Naquela mesma sexta-feira, no final da tarde – os dois haviam recém chegado ao apartamento de Taec, vindos dos respectivos empregos – SeulOng ligou.

TaecYeon desvencilhou-se dos braços de ChanSung, que no momento estavam abraçando-o por baixo da camiseta que ele estava usando, e bufou, irritado.

- Atende, vai – o mais novo disse, sorrindo. – São só alguns minutos.

- Argh – TaecYeon deu dolorosos passos para longe dele e pegou o celular de cima da mesa de centro da sala. – Fala, Ongie.

- Oi, Taec – ele perguntou, com voz animada. - Quer sair, hoje?

Ele sabia que nem deveria ter atendido, porque com certeza essa era a pergunta que teria que acabar ouvindo. Só que não queria sair. Não queria ir para lugar nenhum que não tivesse ChanSung, principalmente porque eram os últimos dias antes que Jay voltasse. E, quando isso acontecesse, Deus que o perdoasse, mas ele não tinha a mínima ideia do que aconteceria.

- Não – ele disse, simplesmente.

ChanSung olhou para ele com um ar interrogativo e foi se sentar no braço de uma das duas poltronas brancas que haviam na sala.

- WooYoung que me convidou.

- Não, desculpe, SeulOng. Tenho mil coisas pra fazer-

- Ah, Taec! – o amigo se queixou. – JunSu também disse que está cheio de trabalhos pra fazer, e Nichkhun não desgruda mais daquela garota que ele conheceu... Victoria, ou seja lá qual for o nome dela. Eu estava tão-

- Ah, por favor.

- Espera, me deixa terminar. Eu não quero ficar segurando vela pro Woo a noite toda, e são os últimos dias antes que o Jay volte, – bom que você tenha percebido isso também, foi o que Taec pensou – então você bem que podia fazer um esforço e vir comigo.

Taec franziu o cenho.

- Ir com você? O que vai ser isso, um encontro?

- Muito engraçado.

- Olha-

- Tá, chega! – o amigo disse, exasperado, do outro lado da linha – Praticamente desde que Jay foi não teve uma vez sequer que um de nós não tivesse que te ameaçar pra sair. Eu sei o quanto pode ser difícil, mas desta vez você vai parar de complicar e ir comigo, quer queira, quer não.

- Ong-

- Eu não dou a mínima se você quiser ficar com alguém lá, quero dizer, eu já percebi que você está saindo escondido e ficando com alguém esse tempo todo e não nos contando porque acha que vamos te levar a loucura-

- Isso não é verdade – ele disse, embora sem muita confiança na voz. Quando Jay chegasse, pelo amor, como ia ser?

- Talvez não seja... mas talvez seja.

- Eu não posso simplesmente ser deixado em paz?

- NÃO!

¬ChanSung voltou a olhar para ele com uma expressão interrogativa no rosto. Provavelmente ele também havia ouvido o grito.

- Tudo bem, eu vou pensar nisso e te ligo depois, ok? – ele acabou dizendo, embora não tivesse a mínima intenção de mudar de ideia e voltar a ligar para ele naquele dia.

- Diz que sim de uma vez. É mais fácil.

Taec bufou.

- Até mais, SeulOng.

E desligou, irritado.

O mais novo continuava a olhar para ele com aqueles grandes olhos interrogativos que dispensavam qualquer pergunta verbalizada.

- Ele queria que eu saísse, hoje.

- Tudo bem. – ChanSung respondeu, erguendo-se do braço da poltrona com um pulo, sorrindo. Ele andou os passos que estavam o afastando de Taec e colocou uma das mãos no ombro dele, massageando-o de leve. – Você pode ir, se quiser.

- Só que eu não quero. Quero ficar com você... – ele se queixou, em voz baixa, aproximando-se lentamente do outro.

ChanSung olhou para ele por alguns segundos.

- Quem... mais iria?

Taec franziu o cenho.

- Não sei direito. Woo, pelo jeito com o JunHo...

