Marco Aurélio se encaminhou para a porta, mas voltou-se para ela com um sorriso.

- Venha, Laura! – ele piscou maroto – Janaína fica histérica quando a comida esfria. Nós teremos que ser rápidos. Eu aposto que chego primeiro!

A cadeira de rodas sumiu de sua vista, ao sair do quarto ouviu o som de uma grade se fechando em algum lugar, seria um elevador? Ela correu para a escada e avistou Luiz Henrique, ia descer correndo quando ele agarrou seu braço, fazendo-a parar de supetão.

- Essa escada é traiçoeira – estavam de frente – E depois, o humor dele fica melhor quando ganha.

Laura corou envergonhada, pois a alegria contagiante de Marco a fazia esquecer que ele dependia da cadeira de rodas.

- Descemos juntos e você põe a culpa em mim.

Era incrível como a forma de dizer mudava tudo, se Henrique tivesse pedido, ela teria concordado, mas o tom autoritário a irritou fazendo-a retirar o braço e descer a escada apressadamente. Marco já a esperava com um sorriso nos lábios.

- Isso foi trapaça – disse rindo – da próxima vez eu desço pelo elevador.

- Tudo bem! – Marco riu também – Mas só se você empurrar a minha cadeira, essa corrida me deixou estafado.

Pelo rabo do olho, viu Henrique que parecia aborrecido, ela desconhecia o motivo, mas... Que droga! Por que se importava com a opinião dele?

- Tem certeza? – brincou e com um meio-sorriso disse – Não tenho carteira de motorista e você manobra muito melhor.

- Eu me arrisco! – Henrique caminhou à frente deles e Marco continuou simplesmente – Segunda porta à direita.

Os três chegaram na sala de jantar onde a mãe já esperava por eles na mesa. Henrique havia se antecipado e afastado uma cadeira ao lado de sua mãe, porém Marco havia agarrado sua mão e dito gentilmente:

- Você senta do meu lado!

Os olhos de Henrique brilharam perigosamente como se estivesse dando um aviso mudo para o irmão, que mantinha uma postura serena e os olhos límpidos.

- Claro! – ela sentiu-se compelida a atender Marco e Henrique sentou-se ao lado de sua mãe.

As coisas não iam bem e o jantar virou um fiasco de constrangimento quando sua mãe se pronunciou finalmente.

- Que tal irmos às compras amanhã? – sua mãe pareceu desesperada para travar um diálogo descente e notou que Henrique apertava a mão dela como se estivesse dando uma força – Tudo bem se formos ao Shopping?

- Pode ser... – disse não muito certa, mas Marco a incentivava apertando a sua mão por baixo da mesa – a que horas seria isso?

- Às Dez! – a mãe queria ser esforçava para ser agradável e isso a incomodava – Que tal, vocês dois nos acompanharem? – olhou carinhosamente para ambos e isso lhe custou um aperto em seu coração – Podíamos fazer compras e almoçarmos por lá.

- Creio que não, mãe! – Henrique olhou bem sério para Marco e antes que o irmão retrucasse, o tom não deixava dúvidas, ele falava pelos dois – Nós precisamos terminar um trabalho pra segunda, não é mesmo?

- Ah, é! – Marco pareceu sem jeito ao mentir – Aquele trabalho entediante sobre História Medieval que a gente tem que concluir.

- Pois é... muito chato! Vão vocês duas e se divirtam. – Henrique disse mais tranqüilo – Me passa a salada!

- A travessa é todo seu se me passar à carne assada – Marco se voltou para ela – Eu odeio mato! – e num tom preocupado por ela não se servir disse – E você o que quer?

- Eu... – na verdade estava sem fome, ela queria um tempo para ficar sozinha e pensar.– Mãe... – suplicava com o olhar – Gente! – não queria dar uma impressão errada, mas sabia que era difícil – eu posso ir para o meu quarto?

Ela se sentiu um peixe fora d’água e o olhar que os três lançaram para ela confirmava que ela era de outro mundo, a ela parecia que eles eram atores de primeira numa cena ensaiada e ela atriz de segunda tinha estragado, ela não correspondeu às expectativas deles e por isso ficou muito sem graça e o momento em que ficou aguardando pareceu uma eternidade.

- É claro, filha! Você deve estar cansada – apesar das palavras sabia que sua mãe estava decepcionada – nós nos vemos amanhã.

- Eu peço pra Janaína levar um lanche depois – Marco teve a reação mais agradável, ele era um amor de pessoa.

Ela se levantou, porém sentia o peso do olhar reprovador de Henrique.