Linha Vermelha escrita por Chibi Midori


Capítulo 1
Bombas, gatos e linhas.


Notas iniciais do capítulo

Eu sinceramente acho que essa fic foi rápida demais e demorei pra caramba para postar por que queria melhorá-la. Não consegui muita coisa. Ainda assim, eu gosto da ideia geral e estou postando aqui por que a Hality-chan pediu, então espero que vc goste, menina x3



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Aquilo era tão ele que eu nem sabia por que estava tão admirado. Ele some de repente e aparece de repente como se não fosse nada. Eu o conhecia melhor do que ele próprio, então eu devia esperar uma coisa assim. Mas, é claro, não esperava. Eu fiquei completamente chocado quando, depois de todos aqueles anos, ele voltou. Assim como eu fiquei chocado quando ele desapareceu, porque realmente foi de um dia para o outro. Num momento, ele estava lá aterrorizando as criancinhas e sendo um líder, que, sinceramente, era o que ele fazia de melhor, e no outro, foi chamado pelo diretor durante um jogo e, quando voltei para o meu quarto, a parte dele do armário estava vazia e meu melhor amigo havia ido embora para sempre, só Deus sabe para onde. 

Isso é... Até então.

Era por causa dele que eu estava correndo na chuva naquela noite. Tinha saído de casa tão rápido que sequer me ocorrera pegar um guarda-chuva... Eu nem tinha certeza se ainda tinha um guarda-chuva, então tanto faz. Quando finalmente atingi meu destino - a farmácia aberta 24 horas do meu bairro - eu estava encharcado. A mulher do balcão, percebi com surpresa, era a minha vizinha de porta. Eu não sabia que ela trabalhava na farmácia e, sinceramente, três da manhã não é a melhor hora para uma velhinha ficar de plantão. Ela parecia achar a hora da minha visita pouco apropriada, também, pois me olhou com surpresa.

- Oi. - falei sem fôlego. - Ouça, o que você tem aí para... ah... Queimaduras? Graves? 

- Graves? - ela repetiu, me examinando de cima a baixo.

- Sim, é... É a minha namorada. - Pensei rápido. - Ela queimou o pescoço por acidente.

- Então não é melhor levá-la para o hospital?

- Não! - comecei a ficar desesperado. - Ela... Ela tem fobia de hospitais.

- Certo. - ela sorriu bondosamente. - Ouça, querido, mesmo que um médico examine a queimadura, ele não vai descobrir como ela queimou. Mesmo que tenha sido... Não sei, com um cigarro do dêmonio, por exemplo.

Encarei-a de boca aberta. O cigarro que ainda estava na minha boca - nervoso, eu o havia acendido antes de sair de casa, a chuva o tinha apagado e eu tinha deixado ali mesmo - caiu no chão. Ela achava que eu andara fumando maconha? Ou melhor, ela achava que eu estava falando de uma simples queimadura de cigarro!? Se ao menos ela soubesse...! 

- Minha namorada não tem plano de saúde. - improvisei. - Ela deve estar com dor agora e realmente odeia médicos. Eu posso cuidar da ferida dela se você me ajudar. 

Ela encarou minha expressão desamparada por alguns segundos e então suspirou. Eu tive vontade de socar a velha. Certo, não é muito bonito sair por aí batendo em velhinhas que sorriem bondosamente para clientes repentinos e suspeitos da madrugada, mas entendam o meu lado: Havia uma pessoa - uma pessoa extremamente importante para mim - num estado realmente preocupante no sofá da minha casa e a tia simplesmente não conseguia se mover na velocidade de um ser humano normal.

Ela começou a procurar algo por trás do balcão preguiçosamente enquanto falava sobre como certas coisas prejudiciais tinham consequências graves e talvez eu quisesse dar uma passada na igreja dela para encontrar Jesus e viver uma vida abençoada.