O mais novo deu um passo involuntário pra trás e riu alto. – Aposto que isso é coisa do JunHo. Aposto o que você quiser que ele vai ligar pra mim daqui a pouco, louco pra que eu vá com ele e você vá com seus amigos, só pra que a gente tenha que se virar nessa situação.

Taec não achava que existia uma pessoa que fosse capaz de bolar uma coisa dessas, mas se ChanSung estava dizendo...

- Por que você acha isso?

- Porque ela já me disse várias vezes que ia fazer isso.

- Tá, mas não tem problema nenhum, porque nós nunca iríamos concordar com uma ideia imbecil dessas – ele falou com confiança, mas ChanSung já estava olhando pra ele com um sorriso irônico no rosto. – Iríamos?

ChanSung fitou-o, pensativo, no exato momento em que TaecYeon começou a pensar que fazer mais uma loucura podia ser exatamente do que ele precisava.

***
Taec afundou um pouco mais na cadeira, se perguntando pela milésima vez quando fora o maldito momento em que ele decidira que aquilo poderia ser uma boa ideia. Ou divertido.

O que poderia existir de divertido, afinal, em ver ChanSung sentado do outro lado da mesa sem mal poder falar com ele, aguentando a vontade de puxá-lo para um canto da festa e agarrá-lo? Isso sem contar que Jay voltaria dali a quatro dias, o que provavelmente iria significar o final de sua paz.

Não que ele conseguisse resistir a uma aventura, de qualquer forma. Sempre tentara ser um cara comportado e, na maioria das vezes, conseguia. Mas às vezes ele simplesmente perdia a noção. E ChanSung fazia com que esse seu lado ficasse pior.

No momento, só estava esperando um descuido das pessoas que estavam sentadas com eles – WooYoung, JunHo, SeulOng, e um amigo de ChanSung que se chamava JoKwon, com sua namorada cujo o nome Taec havia esquecido – para sair dali com ChanSung e agarrá-lo no banheiro ou no canto mais próximo.

O mais novo estava lindo. Ele sempre era, mas especialmente quando saíam. Ele tinha um jeito despreocupado e casual que-

- Hey – SeulOng interrompeu sua linha de raciocínio, cutucando-o no braço. – Mesmo eu tenho que admitir que ele é bem bonito, mas tem certeza de que não é falta de educação ficar encarando?

TaecYeon usou de toda força de vontade que possuía para não dar um pulo na cadeira.

- Ahn?

- Não se faça de desentendido – o amigo disse, olhando fundo nos olhos dele. – O amigo de JunHo. Você não tirou os olhos dele a noite toda.

- O quê? – ele perguntou, soando ofendido. Nos últimos tempos se fazer de desentendido havia virado uma profissão. – Fala sério, Ong, ele tem namorada!

- Taec. O outro.

- Ah – ele disse, e deu uma espiada proposital em ChanSung, que ria alto de alguma coisa que a namorada de JoKwon havia acabado de dizer. – Eu não estava encarando ele.

- Ele pode ficar incomodado, sabe.

Ele não vai. Ele provavelmente está adorando.

- Cala a boca – ele disse, sério.

SeulOng sorriu.

- Por mim você pode ir em frente. Aproveita que Jay só volta na terça, eu não vou dizer nada.

Taec só ficou olhando pra ele com a boca entreaberta, tentando passar a impressão de que nem ao menos havia considerado essa possibilidade. SeulOng, porém, só revirou os olhos.

- Quer parar de me olhar com essa cara de peixe morto? Você sabe que não consegue esconder quando está a fim de alguém, e, sinceramente, você estava olhando para ele como se fosse arrastá-lo para um canto e agarrá-lo.

Taec bufou. Até o simples barulho da música estava fazendo com que ele se sentisse irritado. Pelo menos eles haviam escolhido ir para uma danceteria onde haviam mesas para sentar.

