1997 escrita por N_blackie


Capítulo 5
Jack




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JACK

O caminho em direção à recém aberta loja dos irmãos Weasley era um pouco mais tortuoso do que o principal, e estava coberto dos mais diversos panfletos. Alguns anunciavam a abertura de boticários novos, outros apenas narravam as maravilhas do centro de compras, e boa parte brilhava em laranja berrante, indicando o caminho para as Gemialidades Weasley com setas roxas que saltavam e esganiçavam frases como “Vamos, não vai se arrepender!” e “Não seja tímido!” para os transeuntes.

Jack se agachou para pegar alguns, e riu quando um duende surgiu detrás das setas encantadas, mostrando a língua para ele e apontando em seu rosto. “Vamos, seu idiota, se divirta pra variar!”, gritou.

“Brilhante!” sorriu, entregando um para Richard, que concordou. Atrás dos dois, Mary e Samantha conversavam, especulando sobre Violet e, para a surpresa do garoto, Leonard. A garota Pettigrew inclusive dizia que havia deixado os dois sozinhos de propósito, e Jack se esforçou para não virar e se intrometer. A vida de seu irmão não lhe interessava nem um pouco, e francamente, se Leonard conseguisse falar algo que valesse a pena para qualquer garota, Jack já ficaria surpreso e provavelmente começaria a gargalhar na cara dele.

Irritado por estar sequer cogitando conversar sobre isso, amassou o panfleto e jogou numa lixeira próxima, que instantaneamente desintegrou magicamente o papel. Richard era mais seu irmão do que Leonard, mesmo que fosse fisicamente o contrário dele. Onde Jack era moreno e escuro, Richard era claro e sardento, e algumas pessoas (meninas, claro) diziam que esse contraste era inclusive um chamariz para os dois.

Ainda assim, o murmurar das meninas estava deixando-o intrigado, especialmente por Mary estar quase convencendo Samantha de que havia, sim, chance de Violet estar interessada em Leonard. Desistindo de se fazer de indiferente, virou-se, e começou a andar de costas enquanto interrogava as garotas.

“Pronto, chamaram a minha atenção, podem dizer.” Disse.

“Ninguém está querendo chamar a sua atenção, Jack,” Samantha e Mary reviraram os olhos, erguendo as sobrancelhas com arrogância, “não fique surpreso.”

“Mas Leo realmente está querendo chamar Violet para sair?” perguntou Richard. Mary sorriu, como se tivesse um segredo guardado por muito tempo, e deu de ombros.

“Sei lá, pode ser.”

Sei lá, pode ser?” repetiu Jack, indignado. “Vocês duas tão faz meia hora sussurrando nas minhas costas querendo que eu pergunte, agora eu fiz esse favor e desistem de me contar? Não quero mais saber também, nem me interessa o que Leonard faz ou deixa de fazer.”

As duas deram de ombros de novo, e assim que ele se virou, voltaram a conversar entre si. Pensou em insistir, mas a fachada chamativa da loja varreu a fofoca para longe de sua cabeça. Animado, chamou a atenção de Richard, e logo já estavam grudados na vitrine principal, cheia de panos e tranqueiras misteriosas que soltavam fumaça e apitavam para eles.

“Ora, se não são nossos aprendizes favoritos,” a voz de um dos gêmeos veio de cima da cabeça de Jack, e o moreno ergueu o pescoço para acenar, “vão ficar só aí fora ou vamos poder mostrar as novidades? E temos algumas bastante boas pro próximo ano letivo, não, Fred?”

“Sem dúvida, George,” disse o outro ruivo que surgiu ao lado do primeiro, abrindo um sorriso idêntico, “anda, entra logo.”

Os adolescentes obedeceram, e o cheiro forte de pimenta invadiu as narinas de Jack assim que colocou os pés no primeiro andar. Richard espirrou ao seu lado, e Mary começou a reclamar enquanto buscava refúgio na ala de poções do amor junto de Sam para escapar do que provavelmente seria um ataque sério de coceira nasal. Esfregando o nariz, o moreno tossiu algumas vezes, e só se acalmou quando um dos Weasley lhe entregou uma máscara roxa, gargalhando detrás de sua própria. “Valeu, Fred.” Agradeceu, para ser corrigido com um rápido “George!’ do gêmeo que lhe ajudara.

“Então, “Fred (ou George) lhes perguntou assim que estavam todos recompostos. Ao redor, Jack podia ver que a máscara provavelmente era um favor exclusivo para os amigos, porque vários clientes passavam pela atmosfera de pimenta tossindo e espirrando freneticamente sem que nenhum dos ruivos prestasse atenção, “onde estão Sirius e James? Achamos que eles viriam!”

“Nós também, pra ser sincero.” Respondeu Richard “Mas parece que estão preocupados com alguma coisa, né, Jack?”

Jack assentiu. Não percebera de primeira, mas havia algo de sombrio na forma com que Fred e George sorriram depois da resposta de Rich. Olhou para baixo, onde as meninas ainda se entretinham com os produtos da loja, e chegou perto de Fred – ou George, que seja – e lhe lançou um olhar insistente. “Vocês sabem o que aconteceu?”

“Talvez sim, talvez não...” um dos gêmeos riu, e os dois se entreolharam. Jack franziu a testa, revirando os olhos para o suspense. “Deve ser o Florean, “responderam por fim, “ele sumiu, sabiam?”

“Minha mãe falou disso ontem, “Rich respondeu quando Jack deu de ombros “acho que a gente devia começar a ler o jornal, Jack.”

“Ah, cala a boca.”

“O fato é: ele sumiu, e o ministério está doido atrás do porquê. Ou quem...”

Jack teria gostado de continuar no assunto, principalmente porque ele sabia que uma vez que tinham começado, Fred e George Weasley raramente terminavam até contar o segredo todo, até os detalhes mais inúteis. Contudo, logo sua conversa foi interrompida por Samantha, que chegou com os braços cheios de produtos para pagar, o que obrigou os gêmeos a voltar ao trabalho. Frustrado, Jack a seguiu, e enquanto esperavam do lado de fora parecia estar tendo uma conversa mental com Richard. Será que Sam podia ter um timing melhor algum dia nessa vida?

Não sei se tinha mais o que dizer, Jack, quero dizer, tá, o sorveteiro sumiu...

Meu pai está metido nisso, ele nunca se mete nessas coisas.

Seu pai só quer ver o circo pegando fogo, né...

Jack riu, mas assim que virou a cabeça, viu um grupo conhecido sair do beco da Travessa do Tranco. Seu pai e sua mãe discutiam em voz baixa, e Lily parecia trêmula. James enfiara as mãos nos bolsos da capa, e Remus falava algo com cautela para ele. Por um segundo sentiu que estava sendo observado, e quando voltou a olhar para os pais, viu que sua mãe o encarava. Desviou o olhar, pensando no que poderia ter quebrado a calma de uma vida toda daquela forma.


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