Ele me jogou uma arma.

- Essa é uma... - Ele começou e foi eu que terminei:

- Desert Eagle Calibre 44. 

- E coloque essa no bolso. - Ele falou meio maravilhado por eu saber o nome da arma e me deu uma Calibre 22. Coloquei ela na bota e amarrei a bota rente a minha perna, para a arma não cair.

Depois ele me mandou esperar que ele ia arranjar uns alvos, por um segundo me perguntei se um dos escolhidos seria a Leticya.

Me sentei ao lado de Sam no tronco de árvore curvado que parecia mais um banco de madeira defeituoso, analisei os detalhes da arma, olhei se as balas estavam no lugar  e engatilhei.

Olhei para frente e vi Leticya encostada na árvore a minha frente mexendo no celular, longe o bastante para não ouvir-nos.

- Ela não larga o celular. - Percebi e sem querer deixei fluir pelos meus lábios.

- O que ela esconde? - Sam disse a analisando, até de mais.

- Você acha que ela esconde algo? - Perguntei com medo da resposta.

- Você acha que ela é a mesma? - Ele perguntou, mas para mim soou como uma resposta: Sim.

- Estou pronto! - Dean disse após de alguns minutos de espera e percebi alguns alvos colados nas árvores.

Onde diabos ele arranjou aquilo?

- Tem 20 desses espalhados pelas árvores, o centro vale 10 pontos, o mediano 5, e o maior 1. Vamos começar.

O alvo era composto por três circulos vermelhos, e como Dean disse, tinha o menor dentro do mediano que era dentro do maior.  

 - Ahn, ok, e eu não vou nem perguntar aonde você arranjou esses alvos... - Respondi indo em direção ao primeiro, peguei a Eagle e atirei em cheio no centro do alvo, 10 pontos.

- Uau. - Ouvi Sam.

Me dirigi ao banco que Sam estava sentado, larguei minha jaqueta e rumei de encontro a Dean.

- Calma Dean, você ainda tem chances. - Falei sárcastica e sorridente acariciando seu ombro como se fosse um consolo.

- Eu não esperava nada menos. - Ele disse enquanto atirava quase que sem mirar o centro do alvo.

E como eu, ele parou em minha frente com um sorriso sárcastico no rosto e acariciou de leve minha bochecha.

Ele andou cerca de quatro passos e parou para dizer me olhando sobre o ombro:

- Ainda temos mais 19 alvos floresta a dentro. - Ele sorriu e eu posso jurar que vi malícia nos seus olhos, ignorei e passei na frente dele deixando ele com seu sorrisinho besta no rosto.

- Vão com fé! - Ouvi Leticya gritar e ri do seu jeito de me incentivar, o mais estranho era que sempre funcionava...

As vezes ela parece tão... Ela.

Me dirigi ao banco que Sam estava sentado, larguei minha jaqueta e rumei de encontro a Dean.

PDV Leticya

- Vão com fé! - Gritei me lembrando que sempre que Stephanie precisava de incentivo eu gritava isso para ela, é idiota, mas fazer o que se funcionava?

Olhei uma última vez para ter certeza que ele havia mensagem nova (o que foi meio frustrante) e guardei meu celular no bolso da saia de cintura alta de couro que eu simplesmente havia me apaixonado e sentei ao lado de Sam.

- Quem você acha que vai ganhar? - Sam perguntou estranhamente analisando minhas expressões.

- Ahn, eu não sei, sinceramente. - Falei encarando o chão.

- Eu... Posso te falar uma coisa? 

- Claro. - Olhei para ele o analisando e foi a vez dele de olhar o chão.

-Não magoa a Stephanie. - Ele me pegou de surpresa.

- Por que eu faria isso? - Perguntei e ele ignorou minha pergunta continuando a falar:

- Quando você foi embora ela achou que não ia conseguir mais nada, muito menos salvar o mundo. Ela quis desistir Leticya, e sabe por que?

- Por que ela quer o Lucas para ela, assim como você e Dean. - Ironizei.

- Por que ela precisa de você. Ela precisa saber que você está lá para ajudá-la, você é a bengala dela. - Ri com a comparação, e eu não fiz nenhum esforço para isso acontecer. Por fim ele completou:

- Ela se sente como eu sem o meu irmão, se você não está perto.

- Sam... - Comecei mas afinal o que eu ia falar? Se ela tivesse me dito tudo isso antes faria tão mais importância, a verdade é que era estranho, mas a verdade era que tudo isso parecia um pouco banal. - Pode deixar comigo.

Sorri e não sei se aquilo soou verdadeiro, por que eu não sei se foi.

Tudo tem acontecido muito rápido, e ao contrário de antes eu não me sinto triste ou algo do tipo, eu me sinto forte o bastante para lidar com isso.

- Acho que Dean vai ganhar. - Sam disse por fim sorrindo, o que me fez pensar que o meu sorriso foi verdadeiro.

