar-se daquilo que, diante da tal insignificância que tratava, poderia ser um excremento qualquer.


As pessoas estavam tão preocupadas com seus afazeres que ninguém notava o que acontecia naquela barraca tão deplorável.

A mulher, já inchada de fazer força, encontrava-se exausta agora e gritava, para si, toda sorte de palavrões clamando para que aquilo terminasse. A criança chutava e se contorcia. Parecia dar-lhe excessivo trabalho.


Rosto crispado. Ela rangia os dentes. Rosnava gritos contidos, não queria chamar atenção. E o líquido agora era sangue. As forças esvaiam-se de seu corpo, não conseguia, sequer, forçar a saída daquilo que considerava um estorvo. A criança começava a despontar, pela cabeça, talvez por mérito próprio. Mas mulher sabia que morreriam os dois se nada fizesse e, pretendendo continuar viva, reunindo suas últimas forças, sabe-se lá de onde, forças últimas que só reúnem os que estão desesperados, dispara a contorcer-se e a empurrar-lhe mais uma vez. Comprimia a barriga com as mãos. Parecia que os tendões rompiam-se por dentro e as veias estouravam, e com esforço de ambos, a criança também lutava, ela expulsa aquilo que habitara seu interior, lhe incomodando, por meses.


Ainda sentada e sem forças ergue a mão, fraquejada, à mesa de trabalho e agarra a faca de corte das carnes e com ela corta o cordão umbilical. Era seu único, e último, elo com a criança.

Já não era mais.


O bebê não se mechia nem chorava. Ela o empurra para junto dos detritos da barraca, com o descaso que só quem já fizera aquilo inúmeras vezes poderia ter. E Levanta-se. Semimorta. E torna a trabalhar. Agarra uma galinha qualquer pelo pescoço e trabalha-a com a mesma faca que usara para desligar-se de mais um filho.


Aquele seria apenas um novo numero na contagem, que certamente ela já não se recordava, de coisas fracas as quais morriam ao parir.

Não travasse ele batalha consigo mesmo, a sua primeira: pela vida.


Não estava escrito que ele morreria, pelo menos não ainda. Aquele não era seu fim. Só precisava provar ser forte. E era. Abriu os olhos e desatou a chorar. Chorou pela vida.


Sua mãe sentiu as entranhas congelarem com o resto de sensibilidade que possuía. Não queria, não iria e não poderia criar aquela criança. Fugira deixando-o à mercê da sua própria sorte.


E o bebê berrava mais alto, parecia denunciar o que acontecia ali. Os transeuntes rapidamente percebem o que acontecera vendo-a fugir.


O primeiro som que emitiu levou sua genitora à forca.

Chorou pela morte.


Enquanto os patéticos cidadãos amontoavam-se a jogar pedras e insultos à mulher, um homem preocupava-se com o bebê. Era Sephirus Ironbones, um druida que cruzava a vila. Toma o garoto aos braços e chama-o de Trebane, que significa “Aquele que vence a morte” em idioma antigo, e o leva consigo. Não havia mais choro.


Trebane foi levado para a vila daquele homem e sua senhora, prontamente, pôs-se a cuidar-lhe, e o menino cresceu. Cresceu como um legítimo Ironbones.


Era um garoto formidável. Disciplinado, forte e determinado. E por isso era constantemente alvejado de olhares de canto de olho, carregados de ciúme, inveja e ódio. Todos sabiam que Trebane não era um verdadeiro filho da vila. O tempo passa e a hora de iniciar seus estudos druídicos chega.


Alguns deliberavam com o conselho sobre ele não poder entrar para a Ordem, mas o garoto era tão brilhante por si só, que não aceitá-lo não era uma possibilidade.


A tradição dizia que o jovem deveria permanecer recluso durante a jornada. Os métodos eram conhecidos apenas pelos iniciados, seus pais não o veriam por muito tempo.


E aos 14 anos, como todos os outros garotos de sua idade, Trebane dava início aos seus treinamentos da Ordem. Eles tinham a tradição de presentear os jovens homens com potros que se tornariam seus companheiros animais, aos quais deveriam cuidar.

E que cresceriam juntos.

Ficando mais fortes.

A cada novo dia.

A força do garoto era provada a cada inimigo abatido, sua sabedoria provada a cada conflito sanado. E ele crescia mais e mais. E ele era cada vez mais bem visto aos olhos dos demais.

Os senhores agora apontavam-no como prodigioso, os jovens amontoavam-se ao seu redor na tentativa de serem um pouco como ele, enquanto que as jovens suspiravam ao longe.


Era impressionante como o jovem sempre era um bom exemplo em tudo, era forte, era amigo, era leal. E era líder. E, quase, ninguém contestava.


Haviam ainda aqueles que lhe lançavam infortúnios, mas muito poucos ousavam desafia-lo cara-a-cara.