Eu não me importava com a minha vida do jeito que ela era, na verdade. Se Deus existia mesmo, eu era realmente satisfeito com o que ele vinha me dando. Digo, eu vivia sozinho no subúrbio de uma das maiores cidades do mundo num apartamento próprio. Tinha um emprego de meio período que pagava as minhas despezas e ainda me deixava bastante tempo livre para ficar em casa jogando video game. Era um pouco solitário, é verdade, mas eu nunca fui muito sociável - especialmente depois da minha terrível experiência de abandono com o único amigo de verdade que eu tive da vida - e as poucas pessoas com quem eu socializava gostavam de mim. Na verdade, tem uma garota no meu trabalho que parece ter um fraco por mim. Se tudo isso me tinha sido dado por alguma entidade divina superior... Bom, eu estava grato.

Estava realmente muito bem com a minha vida até aquela noite. De verdade. Ao contrário do que a minha vizinha podia pensar, eu não era um delinquente - na verdade, o único lugar em que eu infrigia a lei era no GTA - não usava substancias nocivas - exceto alguns cigarros, o que não é grande coisa - e era uma pessoa bem tranquila. Na maior parte do tempo quero dizer, pois naquela hora específica eu estava surtando. 

Aproveitando que a velhinha estava ocupada atrás do balcão, comecei a zanzar entre as prateleiras procurando algo que pudesse ser útil. Por ser um cara de vinte anos que mora sozinho, eu não tenho muitas coisas desse tipo em casa. Peguei algumas ataduras, algodão, algo para limpar feridas e mais outras coisas que julguei necessárias como algo para a dor. Voltei para o balcão onde a mulher continuava falando e tinha um potinho de pomada nas mãos. 

- ... Muitos jovens mudaram de vida graças a... 

- É! Se Mello ficar bem, eu juro que passo a ir à igreja todo domingo. - me ouvi falando. Era a primeira vez em anos que eu falava o nome dele.  - Agora, pode me dar outro potinho desses? 

Surpresa, ela pegou outro potinho e me entregou.

- Não use demais. - ela aconselhou - Apenas uma camada fina que desapareça. 

- Obrigado.

Joguei o dinheiro que ela pediu no balcão e saí correndo sem esperar pelo troco - mais tarde eu me arrependeria disso, pois meu jantar do dia seguinte dependia daquele troco. Tentei não deixar a sacola de remédios se molhar na chuva. Não sei por que - talvez tivesse sido contagiado pela fé da mulher da farmácia - mas por todo o percurso de volta ao meu apartamento, estive rezando em voz baixa para que ele ficasse bem. Estava disposto, inclusive, a cumprir minha promessa de ir a igreja para agradecer. O que é muito estranho, já que eu não era exatamente religioso. 

Subi as escadas do prédio de três em três degraus amaldiçoando o elevador quebrado há mais de dois anos, mesmo sabendo que eu jamais poderia esperar por um elevador. Queria chegar em casa o mais rápido possível. Notei que não tinha trancado a porta depois de sair, mas isso não era importante. Ninguém iria roubar um apartamento patético como o meu. 

E no meu apartamento patético, mais precisamente no sofá puído da Sala de estar-barra-Sala de Jantar-barra-cozinha, estava - o que costumava ser - Mello. Ele estava encostado de lado no sofá, tomando o cuidado de não tocar  a parte direita de seu corpo, pois este lado estava em carne viva. Do seu rosto até o ombro, uma feia queimadura desfigurava sua pele.

- Droga. - resmunguei - Está tudo bem, vou cuidar disso agora. Pode doer, mas aguente, por favor.

- É. - ele respondeu com voz fraca. - Desculpe por aparecer de repente... E ainda por cima desse jeito. Aposto que você pensou... Que eu era... Um zumbi dos seus games, não? Você ainda... Gosta de games, Matt?

Não fale meu nome com essa voz rouca!

- Não peça desculpas. Isso me dá arrepios. Assim vou achar que você é mesmo um zumbi fingido e não o Mello que eu conheço e amo.

Ele riu amarga e fracamente. Fiquei alarmado.

- Ótimo, vou bancar o enfermeiro. - sentei ao lado dele e abri a sacola de remédios. 