– Tudo bem, você venceu, me sinto atraído por ele. Mas isso não quer dizer que eu vá agarrá-lo! Quero dizer, tem como não se sentir atraído por ele? De qualquer forma o Jay vai voltar em quatro dias, posso muito bem aguentar até lá.

- Duvido que ele esteja se comportando como a Madre Tereza de Calcutá, lá em Seattle.

Taec desviou os olhos.

- Ele não está.

- Taec, não estou entendendo você. Mesmo com a gente te enchendo o saco por causa do Jay eu achei que você ia fazer a farra enquanto ele não estivesse aqui. Quero dizer, isso é por nossa causa?

- Não faz diferença – ele disse, voltando a olhar para SeulOng.

- Pega ele.

- Não.

- Eu sei que você quer, e ele provavelmente quer o mesmo, porque também fica te olhando.

- Qual é? – ele respondeu, realmente indignado dessa vez. – Vai ficar controlando pra quem eu olho ou quem olha pra mim, agora? Não se preocupa porque, se tiver que acontecer, vai acontecer. Mas sou eu quem vai decidir isso. E essa conversa acabou por aqui.

Ele se arrependeu de ter sido tão ríspido no momento em que as palavras lhe saíram da boca. Sabia que SeulOng não ficaria chateado e muito menos intimidado pelo que ele havia dito, mas ainda assim não parecia certo descontar sua frustração nele, que só estava querendo ajudar.

Olhou para ChanSung novamente, embora soubesse que não devia. O mais novo estava olhando para ele, parecendo pensativo. Quando viu que Taec estava olhando de volta, ele sorriu. Taec sorriu para ele também, sabendo que seria um sorriso amigável demais para quem havia supostamente acabado de se conhecer, mas não conseguiu evitar.

Desviou os olhos, ainda pensando se ChanSung iria entender o sinal se ele se alevantasse de repente e fosse para o banheiro ou para a pista de dança, que ficava um pouco afastada do lugar onde estavam as mesas em que eles estavam sentados.

Ficar com ChanSung na frente de todos ali ainda estava fora de cogitação. Não queria que ninguém visse. Depois que eles vissem, poderiam ligar o fato a outras coisas e chegar à conclusão de que eles estavam juntos há mais tempo. Como eles fariam isso não importava. Poderiam fazer, isso que era o importante.

- Hey – SeulOng voltou a cutucá-lo, do mesmo jeito que fizera minutos antes. Taec olhou irritado para ele, mas o amigo não estava encarando-o e tampouco parecia olhar para ChanSung. – Ela é linda, não é?

Taec franziu o cenho e olhou na direção no olhar dele. Ficou procurando entre as pessoas que estavam além da mesa deles, e demorou alguns segundos para processar que SeulOng na verdade se referia à namorada do amigo de JunHo.

Olhou sério para ele.

- Ela tem namorado.

- Eu sei! – ele protestou, sério, mas então sorriu. – O que não faz com que ela fique feia.

Taec deu uma boa olhada nela, porque na verdade mal tinha prestado atenção. Não havia parado de pensar em ChanSung a noite toda.

Era realmente bonita. Pequena, pele muito branca e com lindos olhos que desapareciam quando ela sorria. Óbvio que não fazia o seu tipo, mas definitivamente era bonita.

- Lembra do dia em que a gente saiu com eles pela primeira vez? – SeulOng perguntou.

Taec franziu o cenho. Já tinham saído com eles antes? Estava para dizer para SeulOng que nunca havia saído com eles quando lembrou de que era o mesmo casal que estava com JunHo no dia em que ele conhecera WooYoung.

De repente lembrou do nome dela. GaIn. Por Deus. Tudo bem que naquela vez ele estivera suando frio de medo e não conseguia parar de pensar em ChanSung, e que no presente momento se achava na mesma situação, mas sinceramente... Onde é que estava a sua cabeça? Devia ser capaz de lembrar das pessoas com quem ele já havia saído!

