1997 escrita por N_blackie


Capítulo 98
Harry




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“Velho maluco, essa merda tem senha, Prongs!” Adhara xingou, chutando a estátua de água impassível que guardava o escritório do diretor de Hogwarts. Profe

“Não deve ser impossível, vamos pensar,” Harry mordeu o lábio, tentando pensar em todo o catálogo de guloseimas que a Dedosdemel tinha e que podiam agradar o paladar de Dumbledore, “chicle baba e bola, penas açucaras, feijõezinhos-“

“Ah, claro, a senha secreta que nem a Umbridge conseguiu adivinhar é feijõezinhos de todos os sabores! Merda, merda, merda-“Adhara pontuava cada palavra com um chute na estátua, “merda, merda de tolete!”

Padfoot chutou uma última vez, e a estátua, lentamente, começou a se mover. Harry se perguntou se a palavra-chave seria “merda” ou “tolete”. “O que você fez?” Perguntou. Adhara deu de ombros, espiando a passagem que se formou.

“O que você viu aqui, chutei e xinguei... Vamos subir?”

Harry a acompanhou, e no caminho decidiu perguntar de onde diabos ela encontrara tolete. Padfoot deu de ombros. “Eu errei isso uma vez numa prova. Moony achou hilário me chamar de tolete umas duas semanas depois... Sei lá, é um bicho meio inútil... “

A sala de Dumbledore não era desconhecida de Harry, e muito menos de Adhara. As quinquilharias espalhadas, intercaladas com milhares de livros, eram familiares pelo tanto de visitas disciplinares que fizeram ali, com a exceção de alguns objetos novos que tinham sido acrescentados ao longo do tempo. A mesa do diretor também continuava muito parecida com o que era antes. Ao lado do móvel, o poleiro de Fawkes, sua fênix (que gostava de Adhara porque ela sempre lhe levava chocolate contrabandeado) estava vazio.

O único objeto destoante daquela bagunça organizada era uma bacia, talvez de prata, que descansava sobre a mesa, encrustada de runas antigas e uma ura arroxeada que banhava apenas os papeis mais próximos com sua luz. Harry franziu a testa e ajeitou os óculos, intrigado.

“Porque Dumby deixou a penseira largada por aí?” Padfoot circundou a mesa, curiosa. “É muita confiança nessa senha ridícula...”

“Não é penseira...” Harry passou o dedo dentro do recipiente, e percebeu que o que parecia líquido era na realidade uma fumaça densa, com um cheiro de flores que o atraiam profundamente. “Está sentindo?”

“O que?” Adhara desviara a atenção da bacia, e agora lia os títulos dos livros ali dentro distraidamente.

“Esse cheiro?”

“Prongs, eu tenho o melhor nariz do universo. Se essa coisa tivesse cheiro pra ser cheirado, eu teria sentido. Será que não é seu próprio cheiro fedido que está incomodando?”

“Não é fedido,” Harry inspirou mais um pouco da fumaça, e seus sentidos ficaram mais fracos, “é um cheiro bom... Cheiro de flores...”

“Quê?” A voz de Adhara estava distante, cada vez mais agora. Harry inspirou mais um pouco da fumaça, e podia senti-la inebriando-o, fazendo-o sonolento...

Harry acordou sentado na mesma sala, mas quando procurou por Adhara, não a encontrava em lugar algum. Será que dormira a batalha toda?

“Padfoot?” Chamou, mas ninguém respondeu. A bacia ainda estava sobre a mesa, mas difusa, como se fosse um fantasma. Harry apalpou a si mesmo, conferindo se ele também não era sólido. Ao seu toque, parecia que sim.

O eco de uma gaita de foles chamou sua atenção, e ele pulou de onde estava para procurar sua fonte. Quase tropeçou no degrau, e cambaleou até uma das janelas do recinto, apertando os olhos para ver os jardins. Quando sua visão entrou em foco, teve de abafar um grito com a mão.

Dumbledore estava morto. Seu caixão estava colocado diante de várias cadeiras, exposto para autoridades, bruxos encapuzados, Hagrid, e para a surpresa de Harry, dele mesmo. Ron e Hermione o acompanhavam, entristecidos, mas não havia sinal algum de Adhara ou Romulus. Harry sentiu um aperto na boca do estômago. Moony e Padfoot não deixariam de vir ao enterro de Dumbledore.

Tampouco seus pais.

Procurou por James, ou Lily, ou mesmo Violet, Samantha, e começou a entrar em pânico. Só estava ele, Ron, e Hermione. Os três sentaram, e logo Ginny se juntou a eles, esfregando suas costas carinhosamente.

Era um cenário confortável, até, mas vazio.

Harry olhou em volta e correu até a bacia, aspirando o máximo de fumaça que conseguia, torcendo para sair dali e encontrar Adhara de novo. Sentiu-se desmaiar, aliviado, mas quando acordou, tampouco viu Adhara. Sentado numa cadeira, parecendo muito bravo, estava ele mesmo.

“Não quero falar sobre o que estou sentindo, está bem?” Disse, num tom que Harry não conseguia reconhecer, apesar de ser claro que era ele mesmo quem dizia. Dumbledore tinha a expressão serena, quase reconfortante.

