Morrer para Entender escrita por mell_amzalak


Capítulo 8
Cap. 7 - Culpa e Echarpe


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!
Faz muito tempo que não escrevo então espero ter continuado no mesmo ritimo ou melhor auhsuahs
Espero que gostem...
X.O



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Depois do desabafo e das confidências, percebi que nunca tivera tanto orgulho da minha mãe como naquele dia, que exemplo de mãe e mulher ela era, se preocupou comigo e com minhas melindras. Demos mais algumas voltas e fomos para casa. No caminho minha mãe continuou a falar sobre seu novo affair; revelou-me que ele era mais velho e que se chamava Alexandre Augusto, que não tinha filhos pois sua mulher, Alice, falecerá muito cedo.

Combinamos de que logo ela o traria para jantar em casa e nos apresentaria formalmente. Estava contente com idéia de que minha mãe voltara a viver, que voltara a se entusiasmar, de que não tinha mais receio de viver.

Deitei-me na cama, aliviada e desprendida, então apanhei minha echarpe verde, sempre a usara em momentos que abalizavam minha memória, o natal com meu pai quando a ganhei, o pedido de namoro de Davi, quando Felipe e eu andamos de avião pela primeira vez, o cinema com Lorena, hoje e até o dia do acidente com o refrigerante que me fez conhecer o dono daqueles olhos de carvão e brasa.

Recordar aqueles olhos preencheu minha mente com lembranças; o toque quente de suas mãos, o sorriso luminoso e o pedido para um passeio, apesar de muitas imagens só focava nos olhos que me levavam para o vácuo. Depois de muito tempo peguei no sono.

Acordei atemorizada com o barulho do despertador, que clamava ao meu lado me lembrando obrigando a levantar. Ergui meu corpo ainda sentado na cama, e coloquei meus pés no chão, sentindo-os gelar. Meu corpo arqueou quando tentei me levantar rápido, me reequilibrei e fui em direção ao armário, peguei um short surrado e uma blusa azul e completei com a minha echarpe verde que dormira junto comigo. Peguei minha mochila e pasta e marchei para a cozinha ao encontro de minha mãe.

- Bom dia flor do dia! – Esparramou sobre o ambiente um delicioso sorriso e logo começou a correr obedecendo sua rotina – sua xícara esta sobre o balcão – apontou na direção e continuou - volto tarde hoje esta bem!?

Eu nem pude responder, apenas assenti sorrindo com os lábios, ela passou por mim e como de costume beijou minha testa, correndo em direção a porta.

- Aliás eu adorei ontem à noite – então percebi o espaço em que pude falar.

-Eu também mãe – respondi o sorriso e a vi fechar a porta.

Meu celular tocou e pelo horário já pude imaginar quem ouviria do outro lado da linha, atendi calmamente pronta para iniciar o monólogo da Lô.

- Bom dia linda! Espero que já esteja pronta pois já estou aqui fora, beijinhos – e ela desligou.

Tive que dispensar o café, peguei minhas coisas e obedecendo a Lorena fui para fora encontrá-la. Tranquei a porta atrás de mim e segui ate o carro, onde ela me esperava com um sincero e carinhoso sorriso.

- Então gata com muita saudade de mim? – Brinquei.

Ela sorriu maliciosamente para mim e acelerou o carro.

- Com saudade eu não estou não mas, estou me roendo para saber como foi ontem com o menino estranho e a tarde com sua mãe – eu ri ao ouvir aquelas palavras.

- Foi ótimo com minha mãe, ela me contou que tem um novo namorado e estou super feliz por ela voltar a satisfazer-se – ignorei a primeira pergunta porque não queira falar sobre o assunto, já me bastava a noite em que não dormi devido aos olhos de carvão em brasa.

- Então quer dizer que sua mãe esta amando?

Eu não acredito no que ela disse, não para mim que era descrente no amor, um sentimento que não existia em minha vida, muito menos em meu vocabulário.

- Não está amando! Apenas voltou a existir – bramei rispidamente. – Pelo tom que usei e pelo silêncio que se seguiu, acho que ela percebeu que tinha dito coisas erradas, em hora errada. Vi as suas mãos endurecer sobre o volante e inflar os pulmões desesperada.

-Desculpa, eu esqueci com quem estava falando – pude sentir o tom amargo do arrependimento em sua voz e relevei, respondendo calmamente para que não houvesse mais desacordo.

-Tudo bem – respirei e continuei - mas pelo que ela me falou ele parece ser assim, sabe bonitão?

