Eu já não podia ouvir os gritos de meus pais.

Desde há uns tempos para cá, discutiam por qualquer coisinha insignificante, e ficavam horas naquilo, até que Charlie saísse porta fora para se afundar em bebida no bar do seu amigo. Voltava de madrugada, bêbedo, e Reneé não o deixava dormir no quarto. No dia seguinte, Charlie acordava de ressaca e com dores de costas por ter dormido no sofá.

Eu já não aguentava mais isso. Discutiam há cerca de uma hora, o que significava que ainda tinham umas duas pela frente. Eu estava neste momento a ouvir música com o ipod no máximo, mas mesmo assim conseguia ouvir os xingamentos de cada um.

Me fartei. Guardei o ipod no bolso, peguei um porta-chaves que tinha uma pequena lanterna e desci em direcção à porta. Passei mesmo em frente aos meus pais, mas com a gritaria eles nem notaram.

Vivíamos em Forks, uma pequena cidade chuvosa.

Por falar em chuva, me lembrei dos livros que andava lendo. Eram quatro, eu ia no segundo. Falavam de uma humana, Kristen Stewart, que se apaixonava por um vampiro, Robert Pattinson. Eles também se conheciam em uma cidade chuvosa, Vancouver. Eu estava gostando, o irmão de Robert, Kellan, era muito divertido, me ria muito com ele.

Nossa, comecei a falar sobre o livro, e nem terminei de descrever o sítio onde vivo. Então, continuando:

A nossa casa ficava um pouco separada das outras, era rodeada em três lados por floresta e no outro havia uma pequena estrada que levava à cidade.

Decidi ir passear um pouco pelo mato. Já disse que era noite? Bem, era, por isso levei a lanterna... Liguei o ipod e fui caminhando e acompanhando as músicas.

Andei durante algum tempo, e nalguns momentos um estranho arrepio percorria minha espinha, como se eu estivesse em perigo. Só então me lembrei de meu pai falando que por aqui era hábito aparecerem lobos. Lobos? Oh, bem, eu podia com eles, certo? Eles eram pequeninos, e eu, bem, eu também, mas eu tinha uma arma! Peguei um tronco caído e continuei andando com ele nas mãos. Ai de algum lobo que me aparecesse na frente!

Era Lua Cheia, mas o luar não conseguia atravessar a floresta cerrada. Porém, passado um tempo consegui avistar uma clareira, banhada pela luz da lua. E, após me aproximar um pouco, consegui ver vultos. Me escondi atrás de uma árvore. Quem sabe eles não eram traficantes de órgãos? Nossa! Cobri minha barriga com as mãos. Eu é que não ia ficar sem estômago! Gostava tanto de comer chocolate, e sorvete, e... Bem, decidi tomar atenção no que os homens falavam...

- Bom, senhor Cullen, recebemos uma queixa dizendo que o senhor apareceu no sol, dois dias atrás. Queríamos saber se isso é verdade. Será que pode me dar sua mão?

Não conseguia ver a cara de ninguém, porque estavam todos cobertos por uma capa negra. Nossa, pareciam Comensais da Morte, só faltava as máscaras prateadas.

Um dos homens não tinha capa, usava umas calças jeans e uma camisa, mas não dava para para ver sua cara, porque ele tinha a cabeça baixa e o cabelo cobria uma parte de seu rosto. Esse devia ser o senhor Cullen, pois o outro homem tinha a mão estendida para ele. Mas ele não poderia dar a sua, pois estava de joelhos, e seus braços estavam sendo agarrados por outros dois homens. Será que iam tirar os pulmões dele? Mas, então porquê a conversa do sol?

- Senhor... - uma figura pequena e magrinha, também coberta por uma capa negra, murmurou para o primeiro homem, com uma voz fininha - Temos companhia... - e apontou com a cabeça para a árvore onde eu estava escondida. Todas pessoas naquela clareira viraram a cabeça na minha direcção.

 Droga! Vão tirar minhas tripas!