- Alô, Jenny?

Ela hesitou por alguns instantes em responder, mas se ela quisesse terminar aquilo de uma forma consciente, ela teria que deixar seus receios e birras de lado.

- Oi Justin.  –respondeu ela, enfim.

- Jenny,  que saudade! Você não faz ideia do quanto tenho sentido sua falta, mas e aí, tudo bem? Como estão seus pais, seu irmão? Ah, recebeu meu presente? Jenny, você... –caramba! Mas que diabos eram aquilo? Justin estava um tanto nervoso, parecia uma metralhadora falando. Jenny percebera isso. Entretanto, ela não estava muito a fim de falar com Justin, apesar de estar sentindo a mesma saudade, a mesma vontade de estar com ele, mas ela estava magoada. Ele passou mais de um mês sem dar noticias, e para ela, não era assim que as coisas funcionavam.

- Obrigada pelo presente, muito gentil de sua parte. Sim, minha família está bem. –respondeu ela na forma mais vaga, seca e fria que conseguiu.

- Jenny, aconteceu alguma coisa?

- Sim. Temos que conversar sobre isso. Quando você pode vir aqui em Atlanta?

- O que aconteceu?

- Justin, estou ocupada agora, tenho algumas coisas para fazer, não posso ficar perdendo tempo no telefone. Você pode ou não vir a Atlanta nesse final de semana? –ela percebeu que foi um tanto rude, mas que se dane! Ele parecia despreocupado e se não fosse pelo aniversário dela, ele nem teria ligado.

Do outro lado da linha Justin estava confuso. Até passou pela cabeça se ele tinha errado o numero do telefone, mas a voz que ele ouvia era a de Jenny, impossível confundi-la.

- Eu te fiz alguma coisa?

Se ele fez alguma coisa a ela? Como ele ousava fazer aquela pergunta a Jenny? Ele praticamente esqueceu o aniversário dela. Ele tinha a prometido que ligaria sempre que pudesse, mas caso contrário, conversariam por e-mail quase todos os dias, porém não foi isso o que aconteceu.

- Você não respondeu a minha pergunta. –insistiu Jenny.

- E você também não me disse o que houve.

Ela não respondeu. Ficaram em silencio por um breve instante até que Justin disse:

- Tudo bem. Já que por telefone não rola, vou ver se posso ir aí no sábado, pode ser?

- Você vai ver... –repetiu Jenny mais para ela mesma do que para Justin. –Tudo bem. A gente se fala. Tchau.

E desligou na cara dele, sem ao menos ouvi-lo se despedir. Ela fechou os olhos e se jogou na cama. Sua mente estava a um milhão.

Um ano atrás ela era apenas a Jenny Lyons que vivia em uma pequena cidade com seus pais, que tinha uma vida mansa, sem muitas aglomerações, tinha amigos de verdade. As pessoas gostavam dela, pelo que ela realmente era. Porém o destino trouxe tudo aquilo que ela jamais desejara em toda sua vida. Agora ela era popular, havia até fã clubes para ela. Jenny Lyons para o mundo era a namorada de Justin Bieber, nada mais. Ela não estava gostando daquilo. Ela queria mostrar ao mundo quem ela realmente era, ser gratificada pelo que faz, não pela sua vida amorosa. Sim, ela amava Justin e duvidava se um dia amaria alguém como o ama, no entanto as circunstancias eram inúmeras. Por amor ela enfrentaria barreiras, mas seu romance com Justin não havia apenas barreiras ou pequenos obstáculos, como por exemplo, a distancia, para serem superados. No romance deles havia muralhas, muitas delas. Muralhas que não se encaixavam aos padrões de Jenny.

 Quando ela menos esperou, pegou no sono e só foi acordar quando sua mãe foi chamá-la dizendo que se ela não se apressasse, perderia a carona com ela.
Jenny recordou de que teria que passar mais um dia naquela escola insuportável, onde só havia subornadores, pessoas que te tratavam conforme o que você tem ou da onde você veio. Ela tomou um banho e rapidamente vestiu o uniforme.

Na escola era sempre a mesma coisa. Quando ela passava pelos corredores, andava no pátio com alguma colega, que sempre a tratava de modo falso, as pessoas começavam a cochichar ou simplesmente soltava uma para que todos pudessem ouvir “Lá vai a namoradinha do Bieber” ou “Olha a piranha que namora o Justin Bieber” ou até mesmo “Só está com o Bieber porque ele é famoso e rico”. Jenny tentava a todo custo ignorar, mas tem hora que cansa. Ela estava decidida que não iria mais estudar naquele inferno. Seus pais puseram-na nesse colégio com intuito de que Jenny tivesse mais privacidade, entretanto isso não funcionara muito bem.

No instante em que seu pai chegou em casa, veio lhe trazer uma novidade:

- Jenny, tenho boas noticias para você. –disse ele com um sorriso largo.

- O quê? –perguntou ela desconcentrando seu olhar do notebook para encará-lo.

- Eu estava conversando com o John, aquele meu amigo que trabalha... –ela estava tão centrada procurando novas opções de escola que, quando seu pai começou a detalhar sobre seu tal amigo John e o que eles estavam fazendo ou conversando, sei lá, ela o interrompeu.

- Vou mudar de escola.

Seu pai a fitou por um segundo e disse:

- Bom, então isso é destino. Pois ele me apresentou um programa de intercambio, que talvez você possa se interessar.

Jenny piscou uma, duas, três vezes. Intercambio? Ela realmente tinha ouvido aquilo? Isso era ótimo. Era tudo o que ela estava precisando no momento. De um novo começo, deixar tudo para trás e fazer diferente. Sem fama, sem glamour, sem namorado pop star.

