1997 escrita por N_blackie


Capítulo 68
Adhara




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O crepúsculo iluminava o contorno difuso do horizonte. Adhara já vestia roupas pretas e discretas para a missão no Beco Diagonal, e esperava Harry terminar de receber instruções de Hermione para poderem partir. Ultimamente não se sentia muito social, e se pagava constantemente perdida em baboseiras existenciais, do tipo que Leonard leria.

Era estranho, mas desde a conversa com Romulus, ficava tentando buscar o que significava realmente ser Adhara Black, e cada camada que descobria parecia levar a um buraco cada vez mais fundo.

Era muito fácil dizer que era uma garota rica. Sua família era rica, mas nem sempre fora assim. Adhara tinha nove anos quanto se mudaram do apartamento apertado no centro de Londres, quando Druella e um outro tio muito velho bateram na porta de Sirius e Marlene pedindo para os dois tirarem a família da miséria.

Nunca tinha visto alguém tão bem vestido na vida, e se lembrava de estar brincando com um boneco de unicórnio, muito branco em contraste com o carpete da sala. Ao seu redor estavam espalhados toda sorte de brinquedos dos meninos, desde os primeiros livros de Leonard até rascunhos de desenhos de Jack. Os dois estavam dormindo, no entanto. Era sábado.

Ajoelhado junto de si, usando um escudo de brinquedo, Sirius brincava com ela. Podia ver o sorriso divertido do pai fingindo estar sendo atacado pelo unicórnio, e isso a deixava feliz. Atacou de novo, e a campainha soou.

Lembrava de ter se sentido assustada quando o pai e a mãe trocaram olhares preocupados, e abraçara o unicórnio quando Sirius puxou a varinha. Marlene se aproximara dela e a pedira para ir para o quarto. A porta abriu, e Druella entrou.

De seu esconderijo favorito, podia ver Sirius olhando a mulher com desprezo, e imediatamente não gostou dela. Era muito difícil seu pai agir assim, então devia ser sério mesmo.

“O que você quer?”

“Podemos entrar?”

“O que você quer, Druella.”

“Precisamos conversar. Sobre a família.”

“Não tenho intenção de entregar meus filhos a você, vá embora.”

“Não estou aqui pra isso, Sirius. Estou pedindo.”

Sirius hesitou. Adhara viu a mãe se aproximar dele, e cochichar algo no pé de seu ouvido.

“Vocês têm dez minutos.” Ele se afastou da porta, e Marlene cruzou os braços ao lado dele. Druella olhou ao redor curiosamente, e Adhara se escondeu de novo.

A conversa de fato durou mais que dez minutos, com certeza, apesar de Adhara não ter muita noção do que eram dez minutos, na época. Druella falou algo sobre a família estar com problemas. Reputação manchada, inimigos no ministério.Adie sabia que todo mundo gostava de seu pai e da sua mãe. Druella pedira a eles para interferir.

“Em troca, são bem vindos para voltar à família.” O velho que acompanhava Druella ofereceu. “Walburga cometeu um excesso ao expulsá-lo, Sirius, nós... Vemos isso agora.”

“Acham que eu me venderia assim a vocês?” Sirius zombara. “Se precisam tanto assim de seus negócios, deviam ter pensado neles quando jogaram dinheiro fora se aliando a Voldemort.”

Aquele nome ridículo deixou todos que ouviram tensos, e Adhara ficou completamente confusa. Voldemort não significa nada! Porque alguém acharia uma palavra tão ridícula assustadora?

Mas eles achavam, e pelo visto, achavam muito. Druella se empertigou na cadeira. “Pense nos seus filhos, então!”

“Não ponha meus filhos no meio, Druella.” Marlene respondera friamente, “Ou vai se arrepender.”

“As crianças merecem mais do que isso, foi o que quis dizer.” Ela indicou o apartamento com as unhas vermelhas, “Eles precisam de espaço para brincar. Ouvi falar que um dos gêmeos é muito inteligente, é verdade? Temos uma biblioteca com milhares de livros! E a mocinha... Ela vai para Hogwarts em breve, vai precisar de material, livros, vestes... Não finjam que o dinheiro da família não ajudaria. “

Adhara não gostou de ser chamada de mocinha. Leonard começou a chamar a mãe, e teve de correr para dentro para Marlene não pegá-la ouvindo.

