Deixou de ver tudo ao redor quando se focou nos verdes dali. Não tinham a mesma intensidade dos autênticos, dos olhos dela, mas conseguiam suprir um mínimo da vontade de querer vê-los que o consumia sempre . O prazer ao vê-los é forte ao ponto de não perceber o frio manto da morte o envolvendo. Ao menos uma lembrança calorosa sabia que levaria consigo.
Deixou de sentir a parede em suas costas, o chão e as mãos quentes do garoto. Por um segundo sentiu-se cair, mergulhar em uma imensidão de cores que não foram vistas por ele: fechara os olhos com os verdes dela em sua mente. Logo sentiu algo tocar suas costas. Logo sentiu mãos quentes pousarem sua cabeça sobre algo macio e igualmente quente. As mãos passaram a acariciar seu rosto, sussurrando uma canção infantil antiga. O sussurro era rouco e estava longe de ser afinado, longe de ser o mais belo, pelo menos aos ouvidos de outros. Soltou um suspiro de alivio ao sentir o aroma, e relaxou. Deixou-se pela primeira vez em 22 anos, relaxar. Baixou o muro em volta de si e permitiu que uma única lagrima escorresse. Já não se lembrava bem quando foi a ultima vez que o fizera, mas sorriu.
“Nunca foi de chorar, Sev.” Ouviu, com uma risada tímida e divertida. Não respondeu, só cerrou os olhos, permitindo-se ver o rosto dela observando o seu. Viu cílios avermelhados tentando cobrir o verde vivo de seus olhos. Voltou a fechar os olhos, satisfeito. Estava em casa, finalmente.