- Não tem muita graça se você não estiver com um mini-vestido rosa, uma cinta-liga e aquela coisa que as enfermeiras usam na cabeça.

- Haha. - falei com sarcasmo. - Queimou o cérebro também? Agora tem fetiches estranhos por homens? Vou tentar limpar isso sem te matar. Agora me explique por que merda você apareceu na minha casa depois de anos com metade da cara queimada.

Eu preferia mantê-lo falando para ter certeza de que estava consciente. E então ele começou a falar. Mello suportou a dor sem reclamar muito e eu notei que ele estava se fazendo de forte para mim e tentava se concentrar na própria história para esquecer da dor. A princípio achei que estivesse delirando de febre... Mas ele parecia tão lúcido! Ele falou sobre como deixou a Wammy's House quando sugeriram que trabalhasse com Near, falou sobre entrar para a máfia, conseguiu um caderno que mata as pessoas e um shinigami. Nada era lógico, mas tudo se encaixava. Eu acreditei em cada palavra. Era tudo tão Mello que nem por um segundo eu duvidei. Eu estava espalhando a pomada estranha pelo ombro dele quando ele terminou de contar:

- ... Então eu fiquei irritado e mandei tudo para os ares. Como o idiota do Yagami deixou a porta aberta e eu me queimei. Pelo menos consegui fugir e... Ai. Bom, você sabe do resto.

- Sei. - apanhei as ataduras. - Só uma pergunta. Como você me achou?

- Huh?

- Você sabe. Depois que você foi embora do orfanato... Quero dizer, quando eu fiz 16 anos, fui embora do orfanato, passei a mão na grana que meus pais me deixaram e mudei para os Estados Unidos. Como diabos você me achou?

Ele finalmente abriu o olho - o que não estava coberto de creme para queimadura - e me encarou. Para alguém que tinha acabado de escapar de uma explosão, ele parecia bastante forte.

- Eu voltei à Wammy's House uma vez. Depois que eu fui embora. Mas você não estava mais lá, eu só soube que você estava aqui. Quando eu mesmo vim para a América para investigar melhor o caso Kira, pensei... Bom, eu tenho meus métodos, ok? Eu era um dos candidatos a substituir o L, eu soube onde você estava mesmo que use um nome falso.

A única lei que eu quebrava: Por um hábito arraigado de não revelar meu nome de jeito nenhum - ainda mais sabendo que existem pessoas que podem matar com essa informação - eu era conhecido como Matthew Parker, um inglês que se mudou para a América para viver independente dos pais. 

- Soube antes da explosão?

- Sim.

- E por que não me procurou?

- Eu não queria envolver... Quer dizer, porque não, droga. Olha só, eu só apareci por que eu não tinha para onde correr. Não vou incomodar você por muito tempo, eu me virei sozinho até agora e...

- Você é idiota? - finalizei o curativo. - Você não pode aparecer desse jeito aqui por causa da droga do Kira e esperar que eu cuide de você e depois despache com um "Vai pela sombra". Eu vou investigar com você.

- Não! Isso eu não posso. Isso é entre mim e o Near. 

- Eu não me importo com a sua relação conturbarda com seu ex-namorado. - respondi acidamente. - Eu também quero vingar a morte do L. E o Near tem o FBI a disposição. Você tem a mim. Claro que você ficou com a melhor parte e isso é um pouco injusto, mas dane-se. 

- O funeral é seu. - concedeu de má vontade.

Pelo visto ele queria ficar com a ultima palavra.  Bem, ele podia ficar com a ultima palavra então. E foi desse jeito que eu me envolvi diretamente com o caso Kira. Quando começou a minha vida dividindo o apartamento. Às vezes parecia que eu estava de volta ao começo da minha adolescencia, quando eu não passava de um otaku alucinado por games e Mello um pirralho que gostava de pisar nos mais fracos. A única diferença era que, no lugar de trabalhar em "projetos construtivos e educativos para crianças órfãs e super dotadas", estávamos investigando pessoas.