- Hm... sim – ele disse, embora estivesse reticente. Lembrava do pânico que havia sentido, lembrava do tédio que havia sentido e lembrava que JunHo e WooYoung tinham ficado. Mas podia ter esquecido de alguma outra coisa importante, quem é que iria saber dizer.

- Eu já tinha ficado louco por ela.

Taec olhou indignado pra ele.

- Você está realmente desconsiderando o fato de que ela tem namorado, não está?

- Aquele namorado dela é um gay!

- O quê?

SeulOng riu.

- Quero dizer, ele parece gay. Aposto que se eu tentar cantar ele vai dar mais resultado do que com ela – ele disse, morrendo de rir.

TaecYeon não sabia se ria com ele, ria dele ou lhe dava uma bronca. Sua dúvida deixou de existir, no entanto, no momento em que sentiu uma mão ser pousada em seu ombro. Ele olhou para trás e quase caiu da cadeira ao ver que era ChanSung.

SeulOng parou de rir na hora e Taec sentiu que todos os olhares da mesa estavam em cima dele – talvez ele só estivesse fantasiando, porém.

ChanSung sorriu marotamente, de modo que Taec soube por antecipação que lá vinha uma bomba.

- Quer ir dançar comigo? – ele perguntou, em alto e bom som.

***

- Por que você fez aquilo? – ele finalmente teve coragem para perguntar, enquanto seguia ChanSung de volta para a mesa.

No momento em que ChanSung o chamara ele não conseguira fazer muito mais do que ficar olhando com uma cara abobada para ele e o seguir mudamente até a pista. Felizmente não dava para ver a pista da mesa em que eles estavam sentados, então ele só fez uma prece silenciosa para que nenhum deles resolvesse o seguir até ali e se deixou levar.

Assim que chegaram lá ele esqueceu qualquer preocupação. Dançou com ChanSung pelo que pareceram horas – apesar de ele ter certeza de que não foram mais do que umas poucas músicas – ajustando-se ao ritmo dele, ao mesmo tempo em que parava de quando em quando para beijá-lo.

Sabia que não deveria fazer aquilo – não dançar, mas beijar – no meio de todo mundo, mas já estava feito, de qualquer forma. Seus amigos o conheciam e os amigos de ChanSung provavelmente o conheciam também.

Era preciso muita força de vontade para somente dançar, e ele não queria aquilo. Às vezes o puxava para perto e soltava algumas frases soltas, dizendo que ele estava louco de ter feito aquilo, mas ChanSung só ria, parecendo realmente ter se divertido com a situação.

E TaecYeon sabia que o certo era ele estar furioso por causa daquilo, mas não conseguia deixar de se divertir também. Pelo menos enquanto eles estavam dançando e ele sentia sua mente entorpecida.

- Aquilo o quê? – o mais novo perguntou, virando-se para trás. Estavam quase chegando na mesa, passando com dificuldade por entre as pessoas. Taec estava com calor e não existia outra coisa no mundo que ele quisesse mais do que simplesmente sair dali com ChanSung e ir para seu apartamento, mas sabia que não dava para fazer isso agora.

- Aquilo! – ele repetiu, enquanto o mais novo o guiava pela mão por entre as pessoas. Se fosse por Taec ele mal sabia dizer se conseguiria chegar até a mesa. – Me chamar pra dançar no meio de todo mundo.

Ele ainda não estava irritado, mas também não estava mais achando aquilo a situação mais divertida do mundo.

- Para com isso, você sabe tanto quanto eu que a gente não tava aguentando – o mais novo respondeu, sem parar de andar. Taec avistou a mesa em que eles estavam sentados. Sentiu vontade de puxar a mão que ChanSung estava segurando, mas não fez nada.

- Eu sei, mas a gente podia ter... sei lá, disfarçado.

- Ia ser ridículo e eles iam acabar percebendo do mesmo jeito. Eu mal conseguia tirar meus olhos de você.

