Sasuke Uchiha

Minha mãe costumava ficar por horas ouvindo-me tocar e cantar, e tinha a mania de dizer que apesar de eu não ser tão bom quanto o seu cantor preferido, um dia eu chegaria lá. Sorri com as lembranças de seus olhos tão brilhantes, emocionados por ver-me pela primeira vez aos meus dezoito anos no palco de uma casa de show não muito grande, mas bem reconhecida na cidade.

Trabalhando em uma clínica de reabilitação como jardineiro e cantando aos finais de semana levei minha vida por mais dois anos. Nesse tempo tive a sorte de conhecer Ino Yamanaka. Ela era o tipo de garota que poderia arrasar alguns corações por onde passava se quisesse, porém ela era mais que isso. Além da beleza exterior, Ino tinha um coração de ouro. E eu acredito que ela não tenha sido sempre assim, pois as condições em que ela se encontrava denunciavam o passado terrível que passara.

Ino era uma cantora famosa com seus vinte e cinco anos, há um ano sofreu um acidente caindo do palco perdendo seu bebê. As conseqüências do ocorrido apareceram nos próximos seis meses em que caiu em uma grave dependência alcoólica. Desde então fora internada na clínica de reabilitação onde, coincidentemente, eu trabalhava.

Reconheci o talento da Yamanaka dando um jeito de apoiar-lhe enquanto o seu marido, sim, ela tinha um marido desde os seus dezoito anos de idade, tentava manter seus negócios driblando a vida problemática de sua esposa.

Entrei em seu quarto e a encontrei deitada sobre a cama admirando a paisagem por uma pequena brecha da cortina.

- Hey! – eu chamei tirando-a de seus devaneios.

- Você. – ela sorriu abertamente sentando-se na cama e puxando para si uma folha de papel que estava ao seu lado. Percebi se tratar de uma canção que ela mesma tinha escrito. – Não consegui terminar. – ela disse manhosa estendendo a folha para mim.

- Vamos dar um jeito nisso. – pisquei pegando a folha de suas mãos e sentando-me na ponta do colchão.

- Claro que vamos. – ela gargalhou apontando para o violão encostado na parede perto da janela.

Fui até o objeto e o peguei sentando-me no colchão novamente, comecei a formar uma melodia que imaginei ser propícia à letra que ela escrevera.

- Ino. – a porta se abriu e vi a cabeleira ruiva de seu marido aparecer no quarto. – O que é isso? – ele perguntou apontando com os olhos para mim.

- Este é Sasuke. – ela sorriu. - É só um amigo. – levantou-se da cama e foi na direção de seu marido lhe abraçando.

Tratei de levantar rapidamente deixando o violão sobre a cama e saindo do quarto antes que ele começasse a duvidar de algo que realmente nunca existiu entre Ino e eu.

Suspirei cansado quando desci as escadas e vi a minha vassoura de grampos encostada à parede. Era hora de voltar à minha realidade e tratar de trabalhar. Peguei-a e desci para o jardim e enquanto limpava as folhas embaixo de uma grande árvore percebi a presença de mais alguém por ali. Virei-me calmamente encarando a figura pequena de Ino escorada na árvore.

- Eu só... – ela pareceu pensar no que diria antes de continuar. – Eu só vim dizer que vou embora. – ela sorriu fracamente.

- Mas você está... pronta? – perguntei meio hesitante na escolha das palavras e ela abaixou o olhar em resposta.

- Parece que sim. - colocando as suas mãos nos bolsos do grosso casaco que usava ela levantou seus olhos azuis para mim novamente. – Gaara estará no The Stage esta noite para ver uma garota que ele quer que abra o meu próximo show. Tente a sua sorte, Sasuke. Você tem talento e eu realmente gostaria que abrisse a turnê para mim. – ela confessou sorrindo.

- Obrigado Ino. – não hesitei em aproximar-me de seu corpo tão frágil e a abracei carinhosamente, afinal, não tinha certeza se a veria outra vez.

- Boa sorte. – ela piscou saindo do abraço e caminhando vagarosamente na direção do ruivo que a esperava ao lado do carro com a porta aberta.

Permiti sorrir abobalhadamente com suas palavras. Ela era famosa, tinha tantos anos de experiência nos palcos, receber um elogio seu a respeito do meu talento como cantor realmente havia me deixado contente. Suas palavras me fizeram acreditar que haveria sim uma grande possibilidade de eu estar a um passo de uma brilhante carreira artística indo ao The Stage. Por que não tentar?

Fazia algum tempo que o casal havia partido. Olhei para o relógio de pulso e pulei para dentro da clínica quando percebi que faltavam apenas cinco minutos para eu poder deixar o meu trabalho e seguir para casa. Abandonei a vassoura e meu jaleco verde claro atrás da porta ao pé da escada que dava acesso à varanda da clínica, passei as mãos pelos meus cabelos tentando inutilmente melhorá-los do estado “um dia inteiro de trabalho” e entrei na minha velha caminhonete.

Chegando em casa, tomei um banho tranquilamente tentando relaxar. Apesar de já ter cantado várias vezes no lugar eu sabia que aquela noite seria inesquecível. Vesti uma calça jeans clara, uma regata branca e uma camisa aberta xadrez em tons avermelhados por cima. Calcei a minha bota estilo country e olhei para a escrivaninha ao lado da cama onde encontrava-se meu violão. Peguei-o firmemente olhando para a sua aparência impecável. Eu realmente tinha um capricho especial com ele.  Voltei a pegar as chaves da minha caminhonete levando o violão comigo e segui à casa de shows country no centro da cidade.

Consegui uma vaga para meu carro a poucos metros dali e agradeci mentalmente pelo ocorrido. Desci levando o meu companheiro de palco comigo. Passei pelo cartaz onde anunciava os cantores da noite nem me preocupando em lê-lo. Mas uma figura gravada nele me chamou atenção, a foto de uma garota com os cabelos rosa. Admirei-me por sua coragem em pintar os próprios cabelos de uma cor tão ousada. Embaixo da foto o seu nome, arqueei uma de minhas sobrancelhas ao notar que já o conhecia. Claro que conhecia. Revirei os olhos quase automaticamente com a lembrança. Sakura Haruno, minha colega de turma do colegial, aspirante de miss e muito irritante. Mas o que ela estava fazendo no The Stage? Questionei mais para mim mesmo do que para as pessoas que observavam o cartaz ao meu lado. Suspirei e entrei no local.