Um mês depois, chegavam à Mansão que passaria a ser sua casa dali por diante. Mas sabia que não nascera rica. Mas nascera nobre. Talvez por isso não ligasse muito para as coisas. Vivera quase uma década sem milhões de brinquedos, e gostava de brincar com seu pai com qualquer coisa que encontrassem, sem problemas.

Não era arrogante. Pensando bem, talvez um pouco, mas não com quem não tinha dinheiro. Só com quem não gostasse. Como Draco.

Viu Jack sair da barraca um pouco, e sentar-se num tronco oco próximo para afiar as facas. O garoto já estava maior que ela, com certeza crescera uns centímetros desde o natal. Ou será que não notara?

“Hermione está passando a lista de natal pra ele?” Perguntou, e o irmão riu.

“Quase isso. Dá trabalho fazer poção de cura, nossa.”

“Deve ser por isso que todo mundo puxa o saco da Violet.”

“Verdade!” Jack gargalhou. “Espero não precisar de uma dessas nunca.”

“Padfoot!” Harry dobrava um papel, e segurava a capa da invisibilidade no outro braço. “Vamos!”

“Eu tô pronta faz tempo, você que estava tirando os bobes do cabelo.”

“Muito engraçada, vamos.”

Bagunçou os cabelos de Jack, e se cobriu com a capa, aparatando.

Surgiram juntos num canto escuro do Beco Diagonal. Harry olhou ao redor, e apontou silenciosamente para a porta dos fundos do Boticário. Adhara se aproximou, tocou a maçaneta com a varinha, e ela abriu. Harry abriu a lista.

Algo no ar não cheirava bem. Estava sendo muito fácil buscar aquilo. Adhara espiou pela janela, e viu seu próprio rosto grudado numa parede perto da Floreios e Borrões. Parecia outra pessoa. Seus pés batiam no chão descontroladamente.

Harry escorregou uma prateleira inteira para dentro da sacola-sem-fundo que Hermione aprontara para eles, e abaixou para pegar alguns elixires. “Corre, Prongs.” Pediu silenciosamente, os olhos vasculhando qualquer entrada possível, lutando contra o escuro do Beco. Apertou os olhos, mas foi o suficiente para ver três sombras se aproximando, enfiando os narizes nas vitrines. Reconheceu a foto de um deles. Travers.

“Prongs.” Chamou, e a cabeça de Harry surgiu detrás do balcão.

“Tô terminando, calma.”

“Comensais, Prongs.”

” Quê?”

Adhara se escondeu atrás do balcão, e tapou a boca do amigo. O som de conversas dos comensais parou.

“Acho que não nos viram.” Sussurrou.

Então, de guarda baixa, se levantou. Travers estava parado diante dela, a varinha em riste. “Olha só o que temos aqui, garotos!”

“Prongs!” Chamou num grito, e Harry surgiu ao lado dela, lançando um feitiço na direção do homem. O duelo começou, e pela porta de entrada, os outros comensais chegaram, lançando feitiços que explodiam os frascos da loja.

Adhara pulou o balcão, e quando caiu no chão, rolou para lançar uma maldição num dos comensais. Não conseguiu, e em resposta recebeu um jato roxo no ombro. Sentiu cheiro de carne queimada, e começou a se arrastar a procura de Harry. A capa jazia escondida num canto, e quando achou o amigo, ele estava duelando com Travers sem os óculos.

Sem pensar, pulou nas costas do bruxo, cravando as unhas no pescoço dele furiosamente. Ele soltou um urro, e começou a socar a própria nuca, procurando por sua cabeça. Adhara soltou-o quando o punho do homem acertou sua testa, e as costas doeram em contato com o chão.

Um comensal loiro lançou um feitiço na estante acima deles, que pegou fogo instantaneamente e começou a exalar um gás azulado. Os ingredientes que ainda estavam em exposição começaram a alimentar as chamas, criando uma barreira de fumaça. Adhara tateou, e achou o braço de Harry. “Cadê a sacola?” gritou, engolindo fumaça.

“Vamos sair daqui!”

“Adeus, Potter!” Travers gargalhou, e Adhara se concentrou em aparatar o mais longe dali. Antes de desaparecerem no ar, ouviu um grito: “BOMBARDA!”


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