Mello era extremamente contra meu trabalho de meio período, mas não tentou realmente me fazer pedir demissão - se ele me quisesse demitido, eu acho que teria conseguido. - e recusou-se terminantemente a conseguir um emprego para si mesmo. Não demorou muito e meu apartamento ficou cheio de aparelhos de espionagem, como alguns aparelhos de televisão, escutas e outras coisas que meu salário não poderia pagar, nem mesmo pela primeira prestação. Pelo bem do meu sono a noite, não perguntei como ele os obteve. Apenas aceitei suas ordens de vigiar alguns japoneses envolvidos no caso Kira. Não era grande coisa. 

Mello ficava muito tempo fora de casa e, quando voltava, era para vigiar mais. Nos meus dias de folga - e quando Mello conseguia pensar numa desculpa para me fazer faltar - eu virava vigia em tempo integral. Ele me deixou cuidando de um cara chamado Mogi. A tarefa foi arduamente tediosa e não demorou muito para que eu ligasse para ele.

- O que foi, Matt? - foi como atendeu o celular.

- No apartamento em que Mogi entrou mora uma mulher jovem. Ou melhor, uma mulher que mais parece uma criança. - informei.

- Uma mulher?!

- Pode ser a namorada do Mogi... Eles saíram para fazer compras de braços dados. - funguei. - Nunca pensei que diria isso, mas é uma japonesa bem bonitinha. Não sei precisar a idade, mas acho que está entre 14, 15 até uns 20.

- Está falando sério, Matt? 

- Estou muito sério. 

Houve uma curta pausa. 

- Entendi. Deste lado, não podemos tomar nenhuma atitude. Vamos começar por aí.

- Ok.

- Vá para casa. Te vejo lá. 

Eu fui. E cheguei em casa antes de Mello. Eu estava deitado no sofá jogando Mario Kart no PSP quando ele chegou parecendo muito mal humorado, como sempre. Ele agarrou a frente da minha blusa, puxou para levantar parcialmente o meu corpo e ocupar o lugar no sofá onde antes estava a minha cabeça. Logo que ele sentou-se, tornei a deitar ali mesmo com a cabeça em suas pernas e sem pausar o jogo nem uma única vez.

- Então, qual é a da japonesa bonitinha? - perguntei.

- Se eu estiver certo, ela é o segundo Kira. Aquele que mandou as fitas para a televisão e causou uma confusão dos diabos há uns anos atrás.

- Sei. - desviei de uma casca de banana. - E como andam as coisas do lado do Near?

- Não muito diferente de nós. - Mello bufou. - Eu juro por Deus que vou surrar Kira até a morte quando eu pegá-lo, antes de dar alguns tiros nele. 

Ri baixinho. A televisão, como sempre, estava ligada mostrando os lugares em volta do lugar onde estavam instalados os japoneses e o atual L. Nem sinal de movimento por lá, para o meu completo tédio. Finalizei o jogo e desliguei o game. Mello continuava com aquela expressão séria que sempre mantinha no rosto quando estava tentando pensar em algo e eu sabia que levaria um tiro se o interrompesse enquanto estava daquele jeito. Levantei e rumei para a cozinha para esquentar os restos da pizza do almoço. Eu tinha que admitir que, se Kira não nos matasse, estaríamos mortos em alguns anos considerando nossos hábitos nada saudáveis.

Eu tinha acabado de colocar a pizza no microondas quando um ruído discreto na janela me chamou a atenção: Um gato amarelo com olhos vibrantemente verdes estava ali ronronando baixinho diretamente para mim. Agindo mecanicamente, estendi os braços para pegá-lo e ele pulou no meu colo.

- Mihael! - exclamei.

Ouvi algo caindo na sala e em seguida Mello engasgando. Pus a cabeça para fora da cozinha para espiar. Mello tossia violentamente e batia no peito, aparentemente com um pedaço de chocolate preso na garganta.

- Cara... Você está bem? 

- Do.. Cof cof... O que você disse? - perguntou com lágrimas nos olhos devido a tosse.

- Ah, eu não estava falando com você. - Mostrei o gato a ele. - Este é o Mihael, meu gato.