- Eu não acredito, não consigo imaginar sua mãe com um super gato... E como se chama o valente cavalheiro?

- Alexandre Augusto, um nome forte não!?

- Sim, e raro também.

Ela estacionou e descemos do carro, indo ao encontro dos portões do meu paraíso.

Depois que passarmos pelos portões, ela mudou seu caminho e antes de se despedir sussurrou em meu ouvido

- Não pense que não percebi que você não respondeu a minha pergunta – ela saiu andando de costas, rindo para mim, enquanto eu ria timidamente - Terá que me contar ou eu mesma arrancarei tudo de você – completou sua frase, virou se e acenou.

Eu não pude para de rir, a cena dela me ameaçando para desvendar o ocorrido fez com que eu delirasse de rir e não mantive o tom tímido.

-Bú!!! – Foi a esse som que paralisei, fiquei travada enquanto o Felipe esboçava um sorriso sobre minha expressão.

Beijou-me a face e parou ao meu lado, enquanto eu recuperava as batidas leves e ritmadas de meu coração.

- Nuca mais faça isso, ou juro que te mato – disparei contendo o riso.

Ele riu mais um pouco e me puxou para que andássemos em direção aos nossos prédios.

- Senti tanta sua falta minha Afrodite.

- Eu também, meu Hades.

 Como era agradável estar come ele, andávamos ao mesmo passo apertado, fazíamos nossas brincadeiras e não nos preocupávamos com as pessoas ao redor.

-Ótimo, assim sei que não estou sendo esquecido nem substituído pelo seu “na-mo-ra-di-nho” - ressaltou cada silaba da última palavra.

- Que namorado? Posso saber?

- O que estava com você lá na árvore no, o garoto transferido do curso de engenharia – ergueu uma sobrancelha e esperou por uma refutação que não veio, então continuou – Então... Está interessada nele?

Eu devia estar louca, mas com o Felipe sentia que não tinha barreira ou pensamento que pudesse esconder dele, e me sentia a vontade para contar tudo.

-Não sei, mas estou bem confusa, e me sinto desprotegida quando ele me olha, ele parece capaz de derreter qualquer murro que eu tente erguer.

- Hum... – Sorriu para mim expressando uma face muito afeminada - estou sentido que alguém esta apaixonadinha... Lá lá lá lá lá lá – cantando daquela maneira infantil e imatura, eu não pude ficar irritada, só olhei para ele incomodada.

- Desaparece Felipe, vai estudar seus ratos.

-Sinto muito desapontá-la meu bem, mas eles não são tão interessantes como você apaixonada – passou a mão pelo meu cabelo, bagunçando-o todo.

-Cala boca – eu juro que não entendo como posso me sentir confortável ao lado de uma dele.

Chegamos ao ponto em que nos separávamos, então me virei de frente para ele.

- Pronto querido, está entregue em segurança. – Debochei.

- Muito obrigada oh divina Ísis – ajoelhou se beijou minha mão em tom de clemência e de ironia. Só pude rir vendo o seu sorriso escarpar por entre seus lábios e se tornar uma divertida gargalhada.

- Até mais Felipe – disse terminando o assunto, puxei minha mão e o deixei ali se levantando enquanto ria.

-Ate mais menina apaixonada - pude escutar ao longe.

Percebi que não estava atenta de ter aula, e fui para o meu paraíso relaxar.

Fui cantando feliz para encontrar meu silêncio, mas a surpresa dominou meu corpo quando o Gabriel surgiu ao meu lado e entrelaçou minha mão, me virou e me levou para a direção oposta de meu caminho.

- Desculpa moço, mas acho que você esta me confundindo com alguém, eu sou aquela que vai para o fim do campus – disse ironicamente.

-Desculpa – sorriu e seus olhos encontraram o meu, me fazendo esquecer para onde eu ia e o que eu queria, entendi que iria para qualquer lugar desde que ele mantivesse aqueles olhos no meu, acendendo a brasa e ruborizando minha face.

Ainda tímida continuei a andar.

- E para onde vamos? – Desviei o olhar para que não me tornasse uma marionete em suas mãos.

-Para um parque de que eu gosto muito, fica na zona leste.

- Bom, acho que posso te abrir uma exceção na minha agenda e te acompanhar.

Ele parou e me encarou como bobo por alguns segundos, então voltou a andar e desviou o olhar. Andamos em passos rápidos e desconjuntados.

Passamos os portões e atravessamos o estacionamento até encontrar a moto amarela.