O tempo passa novamente e agora Trebane já é um adulto. Rosto firme exibindo um olhar de confiança e serenidade, costas retas de orgulho, ombros largos que poderiam sustentar o mundo. Carregava no punho uma cimitarra. No peito nu, um medalhão de Alihanna. E na alma a determinação necessária que o tornaria o que quisesse. Era uma muralha em forma de gente, mais sólido que aço. Era, agora, um Druida.


Seu cavalo era tão impressionante quanto ele próprio. Possuía nome, Vincent. E possuía nome de família também, Ironbones. Nunca se vira aquilo. Tamanha era a sinergia dos dois, Trebane chamava-o de irmão e tratava-o como tal. Juntos eram imbatíveis, como se um fosse extensão do outro, pareciam saber o que cada um deveria fazer a cada movimento.

A admiração por homem e cavalo crescia no coração de muitos, enquanto que de alguns outros, poucos, crescia o ódio.

Trebane era o melhor Druida, tinha o melhor cavalo. Era líder. Mas não pertencia ao povo. Foi alvo de emboscada.


Vincent diariamente trotava sozinho pelos arredores, por volta da metade do dia, como se fizesse uma ronda. Mas naquele dia ele tardava a retornar.


Trebane sai à sua busca invocando todos os aliados aos quais poderia, informando-se com carvalhos e esquilos; e cerejeiras e coelhos. Eles falavam em Drows e em Vincent sendo carregado.

Falavam de morte e de sangue.


Ajudado por algumas dezenas de cães e cervos; e águias e cobras, chega a uma clareira. Saudando-lhe, o corpo de três Drows.

Houvera luta.

O cavalo ao centro, caído, envolto numa poça de sangue. Ele aproxima-se, pronto para curar-lhe as feridas, quando é alvejado. Uma tocaia.


Outros três Drows aparecem, ele desesperadamente luta. Sua segunda batalha: pela vida do irmão.


A vantagem numérica do inimigo era considerável, contudo, a força de Trebane venceria.


Ele invocava pássaros gigantescos, matilhas de lobos selvagens e ele próprio era um urso cinzento. Os Elfos corrompidos não foram menos que estraçalhados.


Restava-lhe apenas pouco que pudesse fazer com o poder que Alihanna lhe concedia, ele pede que Vincent tenha os talhos na carne fechados, enquanto ele próprio era uma mancha vermelha.


Não possuía mais milagres.

Quase não possuía mais vida também.

Mas tinha fé.

E força.

E carregaria o cavalo até a vila.


Ele era apenas um sopro de vida, e Trebane sabia disso. Ao longo das horas que caminhou, o mais rápido que pode, lembrava-se de uma profecia que seu pai contava quando era criança.


Haveria um homem, um Druida. E haveria seu companheiro animal, um cavalo. Os dois seriam tão cúmplices que chegariam a ser um só. E Alihanna de certo os fariam um. Para serem seu mensageiro pelo mundo.


Se existisse uma possibilidade, Trebane a tentaria.

O cavalo já não era mais sopro de nada, ele não agüentara a viagem. Chegou morto à vila depois de horas de sofrimento.

Já era noite.


O Druida, então, leva-o para o altar dedicado à deusa de sua vila, precisava orientar-se com o conselho druídico. Havia uma possibilidade. Contudo, não fossem eles aceitos pela deusa, Trebane também morreria. O Druida tentaria tudo. Arriscaria morrer se houvesse uma chance, ainda que fosse ínfima, de salvar o irmão. Orava para a deusa pedindo para o companheiro o dom da vida uma outra vez. Conversava com o cavalo, aos prantos, como se tentasse o acalmar, acariciava sua crina enquanto os Druidas executam o ritual antiqüíssimo.

Todos comoviam-se com o desespero de Trebane. Inclusive Alihanna.


Uma mulher linda com a cabeça de mil animais surge ao centro do altar, sobre os dois, e lança-se em direção a eles. Um clarão de luz encandeia todos. Eles foram aceitos.

E renascimento.


Trebane e Vincent que sempre foram um em alma, agora eram um em corpo. O corpo de Vincent seria apoio para o tronco de Trebane.

Renascera como Centauro, como dizia a profecia.

Trebane agora era vida, alegria, animação.

Nunca fora de divertir-se em festas. Não bebia, era sempre muito resoluto. Era outro. Era novo, nova vida.

Novas perspectivas.

Nova missão.

Não tardaria a ter que deixar a vila. Não sem antes descobrir o traidor, que lhe lançara aquela emboscada, e punir-lhe.

Permaneceu dois ou três meses na vila enquanto o conselho deliberava sobre quem seria o novo líder. E após isso, partiu.

Nunca escolhera a vida de aventureiro, mas aceitava e agradecia, numa maneira de através dele próprio divulgar os dogmas da igreja de sua deusa.

E encontrou amigos pelo mundo. E formaram uma equipe.

E a história de nosso protagonista apenas começa.


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