Dean... Dean me desperta uma ira desconhecida dentro de mim, parece que tudo que ele fala ou faz é errado, quando ele abre a boca eu me preparo para o estrume que vai sair, e acima de tudo respiro o mais fundo possível para não causar-lhe a dor que eu fiz ele passar no dia em que Lucas apareceu no quarto de motel.

Meus poderes ainda são desconhecidos e quase incontroláveis para mim, sei que tenho poder dos 5 elementos: Vento, Terra, Água, Fogo e Espírito. Também sei que no dia em que desejei que a balconista do bar se afogasse com bebidas, ela quase se afogou.

Me peguei tendo pensamentos maldosos em relação a Dean, isso é errado? Meus devaneios foram interrompidos pelo toque do meu celular: Moves like jagger - maroon 5.

Olhei no visor e sorri com o que vi.

- Ahn, eu vou atender ali. - Avisei Sam e apontei para um emaranhado de árvores altas e finas.

Quando eu estava a dois passos de adentrar o emaranhado Sam perguntou:

- Ei, quem é? 

- Ahn... Minha mãe. - Sorri e adentrei o emaranhado.

- Alô? - Falei sorrindo.

- Preciso falar com você. - Falou sério.

PDV STEPHANIE

Caminhamos pela floresta durante uns 3 minutos e eu devo ter acertado uns 7 alvos nesse meio tempo. Dean também.

Enquanto andavamos Dean amarrou sua camisa jeans na cintura ficando com uma camiseta preta que deixava a mostra seus musculos.

 - Ei ei, calma ai - ele segurou meu braço me fazendo parar. - Atire daqui. - apontou para uma arvore na qual havia um alvo que estava a uns 100 metros de distância da gente. Suspirei e amarrei meu cabelo.

- Está calor aqui, não? - ele sorriu maliciosamente e enquanto se aproximava de mim. Quando nossos corpos estavam separados por não mais que 3 centrimetros, olhei bem para seu rosto.

- Sim. - disse e atirei no alvo, enquanto ainda olhava para o rosto de Dean. Dean levou um leve susto e sacudiu a cabeça. Olhou para o alvo e lá estavam mais dez pontos. 

Nos emaranhamos na floresta e atiramos durante mais alguns 15 minutos e começamos a voltar. Dean sabia exatamente o caminho. Bom, eu esperava que ele soubesse. Enquanto andavamos perguntei.

- Terminou? 

- Ainda falta mais um alvo - ele sorriu ironicamente. 

De repente ouvimos um barulho de folhas sendo pisoteada calmamente e uma voz que falava ao telefone. A uns 200 metros a nossa frente, levemente para a direita, vimos Leticya falando ao celular escostada em uma árvore. Ela tapava levemente uma ponta do alvo. Continuamos quietos sem fazer barulho, ela parecia não ter nos visto. 

- Atire. - Dean disse calmamente apontando para o alvo.

- Mas... 

- É um alvo - ele disse e se reencostou em uma arvore, cruzando os braços.

 Apontei a arma para o alvo. Suspirei e hesitei. Continuei hesitando.

- É pra hoje.

 - Eu não posso. - anunciei derrotada abaixando a arma.

- Você não confia em você mesma? 

- Não é isso. E se eu ficar nervosa e atirar sem querer nela?  

- Isso não existe.

Respirei fundo e tentei manter a calma.

- Bom, empatamos. O que quer dizer que nem eu nem você precisa fazer alguma coisa. - disse um pouco aliviada. 

Ele me olhou como se disesse "não tem essa" e puxou uma arma do cinto e atirou no alvo. Bem no meio. Leticya deu um alto pulo por causa do susto, e se encostou na arvore como apoio para não cair. Confesso que foi a primeira vez que vi aquilo. 

- VOCÊ ESTÁ LOUCO?? - ela disse caminhando em nossa direção, mais em direção a Dean. Ele sorriu para mim como quem debochava da cara dela, e se virou para ela cruzando os braços. - OU VOCÊ QUER ME MATAR! DAS DUAS, UMA. - ela gritava.

 - Corta essa. - Dean disse e me puxou para seguirmos em frente. Confesso que não consegui controlar e dei uma leve risada comigo mesma enquanto Dean me puxava. De repente nós paramos.

-Mas oque...? - Ouvi ele sussurrar olhando para o seus pés, vi raízes enroscadas no seu pé.

- Eu posso te matar como um inseto, Dean. - Leticya falou e eu me virei em direção a ela, vi o mesmo lampejo escarlate nos olhos dela que eu havia visto dias atrás.

Ela estava com o punho cerrado na altura da barriga, ela torceu o pulso e Dean reprimiu um grito.

- Você não vê o que eu posso fazer? - Ela falou enquanto eu reparava que as raízes estavam quase tirando o pé de Dean do lugar.

- Leticya, para. - Falei tentando acalmar todo mundo ali, porém a mais nervosa de todas era eu.

- Você quer saber, Dean? Eu aprendi alguns truques novos. - Senti a ira dela passar por todo seu corpo, e com uma leveza e agilidade ela fechou os olhos e puxou o punho cerrado para baixo, como se puxasse uma corda.

Dean caiu de quatro no chão, me ajoelhei ao seu lado.