- Já andou de moto? – Me passou um capacete, eu o peguei e rodei na mão.

- Não, nunca – respondi sinceramente enquanto tentava fechar a presilha do capacete em meu pescoço.

- Hum, fácil. Eu prometo não andar rápido e se você preferir pode segurar em mim ao invés dos apoios nas laterais – tirou minhas mãos da presilha e a fechou ele mesmo.

- Esta bem então – respirei fundo – Podemos ir. – Eu sorri ao pensar em sentir aquele corpo tão perto do meu, ele estava muito charmoso de calça jeans, blusa branca e uma jaqueta preta de couro.

Ele montou na moto então estendeu a mão para que eu conseguisse subir, me ajustei atrás dele, fiz como ele disse e dispensei os apoios apoiando minhas mãos em seus ombros.

- Não pense que vai conseguir se equilibrar desse jeito.

Eu não entendi o que ele quis dizer até a primeira arrancada, tirei rapidamente as mãos de seus ombros e agarrei firmemente sua cintura com medo de cair. Ele riu quando me assustei

- Eu avisei.

Ignorei a ironia. Estava distraída e relaxada, ele dirigia devagar e eu aproveitava o vento tentando encontrar meu rosto, quando ele acelerou fechei mais meus barcos ao redor dele e senti o couro gélido da jaqueta. O vento ríspido me fez arrepiar, pressionei meu corpo contra o dele e o senti estremecer. A echarpe balançava sem medo e voava desesperadamente.

Ele cortava as pessoas e os carros, tudo se tornava borrão. Entramos em uma estrada de terra e como não havia obstáculos ele se empolgou e acelerou. O vento rasgava os nossos corpos e eu não discernia as formas por onde corríamos. Foi com essa agilidade que minha echarpe soltou-se do meu pescoço e voou, minha tão querida echarpe voava e ficava para trás e eu não pude evitar, apenas gritei.

- Para! Para! – Ele não parava - Você é surdo eu falei para parar! - Ele freou bruscamente a moto. Desci mais rápido que ele, lançando o capacete ao chão, corri atrás de minha echarpe, ouvia seus passos rápidos e pesados atrás de mim.

- Você esta bem? Se machucou? – Seu tom de voz era alto e preocupado.

 Eu parei e comecei a olhar ao redor atordoada e decidida a encontrar a echarpe, ignorando as perguntas dele. Senti meu braço esquentar e fui virada a força, meu corpo se chocou com o dele, mas seu rosto estava assustado, seus olhos pegavam fogo e já não havia carvões, fiquei intimidada com a força com que ele me apertava.

- O que aconteceu? Machucou-se?– Notei a dor em suas palavras e meu estômago revirou, revelando-me a culpa que poucas vezes sentira.

- Desculpa – sussurrei – a minha echarpe... Ela voou.

Pude ver seus olhos se acalmarem, voltarem a serem brasas, e seus músculos relaxarem em torno de meu braço.

- Gritou daquela maneira por causa de uma echarpe? – Apesar de calmo, sua voz era alta e ríspida – Você só pode estar tentando me matar.

- Não quero te matar, não estou preocupada com sua vida – disse irritada pelo tom que me tratara; mas sabia que não queria tê-lo assustado daquela maneira – É a minha echarpe preferida, passei os melhores momentos da minha vida com ela.

Soltou meu braço e voltou para a moto.

- Encontre logo esse seu lenço e vamos embora – pude ouvir já meio afastado.

Eu continuei a procurar ao redor, observei cuidadosamente os arbustos que agora tinham forma, ate que a encontrei jogada no chão perto de uma árvore. Corri até ela e a peguei, limpando-a e sentindo que nenhuma das lembranças fora perdida, ela ainda estava perfeita.

Andei de volta para moto. O Gabriel estava apoiado na moto de braços cruzados, o capacete que havia jogado no chão estava em cima da moto. Quando me aproximei ele veio até mim.

- Foi por isso que gritou?

A sua ironia me irritou e não pude mais controlar minha paciência.

- Era por tudo isso – sacudi a echarpe mostrando-a para ele.

- Vamos.

– Isso, vamos embora, quero voltar para casa.

Seus olhos se arregalaram, as brasas começavam a mostrar sinais de chamas, olhei para chão pois sabia que se olhasse fundo em seus olhos voltaria para o vácuo e perderia a razão. Mirei o chão e cruzei os braços, escutando o silêncio gritava entre nós. Pedindo mentalmente que ele rompesse a quietude.


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