- Seu g... - Mello pareceu recuperar-se... e ficar furioso. - De onde saiu esse bicho? Eu estou aqui há muito tempo e nunca vi.

- Ele só aparece de vez em quando para comer. - expliquei. - Mas como ele aparece com frequência, eu adotei.

- Não acha que está sendo usado? Digo, um gato que só aparece pra pegar sua comida e carinho?

- Acho que eu estou acostumado a só me procurarem quando precisam. - repliquei acidamente. 

Em qualquer outra pessoa, a indireta teria acertado bem no peito, aberto um buraco e mergulhado-a num mar de vergonha de si mesma. Mas não Mello. Ele não pareceu nem um pouco envergonhado de ter me abandonado sozinho na droga daquele orfanato para sair por aí perseguido Kira e voltado anos depois como se nada tivesse acontecido pedindo ajuda. Ou provavelmente nem tinha notado que era uma indireta.

- E que diabos de nome você deu a ele?

- Mihael. - respondi. - Digo, eu não sabia se devia chamá-lo de Cloud, Dante ou Mário, mas no fim, Mihael sempre foi meu nome preferido, então eu dei esse nome a ele. 

- Mude. Agora.

- O que você tem contra o nome do gato, Mello? 

- Tudo. Você não pode simplesmente chamar isso de Mihael. 

Antes que eu pudesse argumentar, Mihael pulou dos meus braços para o sofá e de lá para o colo de Mello. O gato era tão inocente que começou a esfregar-se na barriga dele como se esperasse algum carinho. Eu vi a coluna do meu melhor amigo ser sacudida por um pequeno arrepio e a mão dele moveu-se lentamente para a arma que ele havia deixado na mesinha ao lado do sofá. 

- Maaaatt... - disse com voz cavernosa.

- Tá, tá! - pulei para o sofá e peguei Mihael no colo. - Deixe o gato em paz e guarde logo essa coisa. Que droga. Odeio quando você fica com essa arma.

- Não seja idiota, você sabe que eu nunca atiraria em você.

Ele era sempre tão descuidado que eu só podia pensar que era lerdo. Eu nunca atiraria em você. Se ele tivesse visto a quantidade de mangás/games que eu tinha, não diria coisas do tipo que podem ser mal interpretadas. Fingi que não era comigo e fiquei acariciando a cabeça do gato.Mello ignorou - ou não notou - meu nervosismo repentino e falou:

- Tsc... Se as coisas continuarem nesse ritmo, podemos ser obrigados a ir para o Japão. 

- Jap... O que é isso de repente? - perguntei surpreso. 

- É só uma linha de raciocínio. - ele coçou a cabeça - Considerando que o atual L... Merda, Matt, tira esse gato daqui ou eu retiro o que disse sobre não atirar. 

- O que o gato está fazendo de mal, seu recalcado? - por precaução, pus Mihael ao meu lado e fiquei entre ele e Mello.

- Ronronando alto! Eu não consigo me concentrar assim. - ele bagunçou o próprio cabelo. - Pare de ficar acariciando ele, está me dando nos nervos.

- Mello, desse jeito até parece que você está com ciúmes do gatinho, se importa de parar de dar ataque?

- Matt...

- Não, nada pode ficar entre nós. - de repente, toda a coca cola que eu tinha tomado a tarde me subiu à cabeça e me fez falar besteira. - Eu amo Mihael e vou amar até a minha morte.

Mello ficou vermelho como um pimentão por algum motivo desconhecido.

- Que merda você acabou de di... Você realmente não tem jeito. - ele continuava vermelho.

- Mello?

- Nada, esquece.

Ele tombou de modo a apoiar a cabeça no meu ombro. Suspirei de frustração com algo que estava me consumindo por dentro desde que Mello apareceu na minha porta mais parecendo um personagem de Resident Evil. Ele era sempre descuidado naquele aspecto e parecia sempre que nossa amizade estava no limite. Estávamos sempre brigando por coisas estúpidas como o nome do meu gato, mas mesmo assim eu sentia que entendia Mello melhor do que qualquer pessoa viva jamais o fez.