- É claro que me interesso! Pai, isso é ótimo! –ela dizia com sinceridade.

- Maravilha! Sabia que você iria gostar. Amanha mesmo te trago mais detalhes, pois a prova será nessa quinta e ainda há algumas vagas e se você entrar no programa, depois é só sugerir o paíse que você gostaria de fazer o intercambio. 

Aquilo soou como musica aos ouvidos de Jenny. Ela estava cansada de sua vida “monótona” de subcelebridade. Ela não queria mais se sentir sufocada quanto a isso. E um novo começo em um novo continente, quem sabe, fosse o melhor para ela? Bom, ela não saberia se não arriscasse.

A noticia se espalhou rápido até Kate e mais alguns de seus amigos em Atlanta. Assim como a noticia foi rápida, a semana também. Justin havia telefonado para marcar um encontro com ela no sábado à noite, mas não a encontrou em casa e pediu para sua mãe dar-lhe o recado.
Jenny não quis respondê-lo, apenas deixou a semana fluir e entrar de cabeça nessa ideia de intercambio. Ela tinha feito uma boa prova e estava confiante, pois o resultado sairia no sábado, às 11hsAM. Ela havia escolhido a Inglaterra para fazer intercambio. 

Jenny apenas se tocou de que a semana havia simplesmente voado, quando sexta à noite estava em seu quarto assistindo um seriado no canal ABC Family, quando o mesmo acabou e ela ficou na náusea que é uma sexta à noite para aqueles que não curtem baladas tanto assim.
Ficou pulando de canal em canal quando um rosto apareceu na tela. O rosto que fazia toda sua estrutura corporal tremer feito um terremoto de 10° na escala Richter. O rosto de Justin.
Ele estava dando uma entrevista ao canal E! e pelo que dizia no vídeo, fora gravado domingo. E domingo fora o aniversário de Jenny. Agora ela sabia o que Justin estava fazendo no dia de seu aniversário. Porém ele estava mais lindo do que nunca. Seu sorriso iluminado se destacava. Ele havia arrepiado o cabelo de uma maneira que o deixava com uma aparência mais matura. Vestia uma blusa branca de gola V, uma calça jeans de aparência surrada que, como sempre ele fazia questão de deixá-la com a cintura baixa, bem baixa, digamos assim. Justin transmitia confiança, simpatia e transparência em suas respostas. Jenny estava odiando aquilo. O que ela menos queria era deixar-se seduzir por Justin.

- E quanto a sua vida amorosa? Sabemos que você está namorando com uma garota, que não faz parte do show business, chamada Jenny Lyons, já faz um tempo. Como ela fica no meio disso tudo? –perguntou a entrevistadora.

Justin ficou em silencio por alguns segundos. Jenny chegou mais perto da televisão. Ela não queria perder nem um milésimo de sua resposta.

- Hmm... –iniciou Justin com uma pontada de insegurança.-  Acho que ela está bem com isso tudo. Ela nunca reclamou nada para mim, então... está ótimo.

Após ouvir a resposta de Justin, Jenny apenas desligou a TV e ficou fitando a tela preta. Ela nunca reclamou nada? Ela sempre havia deixado explicito esse assunto entre Justin e ela. Desde o inicio ela deixara bem claro que todo aquele holofote não era para ela, no entanto ela aceitava isso como um desafio por amar Justin e até então, guardava a dificuldade de lidar com isso somente para ela, mas agora era tarde demais. Quando guardamos certas coisas para nós mesmos por muito tempo, isso acaba se transformando em uma bolha enorme e como toda bolha, um dia estoura. E foi exatamente isso que acontecera para Jenny. Se ela não havia reclamado nada para Justin, ele iria ouvir o que era reclamação no dia seguinte. 

Jenny acordou cedo no sábado para ir a agencia com seu pai e saber se passou na prova. Ela estava bastante ansiosa, foi uma das primeiras a chegar. Às 11hs em ponto, liberaram a lista e para alivio de Jenny, ela havia passado e em segundo lugar! Ela vibrou de alegria e deu um grande abraço em seu pai. Ela estava indo para a Inglaterra! Jenny iria buscar por um novo começo em solo inglês!

- Parabéns filha, eu sabia que você conseguiria. –disse ele dando-lhe um beijo na testa.

- Obrigada por tudo pai, eu te amo. –retribuiu ela, abraçando-o mais forte.

A explosão de alegria de todos na família Lyons foi tanta que quando saíram para comemorar no restaurante preferido de Jenny, esqueceram a noção da hora. Foi só quando Jenny recebeu uma mensagem de Kate parabenizando-a que ela viu que horas eram. Faltavam apenas 30 minutos para que Justin passasse em sua casa para eles saírem para jantar e Jenny dar um ponto final em tudo aquilo.
Foi depressa para casa, tomou um banho jato, penteou seus longos cabelos castanho claro, o jogou de lado, passou apenas rímel e vestiu a primeira roupa que encontrou. Uma jaqueta preta com uma regata branca debaixo, um jeans azul escuro e um par de Vans preto. Básica. Totalmente Jenny Lyons. Ela estava pegando sua bolsa quando ouviu a campainha tocar, pediu a seu pai que atendesse e desceu as escadas. Quando chegou ao portão e viu Justin encostado em seu carro com um olhar perdido e uma expressão bem séria com as mandíbulas contraídas, totalmente o oposto do que Jenny vira na entrevista um dia antes, sem contar que com essa expressão ele pareceu bem mais bonito. Ele virou-se para ela fitando-a bem no fundo dos olhos. Quando seus olhos se encontraram por completo, Jenny notou que isso seria bem mais difícil do que ela imaginara.