“Harry, sofrer assim prova que você continua a ser homem! Esta dor faz parte de sua humanidade...”

“ENTÃO EU – NÃO – QUERO – SER – HUMANO!” Urrou, e Harry arrepiou ao ver aquela cópia sua arrebentando um instrumento de prata de cima da mesa de Dumbledore. O que estava acontecendo?

Harry se aproximou dele mesmo, e se viu de um jeito que nunca pensara que poderia. Em seus olhos havia mais que ódio. Ora, já sentira ódio antes. Sentira pelo ministério, quando levaram seus pais, e sentira até em doses menores, dos amigos, das irmãs... Mas aquilo não era ódio. Era dor. O que lhe causara tanta dor?

“... NÃO QUERO MAIS SABER...” Sua voz falhava enquanto quebrava outro objeto. Dumbledore ainda permanecia impassível, e Harry queria que ele dissesse alguma coisa, explicasse em que universo maluco estavam.

“Você quer saber sim. Você quer saber tanto que sente que irá morrer sangrando de dor.”

Em resposta, o outro Harry apenas continuo destruindo as coisas, dominando por uma fúria que Harry desconhecia possuir. Dumbledore se inclinou levemente para frente diante da nova negativa.

“Ah, quer saber sim. Você agora já perdeu sua mãe, seu pai, e a pessoa mais próxima de um parente que já conheceu. É claro que você quer saber.”

A confusão de Harry se transformou em desespero. Como assim? Seus pais estavam presos, não mortos! Enquanto a conversa conturbada daquelas sombras continuava, Harry andou pelo lugar, a cabeça martelando em pânico com o que ouvia. James e Lily estavam bem, ele os vira! E se não, onde estavam Sam e Violet? E Padfoot? E quem seria essa pessoa que morrera e que parecia significar tanto a Harry?

Harry passou as mãos pelos cabelos, e viu sua versão daquele mundo estranho fazer o mesmo enquanto gritava mais um pouco. Se aproximou, e quando sua cópia parou um pouco de gritar, Dumbledore tomou fôlego:

“Foi por minha culpa que Sirius morreu.”

SIRIUS MORREU? Harry abriu e fechou a boca, assustado, e seu primeiro pensamento foi para Adhara. Mas lentamente, dolorosamente, começava a perceber que aquela vida, que parecia ser a sua, era uma espécie de lembrança, algo íntimo, que ele não sabia de onde viera. E naquele mundo, não havia Padfoot. Ela não existia.

Uma sensação de vazio começou a tomar a boca de seu estômago conforme se dava conta de que Violet, Sam, Jack, Leonard, Romulus, Lewis... Todos eles provavelmente simplesmente não existiam naquela realidade. Ele estava sozinho, órfão, e acabara de perder Sirius. Marlene provavelmente estava morta também. Dumbledore agora explicava um grande plano, que parecia maluco, mas naquele mundo horrível devia fazer algum sentido.

Lágrimas escorriam por suas bochechas, e Harry se perguntou, desesperado, se algum dia sairia daquela realidade. Se teria de aprender a conviver com a ausência dos amigos com quem crescera como irmãos, com as próprias irmãs...

A história que Dumbledore contava era ainda pior, mas Harry começou a entender o que ele queria dizer. Voldemort era seu para destruir. Não podia deixar o pai se arriscar novamente, e não iria deixar Voldemort chegar perto daqueles que amava. Não podia suportar aquela existência. Não podia viver num mundo em que Violet e Sam não eram suas irmãs. Não podia olhar para o lado e não ver Padfoot, Moony, e Wormtail.

A bacia continuava ali, tremeluzente. Harry se aproximou, mas dessa vez não pediu para voltar para casa, nem para absorver a fumaça de novo. Aspirou aquela neblina roxa, e dentro de seu coração, viu a sala de Dumbledore, como a deixara, e Padfoot brincando com as estantes.

Lentamente, as vozes de Dumbledore e de sua cópia desapareceram, e Harry abriu os olhos fervorosamente, dando de cara com a expressão assustada de Padfoot, que media sua temperatura com as costas da mão. “Prongs, acorda! Prongs?”

A voz dela, seu toque, o jeito de cachorro destrambelhado, tudo impulsionou Harry para cima. Envolveu Adhara com os braços, abraçando-a com força contra si. “Padfoot!”

“Ei, epa, epa, epa, que foi?” Ela balbuciou entre seus braços, dando tapinhas desconcertados em suas costas. Harry riu.

“Cara, eu fico tão feliz que você exista, sabia?” Deixou-se ajudar a levantar, e Adhara franziu a testa, cheirando a fumaça roxa com suspeita.

“Que poção alucinógena tem aqui? Será que Dumbledore estava usando essa coisa pra ficar doidão?”

“Não interessa. Preciso agir rápido.” Harry a abraçou de novo, e olhou fundo em seus olhos. “Não podemos ir juntos agora.”

” Que? Prongs, o que você viu nessa bacia?”

“Eu vi uma vida sem vocês. Eu vi a vida que Voldemort quer que eu tenha. E isso eu não vou admitir. Padfoot, vá lutar com os outros. Voldemort e eu temos contas para acertar.”


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