- Mello, você já ouviu falar da linha vermelha?

- O que é isso, uma boca de fumo? Resolveu evoluir do tabaco pra maconha?

- Não. - bati no ombro dele. - É uma crença japonesa. Existe uma linha vermelha que começa no coração e sai pelo dedo mindinho para se conectar com outra pessoa. E essas pessoas são conectadas. Mesmo que a linha seja longa e enrolada, ela não pode ser rompida.

- Hm... E você acredita nisso?

- Venho acreditando há uns dias. - bocejei. - O que você acha?

- Acho que isso de algum modo soou como uma cantada barata.

Eu ri. O clima na sala ficou agradavelmente tenso de repente, de um jeito que eu não conseguia explicar. Encarei Mello nos olhos, esperando que ele tomasse alguma atitude. Eu já tinha feito muito por uma noite. Mihael pulou para o chão onde ficou entrelaçando-se com nossos pés. Nenhum de nós lhe deu atenção, contudo. Mello bufou algo que soava como "dane-se" antes de aproximar o rosto do meu e grudar os nossos lábios. Bom... Eu não estava exatamente esperando por isso, mas a ultima coisa que passaria na minha cabeça naquele momento era recusar. 

Se a linha vermelha realmente existisse, eu tinha absoluta certeza de que a minha me ligava ao Mello, se as minhas reações ao beijo dele pudessem servir de referência. O abracei com força e aproveitei para entrelaçar os dedos com os cabelos loiros cada vez mais desordenados pela falta de corte. Eu soube que era bom ficar ali com Mello junto a mim, nossas línguas travando uma verdadeira batalha que eu sabia que não podia ganhar. Fiquei feliz pela nossa linha vermelha ter nos unido outra vez, mesmo que depois de tanto tempo. No fundo, eu sempre soube. E eu gostava disso,

- Sabe de uma coisa? - perguntei. - Você é melhor que o Near, afinal.

- E você só chegou a essa conclusão agora? - Ele ergueu uma sobrancelha. - Por favor, diga que não é pela minha perícia de beijo, por que se eu souber que você já beijou o Near...

- Não seja estúpido, eu não beijaria o Near, ele é um garoto.

- E eu sou o que?

- Você é diferente. - o larguei para deitar outra vez usando suas pernas de travesseiro. - Eu apenas queria te dizer... O Near sempre teve todo o auxílio que queria e você precisou se virar sozinho o tempo todo. Por isso, mesmo as investigações de vocês dois estando empatadas, acho que você é melhor.

A conversa casual seguida ao beijo - que por acaso era o primeiro - não era uma surpresa para mim. Mello e eu nos compreendíamos bem o suficiente para isso. Não precisávamos realmente dizer qualquer coisa em voz alta. Ele olhou para mim por alguns instantes, as bochechas levemente vermelhas.

- A pizza já deve estar quente. - falou desviando o olhar.

Sorri da falta de jeito dele ao me levantar para a cozinha. Nos compreendíamos, mas isso não mudava a timidez dele. Novamente, agi por impulso e me voltei novamente para Mello para dizer:

- Mail Jeevas.

- O que? 

- É meu nome. - expliquei. - Achei que você devia saber.

- Você é idiota? Não pode sair dizendo seu nome por aí. 

- Mello, se você fosse o Kira e resolvesse me matar, não precisaria do meu nome. Você dorme no meu quarto com uma magnum do lado do colchão.

- Acho que seu argumento é válido. - ele desviou o rosto e, quando eu já estava na porta da cozinha, falou: - Mihael Keehl.

- Desculpe?

- É esse o meu nome. Mihael Keehl.

Abri um sorriso maior ainda. Era bom saber que existe algo que nos conectava. Não apenas a linha vermelha.


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Notas finais do capítulo

Desculpem se ficou ruim >< Essa aqui me deixou realmente insegura... Ainda assim, deixem review, críticas ajudam a melhorar. Obrigada por ler até aqui.