-Dean? Que que houve? O que está acontecendo? 

- Está queimando! - Ele falou baixo e arfando.

Dean olhou para Leticya com um olhar fulminante, tão quente quanto água fervente. 

- Filha da mãe - ele disse cerrando os dentes. 

- Leticya você está botando fogo no Dean? - Gritei. - Para! E como se em um reflexo, fiz o que aprendi, joguei Leticya na árvore com os meus poderes, porém Dean não melhorou.

Vi o escarlate dos olhos de Leticya se dissolver rapidamente, como uma lâmpada que se apaga, posso jurar que vi um lampejo verde nos seus olhos ao tocarem a terra, pensei que ela abriria um enorme buraco ali mesmo, e que o buraco fosse engolir a mim e Dean.

- Desculpa. - Vi ela sussurrar para Dean, e creio que ele não ouviu, não sei nem como eu ouvi!

As raízes se aflocharam, vi o mesmo lampejo verde dos olhos de Leticya brilhar fracamente em baixo da palma de Dean, que se apoiava no chão, e assim que isso aconteceu ele relaxou, suspirou e se levantou, como se nada tivesse acontecido.

- O que diabos aconteceu aqui? - Perguntei incrédula.

Olhei para trás e não vi Leticya, e olhei para a frente e vi o começo da floresta. Nossa saida. 

- Vem. - Ajudei Dean a levantar e inacreditavelmente ele falou:

- Eu ganhei. 

- Notei. - respondi como o óbviu que aquilo era. 

- Você tem que me beijar. 

Ele me olhou maliciosamente e confesso que gostei. Confesso que eu queria beija-lo. Você deve estar pensando "claro você sempre quer beijar todos. Você sempre beija todos!" Mas, por favor, quem não ia querer?

Caminhei lentamente e sedutoramente em sua direção. Notava que ele estava mesmo sendo seduzido, e conseguia sentir em mim o desejo que ele estava sentindo. Cheguei perto o bastante dele deixando nossos corpos colados e nossos rostos separados por não mais que 3 centimetros. Fiquei parado olhando para seus olhos que olhavam para minha boca. Esperando ele fazer alguma coisa. Quando ele começou a se aproximar nossas bocas não se tocaram por um milésimo de segundo. 

- Hoje não. 

No exato momento Sam gritou "Stephanie" e sorri ironicamente para Dean o deixando para tras e caminhando na direção de Sam. Confesso que não resisti e entrei em sua mente por um segundo "ela ainda me mata um dia". Ri sozinha com aquilo. Eu havia mesmo conseguido seduzi-lo? Ri novamente. Eu devia parecer uma doente rindo tantas vezes. 

- Vamos buscar um almoço? - Sam perguntou enquanto eu ia em sua direção.

- Clar... - Comecei e fui interrompida por Dean:

- De jeito nenhum vocês vão me deixar sozinho com essa maluca da Leticya! - Dean protestou.

Revirei os olhos e puxei Dean.

- Ta vamos nós dois então. 

- Mas... - Sam começou a falar porém continuamos caminhando e não dando ouvidos pra ele. Ouvi o suspiro alto que ele deu.

Era certo e não perigoso deixar Sam sozinho com Leticya, afinal ela não estava brava com Sam, e sim com Dean.Nos teletransportei para o lugar onde meu estômago pedia, fui direto para o balcão seguida por Dean.

- O que a senhorita bonitinha vai querer? - O negro do balcão perguntou.

- Ahn, eu quero uma pizza família metade strogonoff, - Meu sabor preferido, e o sabor preferido de Leticya: - Metade calabresa picante, e... O que você quer Dean?

- Quatro queijos. - Ele disse meio emburrado.

- E uma portuguesa. - Falei pedindo por Sam.

- Já vai sair... - Ele foi até uma porta gritou todos os sabores, voltou e me analisou de cima a baixo, me senti meio nua. - Você não quer esperar lá atrás comigo? 

- Ela tem dono. - Dean disse o fulminando de cima a baixo, ai que ótimo, outra briga.

- Como eu ia saber? Esqueceu da coleira? - Ele rebateu e eu bufei.

- Já chega Dean.

- E você esqueceu seu bom senso? - Dean se apoiou no balcão quase pulando para o outro lado.

- Eu quero pedir uma pizza. - Um homem de terno que olhava freneticamente seu relógio de pulso repetia milhares de vezes enquanto chingamentos rolavam.

Tinha que admitir que ter dois homens brigando por mim não era nada ruim.

- Está pronta. - Ouvi uma mulher gritando da cozinha, ela adentrou o recinto e me entregou a pizza enquanto empurrava o balconista para dentro da cozinha pedindo desculpas.

- Vem logo. - Puxei Dean. - E só para esclarecer, você não é meu dono. 

Fui até um lugar onde não havia ninguém na enorme pizzaria e me teletransportei para onde eu havia deixado Sam suspirando.

Ele estava sentado na mesma árvore olhando sério para Leticya, segurando meu casaco em uma das mãos e um celular pink na outra, espera, é o celular pink da Leticya?