- Foi uma ideia idiota vir até aqui – ele constatou. Estavam a apenas alguns passos da mesa, e ele começou a desejar de verdade que ChanSung soltasse a sua mão.

E ele acabou realmente largando, mas parou de andar e virou-se de frente para Taec.

- É, foi. Mas, já que viemos...

- WooYoung vai me matar.

- Não vai, não. Olha o seu tamanho e olha o dele.

- Bom, então ele vai falar para o Jay e ele vai me matar – TaecYeon disse, espiando a mesa por cima do ombro de ChanSung. JoKwon e sua namorada não estavam mais ali, mas SeulOng, WooYoung e JunHo estavam olhando para eles. Merda.

ChanSung bufou.

- Quer parar com isso? O que exatamente ele vai dizer? Que fui dançar com você? E daí? Não foram vocês mesmos que decidiram essa situação de “relacionamento aberto” enquanto ele viajava?

Eram tantas perguntas que Taec nem sabia por qual começar a responder.

- Eles estão olhando pra cá – ele acabou dizendo, embora soubesse que era provavelmente a pior coisa que poderia dizer.

ChanSung olhou para ele durante alguns segundos, mudo. Então ele suspirou.

- Quer saber de uma coisa? – ele perguntou e Taec ficou na dúvida entre pará-lo ou deixá-lo continuar.

- O que?

ChanSung olhou para ele com raiva.

- Eles vão falar? Então é melhor que a gente dê um bom motivo.

Enquanto Taec debatia internamente entre sair correndo ou concordar com ele, ChanSung o puxou pela nunca e o beijou bem na frente de seus amigos.

TaecYeon pensou sinceramente em pará-lo antes que a situação ficasse pior, mas não tinha forças pra tanto. Queria beijá-lo – queria mais do que isso, para dizer a verdade – e, se ChanSung resolvera tomar uma atitude por ele, que fosse. Agora já estava feito.

Fora o fato de que não deixava de ser excitante saber que WooYoung e SeulOng estavam vendo aquilo. Talvez eles pudessem dizer mesmo para Jay, então ele ia ficar furioso, terminar tudo e Taec não precisava mais se preocupar com aquilo.

Mas, espera-- Ele não queria que Jay terminasse tudo.

Separou-se de ChanSung, tomando cuidado para não parecer que ele estava forçando-o a parar de beijá-lo. Embora essa fosse a sua intenção, porque pensar em Jay brigando com ele por causa do mais novo subitamente tinha feito com que ele voltasse a si.

- Louco – ele disse, simplesmente.

Deu uma olhada na mesa. Felizmente nenhum deles continuava olhando.

- Você tem que se decidir, Taec.

- Eu vou – ele respondeu, com confiança.

ChanSung estreitou os lábios, olhando pra ele, parecendo mais desconfiado do que nunca. Taec achou que ele iria dizer alguma coisa, mas o mais novo acabou por simplesmente lhe dar as costas e voltar para a mesa, onde foram recebidos com olhares divertidos de todos os presentes.

***

Segunda-feira chegou muito mais cedo do que TaecYeon quis que chegasse. O final de semana havia passado rápido como um raio. Ele estivera com ChanSung praticamente o tempo todo e, apesar do que havia acontecido na sexta à noite, nenhum de seus amigos ficara realmente sabendo sobre eles – pelo menos ele achava que não.

Jay voltaria no dia seguinte e ele ainda não sabia o que fazer. No dia anterior, ChanSung saíra de seu apartamento dizendo que era melhor que ele resolvesse logo o assunto, e que ligasse pra ele depois de decidir o que faria.

Estava com medo de nunca mais ligar para ChanSung. Podia muito bem acontecer, ele se conhecia. Jay chegaria, ele não teria coragem de terminar com ele e tampouco de ligar para ChanSung, que ficaria esperando eternamente por seu telefonema. Ou qualquer coisa um pouco menos trágica, mas parecida.

