Book Of Pain escrita por Anonymus_Fulano


Capítulo 7
O Coração Negro


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, caro leitor.
Em primeiro lugar gostaria de dizer que este texto não foi criado de propósito, ele surgiu pois quando a emoção é maior que a razão, somente a escrita é capaz de consolar.
Este é um texto somente de minha autoria (Mary Ann).
Boa leitura! Beijos!



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O Coração Negro

O que fazer quando tudo parece ficar negro? E não é uma coisa só. Pode ter começado com algo único, mas aos poucos foi se transformando numa avalanche cheia de itens os quais "desbarrancaram" e assim arrastando outros.
Neste momento não sei se é mais o coração que dói ou a mente. Se é a razão ou a emoção. Se, se, se.

Foi o trabalho, a oferta nova de trabalho ainda incógnita, a esperança de tudo mudar e um antigo sonho se realizar e no momento, existe nada? Foi a família, que apesar de linda, parece exigente demais, ou então eu me sinto exigida demais? São os amigos que apelam por atenção mas não me sinto mais capacitada para atendê-los? Foi o amor, que sente a dor de estilhaçar-se todos os dias?

Eu não sei.

Deve ser com certeza tudo isto junto. Bem juntos. E ficou tão misturado que agora não dá mais pra perceber qual a porcentagem negra de cada item. Não dá mais pra separar o que dói do que maltrata do que machuca do que enlouquece. Tudo está intenso. Sinceramente, apesar de tudo doer, nada parece doer mais do que o coração. O coração que é burro e que por tantas vezes foi avisado.

"Não vá aí."

"Não dê atenção a isto."

"Pára de sentir isso."

"Não se sinta assim tão alegre."

Pronto! A vontade era de falar:

– Realmente, coração, você é a parte mais odiosa que existe em mim. Você gosta de me maltratar, de judiar, de torturar-me. Sempre, sempre a mesma história. É sádico? Deve ser!

Descobri então que não possuo um coração burro, estúpido. Mas sim, um coração negro, com vontade própria, feito para me fazer sua escrava. E isto não vai parar nunca. Eu sinto. Ele gosta de me ver definhando, atirada em qualquer chão frio, clamando por misericórdia que não chega. Este coração gosta de me ver olhando no espelho e não conseguir "me ver". Ver meus olhos vivos, minhas bochechas rosadas, o lábio vermelho...O sorriso! Ah, o sorriso. Cadê o sorriso? Os olhos estão tristes e caídos, as bochechas pálidas, o lábio cinza. Não existe sorriso, apenas um traço em curva para baixo. As mãos frias, as pernas vacilantes.

Sim, a culpa é deste coração. Ele é impiedoso, cruel. O centro das emoções, das mais hediondas e das mais belas. Tudo começou quando ele aprisionou o amor e me fez refém junto. O amor me foi dado com um tesouro a ser guardado um pouco pra mim e para outros. Devo espalhar este amor, devo compartilhar. Mas ao compartilhar, sinto uma coleira em meu pescoço. Meu coração puxa-me para que eu não me gabe com o tesouro e que fique claro que eu apenas dou, não significa que receberei algo. Esta é a doação genuína. Existem regras. Eu entendo isto e acho uma missão divina, não me sinto merecedora de carregar esta dádiva. Percebo que embora seja uma dádiva, há um preço a pagar. Meu coração sabia bem, mas ainda assim não me revelou. Como eu disse, ele gosta de me maltratar. Agora eu sei.

O coração bate tão forte que sinto meu corpo arcar pelas marcas do castigo. Eu dei o amor, mas dei por inteiro, minha dádiva, toda ela para alguém. Para uma única pessoa. O coração negro não aceitou isto, não era pra ser desse jeito, eu infrigi as regras. Regras? Pensei que não havia regras para o amor, que era uma fonte renovável, não importaria se o que eu tivesse agora em mãos fosse totalmente entregue. Mas, parece que há regras. O coração negro se debateu, irritou-se. Com minha entrega de amor, outras coisas também seriam automaticamente entregues. Meu corpo, minha alma, meu espírito. Consequentemente, meu coração também seria entregue. Nada mais me pertenceria pois cederia lugar para que, o corpo , o coração, a alma e o espírito desta pessoa que recebeu o meu amor, agora, pudessem pertencer à mim. Seria uma troca de presentes.

Eu sou castigada, abatida, quebrada, sangro e fico no chão frio. "Precisa aprender", parece algo ressonante na minha mente; provavelmente é o coração negro falando. Estou imóvel e dolorida e sinto uma urgência extrema desta vez. Uma ansiedade por ter um remédio pra aplacar esta dor que me consome por inteira. Será que existe? Será que alguém já sofreu assim também? Será que alguém conseguiu se curar destas feridas abertas? Conseguiu sentir o sangue passear livremente dentro de você e não fora? Por que me sinto assim? Algo saiu errado.

Friedrich Nietzsche diz:

"A melhor cura para o amor é ainda aquele remédio eterno: amor retribuído."

A cura existe e é este o segredo o qual o coração me escondeu. Era para eu ter agora a entrega total de outra pessoa para mim, assim como eu o fiz, porém, meu coração negro não permitiu. Ele negou-se a deixar de me escravizar, de ceder o seu lugar para outro coração, a deixar-me a cargo de seus mandos e desmandos. Ele impediu-me de receber a dádiva em retribuição. Eu não possuo "condições" para adquirir este remédio. E agora?

Agora, só me resta uma única coisa. Eu preciso me libertar.

Quero matar meu coração negro.


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Notas finais do capítulo

É triste, eu sei. E você, caro leitor? O que achou?
Aguardo sua opinião. Muitos beijos e obrigada por ler!



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