- Eu acho tão engraçado o modo como você sabe que está sendo um filho-da-puta e se sente mal com isso, mas não faz nada pra mudar essa situação – JunSu comentou, depois de ser informado dos últimos acontecimentos.

- Eu juro que tento e até planejo, mas depois vou e faço exatamente o que eu sei que não deveria fazer – ele confessou, olhando sem muita apetite para o prato de comida que estava na sua frente. Irônico, já que ele estava normalmente faminto.

- Bom, vamos ver o que vai acontecer amanhã. Acho que você vai saber o que quer quando vir o Jay novamente.

- É, acho que sim – Taec concordou, não porque achasse que isso iria acontecer, mas porque era a última esperança na qual ele podia se agarrar.

Chegou em casa se sentindo cansado como há muito tempo não se sentia. Jogou-se no sofá na primeira oportunidade, sabendo que tinha que ligar para Jay, mas não encontrando coragem.

Depois de ficar encarando o teto por alguns minutos, sentiu-se ridículo e pegou o telefone de cima da mesinha. O encarou por alguns instantes, pensativo, e então discou o número. Nem sabia direito porque estava com receio de ligar para ele, afinal. Não pretendia terminar com Jay pelo telefone, definitivamente.

- Alô? – respondeu uma voz sonolenta.

- Oi, Jay.

Pausa.

- Taec, você sabe que horas são aqui? Eu estava no sétimo sono, já.

- Eu sei – ele respondeu, rindo um pouco. – Só quero saber se está tudo certo pra você voltar amanhã.

Jay riu baixo, uma risada típica de alguém que está fazendo esforço pra se manter acordado.

- Está com tanta saudade assim ou quer que não esteja tudo certo?

Não sei.

- Eu vou fingir que não ouvi isso.

- É o que você ganha por me telefonar de madrugada. Sabe que eu perco a cabeça quando estou com sono.

- Jay, você não precisa estar com sono pra perder a cabeça.

- É... – ele concordou, com certa relutância. – Mas está tudo certo, sim.

- Que horas você vai chegar, terça?

- Ah... não sei direito. Por volta das sete da noite, se tudo correr bem.

Taec assentiu, por um momento se esquecendo de que Jay não poderia ver o gesto. – Até lá, então.

- Até. Posso voltar a dormir, agora?

- Claro. E, Jay...

- O quê?

TaecYeon parou por um tempo, mordendo o lábio inferior. Queria prepará-lo para o que quer que pudesse vir a acontecer quando ele chegasse, mas não sabia como fazer isso. Não sabia como dar uma dica.

- Nada, não – ele acabou dizendo.

O outro lado da linha ficou mudo por algum tempo. Foram provavelmente só alguns segundos, mas o suficiente para Taec pensar que sua reticência talvez fosse o melhor modo de prepará-lo para o que estava para vir. Se é que havia alguma coisa por vir.

- Taec, eu não ia perguntar nada... mesmo por que eu já estou voltando... mas tem alguma coisa acontecendo que você não me contou?

- Não – ele negou na hora.

WooYoung ou SeulOng podiam ter ligado para ele e contado sobre ChanSung... ou Jay simplesmente havia notado que alguma coisa estava diferente. Talvez ele nunca ficasse sabendo ao certo.

- Então tá. Tchau.

- Até logo – ele disse, muito consciente de que esse logo estava mais próximo do que nunca.

Desligou o telefone, mas não o colocou de volta no lugar. Ficou encarando o aparelho por algum tempo. Não ia conseguir fazer aquilo. Não podia deixar que Jay voltasse e sair do nada com uma história sobre ter conhecido outra pessoa e se apaixonado por ela enquanto ele estava fora.

Se havia a mais remota chance de que eles pudessem manter a amizade depois de ele fazer isso, tinha a destruído no momento em que se recusara a dizer para ele o que estava acontecendo, desde o começo. Porque não haveria problema nenhum em falar se ele estivesse fazendo a coisa certa.

Ele vagarosamente trocou de posição, sentando no sofá. Sustentou o olhar vazio por mais algum tempo, pensando. Devia ligar para ChanSung e dizer que não podia fazer aquilo. Não sabia o número dele de cor, no entanto, e também não sabia se ia continuar querendo ligar no momento em que se erguesse para ir pegar o celular que estava dentro do casaco que ele havia largado na poltrona do outro lado da sala.

Infelizmente era muito mais fácil magoar ChanSung do que magoar JaeBeom.

Finalmente conseguiu alevantar. Largou o telefone no lugar que estivera antes e andou até a jaqueta. Tirou o celular do bolso e, como era previsto, percebeu que já não tinha mais vontade de telefonar. Continuou segurando-o na mão de qualquer forma, enquanto caminhava até a janela.

Você sabe que vai ser muito mais fácil fazer isso agora.

Mas não queria magoá-lo. Era sua culpa.

Olhou para o que conseguia ver da cidade, na vista de sua janela. Tanta gente com problemas piores...

Quando se deu conta do que estava fazendo o telefone já estava chamando. Ele fechou os olhos, sentindo que aquela era a hora. Precisava dizer.

- Alô, Taec? – chamou uma voz do outro lado da linha.

Não era ChanSung.

- Anh... quem fala? – ele perguntou, cauteloso.

Por um momento irracional seu coração deu um salto de surpresa e ele percebeu que ele não necessariamente precisava ser o único a ter um relacionamento paralelo ali.

- É o JunHo.

- Ah – ele suspirou, aliviado. Abriu os olhos. – Er... será que eu posso falar com o ChanSung? Ele está aí?

- Bom... não.

Taec franziu o cenho.

- Não posso falar com ele ou ele não está aí?

JunHo ficou em silêncio por alguns segundos. Quando voltou a falar, parecia cauteloso.

- Não pode falar com ele porque ele não está aqui.

Ele não soube direito o que dizer. Estava na cara que havia alguma coisa que JunHo não queria dizer – onde ChanSung estava? Ele não queria falar com Taec? Havia mais alguém ali, com eles? TaecYeon não sabia se tinha o direito de fazer ou não qualquer uma dessas perguntas.

- Ele... está muito ocupado?

- Hm... não, na verdade. Ele- deu uma saída, quero dizer, se você quiser ligar daqui a pouco...

- Ah... okay, então – ele respondeu, porque aquela conversa parecia tensa demais para que ele pudesse aguentar por muito mais tempo. Mesmo a ideia de ChanSung saindo e deixando o celular com JunHo sendo meio ridícula. – Eu vou ver se ligo mais tarde.

- Isso. Liga mais tarde.

- É. Hm... tchau.

Ele desligou de alguma forma se sentindo pior do que quando tinha ligado. Era como se ChanSung soubesse que ele estava para tomar uma decisão impulsivamente e tivesse se recusado a atender.

Embora ele não conseguisse parar de pensar na hipótese de ele estar com mais alguém. Ou até mesmo JunHo. ChanSung rira dele quando Taec sugerira que eles tinham alguma coisa, na primeira vez em que se encontraram, mas ele tinha os visto se beijando, não tinha? Tudo bem, podia ser um beijo ocasional de amigos, mas Taec não saía beijando seus amigos – com a exceção de Jay, claro – e achara aquilo bastante estranho.

Suspirou e voltou a se largar no sofá. Não tinha a mínima intenção de ligar mais tarde para terminar tudo. Na verdade não tinha mais a mínima intenção de ligar, nem agora e nem depois.

Seja lá o que fosse que ChanSung estava fazendo, o tinha impedido de terminar tudo. Dessa forma, mesmo se sentindo ciumento e desconfiado, ele não deixou de sentir um estranho conforto.

Sorriu um pouco, satisfeito. Dali há menos de um dia Jay já estaria de volta e, se tudo desse certo, ele poderia terminar o que estivera tentando fazer antes. Até lá pretendia tentar descansar o pensamento desse assunto, pela primeira vez em quase dois meses.